– Parece que alguém descobriu meu esconderijo secreto. –Disse Bill ao sentar do meu lado. A lua iluminava seu rosto, deixando seu sorriso mais do que perfeito.

– Esconderijo Secreto? Quem esta brincando com você? Georg? Gustav? –Eu falei minha piadinha “super sem graça” pra quebrar o clima. Ele riu.

– Não sua boba! Só tem eu, você e o porteiro no prédio inteiro. –Disse enquanto acendia um cigarro. –Na verdade eu sempre venho aqui quando preciso esfriar a cabeça.

– Eu estou fazendo o mesmo. Ah, eu queria me desculpar com você pelo incomodo que te dei hoje. Fiquei nervosa sem necessidade, mas mesmo assim, obrigada.

– Não tem do que se desculpar Viviane! Eu que te devo desculpas pela besteira que o Tom falou. Ele tem a magia de deixar as pessoas constrangidas. –Deu uma tragada em seu malboro e continuou – Mas ficou tudo bem depois? Digo, você ficou tão nervosa. Confesso que fiquei preocupado.

–Droga! Não precisava se preocupar comigo, serio - Estava com tanta vergonha de mim mesma que estava prestes a fazer um “Don’t Jump” ali mesmo. –Estou bem Bill, olha, não quero atrapalhar o seu momento de esfriar a cabeça. Vou pra casa.

Levantei-me, e quando ia dar o primeiro passo pra fora da sacada do restaurante, sinto sua mão fria segurando firme no meu pulso.

– Viviane... Não me deixa aqui sozinho, por favor. –Seu olhar encontrava-se vazio, em direção ao chão. Quem é que tem coragem de recusar um pedido desses? –Eu... Estou precisando conversar com alguém.

Voltamos a nos sentar no chão perto da parede de vidro que nos separava do precipício.

– Quer um cigarro? –Me ofereceu enquanto pegava o seu segundo.

–Não. O que eu quero é saber o que há com você. –Disse seria.

Ele me olhou pensativo, expulsando a fumaça do cigarro pelas narinas.

– Desculpa... Er... Eu preciso de alguém pra desabafar. Não estou muito bem. –Me olhou tristemente. Percebi que seus olhos estavam muito vermelhos, pensei que talvez ele tivesse se drogado minutos antes, mas rapidamente tentei afastar meus pensamentos.

– Tudo bem, pode falar. –Apertei sua mão. Estávamos sentados um de frente para o outro, de pernas cruzadas. Ele respirou fundo e continuou a falar.

– Abriram meu peito e arrancaram meu coração Viviane. A mulher da minha vida simplesmente não se importa com o que eu sinto por ela. Estou machucado, vazio, ferido.

Ficamos por alguns minutos em completo silencio. Bill observava o chão de cabeça baixa, como se quisesse guardar a sua própria dor sozinho. Eu olhava-o calada. Automaticamente, ele levantou a cabeça e soltou minha mão. Percebi que enxugava lagrimas em seu rosto.

– Desculpa, estou tomando seu tempo com minhas bobagens. Você não merece ficar aqui escutando meus problemas. –Se afastou de mim como se estivesse me “libertando” para que eu fosse embora. E mesmo que eu quisesse, não iria.

– Para de ser retardado garoto! No elevador você me deu a maior força né? Estou fazendo o mesmo por você agora.

Me aproximei de seu corpo, ele se virou em minha direção sibilando um “Obrigado”. Acolhi seu corpo frio em meus braços, com seu rosto enterrado em meu pescoço.

Pensei em perguntar a ele quem seria essa mulher, mas ele já estava triste demais pra qualquer pergunta que eu fizesse. Senti leves arrepios com sua barba roçando meu pescoço, daí senti minha camisa xadrez ficar úmida. Ele estava chorando outra vez.

– Bill, quem quer que seja não merece suas lagrimas. –Disse seria, ele levantou o rosto para enxuga-lo novamente. Sua maquiagem já estava borrada. Me aproximei. –Quero que saiba que sempre quando precisar, estarei aqui.

Ele parou o rosto poucos centímetros em frente ao meu. Foi se aproximando e diminuindo a distancia de nossos lábios sem dizer nenhuma palavra. Quando seus lábios já estavam quase colados aos meus, meu celular toca escandalosamente. Nos separamos e rapidamente eu peguei o celular no bolso da calça.

– Alo?

– Posso saber onde você se meteu? Não avisou a ninguém que iria chegar mais tarde em casa e... – Eu interrompi meu primo impacientemente.

– Olha, já estou indo pra casa ok? Depois nos falamos.

E antes que o Enrique pudesse falar mais alguma coisa, eu já havia desligado o celular.

– Er... Bill, desculpe mas preciso ir agora. – Me levantei do chão frio, e pra minha surpresa, ele me acompanhou.

– Eu te levo pra casa. –Nem perdi meu tempo recusando, assenti com a cabeça e ele me guiou ate o elevador. Antes de entrarmos, ele segurou a minha mão.

– Nunca mais você terá medo de andar de elevador comigo.

Eu ri nervosamente. Estava mais nervosa pelo fato de ficar segurando a mão dele do que de estar dentro do elevador. Ridícula essa minha mania de ficar assim perto do Bill.

Chegamos na garagem e ele abriu a porta do seu carro para mim e depois entrou no outro lado. Expliquei o caminho da minha casa a ele e rapidamente percorremos o caminho ate lá, enquanto isso, ouvíamos Green Day.

Bill parou o carro em frente a casa da minha tia, eu tirei o cinto de segurança e me voltei em direção ao Kaulitz que começou a falar antes de mim.

–Marin, er... O Tom vai dar uma festa no fim de semana lá em casa. Queria que você e o Enrique fossem. – Morrendo em 3,2,1.

– Algum aniversario?

– Não, não. Vamos sair em turnê no final do mês e o Tom sempre faz essas festas de despedida. - Se eu iria? Sim ou claro.

– Ah, sei. Bom, vou falar com o Enri. Mas qualquer coisa você me liga. – Peguei um pedaço de papel na minha bolsa e anotei meu numero.

– Bom, então eu te ligo e passo o endereço. –Assenti com a cabeça, entregando-lhe o papel.

– Boa noite Bill, se cuida.

Ele me deu um “boa noite” e eu saí do carro, entrando em casa e quase voando em direção ao meu quarto. Quando entrei vi meu primo bisbilhotando o meu closet, procurei me acalmar e fingir que estava tudo normal.

Joguei minha bolsa no chão e sentei na beirada da cama.

– Pronto Enrique Marin, eu já cheguei. –Disse entediada, enquanto tirava minhas botas. Ele veio saltitando em minha direção

– Eu vi o carro Viviane Marin. VOCE ESTAVA COM O BILL KAULITZ? –E começou a gritar como se a biba louca estivesse ganhado na loteria, eu ri bastante.

– Foi, ficamos conversando depois do meu expediente –Expliquei, enquanto tirava a minha camisa xadrez, ela estava com o cheiro dele.

– E rolou alguma coisa? –O curioso se deitou ao meu lado

– Claro que não né, senhor curiosidade. –Peguei um travesseiro e meti em sua cabeça –Eu e o Bill estamos começando uma amizade muito legal. Ele até nos convidou para a festa que o Tom vai dar no fim de semana.

– Nos convidou? Tipo, no plural? AAAAAAAAAAAAAAAAH –Começou a pular loucamente –Vou ligar pro Brandon agora e contar a novidade.

E saiu correndo para seu quarto. Eu ainda gritei que talvez não incluísse o “seu namorado”, mas ele estava muito feliz pra me dar atenção.

Fechei a porta e corri para um demorado banho de banheira, ao som de “Down on You” do Tokio Hotel no meu iPod, claro.

Can I drive you home? Can I crash into your life? (Posso te levar até em casa? Posso invadir a sua vida?) Can you fix my soul? Can you break my heart tonight? (Você pode consertar minha alma? Você pode partir meu coração esta noite?)

Sai do banho, vesti meu pijama, apaguei as luzes e deitei na cama ouvindo a mesma musica e pensando em tudo que tinha acabado de acontecer. Como pode existir uma mulher tão louca a ponto de magoar alguém tão fofo como o Bill?