Valie se olhou no espelho uma última vez. Sentia-se linda. O cabelo ruivo caia liso sobre os ombros dela e continuava com uma cascata de sangue pelas costas. Tinha passado uma maquiagem leve. Apenas o bastante para seus olhos verdes se sobressaírem do resto e na boca um batom nude. Os seus ombros estavam descobertos e o vestido azul caía até o chão, cobrindo parte de seus pés, colocados delicadamente dentro de um salto prata. Ela segurava uma bolsa-carteira, também prata. Perto do busto, tinham detalhes em azul e prata brilhantes.

            _Valerie! O Tyler chegou! – ouvi a mãe gritar do andar de baixo.

            A garota suspirou e sorriu antes de sair do quarto e andar até a escada.

            Lá embaixo, Tyler a esperava, sorrindo. Ele estava lindo em um smoking preto, um sorriso de orelha a orelha e o cabelo, apesar de tudo, bagunçado como sempre.

            Valie sorriu mais ainda e desceu as escadas devagar. Sua mãe a olhava emocionada perto de Tyler.

            _Ah, meu Deus, vocês estão tão lindos… - ela disse.

            _Obrigada, mãe. – disse Valie, sem tirar os olhos de Tyler.

            Aquela era a sua noite. A noite do baile de formatura. A noite em que tudo iria dar certo.

            _Nossa, como vocês crescem rápido…James! James! Vem logo! – ela gritou para dentro da casa, onde o pai de Valie provavelmente estaria em seu escritório.

            Valie ouviu tropeços e logo o pai estava abraçado a cintura da mãe.

            _Tenham cuidado. – o pai disse para os dois.

            _Certamente que sim, Sr. Smith. –respondeu Tyler.

            _Cuide bem dela. – o pai pediu, rígido, enquanto apertava a mão do garoto.

            _Seria um idiota se não cuidasse.

            _E você não é idiota, assim espero.– ele disse, severo.

            Os loiros se encararam por alguns momentos. Era evidente o desapontamento dos pais por Valie ir com ao baile com Tyler. Nenhum dos dois gostava do garoto. Mas agora não isso não importava, concluiu Valie. Ela amava Tyler e se os pais a amassem, teriam que aceitar isso.

            _Certo. Obrigada, mãe. Obrigada, pai. Mas temos que ir, não é verdade, Tyler?

            _Claro. Obrigado por tudo, Srs. Smith.

            _Tchau, queridos. Tenham juízo. –disse a mãe, pouco antes de os dois baterem a porta e irem para o carro de Tyler.

            O loiro agiu como um perfeito cavalheiro, abrindo a porta para Valie e depois sentando no banco do motorista.

            _Você é tão lindo. – ela disse.

            _E você é mais.

            Eles derem um selinho. Antes de o garoto acelerar em direção à escola.

            O carro de Tyler, uma Ferrari preta, deslizou com uma pantera em direção ao baile e estacionou suavemente.

            _Agora, senhorita. – ele disse, depois a de abrir a porta e estender a mão para Valie.

            Ela riu alto, pois sabia que ele estava apenas brincando.

            O barulho ensurdecedor do baile era ouvido até mesmo dali e os dois caminham em direção a onde os outros alunos estariam, ela agarrada firmemente ao braço dele.

            Eles entraram no meio da música, todas as pessoas dançavam loucamente e o lugar estava lotado.

            Os dois caminharam no meio das pessoas, tentando passar por elas e achar Rick e Polly.

            Não demorou mais do que alguns segundo até eles verem uma mão se agitando no meio da multidão e logo a loira os tinha alcançado, Rick logo atrás dela, sorrindo como um idiota.

            Valie observou o vestido rosa de seda que a amiga estava usando. O mesmo que as duas tinham roubado a poucos dias e que quase lhes custara a liberdade. O vestido lhe caía perfeitamente bem, indo até os joelhos, ele também era tomara-que-caia, como o de Valie, mas por algum motivo, o vestido parecia cair bem melhor em Polly, cujo corpo miúdo lembrava um beija-flor afobado. O cabelo estava preso em um semi-coque perfeito e a maquiagem estava igualmente linda. Ela saltitada loucamente, radiante.

            _Eu estou tão feliz! É baile de formatura, Valie! Nada mais pode dar errado!

            Ela abraçou a amiga, animada, antes de segurar o braço de Rick.

            _Vamos pegar um ponche? – ele perguntou para a garota.

            _Por você, eu faria tudo.

            O garoto sorriu e os dois foram para a mesa de bebidas deixando Valie e Tyler sozinhos.

            A ruiva os observou de costas. A diferença de tamanho era enorme entre Rick e Polly, apesar de ela estar de salto. Ela riu da amiga.

            _Você quer dançar? – ele perguntou.

            _Não acho que dê. Tem muita gente e a música é muito agitada para o meu gosto. – ela berrou para poder ser ouvida.

            _Não acho que isso seja um problema.

            E dizendo isso, ele subiu no meio da multidão, deixando Valie brevemente sozinha.

            Ela sentiu confusa. Sem saber exatamente o que fazer. Afinal aquele era um baile e ela precisava ter um par para poder fazer as coisas. A verdade, era que estava tão acostumada com a presença de Tyler que não sabia o que fazer quando ele ia embora.

            Mas, para a felicidade da ruiva, ele não demorou a voltar e junto com ele, veio uma música lenta.

            _Agora, só os casais na pista. –disse o D.J.

            _Essa é para você, ruiva. – disse Tyler, bem perto da orelha dela, fazendo os cabelos de sua nuca se arrepiarem.

            Tyler a conduziu até o centro da pista.

            Valie e Ty dançaram. Dançaram como se não houvesse amanhã. Como se eles fossem os únicos na pista de dança. E a verdade, era que quando estavam olhando um ao outro, só existia eles de fato. O mundo se resumia aos dois e todos os problemas eram esquecidos.

            Tyler só pertencia a Valie.

            Valie só pertencia a Tyler.

            Eles ficariam juntos por toda a eternidade.

***

            O baile estava quase no fim. Várias pessoas já tinham ido embora e as únicas que sobraram estavam bêbadas.

            Valie esperava por Tyler perto do bar. O loiro tinha ido ao banheiro e a pedira para esperar ali.

            Ela cantarolava de boca fechada quando viu Polly se aproximar.

            _Oi, Valie! – ela disse e Valie sentiu o cheiro do álcool chegando até ela.

            Polly estava feliz demais para o gosto de Valie, a ruiva tinha quase certeza de que a amiga estava bêbada.

            _O que aconteceu, Polly? – perguntou Valie, sorrindo enquanto a outra tentava se equilibrar no salto e manter a coroa de rainha do baile em sua cabeça. Sim, ela e Rick tinham vencido.

            Polly riu e bagunçou o cabelo de Valie.

            _O Rick! – ela exclamou, se apoiando totalmente em Valie e quase fazendo as duas caírem. – Ele terminou comigo! –ela gritou, depois tento um ataque de risadas.

            O sorriso da ruiva sumiu. Polly estava tão bêbada que nem percebia que não devia rir disso.

            _Polly! Isso é horrível! O que acontece?

            _Nada, nada! – ela disse, complemente tonta. – Ele me viu beijando o… o Batman e…

            Caramba! Polly estava péssima! Ela devia já estar bêbada quando beijou o outro garoto e Rick não tinha percebido. Valie cuidaria disso mais tarde. Ela não podia deixar os amigos terminarem por causa de bobagem.

            _Eu vou ao banheiro, Valie! –exclamou Polly e saiu, tropeçando nos próprios pés e quase caindo enquanto alcançava a porta do toalete.

            A ruiva riu da amiga que ficava engraçadíssima bêbada e voltou a se encostar no bar, esperando Tyler voltar.

***

            A ruiva começou a ficar preocupada quando nem Tyler nem Polly voltavam, então resolveu ir procurar a amiga no banheiro.

            Ela viu o banheiro imundo e fedendo a vômito e ao típico cheiro de um banheiro público, mas o que despertou sua curiosidade foi a última cabine, que estava parcialmente fechada e tinha alguma envolta um lençol branco sujo de vermelho.

            Valerie se aproximou. Não se aproxime. Apenas vá chamar a polícia, fique longe disso, ela se aconselhou. Normalmente dava bons conselhos a si mesma, o problema era que nunca os seguia, e normalmente fazia justamente ao contrário.

            Aproximou-se mais. Chegou bem perto e levantou o pano branco ensangüentado.

            Achou que fosse vomitar quando viu. Começou a chorar, isso com certeza a traumatizaria para sempre. Levou a mão à boca, aterrorizada.

            No chão, um corpo, um corpo envolto em lençóis branco, um corpo de uma garota. Uma garota loira muito bonita com faces pálidas, mas Valie sabia que quando viva, as faces da garota estavam sempre vermelhas.

            Fechou os olhos, não queria mais ver aquilo. Sentiu assim, seu coração bater em disparada no peito e os olhos arderem por causa das lágrimas. Os olhos vidrados da garota continuavam em sua mente, impossíveis de esquecer.

            Virou-se. E chorou. Chorou muito.

            Era realmente estranho pensar nisso.

            Mas Pollyanna Taylor estava morta.

            _Não, Polly! Você tem que acordar! Tem que acordar! Você prometeu que nós iríamos morrer juntas, no mesmo dia, quando estivéssemos velhinhas! Você prometeu! Abra os olhos, Polly!_ gritou Valie enquanto chorava.

            Polly não podia mais ouvir os apelos desesperados da amiga. Não podia sequer abrir os olhos outra vez.

            Ela parecia uma boneca de cera. Como se nunca tivesse existido vida dentro daquele corpo flácido e tão pálido quanto mármore. Valie queria que ela respirasse e mexesse, mas bonecas de cera não podem fazer isso.

            O sangue vermelho escorria de vários lugares do pequeno corpo da garota.

            Valie parou de chorar e a encarou. Sabia que tudo mundo sempre dizia que as pessoas pareciam estar dormindo quanto morriam. Mas Polly não parecia dormir. Não parecia Polly. Era apenas uma boneca com cara de Polly, parecia que nunca estivera viva e não seria agora que ia estar.

            A julgar pela expressão, sentira muito medos em seus momentos finais.

            Valie queria que Polly aparecesse para consolá-la.