Quando novamente despertei estava em um divã, um garoto da minha idade me olhava fixamente.

- Que bom que acordou, 3. Eu senti tanto a sua falta. - Ele me abraçou e eu percebi o quão belo ele era. 

- Eu, desculpe-me. - Falei retirando seus braços de mim. - Eu não me lembro, não mesmo. - Ele me olhou com as sobrancelhas juntas e a testa franzida.

- Está tirando com a minha cara? - Ele perguntou.

- Não, sinto muito mesmo. Não me lembro de quem é você. - Eu balancei negativamente a cabeça e mordi meus lábios de frustração. Você pode pensar que no céu estamos todos vestidos de branco e nossa pele é clara e transparente, errou de novo. Somos completamente normais. Só que podemos ver, ouvir e sentir bem mais que na terra.

- Ótimo! - Ele bateu o pé. - Não lembra de nada? - Ele me olhou com raiva e eu balancei minha cabeça novamente para os lados, ele estava me assustando. - O Cheiro da Infância sempre funciona! Por que bem com você? Por que bem agora? - Ele falava com si mesmo.

- Se me explicasse, por favor. Eu quero saber por que! Me ajude a descobrir! - Ele me olhou com compaixão, ou dó, ou pena, ou dúvida, ou todos juntos. Então sorriu, nossa, como era belo.

- Então vamos para a sua sala. Tenho certeza que têm mais gente, ou, animais, que querem falar com você.

Eu fiquei confusa, mas o acompanhei por um corredor estreito onde nos tocamos várias vezes, ele era um pouco mais alto que eu, dois ou três dedos. Tinha cabelos negros que cobriam sua testa, não era do estilo 'emo', ele parecia com um daqueles skatistas que eu via na saída da escola. Tinha a pele clara, mas bronzeada, o que deve ser difícil para sua mente mortal imaginar. Seus olhos se destacavam, eram da cor do fogo. Se você pensar um pouco, lembrará das chamas que saem do seu fogão, agora, lembre-se que elas são azuladas, agora, imagina um par de olhos de cor magnífica. Se pensar um pouco mais também irá ver o garoto que me acompanhava com um moletom, aparentemente da GAP, azul escuro com a escrita em laranja, calça jeans e tênis Nike. Se preferir, imagine o garoto mais belo que consegue.

- E... Quem é você? - Perguntei. A pergunta certa seria: 'qual é seu nome?', mas não queria saber somente isso. 

- Eu sou 12, não acredito que lembre de mim. Ou melhor, que lembre de mim enquanto eu era vivo. Tenho duas vidas, apenas. 

- E eu? 

- Você tentou fugir por muito tempo. Já têm pouco mais de 50 vidas.

- Ah... - eu estava chocada. Finalmente chegamos em um quarto, belíssimo, eu olhei dentro e me lembrei de uma única coisa.

- Tudo bem, 3?

- Eu lembrei! Socius! - Gritei e fui ao encontro do meu único Companheiro.