Amanhecer dos Anjos escrita por Jonny


Capítulo 12
Capitulo IX – Memórias em Ruínas




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Nós havíamos errado certamente o endereço. Aquela não era, não podia ser nossa casa. Estava abandonada, desolada. O mato tomara conta de cada centímetro subindo até quase o ultimo degrau da pequena plataforma onde podíamos ver a porta, que deveria estar totalmente limpa, polida, mas agora ela estava suja e com nossa visão aguçada de vampiro podíamos ver as trincas por entre elas. Muitas partes estavam desgastas demais, e outras haviam cedido lugar a podridão. As janelas estavam lacradas com tabuas pregadas as pressas, mas mesmo assim se podiam notar vários vidros quebrados. A parede estava corroída pelas raízes da era que subiam até mais da metade da casa. A fonte que ficava no centro do grande circulo da rua onde passavam os carros, estava quebrada, e parecia um ilha de musgo no meio do verde do mato que crescera ao seu redor.
O balanço estava quebrado com o tempo de desuso rendendo lugar a mais escombros da minha infância. O quiosque do outro lado não poderia estar melhor. Uma arvore cedera aos ventos e derrubara metade da estrutura, e o que não estava na ruína do chão era consumido pelo mato. Aquilo ali mais parecia um mar de mato e ruínas do que o palácio que exuberava antigamente.
-Isso aqui é a nossa casa? – Lílian perguntou.
-Acho que erramos o endereço!
-Meu Deus o que aconteceu será?
Eu não respondi. Aliás, eu não tinha a resposta para isso. Era como seu por algum motivo desconhecido houvesse viajado para algum lugar daquelas ruínas que se vê em livros de história que foram construídos a séculos. Se antes eu podia sentir o desespero querer me abraçar agora eu tinha certeza que eu tinha virado o próprio desespero.
Marchamos por entre o mato até a porta. O mármore estava quebrado sendo consumido pela erosão, pela chuva. As pilastras baixar que sustentavam a barra que ladeava a escada estava deteriorada e em certas partes estraçalhadas no chão. Chegamos a porta e eu forcei a porta que abriu passagem com um rangido de protesto por tantos anos sem se mover.
A luz invadiu o quanto pode as trevas que resumiam o Hall. Um grossa camada de pó do chão levantou numa nuvem especa que somente não arrancou espirros de mim e de minha irmã por que éramos vampiros. Esperamos a poeira baixar para finalmente voltarmos a respirar. Da porta irradiava o raio mais grosso de luz, que permitia ver pouca coisa claramente. Vários outros feixez se desprendiam das janelas, pelo buracos entre as tábuas mal pregadas.
Era estranho voltar para casa e ver que tudo aquilo se tornara. O chão coberto por uma grossa camada de pó, e os poucos móveis que ficavam no Hall estavam cobertos com panos que ao longo das épocas que pegaram a cor do tempo. O lustre de cristal há muito havia caído e espatifado por entre os destroços do teto os pequenos fragmentos do cristal. A escada perdera alguns degraus ao qual o tempo quebrara, e outros somente estavam em pedaços no seu lugar. O ar de abandono figurava tudo na escuridão que não era suficiente para deter nossa visão, que via o serpentear das infiltrações e os pedaços descascados da parede. Parecia que havia muito tempo que a casa não era usada.
Lílian se dirigiu até a sala de estar, mas meus pés me guiaram por entre a escada, subindo para o segundo andar. O corredor que possuía um esplendor de antigamente estava acabado em poeira e destroços. A tapete que se estendia da ponta da escada até onde o corredor morria no cruzamento perpendicular com outro, estava corroído. As janelas deixavam pequenos filetes de luz escapar pos entre as tabuas que estavam apodrecendo com o indevido cuidado e ao desleixo ao vento e as chuvas. As cortinas estavam definhando nas mãos das traças.
Eu podia ouvir meus pé tocar o chão levantando levemente uma faixa de poeira. Meus sentidos vagaram pelos fios intermináveis da vida, a quando Eu e minha mãe com Lily, nos igualávamos em idade, brincando de pega-pega por aqueles vagos corredores. Não havia farsa naquilo. Não havia hipocrisia. Não haviam gente adulta que terminasse com os nossos risos. Minha mão tocou a parede, enquanto eu me deixava guiar por aquilo que eram as minhas memórias que aos poucos se transformavam em ruínas. Eu não liguei para as portas corroídas, vem para os espelhos quebrados que passavam por debaixo de meus dedos raspando asperamente. Meus olhos se fecharam, enquanto a negritude daquilo que minha mente vampira lutava contra as memórias humanas fosse aplacada e mais uma vez eu retornei ao meu passado. As paredes bem pintadas com os espelhos que ali estavam inteiros a refletir a luz que passava com a abertura que o soprar dos ventos deixava.
Eu caminhava por entre o tapete vermelho enquanto as risadas ressoavam as minhas costas. Parei diante de uma porta, que em minha mente estava bem polida. Toquei a maçaneta fria de prata deixando se revelar a mim o cômodo, onde finalmente entendi onde meus pés me guiaram. Aquele era meu quarto.
Abri meus olhos de repente me deparando com aquilo que sobrara do meu quarto. Eu realmente estava ali, mas aquele não parecia em nada com aquilo que era em minha mente, que agora deixava finalmente as memórias se irem nas águas barrosas do esquecimento. A cama de casal cedera lugar a um amontoado de tecido, madeira de pó. As janelas já não tinham nenhum vidro, e a janela somente estava forrada com as tabuas. O guarda roupa cedera para frente quebrando, enquanto a escrivaninha se sustentava em pé por pernas corridas. O cheiro de inutilidade entrou por minhas narinas junto com o cheiro de pó. Eu teria certeza que se eu pudesse chorar, uma lágrima poderia escorrer por minha face agora, mas eu não podia. Eu não podia chorar. Não podia aliviar minha dor.
Não agüentei ficar mais em meu quarto e desci muito rápido até alguma sala qualquer no andar de baixo. Mas em qualquer lugar eu reconheceria aquela sala e mais uma vez eu tive que suportar a dor que aquelas ruínas significavam. Aquela era a sala de musica. Como eu poderia esquecer. O piano cheio de pó pendido com uma perna quebrada dizia a desolação que a casa havia passado. Os sofás corroídos pela traça.
Então era aquilo que sobrara da minha casa. Então era aquilo que sobrara da mansão Troyes. Então aquelas ruínas era o que sobrara de minhas memórias. Parecia que mamãe e papai queriam se livrar realmente de nós. Queriam se livrar de qualquer coisa que pudesse lembrar da gente. Ele abandonara aquilo que era seu passado para tentar esquecer-nos. Eu não queria acreditar aquilo que minha mente me dizia. Não poderia ser! Qual pai gostaria de esquecer-se do próprio filho?
-Mark?
Porque será que Lily sempre me chamava quando estava perdido em pensamentos com aquele tom severo de preocupação como se eu pudesse fugir dela para sempre?
-Acho que fizemos muito mal de retornarmos! – Eu desse me virando para ela que estava encostada no batente da porta.
-Acho que não... Parecia que papai queria guardar algo em especial. – Ela balançou um caderno – Aqui só tem duas folhas escritas, a primeira que diz... – Ela abriu o caderno na primeira pagina – “Espero que algum dia meus filhos leias isso, e que possam perdoar a mim a sua mãe, mas nós tentamos lhes salvare saibam que nunca deixamos de os amar!” e na segunda está escrito – Ela virou a pagina – “Procurem por Rogers Bucker!”
-Bom não temos outra opção não é?
-Creio que não! Vamos?
Eu inspirei fundo antes de caminhar até ela.
-Vamos!
Saímos do local. Eu pelo menos sem olhar para trás. Não queria olhar para aquilo. Era demais para mim. Pelo menos por enquanto tudo que eu havia passado era demais, muito mais que eu podia suportar. Até mesmo como vampiro eu não agüentaria mais saber que eu não havia tido nada de verdadeira em minha vida, somente que as lembranças que eu sabia se irem de minha mente serem falsas.
Mas eu não pude resistir. Antes de pular para fora do muro, passei de relance o olhar pela casa abandonada que eu deixava para trás.
Uma hora mais tarde Eu e Lílian nos aproximávamos de uma outra casa num outro bairro a caminho da casa de Thiago. Havíamos evitado lugares onde houvesse pessoas. Eu ainda era uma recém nascido e ficar perto de humanos era perigoso. Somente nos arriscamos quando paramos para comprar uma lista telefônica. A casa de Thiago era bonita, mas não poderia dizer que era uma casa grande, mas também não era pequena. Tinha dois andares também, mas era mais humilde. Ficava num lugar que não era pobre, mas também não era rico. Podemos dizer que ele escolhera um lugar perfeito para um esconderijo. Lílian entrou e Thiago já estava esperando nossa chegada sentado numa poltrona perto da lareira lendo o que parecia ser um livro.
-Como é que foi?
-Nem te falo! – Lílian falou colocando a lista telefônica que compramos no nosso trajeto em cima de uma mesa.
-A nossa casa está em total ruína! Tudo acabado! – Eu disse.
-E o que vocês vão fazer? – ele perguntou olhando para a lista.
-Temos que falar com Rogers Bucker! – Ela pegou o telefone sem fio e o trouxe para mim.
-O que você quer que eu faça? – Eu perguntei olhando para o telefone que ela estendia para mim.
-Você pode ligar?
Eu iria questionar, mas resolvi fazer o que ela pedia. Peguei o telefone e fui até a lista. Folheei até que finalmente achei. Respirei fundo antes de discar. O telefone deu cinco toques, antes de alguém atender.
-Alô! – Uma voz de uma homem que poderia ser idoso, mas ele tinha uma voz forte.
-Alô é da casa do Sr. Bucker? Rogers Bucker?
A pessoa do outro lado da linha respirou raivosamente antes de falar bravo.
-Olha se for de qualquer coisa de publicidade fique sabendo que não estou interessado, passar...
-Não é! – Eu cortei o homem antes que ele desligasse na minha cara.
-Então o que é?
-O senhor conheceu Edmund Troyes?
-Bom homem... mas o que você quer? Fala logo que não tenho o tempo todo! – Eu quase mandei aquele velho ranzinza para o inferno.
-É o filho dele e ele....
-Meu Deus você está vivo! – agora o homem mostrava surpresa.
-Por que?
-Meu Deus onde é que você está... Eles não podem te pegar....
-Calma, calma – Eu cortei ele ante sua euforia – Eu estou bem somente quero saber se podíamos falar com você!
-Podíamos quem?
-Eu e minha irmã....
-Claro! Vocês podem vir em minha casa.... – ele hesitou por um momento – as duas?
Eu olhei no relógio. Ainda eram meio dia.
-Ok!
Ele me deu o endereço e depois de um cumprimento caloroso, desliguei o telefone e me virei para Lily que estava nos braços de Thiago me encarando ansiosa.
-E ai? – Ela perguntou.
-Ele nos espera as duas!
-Ok! – ela voltou a se aconchegar nos braços de Thiago que olhou para mim agora!
-Por que não troca de roupa? – ele perguntou.
-E vestir o que? Uma coberta?
-Você deve vestir o mesmo numero que eu.... Tenho umas roupas no meu quarto....
Realmente eu também deveria confirmar. Apesar dele ser um ano mais velho que eu, bem teoricamente já que ele estava a 141 anos preso aos seus 19, ele era do meu tamanho. Respirei fundo e marchei para o quarto dele, Mas eu não sabia qual era o quarto dele. Desci os poucos degraus que havia subido lhe encarando, e quando ia falar ele notou minha pergunta.
-Segundo andar, terceira porta à direita.
Eu assenti e voltei a subir. O segundo andar era composto por um longo corredor onde estavam dispostas algumas portas em distancias regulares. O final era lacrado por uma janela que dava para cidade. Procurei a porta que Thiago havia me indicado e entrei. Para mi seria um quarto comum com uma cama, uma escrivaninha e um guarda roupa, mas me enganei redondamente. Não havia cama, somente um sofá. O guarda-roupa era substituído por um closet e na escrivaninha pousava um Notebook desligado.
-Pelo menos ele é bem atualizado – Disse para mi mesmo analisando o porte moderno que constituía os móveis.
Fui até o closet e um assovio escapou de meus lábios. Ele era quase do tamanho do quarto. Do lado direito estavam aquilo que julguei ser as roupas sociais. Calças, camisas e até ternos. Do lado esquerdo as ropas normais de qualquer jovem. Na parede a frente estavam varias outras roupas normais e na parte baixa das paredes estavam as gavetas e os sapatos. Ele tinha um ótimo senso de organização pelo visto. Não estava com um pingo de vontade de continuar a usar aquelas roupas sociais. Não havia usado outra coisa desde que sai do hospício. Peguei uma camiseta normal de alguma marca que desconhecia. Pelo jeito com que a camisa era não era um simples camiseta. Uma calça jeans e um tênis All Star foi tudo o que usei para fazer meu Look.
Levei menos de 20 minutos para sair daquele closet. Tentei enrolar o máximo que pude, mas tudo que consegui foi aqui. O relógio no criado mudo ao lado do sofá marcava meio dia e meia. Ainda havia muito tempo, então resolvi vagar pela casa um pouco. Parei numa porta e entrei no que eu julguei ser a biblioteca. Até que fim um livro para matar o tempo. Escolhi o livro que melhor me agradou o titulo, e comecei a ler. Fiquei ali a ler os livros que pude. Meus olhos passavam muito rápido pelas palavras, e meu cérebro registrava cada uma, onde os textos eram formados em minha mente com uma precisão de um computador.
Creio que li uns três livros, e estava no começo de um quarto quando Thiago entrou na biblioteca certamente me procurando.
-Achou algo que fazer?
-Certamente. – Eu pousei o livro que segurava no meu colo antes de voltar a perguntar para ele – Você já fez faculdade?
-Você viu? – Não havia como não notar os grandes volumes de faculdade e o diploma de Harvard – Você fez Direito?
-Sim.... Mas nunca exerci a profissão! A fortuna e meu pai são suficientes para eu viver muito bem!
-Sorte sua! – eu iria voltar para a minha leitura se Thiago não voltasse a me interromper.
-Bom já são uma e meia.... Você vai o tal Sr. Bucker?
-Ohh sim! – eu fechei o livro o colocando de volta na prateleira.
-Eu vou levar sua irmã de carro.... Creio que você não vai querer ir a pé!
Eu inpirei fundo antes de sorrir e falar.
-Faz tempo que não venho a cidade!
-Ok.... Vou pegar o carro te pego você e sua irmã na frente de casa!
Nós nos separamos no corredor onde ele foi para a garagem. Quando cheguei na sala Lílian estava na porta a me esperar.
-Onde você estava?
-Lendo algo porque?
-Você estava quieto demais!
-E você que estava fazendo? – Eu perguntei com um olhar inquisitor.
Ela sorriu maliciosamente antes de responder.
-Você não gostaria de saber! Pode crer!
Eu bufei. É realmente eu não gostaria nem de imaginar o que Thiago e Lílian poderiam estar fazendo. Ahh não mesmo!
-Não era nada demais! Aliás, não foi aquilo que você pensou! – Ela falou rindo.
-Espero! – Eu falei de modo meio sério, mas ela não pode responder.
Uma Mitsubishi Pajero prata parou na rua e Thiago abaixou o vidro, gritando para a gente ir logo. Ao montarmos ele saiu numa velocidade rápida, acho que no limite máximo permitido na cidade.
Cerca de 30 minutos mais tarde estávamos parando na frente de uma casa. A casa do Sr. Rogers Bucker.

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Notas finais do capítulo

Gente, postei e não tive tempo de revisar nem de enviar para ninguém num pedido de socorro para a correção dos erros, então peço desculpas por qualquer coisa que esteja errado ou qualquer erro grave de portugues!
Abraços

jhow



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