A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 33
CAPITULO XI: Recordações




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No escuridão da inconsciência, ouve-se uma voz familiar lhe chamar pelo nome: Alan?!

Simultâneo a isso, lembranças vem a mente; do adversário, Paulo, caído, morto, ao chão poucos metros a sua frente, da dor causada por uma bala alojada no ombro esquerdo que o fazia se curvar também ao chão. Do seu entorno no momento, das pessoas ao seu redor lhe olhando espantadas, e de um velho amigo numa cadeira de rodas lhes criticando: “- O que fazem paradas ai, só olhando?! Vão ajudá-lo!” E novamente se ouve chamar: - “Alan?!” Ele abre os olhos devagar e pouco a pouco, enquanto a visão desembaça. se depara com Ezequiel, quem o chamava, sentado ao lado da cama em que estava repousando, de fundo ouve a voz familiar de Esquyeu: - “Viu, eu disse que não era algo tão simples que o pararia... Bah, vaso ruim não quebra...”

Após o breve momento de descontração, o velho técnico na cadeira de rodas, num tom um pouco desconfortável, comenta: “Bem, você também tem outra visita...”, ele saí um pouco para o lado, liberando a visão da porta do quarto, por onde timidamente se via entrando Luize. Um silêncio um tanto perturbante toma conta do quarto, ao que Esquyeu comenta: - “Bem, preciso voltar aos trabalhos da oficina... Hã, hei garoto pode me ajudar com algumas coisas lá na frente?” Ezequiel leva alguns segundos até perceber o que estava ocorrendo, e ao perceber, consente com o proposto pelo técnico, se levanta rapidamente e o segue para fora do aposento.

O silêncio continua por mais alguns segundos, até que a moça comenta: - “Que bom que você está bem...”

— “É, não foi desta vez” - a simples e meticulosa resposta que ela recebe, enquanto Alan mantinha o olhar congelado para frente, sem olhar para nada apenas evitando lhe encarar. Ela deixa escapar um “Ah-han”, quase que sob a forma de um suspiro, e caminha alguns passos mais para perto do leito. Se aproximando mais, ela pergunta sutilmente: - “E o que planeja para agora... Vai voltar para este campo... Retornar à vida que tinha antes aqui?” No leito, Alan sente as palavras que lhe são ditas, as quais derrubam sua face, porém apenas responde um: - “Não há como... Já não é meu lugar...”

Novamente a garota se detém um pouco para tomar alento, antes de deixar escapar um “Que pena...”, ela logo se recupera e lhe diz, se despedindo: - “Bem, lhe desejo melhoras. Com licença, eu tenho que ir...” Ela se dirige para a porta, ao se aproximar dela, ouve a singela pergunta vinda de Alan: - “Por que você veio?” Ela responde um simples “para ver como você estava”, ao que ele devolve: - “Não fora para atestar se seus erros e sua impulsividade não ceifaram outra vida?” Ela sente as palavras e entende a crítica velada na frase, ao que torna a se aproximar e tenta dissuadir o assunto: - “Pensei que sua crença dissesse que uma vida só é ceifada quanto se torna apta ao paraíso ou incapaz de se redimir...” Alan responde, quase que como se recitasse algo: - “Vi muitos absurdos debaixo do céu, homens bons e justos perecendo antes da hora, e homens maus tendo uma vida longa e prospera... coisas que não fazem sentido, esta apenas seria mais uma delas.” “Muitos absurdos tem acontecido ultimamente por aqui...”, “Ao menos não me podem acusar por nenhum deles...”, Alan responde quase que jocosamente.

— “Não me julgue deste modo...” - ela responde firmemente - “Muitos já julgaram... Eu estava sozinha, muitos estavam se voltando contra mim, me acusando, culpando... me consideravam incapaz de liderar... Muitos estavam planejando me substituírem...”

— “E isso te cegou para não ver que só o que ele queria era se aproveitar da situação, te usar para melhorar a própria vida, e, no final, roubar ele mesmo o seu lugar...” A garota, diante das palavras, nem o esperou terminar de falar antes de descarregar: - “E o que você queria que eu fizesse, você havia sido exilado, não havia mais ninguém... Paul... Ele foi o único que continuou do meu lado que me apoiou, O que você queria, que eu ficasse aqui te esperando? Era isso que eu deveria ter feito?!”

— “Eu só queria que... Nada, eu não queria nada...”; Alan diz em um tom decepcionado, antes de se virar na cama, como que ignorando-a. Ela suspira e sai do quarto, sem perceber a expressão sentida que o rapaz tentara esconder. Enquanto saia, percebia-se Esquyeu trabalhando em sua oficina, enquanto Ezequiel parecia estar desmontando algo, aparentemente mandado por ele, mas próximo a ela. Ao percebê-la passando, o jovem lhe chama a atenção: - “Desculpe, Luize, não é mesmo...” - ela lhe confirma ter acertado seu nome, ao que o jovem continua - “Desculpe, é que eu queria saber... Esquyeu me disse que vocês dois...” Ela percebendo o assunto que embaralhava a conversa do jovem, já se adianta a conversa:

— “Sim, eu e Alan tivemos algo... Este campo de sobreviventes foi fundado por meus pais, enquanto eu ainda era um bebê, junto com um grande monge dos imortais, Jeremie. Este cuidava pessoalmente do ensino e da proteção de meus pais, e ele havia adotado um garoto, não muito mais velho do que eu, apenas o suficiente para já estar andando enquanto eu ainda estava aprendendo a falar. Talvez pela comodidade, quanto este garoto ingressou no credo de seu mestre e pai adotivo, eles o colocaram como meu tutor e guarda pessoal, afinal havíamos crescidos juntos e nos dávamos bem... E logo a amizade entre nós cresceu e pareceu se tornar algo mais... Ele se mostrava tão confuso às vezes, era até engraçado, 'dividido entre o querer e o dever', como ele mesmo dizia, mas, em segredo, tivemos nossos momentos. Lembro-me do dia, bem; na verdade, foi uma noite; em que ele me surpreendeu, pegou o sabre que carregava e riscou um circulo no chão do meu quarto, ao nosso redor, e me disse que naquele momento ele esqueceria de tudo o que estive para além daquele circulo e ressumiria o seu tudo, todo o seu mundo, tudo o que lhe importaria, apenas ao que estava em seu interior. Eu adorei aquilo, e achei uma sorte que o circulo incluía minha cama... Mas infelizmente não pudemos ficar juntos... Naquela noite, geramos um filho e, em pouco tempo, o segredo acabou... Alan fora considerado um traidor pelos outros monges, não pelo o que tivera comigo, mas por tê-lo feito em segredo. Muitos monges já haviam deixado o clero para ter suas famílias, mas ele, havia mentido, e enganado a seus irmãos, traído a confiança deles, não entendo tão bem assim o credo deles, mas creio que fora isso, se ele tivesse declarado o que estava ocorrendo e renunciado ao seu 'sacerdócio' ele poderia se relacionar com uma mulher que não pertencesse a sua ordem, ou seja, no caso, comigo... mas como ele não o fez... ele pecou contra seus irmãos e precisaria ser punido. Ele acreditou que, talvez, Jeremie lhe poderia amenizar a situação, e isto o deixou esperançoso... mas não conseguiu. O castigo fora escolhido: Excomunhão e exílio. Lembro-me da expressão desconsolada dele ao deixar o campo, e isso também me afetou, acabei perdendo a criança. Algum tempo depois o campo fora saqueado por um grupo de Ladrões, e Jeremie conseguiu lhe ajudar. Foi sua a ideia de chamar Alan, que parecia ter se tornado algum tipo de mercenário por aí afora, e lhe dar a missão de recuperar o que fora roubado e caçar os saqueadores em troca do perdão e sua readmissão... Creio que o restante da história, você já o saiba... ”


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