A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 25
CAPÍTULO III: Pródigo




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Alan e Ezequiel chegam ao topo de uma colina após uma caminhada exaustiva. Do topo da colina via-se, em um vale logo abaixo, um vilarejo com algumas dezenas de construções, mesmo de longe se podia perceber que a maioria delas eram de uma alvenaria precária. Os dois mal haviam trocado uma palavra desde que deixaram a cidade, tentando quebrar este clima tenso, o jovem comenta: “Nossa, quantas pessoas...”, ao que Alan lhe informa: “Este é o campo de Tzadik, onde cresci... É um dos maiores desta região, da ultima vez que estive aqui tinha umas 50 ou 60 famílias morando nele... Acho que somavam mais de 200 pessoas...”

 

Os dois descem a colina, e adentram em meio à localidade de moradias precárias, as pessoas eram visivelmente pobres. A maioria dos moradores se mostravam mal-vestidos e sujos, encaravam os dois rapazes e não pareciam ser nada hospitaleiros com estranhos. Vez e outra, se viam crianças, muitas delas com roupas precárias, e outras até semi-nuas, correndo ou brincando de uma lado para outro, enquanto velhos se assentavam na porta de suas casas e algumas mulheres tentavam mantê-las limpas. De fato, não seria a mais agradável das visões, mas considerando tudo o que se havia visto até aquele momento, se poderia dizer que aquele estranho vilarejo chegava quase ao nível de ser acolhedor. Enquanto andavam, adentrando-se mais ao campo de sobreviventes, Ezequiel percebe não muito longe deles, um menininho, vestindo apenas um shorts e com o rosto sujo de terra, que, discretamente, chegava para uma mulher trajando um vestido longo, despotado e com um considerável numero de costuras e remendos, perguntando: “Mamãe, aquele homem é um deles?”, ela porém, o pega pela mão o puxa para o lado e lhe diz em particular algo como: “Não se aproxime deles entendeu, não precisamos de mais problemas do que já temos...”

 

Algum tempo avançando por aquelas vielas, eles chegam ao que parecia ser a “rua” principal do local, havia ali uma espécie de feira, com diversas barracas, a maioria improvisada, onde pessoas pareciam negociar todo o tipo de mercadorias e diversos serviços, alguns anunciantes chegavam a soar estranhos, tais como o vendedor de roupas que garantia, e se gabava, que possuía produtos que não haviam sido usados por mais de cinco pessoas diferentes, outro vendia munição a granel ao lado de uma barraca de chás, que por sua vez ficava de frente à barraca de um vendedor que anunciava a todos “o fungo mais verde que eles poderiam encontrar em qualquer lugar”, embora o que se via em seu mostruário eram hifas de uma coloração que se aproximava mais a um amarelo-esbranquiçado. Pouco mais a frente via-se uma roda de homens que pareciam estar torcendo e apostando numa luta entre dois artrópodes (semelhantes ao que virara café da manhã na cidade), ao lado de uma barraca, onde uma mulher negra e gorda, com um pano amarrado por sobre a cabeça e um assustador cutelo na mão, vendia os mesmos artrópodes, alegando serem os mais frescos e saborosos. Ao parar um pouco de “admirar” o local, o jovem se volta para seu companheiro de viagem, e percebe Alan olhando para todos os lados, de forma desconfiada, logo sua análise visual dos arredores é cortada por um vendedor que chega até ele exclamando: - “Hei, irmão, o que é isto, uma M12?! Esta arma é muito ultrapassada! Escute-me, amigo, se gosta de espingardas, olhe o que lhe ofereço, você me dá essa sua velharia, mais duzentinhos e, em troca, te arranjo uma 88, com pouquíssimo uso, hein, o que acha? Me diz se não lhe parece um excelente negócio!” Sem dar atenção ao homem, Alan apenas responde um frio “Não estou interessado”, o vendedor então insiste: - “Hei, qual é, como gostei de você, deixo por 120!”, Alan demostrando irritação, se vira para o homem, empunha sua arma, aponta para o homem e engatilha, respondendo-o: - “Já disse que, não estou interessado.”, o vendedor então solta um “está bem...” e volta para sua barraca, Alan volta a apoiar a arma no ombro, ao que Ezequiel lhe pergunta o que fora aquilo e ele simplesmente responde: - “Deve-se tomar cuidado com vendedores, ou eles te passam lixo como sendo os artigo mais finos... não são má gente, mas, na sua busca por sobreviver, alguns extrapolam...” Eles continuam andando, Ezequiel acaba por ouvir dois mulheres cochichando, enquanto os olhavam: “Será que eles vão voltar?!”

Em uma viela que desembocava naquela via principal, Alan acabaria encarando, com uma inegável expressão de descontentamento, duas mulheres, com vestes bem curtas, que ostentavam uma posse insinuante, com uma das mãos na cintura, acenando e sorrindo para todos que passavam, eram claramente prostitutas. Olhando mais ao derredor, também percebe dois homens, que empunhavam carabinas semi-automática, conversando entre si, enquanto os encaravam. Ele comenta com Ezequiel: “Tem alguma coisa errada aqui...” Ele mal termina a frase, e os dois homens se aproximam, um deles os intima: “Hei, vocês dois parados ai, precisamos conversar!”, os homens se achegam conversando entre si:

 

— “Olhe só, não te parece familiar? Tenho certeza que é um deles...”

 

— “Hum, espere um pouco, eu estou me lembrando desse ai... Não é aquele monge que se envolveu uns tempos atrás com a Luize?”

 

— “Hã, tem razão! Olhe só se não é o filho pródigo voltando pra casa... Ha, ha... Aposto como Paulo vai querer cuidar dele pessoalmente.”

 

Ao ouvir aquele nome, Alan demonstra um reconhecimento não muito amistoso, ao que os homens os intimam: - “É melhor vocês virem conosco...”, eles agarram os dois, Ezequiel se volta para Alan, porém este, apenas responde um simples e cínico: - “Fique calmo, talvez seja bom irmos com eles e evitarmos encrencas...” Um dos homens comenta: “É, você até que é esperto...”, enquanto, junto com seu companheiro, passam a conduzi-los. A multidão, que antes se aglomerara um pouco ao redor, buscando ver o que acontecia, passa a se dispersar enquanto eles saem, voltando as suas atividades.

 

Os dois os conduzem até uma grande construção, que poderia ser considerada, ao se comparar com as casas ao redor, uma mansão. Era visivelmente a maior construção do vilarejo. O local era vigiado por diversos homens, muitos estavam mal vestidos e tinham feições simplistas, porém todos estavam armados com carabinas, espingardas ou, pelo mesmo, um revólver. Eles adentram o local, chegando ao cômodo amplo, com algumas cadeiras e armários, e uma escadaria do outro lado que levaria ao andar de cima, do qual se via uma beirada e algumas portas. Logo que entram, os dois homens logo mandam que chamem o tal Paulo. Não demora muito até que o rapaz surja, reclamando por ser chamado e ameaçando que o motivo disto deveria ser algo muito importante. Paulo era um homem pardo e de bom porte físico, mas não muito alto, com cabelos negros e lisos, volumosos e um pouco compridos, repartidos para os lados da cabeça, chegavam a cobrir suas orelhas, mantinha migalhas de barba por fazer nas faces e estava vestido com roupas aparentemente boas, embora bem desgastadas, usando uma camisa aberta no peito. Ao verem o 'chefe', os homens lhe dizem: - “Olhe só quem encontramos no mercado!” Rapidamente Paulo encara Alan, e um sorriso malicioso se abre em seus lábios.

 

— “Olha, o que temos aqui. se não é Alan...” - Paulo começa a falar desdenhosamente - “O exilado retornou! Creio que você já teve ter percebido que algumas coisas mudaram por aqui... Ah, ah, mas que bom que voltou, temos algumas questões pendentes não é mesmo?”

 

— “Não tenho nada que resolver com você.”, Alan responde rispidamente, ao que o rapaz contesta: - “Ah sim, nós temos... Mas, vai ter que me desculpar, já está ficando tarde, e eu tenho coisas a fazer. Resolveremos isto amanhã.”, voltando-se para os seus subordinados, Paulo simplesmente ordena um 'prendam-nos', o que os fazem puxar Alan e Ezequiel rumo ao local de cárcere. Enquanto era conduzido, Alan olha ao longo do local e vê, de relance, no andar de cima, o reflexo de uma garota de longos cabelos loiros, que ao que tudo indicava observava o que se passara ali. Rapidamente, ela se oculta para algum dos cômodos daquele andar. Os dois são levados até o porão, onde haviam algumas celas; eles são fechados em uma delas, um cômodo pequeno e quadrado, sem nada, escuro, sem qualquer abertura, a não ser a de entrada, fechado com uma porta de ferro (um pouco avermelhada devido às marcas de ferrugem), com uma pequena abertura gradeada mais ou menos na altura do rosto. Eles são postos ali, e fechados, enquanto suas armas e pertences são levados pelos dois que os conduziram até ali.

 

Após o pleno anoitecer, os dois estavam assentados no chão da cela, sem que o sono viesse, eles apenas ficavam aguardando o que viria a acontecer. Após algumas exaustivas horas, ouvem-se leves passadas no corredor do outro lado da porta que os encarcerava. Logo, na abertura da porta, se mostra uma alva face, inspecionando o interior da cela com seus olhos verdes. “Alan?”, uma tímida voz feminina chama. “Veio confirmar por si própria se eu já não estou morto?”, o homem responde um tanto arrogante, porém a visitante parece ignorar tal resposta, e o som da fechadura sendo destrancada pode ser ouvido, seguida do ranger da velha porta sendo aberta lentamente. Ao saírem da cela, ambos se deparam com a garota que viram de relance ao serem presos. Ela era um pouco mais baixa que Alan, magra, com a tez alva, longos cabelos lisos e louros, e um olhar perdido, como se não soubesse direito o que estava fazendo, ou o por quê. Ainda que o jovem Ezequiel não conseguisse deixar de admirar a beleza de sua ajudadora, Alan parecia evitar lhe olhar diretamente. Percebendo tal atitude, ela se mostrava calada e cabisbaixa, gerando um clima estranho e tenso no local. Por fim, ela rompe o constrangedor silêncio, apontando para um saco que trouxera e deixara encostado na parede próxima a cela: - “São suas coisas, eu as trouxe pra vocês...”, após uma pequena pausa, ela continua: - “Se você ainda lembra donte fica o túnel dos aposentos... Ele permanece intacto, podem sair.” Alan apenas esboça um “obrigado”, ainda evitando olha-la. Ele apanha suas coisas no saco e convida, com um gesto, que Ezequiel fizesse o mesmo. Recolhidas as coisas, eles avançam pelo corredor, deixando sua auxiliadora para trás.

 

Eles sobem por uma escada e chegam a um corredor, bem melhor cuidado que o das celas, se escondem por detrás de um armário para evitar serem vistos por uma dupla de 'guardas' que rondavam por ali, embora com a atenção estes demonstravam com seu 'trabalho', eles nem precisariam ter se escondido para não serem vistos. Os dois continuam avançando mais um pouco, seguem na direção de onde os 'vigilantes' tinham vindo e adentram em uma das portas, chegando a um quarto com alguns móveis velhos e empoeirados, que na penumbra mal se podiam distinguir. Alan toma a frente e empurra o que parecia ser uma cômoda, depois, remove um fundo falso. “Entre e siga até o final”, ele falou a Ezequiel, “tenho algumas questões pendentes que resolver aqui, e depois me encontro com você no final do túnel.” Após deixar o jovem no túnel, ele volta a avançar pela casa, segue por um corredor, sobe outro lance de escada, se esconde de mais uma dupla de 'vigias' (embora novamente não haveria muita necessidade disto), e chega diante de uma grande porta dupla, ao que tudo indicava o aposento principal da casa. Ele tenta a fechadura, que estava trancada, ele a força com uma faca e a abre abruptamente, assustando um casal que trocava carícias por sobre uma larga cama. Paulo, sem camisa, e uma garota de cabelos negros e encaracolados, que parecia estar lhe acariciando as partes intimas. “O quê!? Filho da puta! Como escapou!”, Paulo o reconhece, enquanto Alan saca seu revólver e lhe aponta. “Não, agora não...”, ele se detém, “Se lhe der o que você merece aqui, ninguém além desta vadia o saberia, e nada mudaria...” “Olhe como fala comigo! Paulo faça algo!”, a garota esbraveja, porém seu amante apenas a censura com um “Cale a boca, Natasha!”, antes de se voltar para o homem que invadira sua intimidade, porém Alan não lhe dá tempo de resposta e apenas impõe: “Amanhã, ao meio dia, em frente ao relógio da praça principal, só eu e você...”


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