A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 14
CAPÍTULO XII: O fim do mundo segundo Deborah




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Em outro ponto da cidade, Ezequiel desperta, sentindo fortes dores na cabeça. Lentamente, ele abre os olhos e se percebe em um lugar coberto. Ele se encontra deitado, um som de chuva o envolve e próximo a ele é perceptível uma fogueira. Enquanto se recupera, ele ouve algumas murmurações, como se alguém falasse consigo mesmo: “Droga, eu sou muito fraca mesmo... Eu tenho que me tocar que eu tô sozinha agora... Não posso vacilar, tenho ser mais forte...” Com algum esforço, ele se levanta e se põe sentado, olha para o lado e percebe Deborah, do outro lado da fogueira. Ela, ao percebê-lo, muda o tom de voz: “Ah, oi, você acordou... Hã, e então, como se sente?”, Ezequiel responde apenas um confuso “Não sei, o que aconteceu?”, ao que ela sorri e responde: “Ah, bem... você não se lembra de nada, né?”, ao que o jovem lhe responde que não, ela, se anima um pouco e começa a explicar: “Bem, na loja de armas... Hã... Houve um acidente... Bem... Alguma coisa caiu na sua cabeça e você desmaiou! É, foi isso.” O jovem apenas comenta: “Ainda bem que você estava lá, não é”, diante do que Deborah força um sorriso e desconversa: “Bem, quer carne enlatada? Não está vencida a muito tempo...” “Não, obrigado”, o jovem responde enquanto se levanta e olha ao redor, questionando onde estavam, ao que lhe é informado: “Num prédio que ainda estava sendo construído quanto a cidade foi evacuada... os infectados geralmente exploram só ao nível do solo, estamos alto o bastante para estarmos a salvo.” Ezequiel se achega a beirada do prédio e acaba por constatar que realmente estavam a diversos andares do chão (ao que parecia, ao menos uns 5 ou 6).

Da beirada, o jovem observava o vulto noturno da cidade, iluminado ocasionalmente por algum relâmpago, e seu assombroso silêncio, quebrado apenas pelo som da chuva caindo e de alguns trovões. Após algum tempo observando tal cenário ele questiona: “O que aconteceu?”, Deborah o indaga, não entendendo sua pergunta, ao que ele explica: “Digo, com esse lugar, com o mundo... sei lá, tipo esta cidade, antes as pessoas moravam aqui, certo? Então essas criaturas não deveriam existir.” A garota demonstra certo espanto com a pergunta e o questiona: “Nossa, você conseguiu escapar sem que ninguém lhe empurra-se as ladainhas históricas deste lugar, é? Isto é extraordinário!”, diante do comentário, o jovem abaixa um pouco a cabeça e responde: “Bem a verdade é que não me lembro de nada... Minhas lembranças se resumem as duas ultimas semanas, quando despertei, após ser ajudado por um desconhecido, o qual tenho acompanhado desde então... Não recordo nem mesmo de meu verdadeiro nome... Ezequiel foi como o homem que me encontrou me chamou...” Ao ouvir a história, Deborah comenta: “Ah, bem, nossa, que ruim, hein... É esse local é bem cruel, você teve sorte em achar alguém que o ajudou... Mas, onde está esse seu ajudador agora?” “Houve um incidente, e nos separamos, ainda tenho que achar um meio de reencontrá-lo...”, Ezequiel responde, ao que a garota, demonstrando não estar interessada (e temendo que ele lhe pedisse para lhe ajudar), desconversa e se põe a responder a primeira pergunta que ele fizera: “Hã, quer saber o que aconteceu, né? Bem, resumindo, o mundo acabou... E agora vem a pior parte: sobrevivemos!”

“Mas como?”, o jovem insiste, ao que Deborah prossegue:

“Não sei ao certo, bem, ninguém sabe ao certo. Desde que tenho idade pra lembrar, o mundo é assim. Mas, de tudo o que tentaram me ensinar, o pouco que aprendi é que houve uma guerra. Não sei a quanto tempo, mas não deve ser muito, não é muito difícil encontrar um ou outro velhote nalguma taberna que que diz ter sido um soldado nessa tal guerra e que está disposto a lhe contar algumas de suas histórias em troca de um trago. Bem, mas vamos lá, o que sei é que antes dessa guerra, o mundo era dividido em muitos países, povos diferentes, coisa e tal, cada um deles tinha seus líderes, e esses líderes tinham formas de governar, crenças e interesses diferentes uns dos outros, o que os faziam entrar em conflito e ocasionavam algumas guerras, e estas guerras criavam muitos outros problemas para as pessoas, etecétera e etecétera. Até que um destes líderes surgiu com o que acreditava ser a solução para todos estes conflitos: ter um único líder, um governante mundial. Assim não existiriam mais conflitos entre governos diferentes, porque simplesmente não existiriam mais governos diferentes, até que faz sentido, não acha? Mas bem, o fato é que muitos dos líderes da época, principalmente os que já eram aliados do país deste líder, aceitaram a proposta e pouco a pouco foram convencendo outros a também aceitar, assim se formou uma 'União Mundial', ou qualquer coisa do tipo. Porém existiam alguns que não aceitavam de jeito nenhum essa ideia, dizem que estes líderes eram principalmente do leste, motivo pelo qual seu grupinho se chamou algo do tipo 'Aliança do Leste'. E ai estavam armados os dois lados da guerra: a União e os Aliados. A maioria dos ex-soldados que você encontrará por aqui eram Aliados, por isso provavelmente os ouvira dizer que eles lutavam para defender o direito das pessoas serem livres, de poderem escolher o que queriam acreditar, de não se submeterem caladas a um governo supremo e todo esse blá-blá-blá, mas o fato é que existiam dois lados, e o que ambos queriam era mandar nos outros, logo eles começaram a lutar. A União era muito superior, mas quiseram bancar os heróis, fingir que eram bonzinhos e vencer a guerra sem matar seus oponentes. Assim eles criaram uma arma revolucionária naquela época: germes sintéticos. Estes causariam uma doença nos exércitos inimigos, os enfraqueceriam e os deixariam fora de combate. Assim, os seus inimigos seriam obrigados a se render e se submeter ao governo mundial. Porém, eles não fizeram isso, os Aliados começaram a apelar para ataques suicidas e atentados, e seus alvos foram os laboratórios onde os tais germes sintéticos eram fabricados... os gênios os destruíram com ogivas nucleares. Eu não sou nenhuma expert nestes assuntos, mas me parece que combinar radiação com germes sintéticos não foi boa ideia. Ah é, realmente não foi... Dizem que foi a radiação que causou alguma mutação nestes germes, e os transformou. Assim, ao invés de enfraquecer aqueles que contaminavam, passou a transformá-los em criaturas monstruosas. E pior, os imunizantes criados pela União para se auto-proteger se tornaram inúteis. Essas coisas se espalharam mais rápido do que as pessoas da época foram capazes de pensar no que fazer, e... dominaram o mundo. Dizem que os governos criaram cidades fortalezas nos extremos norte e sul do planeta, onde é mais frio, ao que parece os infectados preferem o clima quente, lá as pessoas ainda vivem de 'forma normal'. Mas aqui, as pessoas sobrevivem como podem... Embora muitas delas acabam enlouquecendo, passam a se comportar de forma estranha e a fazer coisas absurdas...”

Ezequiel pensa por alguns segundos na história que lhe fora contata, ao que questiona: “Mas, se existem essas cidades, porque as pessoas não moram todas lá... o que fazem por aqui?” Deborah, sorri e responde, num tom de deboche: “O fato é que ninguém sabe se estas cidades realmente existem, muitos dizem que são apenas uma lenda, tipo historinhas que contam pras crianças... ou sei lá, eu mesma as vezes acho que elas não existem de verdade, talvez sejam só ruínas como as daqui... Além disso, mesmo os poucos malucos que dizem já as terem visto, apavoram a todos contanto histórias que se qualquer um chegar a menos de 10 km de uma delas, um dos francoatiradores que as protegem lhe acerta uma bala na cabeça. Assim prefiro me arriscar por aqui mesmo, pelo menos aqui as armas de maior alcance só são efetivas até uns 600 metros.”

O jovem suspira desesperançado e se volta novamente para a beirada do prédio, onde volta a observar o ambiente ao seu redor. Um relâmpago ilumina a rua abaixo dele e ele percebe de relance alguns vultos se movendo na rua, abaixo deles. “O que é aquilo?!”, ele questiona chamando a atenção de Deborah, a qual se levanta e segue até a beirada de onde ele observava, se esforçando para enxergar algo. Outro relâmpago ilumina a rua e ela vê diversas criaturas seguindo ao longo da rua. “Carniballus”, ela comenta ao que Ezequiel responde com mais um “o que?!”, ao que ela explica: “Animais infectados, podem arrancar sua cabeça com uma única dentada... é uma manada, devem estar vasculhando em busca de alimento.” O jovem se pasma com a informação, ao que a garota caminha tranquila de volta ao lugar que tomara como assento próximo ao fogo, enquanto comenta com ele: “Não precisa temer, essas coisas não conseguem subir escadas, e eu também broquei o caminho até aqui com umas tralhas... Acredite, eu sei como sobreviver aqui...” Ao ouvir isso, Ezequiel respira um pouco mais aliviado, ao que comenta: “Nossa, tive muita sorte em encontrá-la...” Novamente, Deborah força um sorriso e responde de forma ríspida: “Acredite, nem tanto...”

Ele também se assenta próximo ao fogo, do outro lado da fogueira em relação a garota, que passa a se lembrar do ocorrido na loja de armas. Em sua mente, ele revê a imagem dela o abandonando, inconsciente, dentro da loja, enquanto caminhava para fora, seguindo pela rua já escura. A chuva começava a se tornar mais forte quando ela, após uma certa distância percorrida, se detém, ao que parece, parando para pensar. Ela permanece parada por alguns instantes enquanto a chuva caia por sobre ela. Pingos escorriam por seu rosto e por seus braços, e em pouco tempo, gotas já se precipitam de seu queixo e mãos. Permanecendo imóvel e de cabeça baixa, sua respiração se mostrava seus únicos movimentos. Imagens do passado pareciam ecoar em sua mente. Alguns instantes mais ela fecha os olhos e respira fundo, volta-se novamente para loja atrás de si e comenta consigo mesma, em um sussurro: “Eu não posso fazer isso...”


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