Dama De Sombras escrita por Pedro Vinícius


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Esse prologo é algo bem pessoal. Criei numa madrugada tensa ouvindo uma música tensa e resolvi postar. É a minha primeira fic no site e a primeira fic da vida... Por isso, se não gostarem, ignorem-na. Mas, caso o contrário, comentem e voltem. *-*



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Os olhos dele tinham uma coloração vermelho-sangue sob o aspecto lúgubre daquele crepúsculo brando e arroxeado do fim de dezembro. Seus cabelos negros, lisos e escorridos, sorviam a pouca luz ao redor do corpo robusto e torneado dele, deixando-o suavemente obscurecido. Um filete de sangue escorria ameaçadoramente pelo canto da boca, revelando seus grandes e afiados caninos pura e imaculadamente brancos, que se sobressaiam à negritude que o revestia como uma extensão da noite.

Ele me lançou um olhar ácido, apertando os dedos ainda mais contra meu queixo. Senti uma leve dormência, uma onda de calor perpassando pelo meu corpo; uma mescla súbita de dor e desejo. Revidei o olhar.

- Eu já disse – sussurrei fracamente – que não sei nada.

- Você está mentindo – ele concluiu, pressionando-me ao paredão rochoso com mais força.

Os dedos dele passaram do meu queixo para minha bochecha, apertando-a. Senti como se uma lâmina aquecida penetrasse a minha carne. Pranteei de dor, mirando o chão com evasão.

- Você está me machucando – informei-o com uma entoação indefesa e trêmula.

- A dor persistirá – ele disse – se você não me disser a verdade.

Senti meu corpo hesitar em sutis espasmos de dor. Minha boca estava momentaneamente seca; e meus longos cabelos, revolvidos em tufos dispersos e avermelhados, balançavam-se a uma brisa cálida. Com uma sutileza que eu mesma ignorava, meus dentes correram como hienas rumo à carniça para os meus lábios. Sufoquei um grito de dor ao crava-los na carne exposta. Uma gotícula de sangue brotou da ferida aberta e outras vieram ao seu encalço, pingando numa profusão desenfreada de um líquido quente e rubro.

Os olhos de Alexander estreitaram-se nas órbitas, movendo-se num instinto tão primitivo rente ao sangue que emanava dos meus lábios quanto mortal; ele retraía o desejo pelo sumo vital tanto quanto o desejo que sentia de machucar-me, exigir uma verdade que nem mesmo eu tinha ciência. Os dedos fortes dele oscilaram em minha bochecha, aliviando delicadamente a pressão que eles exerciam nela.

Um sorriso apertado alargou-se dentro de mim, como gelo derretendo sobre fogo. Ele deixou suas mãos caírem sobre meus ombros, ambas apertando-os com uma pujança comedida.

Abruptamente, senti seus lábios gélidos irem de encontro aos meus. Ele movimentava a cabeça velozmente, e eu não tive outra escolha senão moldar-me à ferocidade com a qual me beijava; frenético e felino, produzindo uma sucção persistente no corte, saqueando meu sangue para si. Experimentei a sensação da qual tanto me falaram; do deslumbre impetuoso que insurgia com o beijo visceral de um vampiro, do êxtase que lhe percorria, da paz e da obsessão.

Esqueci-me do lugar à minha volta, da água que corria velozmente pelo rio e dos uivos que chegavam da reserva animal a alguns quilômetros. Esqueci-me das dores, dos receios e dos medos, e, sobretudo, esqueci-me do tempo; apetecia que ele parasse de andar, que eu e Alexander ficássemos ali para sempre, vinculados pelo calor que nossos corpos evocavam.

Então ouvi um grito, pesaroso, lamuriante e distante, e mesmo extasiada consegui regressar à realidade.

Eu sabia o que significava.

Alguém estava morto.


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