Henry

Henry saia do avião, carregando três malas, e a mochila com o violão nas costas, o velho violão preto, olhou para trás e viu seus pais andando lentamente, sorridentes, o sonho de sua mãe estava enfim realizado, morar numa pequena cidade dos Estados Unidos, Henry não entendia aquele sonho, qual era a diferença entre uma pequena cidade da Inglaterra e uma pequena cidade dos Estados Unidos? Nenhuma!

Mas essa mudança havia dado inspiração para ele, desde que sua mãe anunciou que iriam se mudar, ele tinha escrito pelo menos cinco boas musicas. Lembra-se bem de quando chegou naquele bairro charmoso, com casas de cores claras e telhados amarronzados, de ter visto seu sobrado de tijolos com aquela grande janela na frente que coincidentemente dava de frente para a janela e a varanda da casa do outro lado da rua.

Saiu do carro e carregou as malas dentro, logo depois saiu e avistou o céu azul que era difícil de ver na Inglaterra, as arvores verdes emolduravam as casas da vizinhança, mas a casa da frente era especial, com um tom de amarelo pálido e sua varanda de madeira com duas cadeiras de balanço, arbustos com flores roxas e dava para ver um pedaço da piscina por detrás da casa.

Logo depois saiu uma garota pela porta de tela, aparentava ter treze ou catorze anos, tinha os cabelos alaranjados e os olhos de um azul esverdeado, ou verde azulado, ele não tinha certeza disso até hoje, mas decidiu que queria pintar o seu quarto daquela cor, a cor mais linda que já viu, essa garota atravessou a rua e sorriu docemente para Henry que ajeitou os óculos e arrumou a postura.

-Olá. –ouviu pela primeira vez aquela voz fina e alegre. –Me chamo Anne. –ela exibiu seu sorriso infantil que fez Henry ficar sem reação.

-O-oi... –murmurou. –Meu nome é Henry.

-Seu olhos são lindos. –Sem titubear Anne tirou os óculos dele. –Assim fica melhor.

            -Assim eu não enxergo. –dois dias depois Henry comprou lentes de contato.

            -Seu sotaque é engraçado. De onde você é?

            -Inglaterra.

            -“Englaterrra” - imitou e deu risada, Henry forçou os lábios para cima.

            Henry percebeu que saia uma criança da casa de Anne e apontou.

            -Aa não, Belle volta! Mããe... –Anne correu desesperada e Henry riu e descobriu o motivo de ter se mudado para lá.

            E agora Henry olhava para a casa amarela em frente e dedilhava seu violão, seu motivo tinha acabado, passou as mãos pelo violão e sentiu o relevo feito por Anne há um ano, foi feito com a chave de sua casa, era um coração e uma 17/12, hoje estava fazendo um ano, um ano do dia em que Henry deu um urso de pelúcia de presente para Anne em seu aniversário de dezesseis, Anne chamava o urso de Anry, a junção do nome dos dois.

            Henry olhava para a porta semiaberta e tinha vontade de levantar e entrar para abraçar Anne e dar parabéns, mas nada mais era como antes, tudo havia acabado, ele não a acordaria todas as manhãs, seu urso não teria mais significado, seus dias ficariam cinzas, o céu agora voltaria a ser nublado, tudo como era há 2 anos.

            Ela não sentia falta, ela só queria alguém para acordá-la, para ouvi-la chorar, mas não queria um amigo apaixonado.

            Pensou nisso e tocou All About Us tentando não pensar no que a musica realmente significava.