Contra Si escrita por Gosmenta


Capítulo 4
Realidades




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-Porque eu sou apaixonado por você desde quando eu te vi pela primeira vez, mas sempre soube que você era demais para mim. Satisfeita?

            -Henry eu não sei o que dizer. –ela sussurrou, sua voz estava embargada. –Me desculpe. –ela virou e tentou andar, mas não conseguia, a dor sempre voltava na hora errada.

            Suas pernas fraquejaram e Henry a segurou rapidamente.

            -Você está bem? –ele a olhou e o rosto de Anne estava pálido.

            -Não muito. –Anne tentava ficar com os olhos abertos.

            -Eu acho melhor irmos para o hospital.         

            -É só uma fraqueza, normal, não comi direito hoje.

            -Anne, vou te levar até a sua casa. –sua voz demonstrava o quanto preocupado ele estava.

            Henry a pegou no colo e a levou para a sua casa, colocou-a no chão e abriu a porta silenciosamente.

            -Aonde quer ficar?

            -Eu fico aqui na sala mesmo. -Henry a colocou no sofá.

            -Eu vou ir embora, ok? Se cuida Anne. –ele continuava frio e deu um beijo na testa de Anne.

            -Me desculpe Henry.

            -Pelo que? –perguntou antes de levantar.

            -Por tudo, eu nunca dei o valor que você merece.

            -Adeus An. –ele fechou a porta o mais rápido possível.

            Anne não pode evitar o choro, ela não sabia o que fazer sem Henry por perto, e o problema é que ela só havia percebido isso agora.

            O celular vibrou em seu colo, foi ver de quem era a mensagem, esperando ser de Henry, mas era de Ricky, decidiu não responder e logo depois caiu no sono.

            -Anne? –sussurrou Samantha em seu ouvido tentando acorda-la.

            -Mãe?

            -Oi querida, vai jantar?

            -Não, estou sem fome.

            Samantha afagou os cabelos de Anne e passou a mão em sua testa.

            -Filha você está com febre, está bem?

            -Não muito.

            -Quer um remédio?

            -Por favor. – pediu enquanto se ajeitava no sofá.

            -Ok, vou buscar. –Samantha se levantou e foi ao armário do banheiro pegar qualquer remédio para gripe ou febre. –Está aqui querida. –falou Samantha oferecendo um comprimido e um copo para Anne.

            Anne tomou o remédio, se virou e caiu no sono novamente, Samantha a observou e afagou os cabelos da filha novamente, se lembrou de como foi difícil ter Anne, como o parto havia sido complicado e as dificuldades que ela teve quando o pai de Anne as deixou, o acordo que teve com Peter logo depois de Belle nascer, de que nada os separaria, Samantha era incrivelmente apaixonada por Peter naquela época, mas as coisas haviam mudado, ele não a tratava como prioridade, a tratava apenas como a pessoa que lavava suas roupas, cuidava da casa e de sua filha, mas Samantha não podia negar, Peter era um bom pai para Belle, sempre amoroso e nunca deixava nada faltar a filha querida, mas sua relação com Anne nunca tinha sido boa, eles viviam em conflitos e brigas e se dependesse de Anne, os dois nem teriam se casado.

            Se lembrou do dia de seu casamento com Peter, quando viu Anne sentada num canto de seu quarto, vestida como uma princesa mas não queria sair dali, pois Peter diria que ela estava feia, Anne nunca havia aprendido a confiar em ninguém, sempre foi insegura e ninguém havia conseguido mudar isso.

            -Samantha. –Peter chamou.

            -Oi querido. –ela se recompôs do quase choro e levantou.

            -Onde está o jantar?

            -Vou colocar na mesa agora mesmo. –Samantha andou de cabeça baixa até a cozinha pegando as panelas e levando-as a mesa.

            -Belle, venha jantar meu amor. –Peter sorriu amoroso e se abaixou esperando Belle andar desengonçada até ele. –Tudo bem com você minha linda?

            -Tudo papai. –Belle olhou para Anne dormindo. –Olha a Anne, vai chamar ela papai, vai. –ela puxava Peter pela camisa.

            O rosto de Peter mudou para uma feição fria e calculista.

            -Samantha porque Anne está dormindo?

            -Ela está doente.

            -Pelo menos assim fica calada. –Peter se levantou com Belle no colo e a colocou na cadeira.

            -Não seja injusto com Anne.

            -Injusto? –ele aumentou o tom de voz. –Você viu como aquela pirralha me tratou noite passada? Ela não me respeita.

            Samantha permaneceu calada para evitar qualquer discussão.

            Quando Anne acordou ainda estava no sofá, olhou para o celular rapidamente, apertou o botão, 07h50min.

            -Meu Deus! –Anne saiu dos cobertores e subiu as escadas rápido.

            Do outro lado da rua Henry olhava a casa da frente, ainda em duvida se deveria ou não mandar uma mensagem, olhou para a janela do quarto de Anne e viu as luzes se acenderem, Henry começou a andar em direção a escola, era difícil andar sozinho por aquelas calçadas, ele estava sempre acompanhado de Anne e machucava não tê-la por perto, mas essa era a escolha dele e ele iria continuar assim, sem ela.

            Anne olhou pela janela e viu Henry andando lentamente pela rua, de cabeça baixa, o nó cresceu em sua garganta, encostou o nariz na janela e percebeu que estava perdendo até a única pessoa que achava que teria sempre.

            Naquele dia Anne entrou na segunda aula, ela não conseguia andar direito, se sentia fraca e estava pálida. Não viu Ricky aquele dia, e percebeu que o dia estava totalmente frio e solitário, pelo menos para ela.

            Os dias permaneciam assim, gelados, chuvosos, sozinhos e melancólicos, era incrível como uma hora com Henry quebraria toda essa solidão, como Henry conseguia fazer bem a ela, era ainda mais incrível como Henry havia saído de sua vida.

            De um dia para o outro, tudo havia virado de ponta cabeça, tudo havia se tornado escuro em sua vida, sua mãe e Peter continuavam discutindo, já Anne não tinha mais forças para sequer olhar para Peter, era angustiante, naquele momento Belle parecia a única que alegrava seu dia, sempre tão ingênua, alegre e brincalhona, fazia Anne esquecer de todo o resto.

            Depois de mais alguns dias sem Henry, Anne se aproximou de muitas pessoas, nenhuma chegava aos pés do seu Henry, seu melhor amigo, Ricky passou a frequentar mais sua casa, mas Anne estava paralisada, ela não se lembrava se Ricky era especial ou não para ela, apenas lembrava de seus beijos.

            Anne emagreceu três quilos em duas semanas e meia, não se lembrava de comer menos, nunca foi muito paranoica com peso, mas ela se sentia melhor assim, mais magra, mais leve.

            As dores permaneceram, mas Anne deixou de dar atenção, quando começavam as pontadas, apenas se sentava por alguns minutos e voltava a fazer outra coisa, teve febre por muitos dias seguidos, uma gripe muito forte, mas isso não a incomodava em nada, era apenas mais alguns graus, apenas mais algumas tosses.

            Na verdade, deixou de se importar com tudo, apenas ia para a escola e esperava na varanda que Henry aparecesse na janela, mas na verdade aquelas janelas estavam com as cortinas grossas fechadas há um longo tempo, Anne viu Giselle uma ou duas vezes entrando na casa dele, mas nunca via seu rosto, Giselle batia quatro vezes e ele apenas destrancava, sem um oi formal, pelo menos não do lado de fora.

            Era dia dezessete de dezembro, os dias gelados de inverno já invadiam a alma de Anne, tudo parecia mais sombrio aquele dia,  e Anne sabia o porque, naquele maldito dia Anne completava 17 anos.

            Era sábado, ela permaneceu na cama até as dez quando sua mãe chegou com o incrível café da manhã, suas comidas prediletas, mas Anne não estava nem um pouco a fim de comer, ou de existir.

            -Parabéns Anne querida. –Samantha entrou no quarto com uma bandeja e Belle vinha logo atrás segurando vacilante o vaso de flores roxas.

            -Obrigada. –agradeceu e sorriu. –Muito mesmo viu mãe. –enfatizou.

            -É um prazer fazer isso para a minha linda filha.

            -Feliz aniversário An.

            -Oh, obrigada Bells. –Anne a abraçou forte e carinhosamente.

            -Então, Anne, eu queria conversar contigo.

            -Ah meu Deus, diga que não é sobre prevenção, hoje não né mãe?

            -Não, não, nada disso.

            -O que é?

            -Eu estou percebendo que Henry não tem vindo mais aqui.

            O nó se formou em sua garganta e ela olhou para baixo. –É, nossa amizade tá meio abalada.

            -Por quê?

            -Eu não quero falar sobre isso agora mãe, hoje não.

            -Ok meu amor, quando quiser, estou aqui para te ouvir, ela a beijou em sua cabeça e saiu do quarto.

Anne olhou para a Bandeja e olhou para a janela com as cortinas abertas, dava diretamente para a janela de Henry.

As cortinas de seu quarto também estavam abertas, apesar da neve fina que caia naquele dia, Henry estava de costas, pegando algo em seu armário, Anne se levantou e encostou a testa na janela, o observando, ele andava tranquilamente pelo quarto turquesa, ele havia escolhido aquela cor para se lembrar dos olhos de Anne, ela nunca soube.

Henry colocou a jaqueta na cama e olhou de relance pela janela, encarou Anne, arrependido por ter se virado, Anne o olhou e o nó em sua garganta aumentou e as lágrimas escorreram, Anne respirou junto a janela e escreveu com o vapor que se formou. –“Sinto sua falta.”.

Fechou lentamente as cortinas, Henry ainda a olhava, magoado, Anne se sentou em sua cama e chorou, soluçando e esperando algo que a fizesse entender como tudo aquilo aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Mais um pouco de drama não faz mal a ninguém né gente kkk. Beijos.



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