Ele segurava meu pulso com uma mão e com a outra agora me empurrava pelo ombro, contra o muro. Apenas o pulso doía mas ainda assim, era completamente desconfortável.
- Por que você foge de mim? - Assim que ouvi a primeira palavra encarei o seu rosto sério que combinava perfeitamente com seu tom de voz. Não era como o que ele costumava usar.
- Por que você me segue? - Quase repeti a mesma pergunta.
- Porque agora, eu quero você. - Corei e comecei a encarar o chão. Eu não gostava dele, mas ouvir algo assim, de alguém tão sério e tão bonito... Mas não seria só mais uma... - Responda minha pergunta!
- P-por que eu não fugiria? - Falei um pouco assustada, ainda desviando o olhar.
- Porque as outras costumam vir atrás de mim. - Ele dizia sorrindo, agora. Logo depois ficando sério novamente. - Mas você faz exatamente o oposto.
- N-não sou como elas... Não vou me deixar levar por causa da sua beleza.
- Então você me acha bonito? Então se sente atraída por mim? - Agora  aquele sorriso voltava ao seus lábios. Sua mão iam até meu queixo e segurava-o, erguendo meu rosto, me obrigando a olhar para ele. - Responda-me.
- Você é bonito sim... Me deixe ir embora. - Falei baixinho, fechando os olhos.
Ele desceu sua mão que estava no meu ombro até a minha mão. Pegou e a beijou, me desprendendo daquela parede.  Puxei minha mão e sai dali, quase correndo novamente, apenas ouvido aquele risinho dele. O que esse cara tinha na cabeça?
Chegando perto de onde a pequena bolinha de pelos preta estava, escutei o toque e vi que minha garrafa não estava lá. Quando fui olhar o gatinho, que agora estava tomando leite, me levantei e vi que a garrafa estava naquela sala. Iria procurar saber que sala era aquela mais tarde, agora não podia me atrasar.
Entrei na sala e vi Kyoko e Tsuna conversando. Senti um aperto no coração, mas sorri para eles. Sentei-me no meu lugar, na frente de Tsuna e me virei para lhe dar bom dia. Ele não fez como normalmente, me dava bom dia sorrindo. Ele me perguntou como eu estava e quando ia pedir desculpas novamente,Kyoko o interrompeu com um tapinha no braço.
Falamos sobre um trabalho que teria logo e depois o professor entrou na sala. Não queria falar do que acontecera mais cedo para eles, pelo menos por enquanto.
Algo me dizia que aquele dia não ia ter só aquilo. E eu estava certa.

O intervalo tocou e eu expliquei para os dois que iria sair para procurar algo que tinha perdido. Kyoko se ofereceu para ir comigo, mas Tsuna precisava de ajuda em um exercício, então disse que podia me virar.
Entrei no corredor e li a placa que havia naquela porta. Era o comitê disciplinar. Realmente eu não tinha sorte...
Bati na porta e como ninguém respondeu, entrei pedindo licença.
Logo peguei minha garrafa. Vi meu nome escrito em baixo dela e me lembrei daquele encontro no telhado... Como Mukuro sabia meu nome?
Ao abrir a porta dei de cara com alguém. Definitivamente, eu não tinha sorte.
-  O que está fazendo aqui? - Disse Hibari Kyoya. Ele não estava com sua expressão de sempre, parecia preocupado, angustiado. Eu queria ajudá-lo, mas...
- E-eu bati na porta, mas não tinha ninguém. Vi minha garrafa pela janela... - Mostrei meu nome nela. Ele passou por mim segurando a porta.
- Saia logo daqui, antes que eu me arrependa de deixar isso passar sem uma punição. - Ele disse, com um olhar vago
- O-obrigada... Mas... V-você está bem? - A expressão dele mudou completamente. Ele me encarou com certa confusão e depois fechou os olhos, balançando a cabeça.
- Isso não é da sua conta. - Ele disse, fechando a porta da sala.
Fui para a sala de aula e só saímos de lá na hora do almoço para o telhado.
Fomos eu, Tsuna, Kyoko e outros colegas que não estavam mais na mesma sala que nós três. Gokudera, Yamamoto e o irmão mais velho da Kyoko, Ryohey.
Logo que cheguei lá, vi uma bolinha amarela caída no lugar onde Hibari costumava se sentar e fui ver o que era. O pequeno pássaro estava machucado, parecia ter quebrado sua asa. Aproveitei que tinha faixas na bolsa e enrolei na asa direita do pássaro, pegando-o e o levando para onde se sentaram os outros. Também lhe dei água e fiquei cuidando dele por algum tempo.
- Que sorte, tiveram a primeira aula depois do almoço livre! Nem acredito nisso! - Disse Yamamoto, com um sorriso típico dele. - Vocês vão poder me ver jogar na aula de educação física!
- Eu mesmo não vou... - Disse Gokudera. - Se alguém quiser ficar aqui...
- Hm, acho que todos vamos, Gokudera.... - Disse Kyoko, olhando para mim.
- Bem, eu posso ficar. Eu tenho que cuidar dele de qualquer forma. - Falei, me referindo ao pássaro e então decidiram ir enquanto eu ficava com Gokudera.
Depois de algum tempo, Hibari entrou ali e se deitou no mesmo lugar de sempre. O pássaro ficou um pouco inquieto e saiu voando, meio desastrado em direção ao rapaz, que parecia ser seu dono. Depois de alguns segundos, Gokudera, que parecia um pouco menos quieto que de costume, falou:
- Hm... Vou comprar algo para beber. Quer alguma coisa, Chrome-chan?
- N-não precisa. - Falei gesticulando, enquanto ele se levantava. - Vou ficar por aqui.
Ele saiu e no momento em que ele atravessou a porta, sentir o olhar de Hibari em mim.
- Ei você... Chrome não é? Venha aqui.
- S-sim... - Eu disse, me levantando, hesitante. Quando cheguei perto dele, ele continuou falando.
- Eu odeio ficar devendo coisas aos outros, então, quando precisar de algo, me peça. - Ele disse, fechando os olhos.
- Mas por que?
- Você cuidou dele. - Ele disse, e cobriu o rosto com um dos braços. Voltei para onde estava sentada.
- Não precisa disso... Eu faria isso por qualquer um...
- Não importa. - A porta se abriu e Gokudera entrou.
- A aula vai demorar um pouco para começar, mas todos estão na sua sala... Vamos para lá?
- Ok. - Falei, juntando minhas coisas e seguindo-o, deixando meu olhar passar por Hibari e seu pássaro por alguns segundos, enquanto ia até a porta.
No final da aula, como de costume, Tsuna me deixou em casa antes de ir para a dele.
- Você realmente está bem?
- Sim, Tsuna-san. Eu estou bem!
Ao entrar em casa fiquei pensando em tudo que estava acontecendo.

Meu coração doía demais quando eu ficava com Tsuna...
Mas agora, Mukuro de alguma forma me interessava. Não como Tsuna, mas como pessoa. Eu queria muito saber quais eram suas intenções, e o que ele queria ou porque sabia meu nome.
Também queria saber sobre Hibari. Ele era uma pessoa misteriosa, ninguém sabia nada sobre ele. De alguma forma eu queria ajudá-lo.
Amanhã eu tomaria uma atitude em relação a isso. Iria descobrir pelo menos uma das coisas que queria.