Confusões De Uma Vida Perfeita escrita por Miaka


Capítulo 1
Adaptação


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic que posto no Nyah! E minha primeira experiência com humor. Espero que curtam! Auxiliada pelo meu noivo Jorge André o qual sempre beta minhas fics! ^^ Espero que curtam e reviews, elas são sempre MUITO bem-vindas! ^^



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Confusões de uma vida perfeita

Capítulo I: Adaptação

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Como fazia todo final de tarde, ao voltar do Rokubantai para sua mansão, o nobre capitão Kuchiki Byakuya, alguém que havia sido criado com bons costumes e elegância, repetia um ritual quase que sagrado.

Banhava-se, vestia um yukata e seguia para seus aposentos.

Lá pousava em uma das almofadas, diante de uma pequena mesinha, apreciava um delicioso chá e o belo jardim de inverno, visível pelas portas abertas. Era como se purificasse corpo e alma. O interior e o exterior. Além de estonteante de belo, no exterior havia silêncio, tal coisa que Byakuya prezava muito.

O silêncio absoluto só era rompido pelo saltar das carpas que cultivava no pequeno lago e do bambu que volta e meia tombava na fonte quando era preenchido pela água corrente que emitia um contínuo som relaxante.

O ambiente coesivo, aquele silêncio e paz, tudo era voltado a trazer harmonia.

Aquela rotina deliciosa de Byakuya o fazia manter seu equilíbrio.

Os longos dias que passava em seu serviço no esquadrão, sendo um capitão, pareciam nada diante daquela paz. Aquela tranquilidade que não trocaria por nada.

Mas aquilo não passava de uma lembrança de uma semana atrás...

Algumas batidas na parede que dava para o quarto ao lado chamaram atenção do nobre.

Esse abriu os olhos que estavam cerrados no momento em que levava o chá aos lábios, pronto para apreciar a bebida.

E junto daquelas batidas estranhas na madeira surgiram os gemidos tal quais, havia uma semana, já faziam parte da nova rotina de Kuchiki Byakuya.

– Ichigo, faça menos barulho! – ele ouviu a voz feminina tão conhecida de sua caçula repreender.

E mais batidas e um incessante remexer de lençóis fazia uma veia saltar na fronte do nobre.

– Você quer fazer isso sem fazer barulho? – o jovem perguntava num tom de obviedade.

– Estamos na casa do nii-sama, você tem que lembrar que não podemos... – e a voz da morena se perdeu em um engasgo que precedeu um gemido longo e prazeroso. – I... Ichigo! – Rukia gaguejou.

Uma risadinha mútua fez Byakuya apertar com força o copo em mãos. Controlou-se para não quebra-lo.

As risadas foram cessadas por mais beijos que eram audíveis. O nobre se arrependera de sua casa ser construída em madeira e não com concreto e proteção acústica. Ele não merecia sua irmã e seu... cunhado fazendo sexo no quarto ao lado absolutamente toda hora que tinham oportunidade.

– Somos casados, ele tem que entender! – Ichigo lembrou a Byakuya o que o impedia de mata-lo.

Ichigo e Rukia eram casados há seis anos. Não tinha sido porque Byakuya quis ou aceitou.

Quando viu, já era tarde demais.

Poderia ter impedido, mas há sete anos, um a mais de quando anunciaram que se casariam tão rapidamente sem nem mesmo saber que tinham um relacionamento, eles já haviam produzido a principal dor de cabeça do nobre naquele momento e que adentrou correndo seus aposentos.

– Tio Byakuya! Vamos brincar, vamos!

E os gritos de seu pequeno sobrinho vinham acompanhados do estrondo de tudo que ele havia derrubado no caminho, incluindo um vaso chinês caríssimo, relíquia dos Kuchiki, que ficava próximo à porta de seu quarto.

O vaso que tinha no seu interior uma cerejeira fora derrubado por uma pequena guitarra de plástico que Ginrei, seu sobrinho, sacodia ao adentrar o aposento. Aquele artefato estranho, segundo Byakuya, era um brinquedo do mundo dos humanos. Aliás, um dos muitos que o querido sobrinho havia trazido de lá.

Inexpressivo, contendo-se ao máximo, o nobre fitou a criança que o puxava pela manga do yukata azul marinho que vestia.

– Vamos brincar, vamos lá!

Ele tinha os olhos azuis tão belos quanto foram os de sua bela Hisana, idênticos aos da mãe, cheios de vida, e os cabelos laranja, segundo Byakuya, irritantes como os do pai.

Se já não bastasse ele ser o motivo principal que não pôde proibir Ichigo e Rukia de se casarem, há sete anos, o menino era responsável por azucrinar os únicos momentos de paz que tinha.

– Não posso agora. – o nobre respondeu sério.

E fazendo Ginrei tremer, fitou o vaso quebrado ao chão. Não ralharia. Era o milésimo objeto quebrado desde que aquela loucura começara. Voltou a bebericar o chá, ignorando o menino.

– Mas o papai também não quer e a mamãe também! Eles estão trancados no quarto e não quiseram me atender! – o espevitado garoto ralhava com o tio.

– Ah, por que será que eles não atendem? – irônico, Byakuya questionou enquanto aquela veia latejava na fronte do nobre ao se lembrar dos gemidos que precediam a entrada da criança.

Mas não era o bastante.

Logo um choro estridente se propagou por toda a mansão. Nada atípico naquela semana.

O nobre massageou as têmporas e lamentou as vezes que via os sobrinhos apenas nos aniversários em que, infelizmente, era convidado e tinha de ir a Karakura visita-los.

– Titio Byakuya!

E a dona de tanto choro era a garotinha adorável de repicados cabelos negros, curtinhos como os da mãe, até a altura do ombro, que adentrou o quarto. Ela trazia um coelhinho de pelúcia o qual, pela pouca altura, arrastava pelo chão. Coçando os olhos no meio da choradeira, Byakuya suspirou com pesar.

– O que... – o nobre pousou o copo a mesa, irritadiço. – aconteceu?

– O nii-chan não me deixa jogar videogame! – reclamou antes de cair no berreiro de novo.

– Sua nanica horrorosa! – gritou o garoto, mostrando a língua para a caçula.

Como esperado, aquilo foi o novo estopim para o choro ensurdecedor da menina.

– Tio! – berrou.

Byakuya estava à beira de um colapso nervoso. Aquela peste estava indo puxar o cabelo da irmã menor que chorava loucamente enquanto sua irmã e seu querido... cunhado faziam sexo loucamente no quarto ao lado.

– Ginrei!

Rukia surgiu na porta do quarto completamente despenteada ao lado de Ichigo que só usava o hakama. Suados e ofegantes, protagonizavam a cena mais deprimente na visão de Byakuya. Ela ainda tentou dar um jeito nos cabelos repicados quando se curvou.

– Com licença, nii-sama!

Adentrando os aposentos do irmão, Rukia tomou a filha caçula no colo, sacudindo a pequena para que cessasse aquele chorar que tinha o poder de fazer aquela veia de Byakuya ficar cada vez mais evidente. Uma hora ela explodiria.

– Que está acontecendo aqui? – Ichigo perguntou, pigarreando. – Ginrei, que aconteceu com sua irmã? – ele ralhou colocando-se na sua posição de pai.

– Nada, 'otousan! Eu só fui pentear o cabelo dela e ela ficou aí berrando! – o garoto inocentemente simulou, fingindo com maestria com a cara mais lavada possível.

Ichigo suspirou, aproximando-se de Rukia para afagar os cabelos negros da menina que escondia o rosto no ombro da mãe.

– Misaki-chan, você tem que ser menos chorona... – ele riu afagando a 'mini-Rukia' no colo da esposa. – Quando for pra escola, os meninos vão rir de você assim! – advertiu carinhoso. – Ou pra academia, né? Porque afinal, se não voltarmos para Karakura, vai ter é que virar shinigami!

A afirmação de Ichigo que veio acompanhada de risos de Rukia veio como um raio sobre a cabeça de Byakuya. Como? Eles planejavam ficar? Não em sua casa, certo?

– Não diga isso, Ichigo! – Rukia comentou rindo. – Temos que voltar logo para Karakura, afinal, o processo de posse da clinica ainda vai ser julgado e podemos voltar para lá.

– É. Mas e se não pudermos? – o jovem não parecia tão preocupado com isso. – Lembra bem que foi o Byakuya que quis que viéssemos pra cá.

– O quê? – finalmente o Kuchiki se pronunciou, indignado.

Byakuya rangia os dentes enquanto assistia a bela cena em família, tremendo pela afirmação do ex-substituto de shinigami e atual médico desempregado que era casado com sua irmã caçula. E o que havia dito era a mais pura verdade. Por mais que tentasse negar... era mais que verdade que ele, apenas ele, Kuchiki Byakuya, exigira não irem procurar uma casa por si próprios.

– Vamos, é hora de dormir! – Rukia surgia divinamente no meio, evitando uma discussão.

– Mas eu ainda vou...

– Nada de mais! – e tocando no ombro do pequeno, Ichigo o empurrou para frente. - Cumprimente seu tio. Dê boa noite a ele.

O garoto retorceu os lábios quando encarou o nobre de frente. Ah, se não fosse filho de Rukia... Sabia que aquele comportamento genuinamente delinquente era proveniente dos genes defeituosos de Ichigo.

O... Oyasumi... tio... – sem a mínima vontade, o garoto falou.

– Ele é tímido! – Ichigo comentou com um sorriso, iludido pela imagem gentil que o menino tinha a sua frente e por trás era... quem Byakuya conhecia.

E com um sorriso que misturava malicia e uma inocência fingida, Ginrei, aquele que levava o nome de seu avô se virou junto com o pai.

– Boa noite, Byakuya! – Ichigo cumprimentou, acenando para em seguida envolver o braço no ombro da amada.

– Boa noite, nii-sama. – Rukia olhou por cima do ombro ainda levando a pequena Misaki no colo acompanhada do marido e do filho.

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Ichigo já estava deitado no futon com alguns papéis em mãos, os quais ele lia, quando Rukia, exausta, adentrou o quarto.

– Finalmente eles sossegaram! – comentou, fechando a porta.

– Que bom! – e com um sorriso, Ichigo guardava os papéis na pasta que estava sobre o futon.

– Vendo a papelada do despejo? – Rukia se aproximou curiosa, sentando-se ao lado do marido.

– Sim. – ele respondeu suspirando pesado. – Rukia, não sei se vamos conseguir retomar a posse da casa... e pior, sem a casa não temos a clinica. – Ichigo parecia frustrado, levando uma mão ao queixo. Parou pensativo. – Se o velho tivesse avisado que estava há tanto tempo sem pagar o alvará para funcionamento... Ainda posso ter meu registro médico cassado! – estalou a língua.

Durante mais de dez anos, o alvará de funcionamento da clinica dos Kurosaki, que ficava na frente da casa da família, em Karakura, ficara por pagar. Ninguém sabia por que Isshin não havia pagado a bagatela que, com o tempo ganhou juros exorbitantes e, sem ter como pagar, Ichigo teve de ceder a casa para bancar ao menos parte do custo.

Rukia observou a angústia do marido, acabrunhada em vê-lo assim. Engatinhou pelo futon até chegar às costas dele e levou as mãozinhas suaves aos ombros expostos do marido.

– Calma, Ichigo! – ela sussurrou, massageando o médico desempregado.

– Eu disse para Byakuya, eu podia ter aceitado a vaga que o Ishida me ofereceu no hospital, mas como sempre ele acha que não sou o bastante para te dar uma vida de luxo! – Ichigo lamentou e Rukia realmente ficou surpresa. Não sabia que Ichigo estava tão frustrado em estar ali naquela situação.

– Ichigo, não sabia que isso te chateava tanto... Meu irmão fala isso da boca pra fora. Não ligue.

– Não ligar? – Ichigo bradou furioso, virando-se de frente para ela. – Rukia, eu sou homem! Tenho meu orgulho próprio, sabia? Temos duas crianças para sustentar, estudei medicina pensando que teria o negócio do meu pai para bancar e olha onde estou? Sustentado pelo seu irmão na Soul Society porque nem bancar uma vida normal para você eu posso!

Aquilo ofendeu Rukia. Era tão ruim assim estar debaixo do seu teto?

– Ichigo, meu irmão teve a maior boa vontade em nos deixar ficar na casa dele!

– Deixou? – Ichigo perguntou retoricamente. – Não viu a cara dele para o Ginrei? Ele não tem paciência com nossos filhos, Rukia! – Ichigo exclamou, levantando-se.

– Ah, mas o Ginrei está extremamente mal educado! – Rukia cruzou os braços. – Você faz tudo o que ele quer, deixa fazer o que ele quer também! Meu irmão não tem que aguentar as malcriações do seu filho!

Meu filho? – Ichigo retrucou dando a mesma ênfase no pronome que definia a posse. – Acho que é nosso, não é? – pausou, esperando uma resposta, mas só teve os olhos gélidos e o cenho fechado de Rukia como tal. – E a Misaki? Ela chora o tempo todo! Você a mima demais! Não tem quem aguente!

– A Misaki é uma menina sensível! – Rukia bradou irritada, levantando-se em seguida.

– Você põe na cabeça dela essas loucuras de coelhinhos, contos de fadas, está enlouquecendo ela! – Ichigo parecia indisposto a ceder à briga.

Do outro lado da parede estava Byakuya. Remexendo-se em seu futon, soltando um grunhido furioso enquanto ouvia aquele pequeno barraco – pequeno? Que ocorria no quarto ao lado.

Que raiva sentia de si próprio! Como se arrependia de todas as vezes que se lamentava ter de ir a Karakura nas únicas duas vezes no ano que os visitava que eram no aniversário de Ginrei e no de Misaki. Daria tudo para voltar a visita-los e tê-los em sua presença esporadicamente.

Lembrava-se quando Ichigo e Rukia ofereciam os filhos para passar o final de semana na casa do tio, mas não, ele não aceitara. Não queria que as crianças ficassem em sua casa para lhe incomodar. Que arrependimento! Devia ser um castigo por todas as vezes que negou.

– Quê? – Rukia arqueou uma sobrancelha enquanto apoiava às mãos a cintura. – Ela tem quatro anos, Ichigo! – e exibiu os dedos na mão, caso Ichigo não compreendesse e precisasse visualizar quanto era quatro. – Você quer o quê? Que eu dê seus livros de medicina para ela estudar? Francamente!

– Não, mas ela tem que saber que o mundo não é tão cor-de-rosa quanto ela pensa que é! Porque foi isso que a mãe que não entende o que é ser um pai de família sendo sustentado pelo seu cunhado insuportável acha! – ele enfatizou bem o adjetivo.

Ao ouvir aquilo, Byakuya socou a superfície de madeira, furioso. Bom saber o que seu querido... cunhado achava dele. Aquele estrondo acabou surpreendendo a discussão do casal que se entreolhou confuso ao ouvir aquilo.

Mas aquele barulho não era importante, porque para Rukia, aquela última frase de Ichigo ferira mais do que qualquer ofensa antes proferida. A morena franziu o cenho contendo-se para não se lançar ao pescoço dele e cometer um crime.

– O nii-sama não é insuportável! – retrucou em voz alta.

Ficaram um de frente para o outro, rosnando como dois cães raivosos até que, irritados, viraram de costas deixando escapar um 'hunf' simultâneo. O silêncio se instaurou e parecia que a paz voltaria... Rukia estava enganada.

– É sim! – sussurrou Ichigo. – E você está ficando igual a ele! – Ichigo prosseguiu, estava sem limites.

– Pelo menos dei um jeito quando você não conseguiu mais sustentar essa insuportável!

– Ótimo! – Ichigo espalmou. – Se eu não consigo te sustentar, então eu vou embora! – Ichigo anunciou, saindo de perto da esposa.

– Pode ir! Mas lembre-se de arranjar emprego pra pagar a pensão dos seus filhos pelo menos! – Rukia gritou furiosa.

– Seu irmão não é podre de rico? Vivam sem mim, então!

Rukia deu as costas, despencando sentada ao futon enquanto Ichigo partiu para a cômoda e começou a tirar suas roupas de dentro.

A morena continuava de costas, segurando-se para não virar e encarar, mas pelo canto dos olhos azuis ela observava o marido furioso que permanecia a arrumar as coisas para ir embora. Seu coração se apertou. Ele realmente faria aquilo?

"Ao menos hoje não vai ter aquela vulgaridade..." Byakuya pensou enquanto ouvia o silêncio após a sentença dada por Ichigo.

Já era hora de Rukia notar que o substituto não era homem para ela. Não entendia o que ela tinha visto nele. Tudo bem que ele a salvara da execução. Entendia que Ichigo era um homem honrado, mas se pudesse escolher... Sabia que ele não tinha estrutura para mantê-la com o conforto que uma Kuchiki merecia.

Mas no fundo... sabia que aquela era a felicidade de Rukia. Inquieto ele se levantou. Ele realmente estava indo embora?

Ichigo permanecia a juntar as roupas quando ouviu o soluçar de Rukia. Seu coração se enchia de angústia ao vê-la chorar, mas tinha que se manter firme. Oras, era um homem. Queria bancar sua família e não passar por aquela situação com Byakuya. Sabia que nunca fora bem quisto pelo cunhado e nem por nenhum dos Kuchiki.

Decidiu. Voltaria a Karakura e aceitaria o emprego no hospital de Ishida. Não ganharia tanto quanto antes, mas o suficiente para se manter, alugar um apartamento pequeno que fosse e ainda mandaria algo para Rukia.

Tirando peça a peça, acabou que uma foto escapou por entre as roupas. Devia estar esquecida na gaveta. Deslizou pelo assoalho de madeira, atraindo a atenção de Ichigo.

Era uma foto da festa de aniversário de um ano de Misaki. Ainda tão pequena, estava no colo de Rukia, tão bela e linda, a mãe de seus filhos. Ginrei também bem menor estava nos seus braços. Tanto Ichigo quanto a morena sorriam como se nada mais além da felicidade daquelas duas crianças existisse.

Não hesitou em deixar um sorriso bobo escapar por entre os lábios. Virou-se para trás e como se esquecesse de toda a confusão, se levantou.

– Rukia! – Ichigo chamou, animado, aproximando-se da esposa de costas. – Lembra-se disso? – ele perguntou o óbvio. Que mãe não se lembraria da festa de aniversário de seu filho.

E quando chegou a frente da morena, se surpreendeu com os olhos inchados. Não estava apenas fingindo que estava chorando então, concluiu.

– Rukia... por que... por que está chorando? – ele perguntou atônito.

– Você é louco? – Rukia o encarou com as safiras marejadas. – Você acaba de me dizer que vai abandonar seus filhos! – ela se levantou. - que eu sou insuportável! – e o empurrou, arquejando para frente. – Você quer que eu esteja rindo? Você é louco, Ichigo? – ela gritou fora de controle.

– Rukia, pensei que... – Ichigo farfalhou os cabelos laranja, coçando a nuca. – Pensei que não tinha levado a sério!

– Levado a sério? Você fez uma mala! – Rukia apontou as roupas ao chão.

– Rukia, não seja boba! EU te amo, você sabe disso! É claro que eu não largaria você e a Misaki e o Ginrei...

– Saia daqui, Ichigo! – Rukia bradou, apontando a porta.

– Pára com isso, Rukia!

Ichigo levou a mão até o rosto de porcelana, mas teve a mão repelida por um tapa da morena.

– Já mandei sair daqui! – gritou.

Do outro lado da parede, Byakuya ouvia assustado aos gritos histéricos da irmã. Ela parecia tão calma e agora a via assim? Será que estava naqueles dias? Nem Hisana ficara assim nenhuma vez... Assustado, ele decidiu sair do quarto, ficando no corredor.

Já em seu limite, Ichigo não tinha saída a não ser acatar os gritos de Rukia e sair dali. Ela estava descontrolada... Mas realmente lhe faltava noção.

Apertou a foto em mãos e, estalando a língua, suspirou com pesar. Voltou ao chão e recolheu as roupas, depositando-as na mala aberta. Não fazia muito que estavam ali e ainda havia malas por perto desde que vieram de Karakura.

Rukia ficou a observa-lo fechar a mala vermelha antes de se levantar e ir em direção ao armário, mas Rukia deu um passo à frente e ficou em seu caminho, impedindo sua passagem.

– Que está fazendo? – irritado, Ichigo largou a mala ao chão.

– Eu que pergunto. Não tem nada para você pegar aqui! – Rukia bateu o pé.

– Você quer que eu vá embora assim? – ele se mostrou usando apenas a cueca boxer preta que estava vestindo.

– Não me interessa! – Rukia implicou, abrindo a porta, deslizando-a pela lateral. – SAIA.

Ichigo estava indignado. Bufou raivoso quando deu um passo a frente para fora do quarto e voltou-se para encarar a baixinha. Autoritário, o médico de cabelos laranja ergueu o dedo indicador pronto a discursar.

– Escute aqui, Ru...

E pá! A porta deslizou fechando na sua cara. Ichigo cerrou o punho com força antes de socar a porta.

– Escuta bem, Rukia, eu não vou voltar! – e terminou chutando a porta.

Assim a morena o viu partir. Deu dois passos para trás se lançou de volta ao futon. O coração apertado não permitiu que contivesse as lágrimas.

Tantas dificuldades superadas, batalhas, atribulações...

E um problema tão bobo havia os separado.

Não devia ter sido tão rígida com ele. E nem ele devia ter sido tão estúpido.

Ele prometera nunca mais voltar. Mais forte que qualquer golpe que havia recebido em seu corpo, aquele doera em sua alma, em seu coração. Ele a abandonara e com seus filhos por causa de um orgulho bobo.

E agora? Que seu irmão diria? Ele sempre a prevenira, dizia para não se relacionar com ele, mas insistira e acabaram tendo um filho. Não se arrependia disso. Afinal, tinha sido a melhor maneira de convencer Byakuya a permitir o relacionamento deles.

No corredor da mansão estava Kurosaki Ichigo, que se auto intitulava 'o médico desempregado que era sustentado por seu cunhado' e agora estava de cueca no meio do corredor da mansão do famigerado cunhado.

– Que trajes são esses?

A voz grossa e gélida de Byakuya fez Ichigo corar ao mesmo tempo em que o encarou.

– By... Byakuya? – Ichigo gaguejou envergonhado enquanto ridiculamente cobriu com as mãos as partes intimas.

O nobre suspirou. Quando foi que aquela loucura havia começado mesmo? Ah, era bom lembrar. Há uma semana atrás. E quando terminaria? Byakuya não sabia, mas agora tinha seu cunhado nu e separado de sua irmã no corredor de sua mansão.

– Venha para meus aposentos. Vou dar algo para que se vista.

Agora a dignidade de Ichigo tinha ido por água abaixo. Dependia até que Byakuya lhe desse roupas. Era o fundo do poço. Onde estava o orgulho? E seu pai que o deixou endividado? Ah, claro, ele havia ido fazer um cruzeiro especial de uma dupla sertaneja por toda a costa da América do Sul. Isso significaria: ele não voltaria tão cedo para esclarecer o que estava, teoricamente, no nome dele e que sujara o de Ichigo.

O pai ficou cada vez mais louco com o passar do tempo e se havia alguém culpado de seu casamento estar por um fio, se é que esse ainda existia, de estar sem trabalho e sem casa e ainda à mercê de Kuchiki Byakuya, ah, o culpado com certeza se chamava Kurosaki Isshin.

– Byakuya.

E o chamado de Ichigo interrompeu o caminhar do nobre que seguia em frente.

– Hm? – o capitão arqueou uma sobrancelha antes de olha-lo por cima do ombro.

– Eu não posso aceitar! Muito obrigado, mas... eu não posso! Eu tenho que manter minha dignidade. Não posso sustentar a Rukia como você queria, então estou deixando ela e meus filhos para...

E um pequeno riso cruzou os lábios de Byakuya. Ichigo, surpreso, imaginou ser um preludio do fim dos tempos. Kuchiki Byakuya sorrir? Era mais incomum que um raio cair no mesmo lugar duas vezes.

– Do que está rindo... Byakuya?

Ichigo corou violentamente, apertando ainda mais aquilo que tentava esconder.

– Kurosaki Ichigo... – o nobre pausou. – Você está de cuecas, cobrindo suas partes intimas no meio do corredor da minha mansão. Você sabe mesmo o que é dignidade?

Se existia alguma, Ichigo havia acabado de perder.

– Se quer ainda manter seu casamento com a Rukia, vai ter que ficar aqui. – anunciou.

– Mas...

– Se o marido da minha irmã sair de cuecas dessa casa... – entre os dentes, Byakuya avisou. – Nunca mais te deixo se aproximar dela.

E para reconquistar Rukia, ele teria que perder um pouco mais do que isso e aprender a conviver bem com seu cunhado.

Olhando para si próprio, Ichigo se viu sem saída... e sem roupas.

– Tudo bem, eu aceito. – Ichigo assentiu com um longo suspiro.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, gente! ^^ Reviews são bem-vindas e anônimas também são permitidas! ^^/



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