Tales of Love and Revenge escrita por H Lounie


Capítulo 8
Amor e dor - Jason e Piper




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Amor (e vingança)

Jason e Piper

 

Deixe-me contar como aquele fim foi terrível e me tirou tudo.

Estávamos em missão, havia três, talvez quatro semanas, quando encontraram a deusa. Fisicamente não era alta nem baixa, nem tinha um rosto exatamente bonito, a aparência desleixada dava a ela um ar de arruaceira, mas era dotada de uma autenticidade que irradiava uma segurança notável. Era atemporal, distante. Inumana. Por fim, restava apenas um brilho perverso nos olhos azuis e um chicote nas mãos. E aqueles olhos perturbadores, ardendo com uma rígida determinação enquanto ela continuava a se mover com precisão enérgica.

— Nêmesis – Jason tremeu ao reconhecê-la.

— Jason Grace, cria de Zeus. E sua pobre namorada, presa e indefesa em suas teias. Já não lhe disseram sobre os riscos de namorar um filho de Zeus, garota? - A deusa se aproximou, tocando meu rosto com a ponta dos dedos.  - Todos o idolatram, o grandioso filho de Júpiter. O maior herói, o mais forte! Aquele que nunca perde, que está acima de qualquer julgamento. Aquele que desequilibra a balança. Mas mais cedo ou mais tarde, vai acabar como o pai, traindo a confiança da jovem Piper.

A deusa gargalhou. Jason cerrou os punhos, olhando raivoso para a deusa. Só tarde demais percebi suas intenções.

— Jason! Não!

O filho de Júpiter sacou sua espada, mas a deusa foi mais rápida. Com um leve movimento de suas mãos, ela o empurrou, fazendo-o bater a cabeça em um amontoado de pedras. Meu coração se acelerou.

— Eu não vim lutar, filho de Júpiter. Só vim tomar o que é meu. Lembre-se, meu jovem, todo aquele que se eleva acima de sua condição, tanto no bem quanto no mal, tende a subverter a ordem e a sofrer represália dos deuses e merece ser castigado se pretende que o universo se mantenha como é. Você não pode ter tudo. Você não pode ser tudo. É preciso equilíbrio.

De olhos fechados, Jason murmurava coisas sem sentido, as mãos tremendo. A deusa desapareceu, olhando friamente para mim antes de brilhar e sumir. Corri até Jason, levantando sua cabeça e apoiando-a na minha perna.

— Jay, você está bem?

Eu temia já saber a resposta, mas no fundo desejava que estivesse errada. Assim que o garoto abriu os olhos, notei que um fraco brilho os encobria, e a expressão em seu rosto se tornou de puro horror.

— Estou cego Piper! Eu não posso ver! Nêmesis levou minha visão!

Depois daquele dia, Jason Grace nunca mais foi o mesmo. Aprendeu a passar pelo dia com muito custo, acostumando-se a falta de visão. Eu sofria por ele, sofria com ele, e precisava encontrar uma solução. E a solução veio do lugar menos pensado.

— Eu sou o deus da cura, entre outras coisas – Disse o deus, olhando-me divertido. 

— E? – Questionei, incitando-o a continuar. 

— Posso curá-lo da cegueira, mas... Uma ajuda por outra ajuda, meu bem. 

Apolo deu aquele seu sorriso ultra-brilhante, quase me cegando. Aí seriam dois para se restituir a visão. É serio, ele deveria andar por aí com uma placa de aviso: Não olhe diretamente para o sorriso brilhante, pode causar cegueira permanente. 

— Precisa de minha ajuda? 

— Uma caçada. Monstros poderosos que se agitaram com o desertar de Gaia. Temos que caçá-los, Ártemis e eu, ordem do senhor Zeus. Ártemis vai levar suas caçadoras, o que lhe dará ligeira vantagem e ela irá cair nas graças de Zeus por ser uma matadora de monstros sem igual e todo aquele blá, blá, blá de sempre. 

— E? 

— E é aí que você entra minha querida. Seus dons de charme são excepcionais, então estar com você pode me abrir portas e trazer a vantagem para o meu lado. Posso transformá-la em uma boa arqueira, até. 

O deus levou um dos dedos à boca, como que pensando se eu realmente era uma boa escolha, deu de ombros por fim, o que me fez acreditar que sim, ele estava decidido. De uma forma ou de outra, sem pensar muito, eu sabia que faria qualquer coisa por Jason. 

— Tenho sua palavra que ao final disso vai devolver-lhe a visão? 

— Absolutamente – Ele sorriu – Mas devo alertar-lhe sobre o perigo da missão, acredito. Nada que você já tenha vívido, consideráveis probabilidades de... Você sabe, talvez não voltar, mas ei! Farei o possível para que nós dois possamos voltar inteiros. 

Não pude deixar de notar que ele disse inteiros, não bem. 

— Eu aceito a oferta – Falei tremula.

Ele entregou-me uma capa dourada, sorrindo contente. 

— Que maravilha, a primeira caçadora de Apolo! 

Eu me despedi de Jason sem explicar muito. Foram terríveis os dias com Apolo, em constante caçada e o passar do tempo não deixava as coisas mais fáceis em meio à natureza selvagem.

Alguns acreditam que a natureza é como uma mãe que sempre acolhe, é um espaço onde há equilíbrio perfeito. Pura ficção. Na realidade ela está mais para uma madrasta má de contos de fadas do que uma mãe. Na anarquia indiferente da natureza, cada ser compete por espaço e comida, e no meio do mais completo caos, eu me via enclausurada na companhia de um deus metido a engaçado. 

 

. . .

 

Um ano inteiro se passou. Lento, desigual e estranho, mas eu estava enfim de volta ao acampamento, morrendo de saudades de tudo e todos, principalmente de Jason. Descendo até o vale, pude notar que estava tudo exatamente igual, exceto por um detalhe que me fez sentir uma mistura estranha de sentimentos.

Algo como raiva, arrependimento, dor, temperados com uma pitada de desespero. Era Jason, sem duvidas era ele, com uma garota pendurada em seu pescoço, enquanto seus braços se acomodavam ao redor da cintura dela. Vi lorde Apolo enrijecer ao meu lado.

— Ah, eu realmente sinto muito querida. – ele falou, olhando-me com pesar. 

Senti que perdia o chão lentamente. Amaldiçoei Jason, desejando vê-lo morto. Não, mais do que isso. Desejava quebrá-lo por dentro, levá-lo a insanidade. Seus olhos focaram em mim e por um instante tudo que vi neles foi duvida, depois alivio, em seguida culpa. Ele soltou os braços de Drew de seu pescoço e veio andando em minha direção.

Drew olhava-o incrédula, e à medida que ia chegando perto de mim, seus braços se afastavam do corpo, como se ele estivesse prestes a me abraçar. Quando parou em minha frente, um sorriso tímido se formou em seus lábios. Sorri também, minha visão se tingindo de vermelho, e quando ele ia passar os braços ao meu redor, juntei toda minha força e dei-lhe um tapa no rosto, desejando que ele sofresse muito mais que isso. 

— Imagino que tenha se divertido muito em minha ausência – cuspi, sentindo o cheiro acido de raiva preencher o ar. 

Sempre traídas no final. Saí batendo os pés em direção ao chalé, ele não chamou por mim. Apolo me seguiu boa parte do caminho, falando coisas clichês que eu nem ao menos dei atenção. Eu simplesmente não podia crer nisso, eu arrisquei minha vida para que ele pudesse ver novamente, e ele me pagava daquela forma. Mas é como dizem, o que não mata, apenas deixa mais forte. E eu estava certamente mais forte.

Dois dias após o meu retorno, Jason veio até mim na arena. 

— Eu gostaria de poder explicar – Ele suspirou – Mas não posso. Você sumiu Pipes, você mentiu para mim, disse eu voltaria logo, e não a vi por mais de um ano. Achei que tinha me abandonado por estar cego. Então Drew – A menção do nome me fez sentir muita raiva – Ela esteve comigo, quero dizer, há algum tempo voltei a ver, e você não voltava e quando foi... 

— E nem passou pela sua cabeça, quando voltou a enxergar, que poderia haver uma relação entre as duas coisas? Entre o fato de eu ter ido e você voltado a ver assim, de repente? 

Sua expressão de culpa foi quase um alívio para mim, mas então ele se recuperou rapidamente, me olhando quase ofendido. 

— Você não pode simplesmente me culpar por ser homem e ter certas necessidades, eu... 

Oh-oh, ele não disse isso. Aquelas palavras me deixaram mais do que irritada, acabei agindo quase sem pensar.  Minha ordem ecoou no ar: enlouqueça.

Senti sua mente se quebrar em um leve click que soava apenas em minha mente. Era como se ele estivesse bêbado, como quando todo o sangue se agita na sua cabeça, como quando se está pendurado de cabeça para baixo e se ergue rápido demais. Houve uma agitação ao meu redor, e um som como um enorme suspiro, e percebi que não tinha afetado apenas Jason.

click se repetiu em minha cabeça, dessa vez sendo o som de várias mentes se quebrando ao mesmo tempo. O som da loucura completa. Dois filhos de Ares que duelavam soltaram suas espadas e começaram a valsar pela arena. Três outros heróis começaram a rir, rolando pelo chão em um ataque de histeria. Outro começou a recitar profecias sobre o fim do mundo. Um a um, todos os presentes na arena começaram a agir de forma estranha, e isso teria sido realmente engraçado se eu não estivesse tão assustada. 

Depois do incidente, foi custoso trazer todos de volta ao normal. Ouvi um sermão intenso do Sr. Centauro, digno de atenção, até o meu TDAH colaborou. Jason não voltou a me procurar, e eu estava meio grata por isso. Pela minha sanidade, eu não precisava disso. Nem meu coração.

Meses foram necessários para me trazer de volta à vida, por assim dizer. E um dia, na arena, fui surpreendida por Austin Lake, filho de Apolo, certamente uma das pessoas que me fazia continuar em pé, apesar de tudo.

— Não sou um grande herói, não matei monstros terríveis e nem mesmo sei usar uma espada. Mas certamente sei ser fiel, e poderia amá-la por toda a vida – Disse do nada, como que se simplesmente cansado de manter segredo sobre seus sentimentos. 

No entanto, o sorriso dele era doce, encantador. Notei então que ele trazia em suas mãos uma rosa roubada de algum lugar. E de repente, minha mente encheu-se com possibilidades. Poderia ser diferente com ele, ou exatamente igual. 

— Ele quebrou meu coração, você sabe – Austin não disse nada, apenas continuou me encarando com aquelas olhos profundos – Jurei jamais gostar de outro cara. Os deuses colocaram um filho de Júpiter em meu caminho, fui usada, e percebi com tudo isso, que por mais que eu me esforce, sempre serei descartada no fim. 

O silêncio prevaleceu e foi o que bastou por muito tempo. Austin vez ou outra tirava o cabelo dos olhos e suspirava aparentemente perdido em pensamentos. Por fim, prendeu os olhos nos meus, e sorriu tímido. 

— Eu entendo o que sente – Disse, enrolando uma mecha dos meus cabelos – Desculpe, não queria te fazer mal, nem trazer-lhe recordações ruins, me desculpe. Prometo não tocar mais no assunto. 

Confesso que fiquei confusa com suas palavras. Aquilo era uma desistência? Parte de mim desejava que fosse mesmo, isso pouparia futuros problemas. Mas então havia outra parte, aquele que diz “espere um minuto” que queria manter Austin sempre por perto, que sentia algo por ele, algo que talvez, muito provavelmente fosse mais que simples amizade. 

Porque talvez fosse algo que funcionasse, a aventura com aquele menino músico. Pensei sobre o que já havia passado nas mãos de um grande herói, e decidi que não gostava de grandes heróis, pois eles estavam sempre mais que prontos para mentir e enganar. Eles simplesmente não faziam sentido. Sentia-me como Ariadne, como Medeia. Eu tinha raiva, queria vingança, mas acima de tudo, eu queria alguém que gostasse de mim, e que me desse valor, algo que talvez apenas Austin pudesse me dar. 

— Eu posso te ensinar a usar uma espada, se quiser – Falei muito tempo depois, sorrindo. 

Encantada, percebi que aquele era um sorriso de verdade, como a muito não fazia. Meu menino músico sorriu em dúvida, então tomei a liberdade de me aproximar dele, e dar-lhe um tímido beijo nos lábios, vendo seu rosto corar. Austin apertou-me em um abraço, murmurando algo como não acreditar em sua sorte. 

— Eu te juro Piper, serei melhor que qualquer herói nessa batalha – Ele riu, beijando-me o rosto. 

— Batalha? – perguntei confusa. 

— O amor, semideusa, é um grande campo de batalha. Nem todos são bons o suficiente para encará-lo, mesmo quando são filhos de Júpiter – Ele fez uma careta – O músico aqui conhece algumas estratégias. 

Ele piscou um olho, um sorriso maroto tomando seus lábios. 

— Que tipo de estratégias? 

— Um bom guerreiro não entrega suas estratégias assim, certo? – ele riu – Mas a primeira delas, a principal, é só dizer que ama quando realmente se tem a intenção de fazê-lo.

— Estou impressionada – Falei sorrindo. 

— A segunda, acho que é amar. E aí entra todas as coisas boas e necessárias: respeito, fidelidade, beijos, abraços, passeios românticos ao entardecer e ei, eu já disse beijos? 

Aquele convite bastou. Aproximei-me do garoto, prendendo seus lábios nos meus por muito tempo. 


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