Tales of Love and Revenge escrita por H Lounie


Capítulo 2
A voz dos pensamentos sombrios - Nico e Thalia


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem (:



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Amor

Nico e Thalia


Era como pertencer a um conto de fadas sem um maldito final feliz. Aquele seu para sempre mais parecia uma maldição. Era tedioso e tão... limitado, de tantas formas. Sua consciência ultimamente não passava de uma estranha berrando alto em sua mente, perguntando quando foi que isso ficou tão ruim.

A garota corria montanha abaixo acompanhada de um lobo branco. Ártemis havia dito para que chegasse o quanto antes até Phoebe que devia estar em sérios apuros. “Nossa melhor curandeira”, dizia a deusa preocupada.

— É isso aí Thalia, ótima maneira de começar seu dia — A garota falou para si mesma.

 Há alguns dias as caçadoras seguiam a pista de uma matilha, a mando de Ártemis. Um inimigo dos deuses, a deusa havia dito. A base da montanha não estava coberta de gelo como as partes mais altas, mas mesmo assim ainda estava escorregadia.

— Phoebe? Pode me ouvir? — Thalia gritou, ouvindo lobo branco uivar. No mais, só obteve silêncio como resposta ao seu chamado.

Ventava muito ali, então Thalia puxou sua capa prateada, já segurando o arco nas mãos, pronta para qualquer tipo de surpresa.

— Ela não está mais aqui — Disse alguém atrás dela.

Ao virar-se, deparou com uma figura conhecida. Conhecida, porém diferente, o garoto certamente havia crescido, talvez 16, 17 anos? Ah, os benefícios do envelhecimento. A mente de Thalia vagou por um instante, perdida em possibilidades não viáveis para uma caçadora de Ártemis.

— Nico Di Angelo — Ela saudou, analisando o garoto com certo... Desejo? Não, não poderia ser.

A deusa do amor deveria estar pregando algum tipo de peça nela, não seria a primeira vez. Ela quase podia ouvir a risada melodiosa e debochada de Afrodite ecoar em seus ouvidos. Fazê-la desejar o que jamais poderia ter parecia o passatempo favorito da deusa.

— Olá Thalia — O garoto de Hades lançou-lhe um meio sorriso — Quanto à sua amiga, ah, bem, pode vir comigo?

— P-Para onde? — Amaldiçoou sua voz por gaguejar.

Nico apenas estendeu-lhe a mão, sem mais comentários. Como que por impulso, Thalia aceitou o convite e os dois desapareceram em um piscar de olhos, viajando nas sombras. O garoto parecia mais uma espécie de alienígena que vê a paisagem das idéias e experiências humanas de modo diferente. Parecia desligado do mundo real, assim como ela era obrigada a ser.

E aqueles olhos negros perturbadores, ardendo com uma rígida determinação, brilhando lunáticos enquanto ele continuava a se mover com precisão enérgica, desviando com agilidade dos obstáculos no caminho escuro e cheio de pessoas ou coisas. Algo fez Thalia acreditar que a mente dele funcionava em outro plano, como se ele fosse do tipo de pessoa que não percebe a existência de mais ninguém no mundo.

Haviam entrado por uma espécie de estúdio de televisão, abarrotado e ao mesmo tempo sem vida. Depois da mais estranha viagem de barco que se pode imaginar, os dois seguiam um trecho escuro. E aquelas coisas, talvez silhuetas de pessoas esquecidas em algum tempo perdido, pareciam concentradas em algum estranho tipo de dança.

— Mortos, se é o que quer saber — Anunciou o menino, sem nem mesmo virar-se para trás.

— Imaginei.

Ao chegarem a uma sala fechada, Nico apenas apontou para uma garota que estava em pé perante três homens. Três juízes.

— Não achei justo te deixar lá procurando quando na verdade...

Ele não precisou terminar, Thalia havia compreendido, Phoebe estava morta. Nico parecia concentrado em seu rosto, como se procurasse alguma coisa. Ia perguntar o que houve, mas quando deu por si Nico andava nervoso, batendo os pés no chão, voltando de onde vieram, como se quisesse fugir dela.

Quando voltaram à base da montanha, Thalia percebeu surpresa que o garoto não havia soltado sua mão. Não seria bom que Ártemis ou uma das caçadoras os visse assim. Nico parecia distante, concentrado em algo que apenas ele via.

— Nico, eu agradeço pela...

— Consegue imaginar quão perigosas essas questões do coração podem ser? — Falou de repente, interrompendo-a, olhando-a curioso, quase fascinado.

— Do que está falando?

— Sobre se apaixonar, estou falando sobre está estranha sensação que é a mistura de sentimentos, como é ter uma guerra acontecendo dento de você.

Ele girou no lugar, parando em frente de Thalia e soltando sua mão. A expressão de Nico era de pura confusão, como se ele nem ao menos pudesse controlar suas palavras. Seus olhos eram enigmáticos, vazios e cheios de coisas ao mesmo tempo. Ele era um enigma e aquilo de certa forma atraia a filha de Zeus.

— Estive observando você — Admitiu; seu tom de voz não passando de um sussurro.

— Por... Por quê? — Ela se afastou, vendo a súbita aproximação de Nico.

— Porque é engraçado como as coisas acontecem, não? Antes eu era muito jovem, agora é um tanto... Impossível? Acho que sim.

Ele sorriu pelo mais breve dos segundos, mas era um tipo errado de sorriso, nem ao menos chegava a apagar a tristeza dos olhos. O que poderia superar esse sorriso? Disse uma voz perigosa no fundo da mente de Thalia.

— Eu jurei perante meu pai Nico — Disse a garota, agitando a cabeça, quando se livrar da voz e mais uma vez fugir da aproximação de Nico — Eu renunciei a companhia masculina em prol do que considerei o bem maior.

— Bem maior? — Sussurrou ele, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, fazendo um arrepiou passar por seu corpo — Esse bem não atingiu você, atingiu?

As palavras fugiram e Thalia amaldiçoou a pouca distancia entre os dois. Os lábios levemente avermelhados de Nico moviam-se convidativos em sua frente, contrastando com aquela pela admiravelmente pálida e tão bonita. Thalia queria aqueles cabelos negros entrelaçados em seus dedos, queria aquela boca tão desejável movendo-se em conjunto com a sua. Queria aquele garoto ao seu lado, senti-lo tocar seu corpo, acariciá-lo. A voz em sua mente ria satisfeita.

Como que lendo seus pensamentos, Nico encostou levemente sua boca na dela, começando um suave beijo. De suave ele passou para intenso, até os dedos de Thalia estarem completamente emaranhados nos fios negros de Nico. O garoto empurrou-a de encontro a uma árvore, continuando os entusiasmados beijos, como se a muito a desejasse. Da boca seguiu uma linha de beijos até o pescoço, onde deu leves mordidas, fazendo a filha de Zeus arfar.

Thalia experimentava uma onda arrebatadora de sentimentos novos, até então desconhecidos para ela, não sentia atração tão forte por alguém desde Luke. A cada beijo ela sentia um fogo arder dentro de si, fazendo-a desejar cada ver mais o garoto que a beijava. Queria ir além, provar ainda mais do desconhecido e realmente teria feito isso, não fosse a lembrança de seu maldito juramento. Afrodite me odeia, ela realmente me odeia; pensava a garota.   

— Nico, eu... Isso é perigoso, é quase doentio alimentar algo que na realidade não deveria existir.

Ela sorriu, querendo provocar. O que poderia superar esse sorriso? Mas a garota manteve-se firme, não respondendo ao garoto. Um último beijo, talvez? Nada. Apenas silencio, não havia nada ao alcance da mente, nada que pudesse dizer, ela teria que vê-lo ir embora. Todos sempre iam embora, como Afrodite poderia ser tão cruel?

— Vamos fugir.

Simples não? Provocou a voz. Vá com ele. Quase perfeito, ao menos em teoria era. Tudo que queria era dizer sim, mas havia um juramento a manter, um juramento feito em frente ao seu pai. Em toda a sua glória, Zeus é tão egoísta. Como pode se permitir privar a filha de tudo isso? Ah, apenas prove um pouco mais. Insistia a voz.

— Não posso, por favor não me peça...

— Não pode ou não quer? — Ele a interrompeu.

— Não posso — Disse, segura como nunca esteve.

Nico se aproximou outra vez, chamando-a, pedindo para que viesse com ele. Apenas dessa vez ouça seu coração, menina tola.

— E não quero — Completou fria. Sentindo as lágrimas brotarem em seus olhos, quebrando a aparência de menina durona — Não posso trocar minha família por uma ilusão.

Ilusão? Oh, você não deve ter coração. Pobre garota. Nico se afastou, olhando-a com certo ressentimento. Em meia batida de coração ele havia sumido, viajando nas sombras, deixando-a sozinha no frio do inverno. Coisas ruins sempre acontecem no inverno. Os lugares onde pouco antes as mãos e os lábios de Nico estiveram ainda queimavam, deixando Thalia com uma sensação de estar incompleta. Completamente quebrada e inútil.

Assim, em meio a silêncio e lamentos, Thalia redescobria o amor, apenas para lembrar-se de que manter um juramento não é algo tão fácil assim. Longe dali, a deusa do amor sorria em deleite, achando a si própria o máximo, apenas por proporcionar esse raro momento para a tão desiludida Thalia Grace. Nico continuava observando-a de longe, como havia feito nos últimos meses. Alimentava esperanças, que por mais tolas que parecessem, mantinham-no vivo quando sua vontade era morrer apenas para sanar sua própria dor, a dor de ter o coração partido, que certamente era pior que estar morto. Gostava de pensar que mais dia ou menos dia teria outra chance e dessa vez ele iria aproveitar até a última conseqüência, custasse o que custasse.

Thalia viu o crepúsculo débil se recolher e a escuridão da noite chegar a ela, as trevas imitando seus pensamentos negros e confusos. As lembranças se tornavam dolorosas a cada passo que ela dava, cada segundo sendo como um grão de areia que escorre lentamente por uma ampulheta. E enquanto a noite continuava a correr até ela com uma força perturbadora e conhecida, acalmando seu ser, em sua mente a resposta para todas as dores se formava de maneira clara: Tempo. E convenhamos, se você é Thalia Grace, tempo você tem.


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