Capítulo 65: A decisão definitiva, família, sonhos, amizades e destinos

- Aí eu acertei a cabeça do homem peixe com minha guitarra, go to hell! – fala Gabriel pra um bando de crianças que o rodeavam e prestavam a atenção em tudo o que falava, era noite e o vilarejo organizou uma festa para comemorar a expulsão dos tritões da ilha, os jovens tripulantes do navio ACD tinham muitos ferimentos, mas estavam na festa, à maioria deles respondia várias perguntas sobre a batalha.

- Você deve ser a pessoa mais corajosa dos mares! – uma pessoa fala a Rebeka. – Você, uma garota delicada, enfrentou, sem medo, esses homens peixe!

- As coisas acontecem né? – a navegadora responde sem graça.

- Como você conseguiu vencer aqueles tritões moça? – outra pessoa pergunta a Naty.

- Foi através da honra! – a espadachim responde com chamas nos olhos, as mesmas chamas que as pessoas perto dela demonstraram.

- Toma aqui moço, não se preocupa, é de graça, é nossa gratidão por lutar contra aqueles monstros! – uma jovem fala a Jonas lhe oferecendo um pouco de bebida.

- Vai por mim, é melhor eu não chegar perto disso, sabe eu sou meio fraco pra bebida entende? – resposta sem graça do atirador.

- Vocês não sabem o que é beber de verdade! – a espadachim fala ao mesmo tempo em que pega um barril enorme de rum e o viro em sua boca, ato que assusta os presentes.

- É assim, punho de ferro! – fala Daniel em posição de golpear o ar com sua mão direita, está mostrando pra um bando de crianças como supostamente se faz seus golpes.

- Como você consegue ser forte assim Daniel? – um menino pergunta.

- Tem que treinar bastante e comer bem! – o jovem capitão responde.

- Chegou sua comida pequeno capitão... – uma jovem fala chamando a atenção do gordinho, ele rapidamente corre e pega a comida dela, ele a devora sem o mínimo de hesitação.

- Que tipo de criatura existe dentro do corpo desse menino? – um homem pergunta vendo o capitão comer.

- É melhor mantê-lo alimentado pra que ele não tente nos devorar. – outro fala.

Perto dali, no telhado de uma casa, o jovem desenhista observa o ceu, estava deitado e bebia um pouco.

- Posso ficar perto de você? – Augusto fala se aproximando do jovem  o surpreendendo.

- Como você subiu aqui? – o jovem pergunta.

- Por uma escada, não acha que eu subi pulando igual você e aqueles seus amigos piratas não é? Vocês jovens que tem energia pra fazer essas coisas não eu. – foi a resposta do idoso.

- Se você cair daqui vai se arrebentar todo, vai ficar pior que eu e os piratas do Daniel depois da última batalha. – Hellt responde.

- Você nunca se inclui com eles, sempre em seus discursos está separado deles, me pergunto por quê? – dizeres do idoso.

- É simples, porque não sou pirata e isso nunca vai mudar, você viu hoje o que piratas fazem, eles destroem vidas... Erlec Jr queria matar a todos daqui! – palavras do jovem.

- Eu não vi aquele peixe matando ninguém, o que eu vi foi uma jovem tripulação se arriscando pra defender as pessoas desse vilarejo.

- Você entendeu o que eu quis dizer Augusto... Não é meu objetivo de vida ser um pirata, além do que eu sou muito diferente de todos eles. 

- Puts! Agora que eu consegui enxergar! Tem realmente um escorpião naquelas estrelas... É só ligar os pontos! – Augusto fala observando o ceu.

- Você prestou atenção em alguma coisa que falei? – Hellt fala com feição de tédio.

- Na verdade não, estava observando as estrelas que seu menino me mostrou há muito tempo, ele dizia que cada constelação é única por ser completa, se retirarmos uma estrela ou o brilho dela ela deixa de existir... Você não gostaria que isso acontecesse não é? – naquele instante o desenhista entendeu a comparação que seu amigo fizera.

- Todo mundo precisa aprender a conviver com a perda... Até as estrelas e até o Daniel.

- Quem é Daniel? Eu tava falando de você. – dizeres de Augusto que fizeram o jovem se virar e pensar.

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- Eu acho que ele não vem, ele tomou sua decisão... – Jonas fala com pesar, ele e a tripulação do navio ACD estão, naquela manhã, a beira da praia próximos a caravela.

- Não! Ele tem que vir... Ele tem... – Daniel fala desesperado.

- Eu receio que não tenha jeito Daniel, a gente falou com ele que íamos sair por volta desse horário... Infelizmente ele não quer vir e não podemos obrigá-lo. – dizeres de Rebeka.

- Temos uma viagem pra continuar honroso capitão, você conseguirá se tornar o rei dos piratas mesmo sem o Hellt. – dizeres de Naty.

- Acho que você tem razão, vamos partir então... – o jovem capitão fala cabisbaixo caminhando sentido a caravela.

- Go to hell! O capitão não deveria passar por isso! – Gabriel fala.

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- Oi... Como passaram a noite? – o desenhista fala se assentando perto do túmulo de sua esposa e filho. – Fez bastante calor não é? Eu mesmo tive muita dificuldade pra dormir... Na verdade não foi o calor que me incomodou, foi o fato de deixar a tripulação do Daniel... Por favor, me digam o que eu faço? – o desenhista fala, havia muitas dúvidas em sua cabeça.

- Eu imagino que não exista nada no mundo que uma família mais queira que a felicidade dos seus. – a voz de Augusto chega aos ouvidos de Hellt. – Sabe garoto, por muitos anos eu te vi chegando e saindo do arquipélago como um morto vivo, um ser sem alma ou sem motivo de existência, você apenas vagava de um lado para o outro lamentando o que teve e o que perdeu...

- Augusto, mas... – os dizeres de Hellt foram interrompidos.

- Deixa eu terminar de falar, garoto sua mulher te amava mais que qualquer coisa e seu filho também, o sorriso do seu Daniel era tão inocente e bonito, fico pensando como pode ser tão idêntico ao daquele jovem capitão. – lágrimas começam a descer do jovem desenhista. – Quando você voltou pra cá dessa última vez havia algo diferente em seus olhos, você encontrou um motivo pra viver novamente naquela tripulação, por que você rejeita tanto a sua própria felicidade?

- As coisas não são tão simples Augusto, eu não sou como eles, eu perdi há muito tempo a capacidade de sonhar ou objetivar algo... – o desenhista fala.

- Você nunca teve essa capacidade garoto! Aliás, sua capacidade de sonhar era outra, “Vou te fazer feliz Maria” ou “Vou fazer de tudo pra que você alcance seus sonhos garoto” quantas vezes eu ouvi você falar isso? Sua capacidade sempre foi sonhar pelos outros, continue sonhando pelo seu capitão, sonhe pelo novo filho que a vida te deu! – dizeres fortes de Augusto.

- Por que você me tortura assim, me fazendo lembrar das coisas que passei com minha família? – Hellt pergunta em meio a lágrimas, o senhor idoso se abaixa e o segura nos ombros.

- Porque essas lembranças não são pra te torturar, elas são pra te deixar feliz, pra te lembrar que você tem a capacidade de deixar felizes aqueles que estão ao seu lado... Pelo amor de Deus Hellt, sua esposa e seu filho nunca te culpariam pelo que aconteceu, por favor, se perdoe e se de uma chance de ser feliz novamente! – o idoso falou com muito ímpeto.

- Você é um intrometido filho da puta sabia Augusto?! – dizeres de Hellt que assustaram o idoso. – Cansei de você, aliás, cansei de todo mundo dessa vila! Enquanto eu quase morria lutando contra os tritões vocês estavam escondidos... Já me doei demais pra esse lugar! – falou caminhando sentido a sua casa. – Ta na hora de conhecer outros lugares, como a Grande Linha, e tentar uma profissão mais ousada, como a de ser pirata. – os últimos dizeres foram acompanhados de um pequeno sorriso, tal ato fez com que Augusto começasse a lacrimejar de felicidade.

- Graças a Deus você venceu sua própria culpa garoto! – o idoso fala.

- Só faz o seguinte, cuida bem da horta e da casa pra mim, não sei quando retorno. – o jovem fala adentrando sua casa, começa a pegar o que pode e colocar dentro da mochila, roupas, retratos, calçados, o que via ele colocava dentro daquela objeto que fora de Jonas.

- Não cabe mais nada aqui, é melhor eu ir antes que o barco parta sem mim. – falou caminhando até a porta, de repente sentiu como se duas mãos dessem um empurrão em suas costas, duas mãos de tamanhos diferentes. Ele olha pra trás primeiramente assustado, depois sorri. – Estarei sempre com vocês e vocês sempre estarão comigo! – falou e saiu correndo.

Desceu o mais rápido que pôde pelo morro que morava e passou muito velozmente cortando o vilarejo, só parou por ver algo inusitado, era um jornal do dia, eles chegam todas as manhãs trazidos por aves, algo ali lhe causou espanto, depois um largo sorriso, pensou: “Ele vai gostar muito disso!”

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- Pra onde a gente vai agora Rebeka? Vamos seguir mesmo pra Grande Linha como no plano inicial? – Jonas pergunta, estavam já um pouco distantes da praia do vilarejo.

- Não sei, não sei mesmo, temos que esperar o Daniel se animar pra ver o que vamos fazer. – resposta da navegadora.

- Eu temo por nossa tripulação honrosos colegas, o jovem e honroso capitão está muito deprimido, acho que ele não vai continuar com sua viagem! – Naty fala se aproximando deles.

- Go to hell! O Hellt devia ter vindo com a gente, perder ele foi um golpe forte demais pro capitão... No fim das contas ele não perdeu pra nenhum inimigo, ele está sendo derrotado por alguém que era seu aliado, go to hell! – dizeres de Gabriel fazendo uma lógica conclusão.

- Olha ali, tem uma pessoa se despedindo da gente na praia, queríamos sair cedo pra evitar despedidas, mas parece que a informação vazou. – palavras de Rebeka ao ver ao longe alguém acenando.

- Espera um pouco... Eu conheço aquela entidade... – Jonas fala girando a lente de seus óculos, o zoom de seu acessório o permitiu ver de quem se tratava naquela praia, era o desenhista que tentava chamar a atenção deles. – É o Hellt!

- Go to hell quem?! – Gabriel fala surpreso, ele era o retrato da surpresa de todos ali.

- Eu sabia que a honra dele não permitiria que abandonasse a tripulação! – Naty fala com chamas nos olhos.

- DANIEL VEM AQUI RÁPIDO! O HELLT QUER VOLTAR! – a navegadora grita pra seu capitão, o garoto estava no interior da caravela e eles não tinham certeza se ele havia escutado, subitamente ele abre a porta do convés e corre até a borda.

- É verdade? O Hellt quer voltar? – o capitão se perguntava, Naty então lhe passa um binóculo para que ele possa ver o desenhista. – É o Hellt sim! Ele quer mesmo voltar! – a felicidade tomava o garoto.

- Eu vou fazer a volta com o navio, não vai demorar e... – tais palavras de Rebeka são cortadas pelo susto de ver uma âncora arremessada da caravela ACD. – O QUE VOCÊ TA FAZENDO MOLEQUE?! – pergunta nervosa.

- É pra puxar o Hellt pra cá! – o garoto fala sorrindo.

- Isso tem alguma condição de dar certo? – Jonas se pergunta.

Na praia Hellt observa algo sair do navio, não consegue identificar o que é, até que a sombra do objeto o cobre e ele percebe que se trata de uma âncora, ele pula lateralmente pra se desviar dela.

- Aquele desgraçado me quer na tripulação ou quer me matar?! – Hellt se pergunta assustado, ele percebe uma espécie de gesticulação na caravela, ele pega um binóculo e observa. – Parece que querem que eu segure isso, mas pra quê? – o desenhista vai até a âncora calmamente, assim que coloca sua mão nela o jovem capitão a puxa com toda sua força. De repente Hellt estava ao ar segurando a âncora da caravela ACD, sua feição se desfigurava devido ao impacto com o ar.

- Go to hell o Daniel realmente puxou ele. – Gabriel fala.

- O capitão não é muito de pensar antes de agir não é? – Jonas conclui.

- É porque ele age pela honra! – Naty fala, subitamente a sombra da âncora cobre os três, o objeto cai em cima de Jonas e Gabriel que fizeram menção de correr, mas não conseguiram, a espadachim se desviou primorosamente. A âncora bateu forte na porta do deck destruindo toda a parede que sustentava aquele lado.

- CHUPETA DE BALEIA DO AMORNADO! NÃO PODIA TER APENAS DADO A VOLTA COM O NAVIO? – Hellt fala se levantando furioso, foi até o gordinho e começou a gritar com ele, Jonas e Gabriel desmaiaram, seus olhos giravam.

- Só pra constar eu tive essa ideia. – a navegadora fala.

- Os garotos são fortes, eles aguentam. – opinião da espadachim sobre Jonas e Gabriel. Daniel nada fez diante da cena, ele apenas se aproximou calmamente de Hellt e o abraçou, entretanto rapidamente o soltou.

- Desculpa, eu sei que você não gosta dessa coisa de abraço e tals, é que eu pensei que você não voltaria mais e... – o garotinho fala sem graça, porém uma atitude do desenhista cortou seu raciocínio, Hellt se abaixou e o abraçou forte.

- É bom estar de volta garoto! – o mais velho falou calmamente.

- Não faz mais isso, por favor, não fala que vai embora de novo! – o garotinho fala retribuindo o abraço e deixando algumas lágrimas escaparem.

- Tenho uma coisa pra você... – Hellt fala o soltando. – Toma, esse colar era do meu menino, agora ele é seu. – fala colocando um cordão preto com uma medalha redonda no pescoço do jovem capitão.

- Verdade?! É pra mim?! – o garoto não consegue se conter de felicidade. – Eu não vou perder isso nunca!

- Tem mais uma coisa, algo que achei quando estava saindo do vilarejo, olha só... – fala pegando um jornal na mochila, ao ver o que Hellt dissera os olhos do garoto começaram a brilhar.

- Sou eu! – se tratava de um cartaz de procurado pela marinha, a partir daquele instante sua cabeça valia vinte e cinco milhões, “Daniel, o punho de ferro” era o que o cartaz dizia sobre o jovem capitão. Apesar desses dizeres sua foto não era algo que remetesse a perigo, nela ele apenas comia um sanduíche e fazia um sinal de joia pro lado da câmera. – Olha pessoal, agora eu sou famoso! – o garoto quase gritava de alegria.

- Acho que bati a cabeça muito forte... Ai... Normalmente ser um criminoso procurado é motivo de tristeza e não alegria? – Jonas fala se levantando.

- Go to Hell, você se machucou também Rebeka? – Gabriel pergunta ao se levantar e perceber a navegadora chorando.

- Ta zuando com a minha cara Gabriel? Eu não me lembro da última vez que estive tão feliz! – fala limpando suas lágrimas.

- Não apenas de tristeza um guerreiro honroso chora! – palavras da espadachim. Aparentemente a alegria havia voltado àquela caravela, tudo havia acabado da maneira correta, Hellt voltou à tripulação de Daniel e o jovem capitão, para a surpresa de Jonas, estava feliz com a recompensa por sua cabeça. Verdade é que tal recompensa trará muitos problemas ao jovem Daniel que parece não se importar com nada daquilo, o garoto só está feliz por estar junto de seus colegas novamente.

- Viajem bem jovens piratas, viajem bem e muito obrigado por salvarem a todos dessa vila, até aqueles que haviam se perdido há muito tempo! – Augusto fala pra si mesmo observando o horizonte.