Esperei um pouco e ela saiu da casa, com a maquiagem borrada e o cabelo bagunçado. Entramos no meu carro e dirigi em silêncio até LA.

Parei em frente a casa dela, que era próxima a minha.

– O que aconteceu hoje... - Ela começou a falar bem devagar.

– O que quase aconteceu hoje. - Corrigi

– Isso, o que quase aconteceu hoje... - Voltou ela a falar, ainda bem devagar.

– Não aconteceu. - Interrompi de novo.

– Exato. Obrigada pela carona. - Ela saiu do carro devagar e foi cambaleando pelo jardim até sua casa.

Fui pra casa refletindo sobre o acontecido. Foi uma surpresa. Sempre achei a Miley fantástica, mas nunca havia pensado nela como namorada. Credo, que namorada. Eu tenho a Sel, eu acho. Além do mais, a gente nem se quer se beijou. Tudo bem que eu concordei em esquecer o que aconteceu, mas foi bem involuntariamente. Agora eu queria tanto beijar ela, mas tanto, que daria minha vida pra isso acontecer. Será que ela sente o mesmo?

Cheguei em casa, troquei de roupa, lavei o rosto, peguei o primeiro cd que vi, coloquei no meu discman e comecei a ouvir. Era Coldplay, um mix que eu fiz com as melhores músicas deles. Primeiro ouvi Yellow, repetindo cada palavra. Depois começou Fix You, que me transmitia uma energia tão relaxante que adormeci na metade da canção.

Agora eu estava numa espécie de circo, Tay era a apresentadora.

– Agora, nossas feras selvagens disputam pela nossa Garota Dividida. - Ela gritou no microfone

Quando percebi, eu protagonizava a cena. Estava no meio do circo, numa gaiola. E no lado de fora, Miley e Sel brigavam feito leoas e as pessoas iam ao delírio. Flashes de luzes tomaram conta da minha visão, que já começara a ficar borrada. Pude ouvir a voz de Tay ficando bem lenta e grossa, como em câmera lenta.

– E a vencedora é...

Acordei ofegante e suada.

– Que sonho mais bizarro. - Sussurrei pra mim mesma. Desci pra beber uma água e voltei a dormir rapidamente.

Quando acordei de novo, minha mãe me balançava compulsivamente, já de manhã.

– Filha, Demi! - Ela parou de me balançar quando meus olhos abriram. - Você tem visita.

– Quem é a essa hora da manhã? - Balbuciei, me levantando devagar.

– São 4 da tarde, Demi! - Ela falou com um tom de indiferença e eu pulei da cama.

– Brigada mãe, pode ir. - Ela saiu do meu quarto, eu troquei de roupa, lavei o rosto e desci as pressas pela escada. Ao entrar na sala, vi Sel sentada no sofá, feliz e radiante.

– Sel? Oi! - Sentei ao lado dela. Olhei em volta e me deparei com a minha mãe parada na porta. Dei uma tossida e ela saiu zangada.

– O que acha de irmos ao cinema? Aquele filme que eu tava louca pra ver estreiou! - Sel animou-se.

– Sel, amor, er, não sei como falar isso, mas eu acho melhor a gente dar um tempo, pra pensarmos nas coisas. - Falei bem devagar. Pude ver o sorriso sumir do rosto dela lentamente.

– Voce... - hesitou ela - Você gosta dela, né?

– De quem? - Me fiz de desentendida.

– Da Miley, Demi. Eu vi vocês duas subindo juntas. - Ela disparou chateada.

– Eu não sei. Esse é o problema, eu não sei. Se eu gostasse dela, teria ido direto pra ela, se não, não teria feito o que eu acabei de fazer.

– Ah, tome seu tempo. - Ela se levantou e foi embora rapidamente.

Depois que ela se foi, fui ao meu quarto, me deitei, peguei meu violão e fiquei dedilhando alguns acordes, pensando e pensando. Nem me dei conta quando comecei a falar sozinha.

– Se eu ficar com a Sel, pode ser que minha vida continue monótona e infeliz como tem sido ultimamente, nada vai mudar. - Falei entre uma acorde e outro. - Mas se eu ficar com a Miley, eu posso ter a felicidade e a aventura que eu quero. - Parei de tocar. - Eu não sei o que fazer! - Joguei o violão com violencia sobre minha cama. - AAAAAAAAAAAH! Eu preciso de ajuda.

– Dallas! - Gritei, chamando a minha irmã. Dallas é mais velha, estava no terceiro período de Medicina em Harvard e ela é extremamente inteligente e sensata. Ela chegou calma e paciente.

– O que foi? - Perguntou ela preocupada, ao ver a minha cara abatida.

– Amor. - Respondi baixinho. Ela fez um biquinho de "OH!" e se sentou ao meu lado.

– Conte-me. - Ela pôs a mão no meu cabelo e acariciou. - Conte-me tudo!

– Tem a Sel. Ela é incrível e eu namoro ela há muito tempo. E...

– Ih! Tem sempre esse "E..."

– Exato. Miley, a melhor amiga da Sel.

– E você gosta dela? - Ela indagou, interessada no assunto.

– Não sei. Ela é maravilhosa. Linda, legal, inteligente e tudo mais. Só que não parece a coisa certa. Mas mesmo assim, eu conheço ela desde o ano passado e nunca senti isso por ela. Ela acendeu um fogo dentro do meu peito. Queima de intensidade quando me aproximo dela.

– Wow! - Ela se surpreendeu. - O caso é sério. Bom, tente seguir seu coração. Existe uma grande diferença entre o certo e o que você quer e quando você quer mesmo uma coisa, não importa se é certo ou errado.

– Você tem razão, obrigada. - Agradeci, ela balbuciou algo como "Nada" e foi embora.