Candor Lunar - Livro 1 escrita por Denise Kellner, AngusMarcos


Capítulo 1
Capítulo I - A decisão de Aro


Notas iniciais do capítulo

Eba.. Olha eu aqui com o primeiro episodio de Candor Lunar. Bora ler?



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Não gosto das masmorras e catacumbas. Palavras estranhas vindas de alguém como eu, eu sei, todavia, prefiro o aroma adocicado dos pátios de meu palácio; a Itália sempre teve suas magias soturnas e românticas, ou, como diria meu irmão Caius: “L'aria fresca intorno a noi, migliaia di esseri umani e la loro inebriante del sangue”. Mas, por sua vez, as masmorras são estranhas e modorrentas, frias, úmidas e escuras, a tal modo que mesmo meus sentidos aguçados parecem silenciar estranhamente a tantos metros abaixo da superfície ensolarada de Volterra.


As escadarias intermináveis de pedra lisa desciam em círculos perfeitos cada vez mais fundo em direção ao centro do mundo, não sei por que cada vez que venho aqui me lembro de Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra; todavia, estou nostálgico hoje, talvez por estar indo visitá-lo, sempre fico emotivo quando venho vê-lo nestas profundezas. Apesar dos vampiros do mundo todo temerem meu nome, minha família e o que representamos, sempre procurei ser beligerante mesmo com aqueles que me traem e o vampiro que mantenho preso em minhas catacumbas é uma prova disso; eu poderia tê-lo matado há 735 anos atrás mas não o fiz por misericórdia e pela lembrança do que um dia ele representou para mim.


Arian Melchiorre Volturi. Meu filho. Meu amado e único filho.


Seu pecado foi nascer poderoso demais, jamais imaginei isso quando o transformei. Mas ele não podia morrer, não daquele jeito, não naquele momento largado no mar como um nada, seu barco naufragou na costa do Mediterrâneo muito próximo de onde eu estava habitando naquela época longínqua; eu sentia-me sozinho apesar de todo o luxo e de todos os valetes e serviçais que me cercavam, faltava algo mais, faltava alguém que eu poderia criar com meus próprios pensamentos e molda-lo até transformar-se em algo próximo a um filho que nunca tive.


Pensava há algum tempo em criar um filho para herdar tudo o que criei quando eu já estivesse farto do mundo dos imortais. E, surpreendentemente, numa bela manhã de sol, há 800 anos, eu encontrei os destroços do naufrágio e jogado na areia o corpo inerte de um rapaz. Era estupendamente belo, mesmo deitado exausto e quase morto eu percebi que pertencia a outros lugares distantes além do mar azul; era forte e alto, os cabelos loiros e desgrenhados, a pele quase tão alva quando a minha, o rosto era forte e austero e seus olhos verdes e expressivos olharam para mim com clemência. Ao me encarar ele apontou para uma pesada espada ao lado do corpo e com uma voz possante suplicou que eu o matasse.


Não o matei. Aproximei-me de seu rosto belo e pálido e sussurrei ao seu ouvido num impulso incontido:

– Viajante, se eu disser que posso lhe dar a vida eterna, você aceitaria ou ainda assim preferiria morrer?

– Você é um espírito de luz? Já estou morto? - perguntou-me ele enquanto sua vida escapava-lhe dos pulmões.

– Não, eu pertenço às sombras – respondi - Mas posso lhe dar a vida eterna para que conquiste o mundo inteiro, vós sois um viajante pelo que vejo, eu posso lhe mostrar todos os países que desejar e lhe garanto que não poderá sentir maior prazer do que nas caçadas que lhe surgiriam; o mundo é imenso meu jovem estrangeiro e ele pode ser todo seu.


Ele não respondeu e sua voz já lhe faltava, mas o breve aceno de seu rosto glorioso me tirou qualquer duvida e, naquela praia árida e ensolarada às margens do Mediterrâneo eu dei a vida ao meu filho... ou melhor, a morte. Arian despertou uma semana depois e eu esperava que ele fosse um vampiro poderoso para poder fazer jus à minha ambição e à minhas necessidades. E ele se tornou; vampiros especiais sempre foram muito apreciados por mim e meus irmãos, mas Arian fugia ao comum... geralmente alguns vampiros possuem um dom especial, mas por uma razão que me foge ao conhecimento, Arian despertou para a vida vampírica com nada menos do que dez dons especiais. O que assombrou e encantou tanto os meus irmãos quanto os nossos aliados.

Aos poucos os Volturi passaram a ser um sinônimo de poder para nosso povo, das sombras elegantes de Volterra dominamos o mundo e impúnhamos nossa vontade aos de nossa raça. Arian foi responsável por parte deste respeito quando exterminou os lobisomens a pedido de meu irmão Caius, além de ter silenciado as revoltas dos vampiros que nos ameaçavam. Ele foi meu primeiro cavaleiro, meu servo, meu filho e, no fim, meu pior inimigo.

Mas esta historia me entristece só de lembrar. Agora descendo para as profundezas eu sinto a dor corroer meu corpo de mármore; obviamente, nenhuma catacumba no mundo iria ser capaz de manter prisioneiro aquele que possivelmente fora o mais poderoso vampiro que caminhava sobre a Terra.


Mas ele precisava ser detido, Arian se voltou contra nossa causa e passou a ameaçar tudo o que havíamos construído, e assim, instruído por meus irmãos fui obrigado a ceder e me aliar a uma casta inferior que nós apenas tolerávamos graças aos seus serviços naquela época, a contragosto pedi auxilio aos feiticeiros e bruxos que habitavam as florestas que cercavam a região da Toscana. Pedi auxilio porque apenas eles poderiam providenciar um encanto forte o suficiente para aprisionar Arian; eu não poderia matá-lo, pois o amava e, na verdade, naquela época não tínhamos poder para destruí-lo, duvido muito que poderíamos fazer isso mesmo na atualidade e com nosso poder descomunal.
Arian foi preso – não antes de centenas de vampiros terem morrido por suas mãos implacáveis – mas mesmo assim conseguimos prendê-lo nas catacumbas subterrâneas de Volterra e os bruxos invocaram um encantamento poderoso selando para sempre meu filho do resto do mundo. Há exatos 735 anos ela jamais foi aberta novamente.



Parei diante da grande porta de carvalho reforçada com vigas de aço, a antecâmara era alta e ampla como um salão vazio e escuro, a iluminação fraca era oriunda apenas das tochas espalhadas pelas paredes. Aproximei-me e bati na porta.

“Arian? Bambino?” perguntei em pensamentos sabendo que ele ouviria; um dos seus dons especiais era o de se comunicar mentalmente com os outros seres.

“Como vai, Aro?” – respondeu uma voz potente e calma do outro lado da porta.

“Como você está, meu filho?” perguntei amavelmente.

“Continuo preso, velho, como estou todos os anos nesta data maldita”.

“Não fale assim meu filho, hoje é seu aniversário. Hoje você completa 800 anos”.

“Sim” – disse ele em meio a uma risada cínica – “E vivi como vampiro apenas durante 65 anos antes de você me aprisionar neste vão do mundo”.

“Foi preciso Arian” – disse com pesar – “Você havia enlouquecido, havia nos traído...”

Não terminei a frase porque ao mencionar a ultima palavra, a porta estremeceu com um golpe violento capaz de abalar até mesmo suas trancas vincadas na parede de pedra; se não fosse o encantamento, ela teria cedido. Após o estrondo eu ouvi a voz de meu filho gritando raivoso por detrás das portas fechadas.

– Trair? Vocês traíram seu povo oprimindo-os Aro, como ousa me dizer que eu o traí? Eu não concordei com os absurdos que vocês promoviam pelo mundo tiranizando e escravizando vampiros para fazer valer as suas leis deturpadas. Eu apenas tentei detê-los e vocês me aprisionaram aqui para apodrecer como um verme qualquer, você me traiu Aro, me tornou o que sou hoje para depois me prender aqui por toda a eternidade.

“Se eu realmente tivesse a intenção de matá-lo, meu filho, eu apenas teria suspendido o estoque de sangue que é semanalmente enviado até você. Você teria enlouquecido de sede durante estes séculos”.

“Ah sim, grato por ter me alimentado todos estes anos... pai”.

“Não há necessidade para usar de sarcasmo, Arian. Um dia talvez sua liberdade possa ser providenciada”.

“Você jamais vai poder fazer isso, Aro”.

“Perché no, bambino?”

“Porque, pai, no dia em que eu for libertado... eu devastarei esta cidade até não restar uma pedra em pé e queimarei você, Caius e Marcus na fogueira que farei com este palácio maldito”.

“Então nossa conversa termina aqui, filho. Vejo-o no próximo ano, como sempre.”

Ele não me respondeu.


Eu emergi no pátio principal do palácio, o sol fulgurou luminoso no céu azul anil e minha pele velha reluziu como um diamante multifacetado; respirei o ar puro e doce da minha amada cidade e ouvi ao longe os sinos da catedral badalarem em estardalhaço anunciando a tarde que aos poucos findava. Atravessei o pátio sem pressa e desci para os salões internos onde meus irmãos me aguardavam estáticos como estatuas de mármore branco.

– Você não me parece bem, Aro.

Levantei a mão direita num pedido mudo para que Caius não me importunasse; Marcus, como sempre, permaneceu impassível e silencioso. Sentei-me em meu trono e fechei os olhos, minha mente viajando séculos no passado quando meu filho ainda estava ao meu lado. Minha dor não parecia importar a Caius porque ele novamente interrompeu meus pensamentos.

– Temos que encontrar um modo de sanar nosso problema na América.

– Não estou interessado neste assunto hoje, Caius.

– Aro, este é um assunto que nos incomoda há 10 anos e você me ignora sobre isso há meses. Quando vamos resolvê-lo em definitivo? Carlisle resterà impunito,allora?

– Os Cullen nunca mais nos importunaram, Caius. Por que deveríamos nos incomodar com eles? Mesmo porque você esteve lá há 10 anos e viu que a menina não representa ameaça a nós ou nossas leis; Carlisle nunca teve a ambição de nos desafiar, ele prefere apenas viver em paz com sua família...

– Que está cada vez maior! – interrompeu-me Caius – Sem contar com os lobos, lobisomens, transmorfos, ou seja lá o que forem, elas estão se tornando uma força capaz de rivalizar conosco, irmão. Não podemos permitir que qualquer clã possa estar em pé de igualdade conosco, senão, outros poderão ter idéias semelhantes.

– Há semanas você me atormenta a respeito dos Cullen, Caius. De onde surgiu esta súbita preocupação depois de tantos anos? Nunca mais soubemos noticias deles e até onde sei, eles permanecem naquela pequena cidade onde vivem escondidos na mata sob a guarda daqueles índios quileutes. Durante uma década você planejou meticulosamente o plano que eu julguei desnecessário, pensei que não levaria mais a diante todo o estratagema que desprenderá uma energia imensa apenas para nos estafar. Tudo para sanar um problema que talvez seja pequeno.

– Você me surpreende Aro, ou melhor, me estarrece. O seu apetite pela ordem de nossa raça diminuiu depois de tantos anos que você não se interessa mais em recrutar poderes para nossa causa? Eu ainda possuo interesse na Cullen que pode prever o futuro e no vampiro leitor de pensamentos, bem como na menina que possui a capacidade de neutralizar os poderes de Jane e Alec e em sua filha híbrida, eles seriam muito caros à nossa corte; os outros são dispensáveis, não representam grandes aquisições e por nos terem desafiado devem pagar com suas vidas como sempre fizemos. Nós já permanecemos quietos durante esta década para nos organizar melhor a fim de derrotá-los, da ultima vez fomos surpreendidos... isso não tornará a acontecer, como você bem sabe.

– E o quê você sugere?

– Que chegou o momento de acertar nossas pendências com a família de Carlisle.

– Vejo que você não vai desistir disso, não é mesmo? Bem, se não tenho outra escolha... que assim seja, Caius, se você está tão determinado assim faremos uma nova visita a nosso amigo Carlisle. O que me diz Marcus?

Marcus olhou-me demoradamente e como estávamos sozinhos deu-se o trabalho de responder.

– Acho irrelevante, Aro.

– Ótimo – respondi para Caius – Estamos entendidos então. Não vamos mais permitir que Carlisle mantenha todos aqueles vampiros com dons tão interessantes apenas para ele mesmo, se é assim que você quer meu irmão, assim será.


E com a decisão de neutralizar uma possível ameaça do clã dos Cullen, voltei minha atenção para meus próprios pensamentos e para meu Arian, a dor me tomou novamente e permaneci assim até o anoitecer quando Jane veio me despertar de meus devaneios.

– Mio signore?

– Sim, Jane?

– Meu senhor Caius está tomando providencias para uma nova investida contra o clã dos Cullen... isso é verdade?

– Ao que tudo indica, sim, minha pequena bambina. Caius acha que já esperamos demais para nos apossarmos de alguns poderes da família de Carlisle, muito provavelmente até o final deste ano estaremos partindo para a América.

– O que pretende fazer com aqueles que se opuserem ou que não nos interessarem?
– Como sempre, tentarei dialogar com Carlisle, será uma pena se ele tiver de morrer, mas não terei escolha, eu não posso mais conter a fúria de Caius apenas através da diplomacia. Então, Jane, se Carlisle se opor teremos de destruí-lo.

– Ótimo. Eu não suporto o clã dos Cullen.

– Ora, é uma pena minha pequena Jane, eu gostaria muito de poder tê-los todos ao nosso lado, mas ao que parece será impossível. Mas veremos, algo me diz que este ano será interessante, há um vento estranho em Volterra, uma brisa diferente como se o destino inexorável viesse em busca de vingança.

– Vingança? Mas do que está falando meu senhor?

– Nada Jane, nada. Vá agora, preciso pensar.


Ela fez uma meia mesura e partiu com seus passos leves pelo salão ecoante. Permaneci em meu trono, sentado com minhas culpas e pecados. Novamente nos voltaríamos contra a família de meu antigo amigo e desta vez todos teriam de ser subjugados, era realmente uma pena, novamente teria de destruir alguém de quem gostava; pobre Carlisle. A história se repetia comigo... até quando eu deveria destruir os que me foram caros um dia? Por quanto tempo eu esperaria até que a vingança dos derrotados finalmente me alcançasse? Por mais quantos séculos eu veria lágrimas de sangue?


Mas não importa, no fim. Tudo o que fazemos, fazemos pela nossa causa e desta vez não tornarei a falhar


Desta vez... eles serão meus.



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Notas finais do capítulo

E aê o que acharam? Merecemos reviews? Indique Candor... Vou repetir... Essa historia é simplesmente fantástica! Você não irão se arrepender. Eu garanto!
Beijos