My Heart, Your Skin escrita por bramadas


Capítulo 1
There are no saints in this land


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ta meio grande, mas espero que gostem...



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É, então é isso? Nem acredito que estou na Califórnia depois desse tempo todo. Sinceramente? Não senti nenhuma falta. E digo isso do fundo do meu coração. Awn. Mas é sério.

Certas pessoas amam a Califórnia e tudo mais, mas elas não nasceram na mesma família que eu, nem no mesmo círculo social que eu e com certeza elas não aturam gente cuidando da vida delas desde sempre como eu. Ok, tenho que admitir que eu amo um pouco esse lugar, mas eu amaria mais se eu pudesse exterminar todas as pessoas de que eu não gosto (e talvez não sejam poucas), MUAHAHA. Apesar da minha revolta e essa coisa toda de odiar as pessoas daqui, eu finalmente tomei coragem pra voltar pras minhas origens e checar o que está acontecendo. Nova York é um lugar maravilhoso, mas sufoca um pouco as pessoas, elas acabam presas demais naquele mundinho e vivendo somente o que tem ali, porque ali é Nova York, e Nova York tem tudo, sabe de tudo e é tudo, mas eu precisava de um pouco de descanso. Claro que eu não estava pensando em vir pra cá pra descansar, mas quando Lauren, minha melhor amiga, me ligou e perguntou se ela podia me visitar no Natal, eu pensei que eu poderia fazer uma surpresa e eu mesma ir visitá-la ao invés disso. E é o que eu resolvi fazer hoje: Acordei, arrumei as malas de qualquer jeito e peguei o primeiro voô pra Los Angeles que eu encontrei. Claro que isso foi uma decisão que tomei sem pensar muito, porque se eu tivesse pensado duas vezes eu não iria vir. Faz um ano que não venho aqui.. Digamos que, ahnnn.. Eu tenha feito algumas coisinhas loucas nos meus últimos dias antes de partir, só para me divertir e ter boas lembranças da cidade. Bem, quem pode me culpar, né? Eu pensei que eu jamais fosse voltar aqui (e eu realmente pretendia jamais voltar aqui). Mas nem tudo é como a gente pensa, agora era tarde, eu já estava aqui. E o pior: Haveria um jantar beneficiente essa noite, justamente na casa de Lauren, minha melhor amiga cuja mãe é presidente de uma dessas associações beneficientes pra crianças ou qualquer coisa do tipo, ou seja: 1) Esse era um jantar beneficiente, do tipo: MUITO chato. 2) Provavelmente haveriam pessoas que eu gostaria de exterminar aqui, muitas delas. E 3) Tenho certeza de que minha mãe vem pra cá hoje e eu nem quis avisá-la de que eu viria pra cidade.

Acho que ela não vai ficar muito feliz comigo por causa disso, mas eu não estava realmente me incomodando muito com ela.

De repente ouvi passos apressados vindo em minha direção, me virei e notei Lauren se aproximando e puxando algo de dentro da sua bolsa

– Não me olhe assim, Chars. Sei que você veio aqui pra esse cantinho pra ficar sozinha, pensar e blablabla, mas meus pais vão brigar comigo se eu fumar lá dentro. - Lauren disse, acendendo o isqueiro, depois o cigarro.

– É, é, eu sei. Tudo bem. - Eu respondi, olhando pra fumaça que ela agora estava soltando.

– Ai, odeio quando você fica pensativa assim. Você é tão sociável, tão papo-astral, tão positiva, não fica assim não... Você está estranhando porque faz muito tempo que não sente a atmosfera desse lugar.. Sério, Chars, você tem que sentir isso, sabe?.- Ela falou, lentamente, como se estivesse divagando e profetizando o que tinha acabado de falar.

– Papo-astral? Atmosfera? - Perguntei, tentando conter uma risada. Da onde ela estava tirando isso? - Sério, Lauren? Pff, fica quieta.

– Está com saudade do seu pai, é isso? - Ela perguntou, me assustando por vir com esse assunto à tona, logo assim. Meu pai havia se mudado pra Austrália fazia 1 ano, justamente quando me mudei também e esse não era um assunto que eu gostava de falar muito. Ela sabia disso, mas eu acho que ela estava um pouco preocupada demais comigo para se conter e eu não podia culpá-la.

– Ah, sempre tenho saudades dele. Ele vai voltar algum dia, acredito. Mas isso não tem nada a ver com ele, é mais sobre sei lá.. De vez em quando a gente precisa sossegar um pouco e pensar, ainda mais depois de voltar pra um lugar desses, sabe?

– Sossegar? Você está na época de aloprar, isso sim. Não que você não tenha aloprado o suficiente por aqui, é claro, - Ela me olhou com um sorrisinho culposo. - mas veja bem, você tem muita coisa pra viver, pra que sossegar agora? Sossegue quando tiver velha. Você está de vooooolta, baaaby! Tem que curtir a vida, cara.. Levar tudo na vibe positiva, sabe? - Lauren completou, levantando os braços pro céu e dando mais uma risadinha guinchada. Só não pareceu um porco porque a voz dela é muito bonita, se não seria igualzinho, pode apostar.

– Meu Deus! Você fumou a maconha medicinal do seu pai de novo? Lauren, quantas vezes tenho que te falar pra não fazer isso!? - Olhei pro cigarro na mão dela pra ver se não era nada daquilo (a maconha), e realmente não era, mas com certeza ela não estava sóbria. Ela começou a gargalhar e passou um braço pelo meu ombro, se apoiando.

– Você sabe como eu fico nervosa nos últimos dias do ano.- Ela deu uma risadinha baixa. - Você quer um pouco também? Ainda tem bastante, mas temos que deixar algo pra ele usar no Natal. Você sabe como o Natal é estressante pras nossas famílias. - Ela disse, revirando os olhos.

– Já falei pra você não fazer isso quando sua mãe dá festas, as pessoas gostam de fofocar. E você lembra daquele garoto que te pegou fumando e só porque você não quis dividir com ele, o danado chamou sua mãe? E ela tipo assim, quase pegou você no flagra, lembra?

– Lembro, lembro. - Ela disse, afastando a fumaça com as mãos e fazendo pouco caso. - Além do mais, eu acho que ela sabe. Porque eu fumo cigarros normais, certo? Isso ela sabe, e várias vezes ela me viu usando você-sabe-o-quê e nunca falou nada. Ou ela finge que não vê ou ela é tipo, muito burra mesmo.

– Ela pode ter fingido que não viu, seria típico.

– Típico mesmo. É minha mãe, lembra-se? E não desconfio nada de que ela já tenha usado algum dia também. - Lauren respondeu, queimando a guimba do cigarro pela metade no corrimão de metal do extenso pátio/jardim da casa dela e depois arremessando a guimba na encosta de areia abaixo de nós. Sim, ela mora na encosta de uma praia. Claro que não é uma encosta de barranco e nunca vai cair, aliás, apenas os fundos da casa dão pra praia, o resto é num terreno no nível da rua, e é um dos lugares mais lindos que eu já vi. Ás vezes fico pensando o que Lauren faria se tivesse que morar num lugar que não tivessem praias, ou em qualquer lugar fora da Califórnia. Uma vez ela foi pra Nova York (pra matar a saudade de mim, que fofa) e surtou em 2 segundos com tudo, o ar carregado, o clima menos quente, o rush-rush das pessoas. A Califórnia pode ser bem irresistível pra quem realmente gosta, é quase um vício. Nós podemos ter o rush-rush de Hollywood, mas não há NADA comparado a NY.

– Falando em mães, olha só quem chegou... - Eu disse, olhando pra uma mulher morena de estatura-média e corpo ossudo que descia as escadas de vidro iluminadas do lado de fora da casa, quase tropeçando de tão alto que era o seu salto, e de tão apertado que era seu vestido. Essa era minha mãe. Exatamente do jeito que você imaginou Várias pessoas normais estavam descendo a escada direito, porque ela tinha que fazer esse tipo de coisa? Ela já estava velha demais pra usar roupinhas apertadas, curtas e chamativas. Realmente típico da minha mãe. (Tem muitas coisas típicas por aqui, sabe?)

– Ah, que amorzinho! Você não vai ajudar ela a descer as escadas, Chars? Parece que ela vai cair. - Lauren estava dizendo enquanto eu revirava os olhos. - Anda, vamos lá. - Continuou, dessa vez me puxando na direção de minha mãe. Lá se foi meu momento quieta e sozinha, longe de pessoas que só falam de tratamentos de beleza, dinheiro, investimentos, coisas inúteis e etc (ou seja, minha mãe). Passamos por várias pessoas que estavam chegando e se acomodando em outros cantos do jardim e em volta da piscina, haviam várias mesas espalhadas, tudo muito bem decorado e bla-bla-bla, tudo por causa da cerimônia que estava acontecendo ali hoje. Ou Baile de gala, como a mãe de Lauren prefere chamar, mas que eu acho muito chato, por isso chamo de cerimônias, que são sempre chatas. Assim que me aproximava da minha mãe, já me arrependia, lá viriam as enxurradas de perguntas. Mas era minha mãe, afinal das contas. Dá pra negar o sangue? Não, não dá. Temos que aceitar algumas coisas por mais que irritem.

– Mãe, você precisava de ajuda pra descer? Era só ter chamado alguém pra ajudar. Tem sempre alguém disposto a ajudar os idosos, porque você não pediu ajuda, hein? - Perguntei, tentando não soar irônica, mas já soando. Ela já tinha terminado de descer. Lauren me deu um cutucão pela pequena piada. Minha mãe parou em nossa frente para me dar um olhar analisador.

– Meu Deus, Charlotte, você nunca vai mudar, né? Sempre sarcástica, sempre, sempre, sempre. - Ela disse num tom pesadamente crítico e eu revirei os olhos pra ela. De novo.

– Aprendi isso com os melhores, mãe. - Falei e dei uma piscadinha pra ela. Uma piscadinha sarcástica, claro. Ela revirou os olhos também. Ah-há, isso sim eu tinha aprendido de algum lugar com os melhores. Ou com a melhor, é óbvio: Ela, minha amável mãe. A mestra na reviração de olhos.

– Só se você estiver falando daquele traste do seu pai. Que por acaso, mandou malditas notícias, sabe? - Falou, atenta à minha reação a menção do nome "pai" na conversa. Wow. Meu pai? Muita informação numa frase só, realmente. Não acredito que ele tinha mandado notícias justamente pra ela e não pra mim!

– Sério? O que ele disse? - Perguntei, tentando esconder a curiosidade. Meu pai costumava me ligar uma vez por mês mais ou menos, lá em Nova York. É ele quem paga minhas contas desde que me mudei, mas nos últimos 6 meses ele tem andado muito ocupado, diz ele, então ele liga só quando precisa. O resto sua secretária, Marnie, faz por ele. E eu acredito totalmente nele, só que minha mãe não, ela acha que é tudo uma desculpa esfarrada. Mas foda-se, quem liga? Eles não estão juntos mais, mesmo. É, meu pai mora na Austrália, nós nos mudamos quase na mesma época. De qualquer forma, qualquer notícia do meu pai seria interessante pra mim, nessa altura do campeonato.

– Não faça esses olhinhos de cachorrinho esperançoso pra mim, Charlotte. Odeio isso. Bom, se ele não te contou, é porque deve ser surpresa. Então eu não vou estragar a surpresa. Agora por falar em surpresa, você tem que me explicar muitas surpresas. Você fez uma maldita de uma tatuagem, né? Porquê, meu santo Deus, PORQUÊ? Você pensou que eu não iria descobrir aquela foto que você mandou pra Lauren? Você está muito enganada. - Ela disse, sacudindo os braços e um pouco da cabeça, num ato realmente dramático. - E porque você não me avisou o dia que vinha de volta de Nova York? Você não liga faz uns malditos três meses, sua irresponsável! As vezes penso que você morreu por algum canto e ninguém avisou, porque não seria impossível, né? Sabe lá Deus qual a besteira que você vem fazendo durante esse tempo todo sozinha naquela cidade. Um milagre você estar inteira, nem acredito que conseguiu se virar sozinha. - Minha mãe cuspiu as palavras, em um tom idiota de reclamação, me senti como se tivesse 12 anos de idade e tivesse saído sem agasalho num dia frio.

– Acho que foi por isso que ela não ligou, Abbey. Não desconte tudo nela, minha querida. Sem stress hoje. - Disse a mãe de Lauren, aparecendo de repente, se arrastando para perto de nós e entrando na conversa sem ser chamada. Outra coisa típica desse lugar: Pessoas intrometidas. - E pare de fazer cena, não é como se você tivesse criado rugas de preocupação pela sua filha, não acha? Mas isso é assunto pra outra hora. - Completou, lançando um olhar de advertência para minha mãe.

– Obrigada, Sra. Hillter, pensei que minha gentil mamãezinha não fosse parar de derramar seu amor sobre mim. - Eu falei entre os dentes, olhando para os cabelos loiros platinados da mãe de Lauren e tentando imaginar quanto tempo ela teria passado fazendo aquele penteado pra hoje. Foi quando percebi que minha mãe não tinha gostado muito do meu comentário. É, nós éramos exatamente assim, nos dávamos [ironia]suuuuuuper [/ironia] bem.

– Você está vendo, Esther? - Minha mãe perguntou, apontando pra mim, mas olhando para a mãe de Lauren, Esther. - Essa menina teve a quem puxar! E não foi a mim, não foi mesmo! Odeio esse sarcasmo todo. E ainda fez uma tatuagem, tenha dó! - Minha mãe retrucou. Tipo... Sério que ela tava falando essas coisas pra mim? Ela já teve minha idade, que saco! Fora que eu sou maior de idade, se eu quiser me tatuar, vou lá e me tatuo, pronto. Ninguém tem NADA com isso. E nem tinha sido nada demais, ela só queria fazer um escândalo comigo mesmo, como sempre. Até parece que ela se importou de eu não ligar pra ela durante 3 meses! Toda vez que eu ligava ela simplesmente ignorava, nunca podia atender, não queria falar, era seca ou reclamava de mim, quem quer ter contato com uma pessoa dessas? Eu é que não sou.

– Mãe, fala sério! Quantos anos você tem agora, 90? Você tem uma tatuagem também, ta reclamando do quê? Ta tão velha e antiquada assim? - Aquilo sempre deixava ela irritada. Chame uma mulher de "velha" na alta sociedade de Los Angeles pra você ver se ela não emputece totalmente! Era sempre uma luta pra parecer jovem, porém minha mãe estava acostumada com essa "tirada implicante" minha (de sair chamando ela de velha na frente dos outros) e ela apenas ignorou. Ta aprendendo, mãe, finalmente.

– Sim, mas eu sou uma adulta e eu sei o que é certo. - Minha mãe tentou dizer. Lauren e eu nos entre-olhamos, com um olhar zombeteiro. Ah, claro que ela sabia o que era certo, né? Nossa, não sei nem por onde começar... Que tal gastar 5 horas do dia na academia, 4 no salão e o resto do dia falando da vida dos outros? E o fato de ter tido um amante da minha idade, usar o dinheiro do meu avô e pouco se fuder pros seus filhos? Ah, mãe.. Claro que você é uma adulta consciente e que e sabe o que é certo! Ta querendo o quê, um prêmio, é? Grr... Olha aí a Califórnia testando a paciência das pessoas de novo! Ou melhor, a minha (Mas acho que as coisas ficam piores especialmente nesta cidade, é claro, só pode ser isso). É feio jogar as verdades na cara das pessoas e se você faz isso por aqui, você é mal educado. Além do mais, eu já tinha culpado a minha mãe por causa dessas coisas milhares de vezes, eram só coisas que eu já estava cansada de dizer pra ela enquanto ela fingia que não escutava e pensava que isso ia fazer eu achar que não aconteceu. Não que ela se importasse com o que eu realmente pensasse, obviamente. Então não adiantava eu reclamar contra ela, eu tinha que sair em minha defesa.

– Claro... Eu sou uma adolescente ainda, né? Morar sozinha durante um ano em Nova York é coisa pra adolescente fazer, claro. Super adolescente! Mãe, não vou nem começar a falar, se não você vai se sentir até mal. - Eu disse, subindo a voz uma oitava e dando um passo em direção a ela. Esther, a mãe de Lauren, entrou no meio de nós duas.

– Calma, vocês duas! Abbey, minha querida, você precisa se acalmar, creio que você esteja alterada pela vinda do Charles, mas você precisa manter a compostura na frente de sua filha e dos meus convidados, querida. E você, Charlotte, por favor, respeite sua mãe. - Disse a mãe de Lauren para nós duas. Eu estava prestes a revirar os olhos, mas um pequeno nome me chamou atenção ali. Charles. Ah, não acredito!!! Meu pai! MEU PAI! Foi isso que eu ouvi: "creio que você esteja alterada pela vinda do Charles"? VINDA? AI. MEU. DEUS.

Não posso acreditar. Não posso acreditar. Ah. Ah. Ahhhhhhhhhhhhhhh.

– MEU PAI? MÃE, PORQUE VOCÊ NÃO ME FALOU NADA? Nossa, você é quem não muda! Sempre querendo fazer grande caso das coisas e etc. De repente quem tem que rever seus conceitos é você. – Respondi falando alto demais.

Lauren trocou um olhar preocupado com sua própria mãe, que depois olhou para a minha mãe com outro olhar preocupado. Minha mãe por sua vez, simplesmente olhou pra mim e deu de ombros. Essa mulher é um amor, mesmo, vou te contar. Se com amor eu quiser dizer: pé no saco.

– Seu pai está vindo sim, Charlotte.- Esther, a mãe de Lauren, disse com a cara mais lavada do mundo, como se fosse uma coisa normal elas não terem me contado nada. - Além do mais, ele já está na Califórnia, querida. Sua mãe não queria te contar porque ele vai trazer convidados. - Disse Esther, com um pouco de receio.

– Que tipo de convidados? Mulheres? - Perguntei. As três se entre-olharam.

– Não sabemos. Será uma surpresa quando ele chegar, ele só ligou para minha hoster, pedindo para avisar que viria com 4 pessoas no jantar de hoje. Pensamos que seria melhor se você não soubesse. - Ela disse, trocando um olhar com minha mãe novamente.

– 4 pessoas? Devem ser amigos. E é claro que eu iria querer saber, ou vocês acham que ser pega de surpresa ia me alegrar? Francamente, vocês não tem muita noção das coisas mesmo, não. Parem de ficar fofocando da vida dele, por favor, porque eu sei que vocês fizeram isso e a esse ponto, todo mundo nesse jantar deve saber que ele vem, menos eu, até agora. Muito obrigada, podiam ter me avisado mais cedo. Mas nãaaaaaao, vocês preferem bancar as estúpidas e não me falarem nada. Anda, Lauren, vamos lá em cima. E mãe, por favor, não faça mais cenas, nem comigo, nem com meu pai, a gente não gosta disso. - Segurei a mão de Lauren e a puxei pelas escadas, nossos vestidos farfalhando um pouco enquanto nos mexíamos apressadamente. Eu pisava fundo, minha vontade era que os degraus quebrassem com os meus passos, de tanta raiva. Antes de passar pelo hall, pude ouvir minha mãe falando para Esther:

– É isso que você ganha por deixar eles fazerem o que querem, esses filhos ingratos - Falou. E aposto que ela revirou os olhos.

Eu não estava irritada com meu pai, apenas com a minha mãe, por ficar fazendo intriga. Típico.

– Lauren, você já sabia disso? - Perguntei enquanto passávamos pela porta de um dos banheiros daquele andar, comigo dando um empurrão exagerado na porta ao entrar. Não havia ninguém lá. Encostei numa parede ao lado de um espelho e cruzei os braços a encarando. Lauren me observou e concordou com a cabeça. É claro que ela sabia.

– Ótimo. Por isso perguntou do meu pai aquela hora, então?

– Hm, é.. Eu acho. Desculpa não contar, mas.. Eu fui fumar ao seu lado porque estava pensando em te contar, minha mãe tinha me proibido, mas você sabe como somos com essas proibições maternas. - Lauren disse, me dando um quase-sorriso que mais pareceu que ela estava fazendo bico.

– Você acha que ele casou e tá vindo com algum tipo de mulher maluca e com os filhos dela pra cá? Será?

– Não sei.. Acho que não, seu pai não é desses, é? Mas sua mãe esta muito curiosa, por isso ela está fazendo essa cena toda. Esquece isso. Quer ir pra outro lugar? - Lauren perguntou, se aproximando de mim, quase como se estivesse preocupada.

– Não, não, não.. Eu quero ver meu pai, ué. E ele vai vir aqui, não é? Então vou esperar ele aqui. Porque é isso que eu quero, ver ele.

– Ah... Bem, se você quiser sair depois... A gente pode fazer alguma coisa, dar uma aloprada, o que a gente costumava fazer... Você sabe. - Ela falou devagar, como se fosse me assustar sugerir uma coisa dessas e ela estivesse indo devagar pra eu topar.

– Lauren, você sabe que eu não fumo mais. Nem.. nada relativo com isso.

– Hm, ok. Tudo bem, mas você não fumava só em Nova York, você pode fumar aqui. - Eu a encarei.

– Olha.. Não sei. Você sabe como foi super louco a última vez que eu estive aqui e não sei se quero voltar pra essa vida... Enfim, vamos voltar, quero estar lá quando meu pai chegar. - Eu disse, saindo do banheiro apressadamente. Essa não era a hora de conversar sobre isso.

– Opa, opa, opa. - Lauren disse, me alcançando.. - Eu te conheço, Chars. E eu não estranharia isso tudo se você tivesse me contado o que aconteceu no dia em que você foi embora. Mas você simplesmente foge do assunto toda vez que falo sobre isso e já tem 1 ano inteiro que tento saber! O que me faz pensar que aconteceu algo estranho demais naquela noite, algo estranho demais até mesmo pra você me contar.

– Não aconteceu nada, eu já disse. Eu só fiquei na praia o dia inteiro aquele dia, sozinha. Só isso. Eu queria dar tchau pra praia e essa coisa toda.

– Você pode mentir o quanto quiser, mas eu sei que não foi isso que aconteceu. Eu sei que  você andou experimentando coisas novas... Eu sei que tem alguma coisa aí! Você não tem nem coragem de olhar pra mim enquanto fala sobre aquele dia! Todas as vezes você disfarça, olha pros lados, sei lá... Eu simplesmente sei que você está mentindo! E eu esperava que você me contasse, você sabe que pode me contar tudo.

– Lauren, eu te contei tudo. Não se preocupe. - Falei passando no meio das pessoas. De repente Lauren segurou minha mão e parou de andar, me fazendo parar também. Estávamos de frente para um espelho enorme que refletia o hall de entrada da casa, pessoas entravam a todo instante, enquanto outras ficavam sassaricando por ali (sim, sassaricando, eles ficam andando sem rumo, só pra atrapalhar quem quer passar)

– Então olha pra mim agora e me diz que você me contou TUDO que aconteceu exatamente antes de você pegar o avião no dia que você foi embora. - Ela ainda segurava minha mão e quando a olhei rapidamente percebi que ela não estava curiosa, ela estava preocupada. Desviei os olhos rapidamente, me concentrando no espelho.

E essa foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, uma agonia prencheu todas as terminaçãoes nervosas do meu corpo quando eu olhei pra aquela pessoa parada perto da entrada, esperando alguém. Eu fiquei agitada, mas eu não tinha como me mexer. Ali estava uma das coisas das quais eu talvez não quisesse me lembrar. Ah, se Lauren soubesse que a resposta que ela queria estava bem ali, no mesmo ambiente que ela. Quando eu pensei em desviar o meu olhar, ele olhou em minha direção, antes que eu pudesse desviar os olhos, nós trocamos um rápido olhar. Foi mais longo do que eu esperava. Eu estava estática. Isso não podia estar acontecendo! Percebi que também era um choque pra ele. Aquilo era demais num dia só, não sei quanto tempo passou enquanto eu absorvia a informação, mas a próxima coisa de que me lembro é de ficar mole e tombar pro lado de Lauren, que me empurrou de volta, segurando meus ombros com as duas mãos.

– O que foi? O que aconteceu? - Ela disse, olhando curiosa para aonde eu estava olhando chocada e de boca aberta (ainda).

– Ok, Lauren. - Eu disse, conseguindo virar minha cabeça na sua direção e olhar nos olhos dela ao dizer lentamente:

Talvez eu tenha esquecido de contar algumas coisas.



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