Devia passar das seis da manhã, fizemos tudo que nos manteve acordados, de fotografias até as perguntas que fazíamos um para o outro, as respostas seguidas de outras perguntas. Estava deitada no sofá, com a cabeça em uma almofada abraçada com a mesma. Justin estava sentado no chão de olhos fechados, perto de mim, as costas encostadas no sofá, sua cabeça estava na almofada do lado da minha.

– Um Animal? – repeti sua pergunta e fingi pensar. – Justin Bieber. – brinquei, com um sorriso.

Justin riu por baixo da respiração.

– Estou brincando. Eu adoro cães. – respondi. – Numero da sorte? – perguntei, percebendo que minha voz estava sonolenta.

– 6. – respondeu Justin numa voz rouca. – Cor favorita?

– Azul. – aperte lábios e depois sorri. – Eu não deveria estar te falando isso, mas... Tem uma musica que eu adoro, se chama Baby Blue Eyes, é de uma banda de rock americana, A Rocket to the Moon. Ela se parece comigo, e se você escutar vai entender por que. – disse e fiz uma pausa observando o sorriso de Justin antes de fazer a próxima pergunta. – Uma cor?

– Roxo. Piada preferida do Justin Bieber? – disparou num tom de brincadeira, mas deu um sorriso um tanto desanimado.

Eu apertei os lábios tentando imaginar.

– De ver difícil. – disse por fim.

– De vez em quando. Mas às vezes acontecem coisas boas. – ele abriu os olhos e sorriu. – Tipo você.

Eu sorri e afaguei seu cabelo. Justin fechou os olhos novamente.

Nós ficamos por um momento em silêncio. Eu me perguntei se Justin já havia dormido ou não, então sua respiração tornou-se um rosnado baixo, um som suave e confortante. Fechei os olhos, poderia até dormir com aquele som tranqüilizador do rosnado da respiração de Justin, mas tinha que ir pra casa, já se passava das sete da manhã, papai já devia estar enlouquecendo quando não me viu no quarto. Beijei o alto da cabeça de Justin, levantei-me vagarosamente e peguei os meus saltos ao lado do sofá. Tentei fazer o máximo de silencio possível, não queria acordar Justin, mesmo dormindo, seu rosto era angelical, até mesmo com a boca aberta por causa da elevação da sua cabeça no travesseiro. Ri baixinho.

Calcei meus sapatos enquanto o elevador descia. Quando as portas se abriram para o saguão, levantei a cabeça para olhar a saida para a rua, me surpreendi ao ver uns caras – e até mesmo algumas mulheres com cadernetas na mão – do lado de fora do hotel, com coletes cor bege e maquinas fotográficas nas mãos. Logo as coisas se encaixaram. Meus olhos se arregalaram, com as mãos tremulas, apertei uns três botões do elevador antes de apertar o certo. Não consegui me senti aliviada quando as portas se fecharam, comecei a dar saltinhos de ansiedade e nervosismo, me perguntando se eles teriam me visto. As portas se abriram e eu corri pelo corredor, quase caindo por causa dos saltos. Abri a porta da suíte do quarto de Justin e a fechei em um rompante atrás de mim, esquecendo que Justin dormia ali. Ele desabou no chão e depois se pôs de pé num salto, assustado e ofegante.

– Merda. Te acordei. Desculpe. – disse ofegante.

– Não. Tudo bem. – ele disse esfregando os olhos. – Você ia sair?

Engoli o seco com ruído e passei a chave na porta, só assim consegui-me sentir mais segura.

– Lá fora. – disse caminhando até ele e apontando para a porta. – Paparazzi. Tem uns quatro. – eu arfava.

– Que droga! Eles já devem ter descoberto. E vieram aqui, ficar de tocaia. – reclamou. Ele colocou a palma das suas mãos em minha bochecha para que meu rosto ficasse entre suas mãos, abaixou rosto para que seus olhos ficassem na altura dos seus. – Eles te viram? Fizeram alguma coisa? – sua voz estava cheia de preocupação.

– Não, não. Eles não me viram. – tentei tranqüilizá-lo. – Bom, pelo menos eu acho. – acrecentei depois.

– Eles não vão embora nunca? – perguntei, já sem esperanças.

Já estávamos há algum tempo de pé olhando pela janela de parede toda do quarto. De lá dava pra ver um pouco da frente do hotel, alguns paparazzis circulavam por lá.

Suspirei. Estava preocupada com que meu pai deveria estar pensando.

– Tenho uma idéia. – disse Justin pensativo, ele soltou a cortina que cobria a janela e saiu.

Virei-me para ver o que ele iria fazer.

Ele caminhou até uma mala perto da cama e colocou-a em cima da mesma, abriu sua tampa e jogou um moletom roxo escuro na cama.

– Ok. Vista. – mandou e deu passos largos para o banheiro.

Obedeci e peguei o moletom, passando meus braços pelas mangas compridas. Tinha um cheiro maravilhoso. Seu cheiro. Olhei para a mala de Justin, algo me chamou atenção na mala bagunçada. Uma calça larga embolada, enfiada entre as outras roupas no canto da mala. Eu a puxei e a segurei pelas pontas. Só poderia ser de uma pessoa. Justin no mesmo momento surgiu pela porta do banheiro.

– Calças do Kenny? – indaguei, imaginando o que ele faria com elas.

Justin riu e veio até mim.

– O que é? Tenho que encontrar alguma diversão. – ele disse rindo. – Prenda seu cabelo. – ele me deu um elástico.

Eu amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, depois Justin colocou um boné azul de aba aberta em minha cabeça, logo em seguida passou o capô do moletom sobre ele.

– Perfeito! – ele sorriu – Se parece até comigo, quando essa não é intenção.

Eu ergui uma sobrancelha.

– Até parece! Se eu tivesse uma cara feia igual a tua, acho que iria querer trocar de cara. – zombei num tom brincalhão.

– Eu sei que você me acha lindo. – ele disse num tom de provocação enquanto ia pro banheiro novamente, carregando com ele algumas roupas.

Olhei para a blusa e notando seu cumprimento. Ia até um pouco abaixo da minha cintura, fazendo com que meu vestido parecesse uma mini-saia. Meu Vestido.

– Oh, Oh. – murmurei. – Ahm... Justin? – chamei. – A intenção era que eu parecesse um garoto, certo?

– Oh, yeah! – respondeu, sua voz ecoou no banheiro.

– Então acho que temos um problema. – alertei.

Apenas sua cabeça apareceu na porta, ele estava se segurando com as mãos na soleira da mesma.

Querendo mostrar o que queria dizer, olhei para baixo, para o vestido, que agora parecia uma saia.

Ele levou um momento para responder.

– Epa! – exclamou ele surpreso. – Acho que um garoto não tem pernas tão bonitas – Justin deu um sorriso diabolico.

Eu olhei, e percebi que seu foco estava em minhas pernas. Revirei os olhos. Ás vezes Justin era tão pervertido, que o atrapalhava.

Justin voltou para o banheiro.

– Justin – disse, censurando-o.

– Não se preocupe Milers. Aqueles caras não estou preocupados com mais nada a não ser tirar fotos minhas. – gritou para mim.

– Se você diz.

Justin surgiu pela porta do banheiro. Justin estava com uma blusa de mangas compridas com seu capô também cobrindo o boné, usava uma calça justa e um tênis All Star. Era a primeira vez que eu o via usar esses sapatos.

Bufei.

– Você está tão irreconhecível. – empreguei o máximo de ironia em minha voz.

– Essa é a intenção. – ele disse sarcástico, convicto do que eu dizia.

– Continuar feio? – provoquei.

Ele caminhou até mim com um sorriso.

– Já vi que não sabe mentir, Milers. – ele me olhou nos olhos.

– Do mesmo jeito que você só me chama assim pra me provocar.

– Ahm... Sai naturalmente. – ele riu.

Ri. Justin passou seu braço em torno da minha cintura e me empurrou na cama, caindo por cima de mim e então apertou seus lábios nos meus.

– Justin... – tentei empurrá-lo quando as coisas se prolongaram. – Justin... – tentei mais uma vez, empurrando-o pelos seus ombros, mas minha voz não soava tão autoritária enquanto eu ria por causa das cócegas provocadas pelas mordiscadas que Justin dava em meu pescoço. – Merda! Justin! Precisamos ir. – eu persistia, sem sucesso.

– Arrrgh! – grunhiu ele e se levantou.

– Cuidado com as pernas, elas podem chamar a atenção dos paparazzis. – provocou ele, enquanto passávamos pela sala.

– Há! Que engraçado você. – revirei os olhos.

Quando chegamos ao hall do hotel, pude sentir os olhares estranhos para nós. Ignorei. Não resisti a tentar me passar por um garoto, balançando os braços para trás. Pude escutar a risada baixa de Justin. Passamos pelos paparazzis de cabeça baixa, eles pareceram desconfiados, mas depois de ficarmos alguns passos distantes deles, Justin começou a correr pela calçada, tentei acompanhá-lo, mas havia esquecido que estava com a porcaria dos saltos.

– Oh! Droga. – comecei a pular num pé só enquanto tentava tirar o sapato do outro pé. – Merda, me espere! – gritei pra Justin.

– Comece a correr. Ô princesa. – ele disse sobre o ombro num tom sarcástico.

Se não estivesse tão atrapalhada ali, torceria seu pescoço. Quando finalmente consegui tirar o salto do pé que eu tanto lutei, facilitou para tirar o outro salto, então finalmente o alcancei e consegui acompanhar seu ritmo.

Loucos. Uma palavra que as pessoas definiriam nós dois quando nos visse correndo daquele jeito.

Eu sei que parecia uma estabanada correndo. Mas não me importava. Sabia que Justin estava muito pior que eu. Ri mentalmente.

– Ah, não sou eu que se parece com uma gazela saltitante quando corre. – contra-ataquei, enquanto andávamos pelo caminhozinho de concreto que ligava a porta da frente.

Não demorou muito para chegarmos até minha casa, cansativo, mas divertido. Eu estava quase fritando de calor dentro daquele moletom. Chegando a porta de entrada, virei-me para Justin que estava logo atrás de mim.

– Acho que é melhor ficar com isso, sabe... – eu tirei o moletom e o devolvi, juntamente com o boné.

Suas sobrancelhas se uniram.

– Meu pai não sabe que a gente ta... Ahm... – hesitei, sentindo-me insegura se aquela era mesmo a palavra adequada.

– Namorando? – completou.

– É. Você sabe. – revirei os olhos.

– Sei. Mas isso não é um problema, posso filar com ele agora mesmo. – propôs.

– Não! – protestei rapidamente. – Acho melhor falar com ele antes. Prepara-lo. Eu te aviso quando for o momento certo, ta legal? – tentei dizer com delicadeza.

Justin deu os ombros e apertou seus lábios em minha testa por um breve momento e se afastou as pressas. Virei-me para a porta, e a abri, pensado se minhas palavras, um tanto rígidas, haviam ferido os sentimentos de Justin.

– Melanie! – gritou uma voz cheia de alivio e surpresa enquanto eu passava pela sala, que interrompeu meus pensamentos.

Pulei de susto. Mal pude me virar e papai já estava de pé ao meu lado, com meu rosto entre suas mãos grandes.

– Está tudo bem com você? Ah, eu fiquei tão preocupado. – papai jogou seus braços em minha volta, me apertando.

– Papai. – tentei dizer. – Estou bem. Você esta... Me... Apertando. – disse ofegante.

– Oh, Desculpe. – ele me soltou e então pude vê sua expressão mudar totalmente. – Posso saber onde você estava? – ele disse seriamente cruzando os braços.

Droga!

– Eu... Sai. – disse com indiferença, dei os ombros.

– E por acaso, você estava com quem? – perguntou agora desconfiado.

Papai semi-serrou os olhos.

Respirei fundo.

– Eu tava com um garoto. – respondi quase num sussurro.

Seus olhos se arregalaram e ele começou a dizer num sobre-saltado:

– O que? Com um garoto? Que coisa mais imprudente Mela...

– Papai. Relaxe. – logo tratei de interrompe. – Eu não fiz nada o de errado. – tentei tranqüilizá-lo.

– Qual o nome dele? – perguntou agora mais rígido e autoritário.

– Justin B... – me interrompi. Achariam-me louca se falasse que sai com Justin Bieber. – Bem, a gente foi ontem em uma festa. Só isso. – omiti.

Papai contorceu um pouco a cabeça, desconfiado.

– Vou subir, ta legal? – avisei.

Antes que ele pudesse responder, disparei para escada.

– Depois eu quero conhecer esse tal de Justin. – gritou para mim numa exigência.

Talvez papai conhecer Justin seria um problema. Não por Justin, mas por Justin Bieber. Tentei imaginar sua reação, o que me trouxe calafrios na espinha.