Amargo Regresso escrita por Aki Nara


Capítulo 4
Capítulo 4 - Mentiras




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_ Essa palavra não existe no meu dicionário, Mia. Mas veremos até onde vai dar... Eu garanto a noite de hoje. Quem sabe sobre o amanhã. Você arriscaria?

As palavras dele ficaram ecoando em sua mente por toda noite fazendo-a ficar acordada. Ângelo havia chegado pontualmente no horário e ela se viu entrando na D-20 como uma múmia ambulante.

A estrada era monótona e apesar do asfalto esburacado, ela fingiu dormir enquanto Ângelo dirigia. Daqui a pouco eles pegariam a balsa para atravessar o rio e enfim, ela teria que enfrentá-lo.

O momento esperado veio mais cedo que previu, ele parou o carro no acostamento. A balsa ainda estava do outro lado e ainda demoraria trinta minutos para atracar.

Ela se espreguiçou na cadeira, abriu a porta para pegar um vento, retirou a escova da bolsa e começou a pentear os cabelos longos, lisos e sedosos.

Sob as lentes dos óculos escuros, ela o viu se aproximar com duas garrafas de água, ele aguardava-a pacientemente então, por fim parou de enrolar.

_ Bom dia! – sorriu para ele.

_ Dormiu bem?

_ Muito melhor que você. Quer que eu dirija o resto do trajeto pra você poder descansar?

_ Eu aceito! Estou morrendo de sono mesmo. – ele ofereceu a água para ela.

_ Obrigada. Está gelado.

_ Não tanto quanto você esta manhã – ele disse sorvendo um grande gole.

_ E por falar nisso... Eu tenho que te devolver... – ela procurou o anel em sua bolsa e estendeu para ele.

_ Já? Não tenha tanta pressa. Eu confio que você vai fazer bom uso dele. Que tal ficarmos assim mais um tempo? Agora... Vem aqui!

Ela quase foi, mas se eriçou ao perceber o tom de comando e continuou sentada dentro do carro.

_ Se Maomé não vai até a montanha... a montanha vem até Maomé – ele abaixou seus óculos de sol para encará-la bem dentro dos olhos.

_ Ângelo... – era impossível não ser tragada por aquele olhar.

Os olhos azuis de Ângelo mudavam de coloração, de um azul claro ao mais profundo, de acordo com o estado de seu humor. E agora, eles brilhavam de um modo sedutor.

Até um tempo ela jamais imaginaria que pudesse se envolver com um Costa, mas agora não conseguia evitar que sua imaginação lhe pregasse peças.

_ Eu gosto do jeito que você fala o meu nome. Eu estava com vontade de fazer isso a viagem toda, sabia?

Ele acariciava a sua nuca enquanto lhe dava beijos sôfregos que a provocavam fazendo-a querer mais até que a língua dele se apossou de sua boca.

Se fosse honesta consigo mesma... Era o que ela esteve querendo o tempo todo. O tempo parecia correr muito depressa quando estavam juntos. O apito da balsa anunciava a sua chegada.

_ Vamos lá! Eu estaciono lá dentro e depois o carro é todo seu.

Ângelo manobrou o carro para dentro da balsa e eles ficaram do lado de fora apreciando a vista. A travessia trazia um vento agradável no calor de meio-dia. Sentiu a fome bater e para sua vergonha a barriga roncou.

_ Que tal pararmos num restaurante quando chegarmos do outro lado? – ele disse contendo um riso.

_ Apoiado – sentiu-se corar. – Estou morta de fome.

_ Deu para ouvir – ele sorria abertamente. – Acho que você comeria um boi inteiro.

_ Acho que sim – riu da brincadeira, mas pediu clemência. – Por favor... Seja bondoso está bem?

_ Serei... – ele a acariciou no rosto. – Veja! Estamos chegando. Agora é sua vez de dirigir.

Eles haviam parado para almoçar num restaurante de estrada e o resto da viagem transcorreu num clima tranqüilo para ambos, mas era como se tivessem que despertar de um sonho e enfrentar a realidade.

O portão da fazenda estava aberto e logo chegaram à casa principal. Estivera ensaiando uma despedida durante a viagem toda, mas agora as palavras simplesmente sumiam de sua mente. Ela descia do carro enquanto ele retirava suas coisas do porta-mala.

_ Precisa de ajuda para levar as coisas para cima?

_ Não. Tudo bem! Eu me viro.

_ Está tão ansiosa pra se livrar de mim?

_ Na verdade... Estou. – riu sem graça – Queria ver o meu pai.

_ Ele não está.

_ Como assim? – olhou para ele entre surpresa e temerosa.

_ Ele estará fora por alguns dias. Nada demais – ele não esperou por ela e foi entrando com suas coisas.

_ Espera! Aonde você vai?

_ Deixar suas coisas no seu quarto.

_ E você sabe onde é meu quarto?

_ Claro que não!

_ Poderia me dizer qual dessas portas? Sabe como é... Essas caixas não são tão leves.

_ Essa! – disse apontando para a segunda porta.

Era o quarto dela mesma e continuava do mesmo modo que deixara. O mesmo motivo infantil tão diferente de Mia. Ela se perdeu nas lembranças que vieram como uma avalanche e por algum tempo esqueceu que tinha companhia.

_ Humm! – ele pigarreou. – Vou trazer o resto.

_ Desculpa! É só que... – disse com a voz embargada e controlando as lágrimas – É muito bom estar em casa.

Eles desceram e enquanto Ângelo levava o resto da bagagem ela preparava um café. Era o mínimo que podia fazer para agradecer pelo trabalho que ele teve.

_ Pronto! Está tudo lá, Mai.

Ela entregou o café para ele com os olhos voltados para a xícara, tentava esconder a surpresa por estar chamando-a pelo nome.

_ Desde quando percebeu...

_ Que você é a Mai?

Balançou a cabeça afirmativamente.

_ Desde que entrei em seu quarto. Tem uma placa na porta: "Mai".

_ Okay. Essa sou eu.

_ Seu pai lhe deixou um recado. Está aqui. – tocava o papel pregado na geladeira.

_ Ângelo... – segurou-o pela manga da camisa. – Obrigada por tudo.

_ Eu tenho que ir. – saiu pela porta da cozinha até a varanda frontal – Nos vemos um outro dia.

_ Claro! Você é meu vizinho.

_ Eu... – ele abriu a porta do carro, mas se voltou cruzando os braços. – Espero que seja breve! Vai querer me ver de novo?


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Notas finais do capítulo

Um bombom imaginário pra quem acertar quais são as mentiras. xD



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