Amargo Regresso escrita por Aki Nara


Capítulo 11
Capítulo 11 - Reencontro




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_ Minha querida! Quem sou eu para lhe dizer algo em contrário? O que tem que acontecer sempre acontecerá... Independente do que é certo ou errado. A sua vida está longe do fim e na verdade ela mal começou... Pode ficar comigo pelo tempo que quiser, mas um dia terá que encarar os problemas dos quais fugiu. E por experiência própria... Quanto mais cedo será melhor.

_ Obrigada. – abraçou-a demonstrando um jeito bem brasileiro de demonstrar afeto.

O tempo não esperava para passar e os cinco anos com a avó passaram rapidamente como num pestanejar. E agora ela estava ali, caminhando de mãos dadas com o filho, de volta da escola para casa. Se estivessem no Brasil, provavelmente ela teria ido buscá-lo no Centro de carro, mas aqui na terra do sol nascente, onde tudo era próximo, o meio mais eficaz de locomoção era andar com as próprias pernas.

Mai olhava para o filho como uma mãe zelosa e amorosa. Se ouvisse a voz do filho de olhos fechados, Ken seria um típico garoto japonês, porém a pele clara, os cabelos castanhos e os olhos azuis o tornavam um garoto estrangeiro e diferente, que falava o idioma.

Seu filho era brasileiro, a nacionalidade japonesa só era dada para as crianças nascidas no país, de pai nativo, ou seja, quando o pai é japonês. Em outras palavras, sua dupla nacionalidade não dava o reconhecimento para seu filho.

Este era um dos problemas que precisava solucionar em algum momento e estava ciente que quanto mais adiava a sua volta para o Brasil, que mais difícil seria explicar para o filho, como dizer a uma criança de quatro anos que ele não conheceu o pai porque fugiu para não se confrontar com a realidade.

Ao aproximar-se da casa da avó, Ken largou sua mão para correr até o portão e abri-lo chamando por sua bisa, porém ele estacou de súbito, olhando para um ponto fixo como se tivesse encontrado um estranho no jardim.

_ O que houve? – sentiu o sorriso morrer diante da surpresa. – Ângelo...

_ Papai? – Ken jogou-se nos braços dele após vencer o impacto inicial. – Veja, mamãe. Ele veio para nos buscar.

_ Venha, criança! Vamos brincar no parque? – a sua avó apareceu numa hora providencial. – Fiquem à vontade para conversar.

_ Mas bisa... Eu não quero ir... É o papai não é?

_ Sim, Ken. Deixe papai e mamãe conversarem primeiro – a avó explicava já puxando Ken para a rua.

Ângelo tinha um sorriso estampado em sua face enquanto acompanhava o filho e a avó discutirem durante o caminho.

_ Vamos entrar? – precisava aparentar calma para manter os sentimentos sob controle.

_ Claro! – Ele foi lacônico em sua resposta enquanto percebia os olhos dele se tornarem frios.

Mai levou-o até a sala de visitas e agora olhando para ele, aquele lugar parecia pequeno demais para os dois. Eles se sentaram sobre uma almofada no chão, o tempo pareceu parar e sufocá-la até ouvir a voz de Ângelo.

_ Quatro anos é um tempo longo demais para um marido esperar a volta de sua esposa, concorda? Eu vim para legalizar a nossa separação e descubro que tenho um filho... – cada palavra dita por ele num tom amargo lhe doía no fundo da alma. – Quando pretendia me contar sobre Ken ou não pretendia contar, Mai?

Era duro perceber que o tempo havia passado e que continuava a amá-lo. Deveria estar preparada para a separação, mas saber que ainda guardava esperanças do contrário a deixou sem ação. O que poderia responder diante da acusação? Que defesa teria a não ser conviver com seu próprio erro.

_ Sabe? Eu gostava muito do seu pai, ele me ouvia... Ele me deu a chance de desenvolver algumas atividades em campo que não teria coragem de pedir para o meu próprio pai. Eu o via trabalhando em dia de sol, em dia de chuva, sem reclamar da dor que deveria estar sentindo... Após o dia terminar ele gostava de beber, a cerveja deveria estar servindo de analgésico e num dia desses que bebeu além da conta, ele me confessou que a maior preocupação dele era deixá-la só... Então, ele contou que você não havia superado o acidente e que se culpava pela morte de sua mãe e de Mia, e que por vezes assumia a personalidade dela. Ele enumerou todas as diferenças entre Mai e Mia, e me fez prometer que cuidaria de você.

Ela levantou os olhos e piscou para conter as lágrimas a todo custo, ao pensar que ela era o motivo que agravara a doença do pai, sofria menos por saber que o pai falecera vendo-a ser ela mesma.

_ Era mais fácil acreditar em Mia fazendo loucuras e eu fui idiota em pensar que Mai voltaria para mim. Foi difícil achá-la porque eu estive procurando por Clarisse Mia Nagano. E todo esse tempo você foi Mai... – via dor nos olhos azuis. – Quantas mentiras mais existem entre nós?

Muitas! E a maior parte era culpa dela por ter sido insegura, queria gritar, mas manteve-se calada e a frase engolida surgia como uma dor sufocante em sua garganta.

_ Os motivos já não me interessam mais. Creio que o melhor é guardá-las para si mesma. Mas uma coisa nisso tudo me interessa. Ken... Meu filho. Nada que se refira a ele será deixado para trás. O que contou a ele?

_ Ele sabe que você é o pai... – disse finalmente com a voz embargada. – Contei a ele que estivemos passando por dificuldades e eu precisei vir trabalhar como dekassegui no Japão. E que assim que... – a voz falhava – a situação melhorasse você viria nos buscar.

_ Tirando o fato de que sou realmente o pai dele... Mais mentiras?

_ Sim... – disse simplesmente.

_ Você tem duas opções. Nos separamos e eu ficarei com a guarda permanente.

_ NÃO! – empalideceu ao interrompê-lo.

_ Se não me der espontaneamente posso conseguir que seja considerada louca. Não deve ser difícil provar que você seja emocionalmente instável, afinal você fugiu... Mas considerando que Ken é mais importante... Tem ainda a opção de voltar conosco porque quero dar uma família e um lar para o meu filho... Você escolhe e que seja agora, Mai. O que decide?


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