Conforme combinado, os seis amigos se encontraram bem cedo na manhã seguinte e partiram para a casa dos tios de Tadase. Após algumas horas de viagem, eles chegaram ao seu destino, desembarcaram e Tadase mostrou-lhes seus quartos: Como a casa pertencia aos parentes do Rei, Tadase ficaria com um quarto só pra ele, Kukai e Nagihiko dividiriam um beliche no quarto ao lado, e as garotas ficariam num quarto maior, de frente para eles. Depois de guardarem suas coisas, eles desceram para ajudar na preparação para as Festas de Fim de ano. Como havia muito trabalho a ser feito, o tempo passou voando, e logo caiu a noite, indicando que estava na hora deles começarem a se preparar para a festa.

Como só havia um banheiro na casa, eles tiveram que se revesar para tomar banho. Como as garotas foram as primeiras, e nenhum dos meninos queriam causar nenhum "mal-entendido", se é que vocês me entendem, o Valete resolveu ir até o quarto delas perguntar se todas já tinham termiado. O que não foi uma boa idéia.

– Ei Amu-chan, vocês já terminaram de... ahn...

Nagihiko interrompeu a frase abrupdamente diante da cena que presenciara: O fato é que ele abrira a porta do quarto equivocadamente destrancada, e dera de cara com Amu se trocando. Ela vestia a saia que usaria na festa, ainda com o zíper aberto, mas suas roupas de baixo superiores anda estavam à mostra. O rosto da Coringa enrubesceu instantaneamnte e sua boca começou a se abrir lentamente. Ela ia soltar um berro a qualquer momento, mas antes que o fizesse, Nagihiko teve uma idéia de gênio. Ou o truque mais velho do mundo, mas isso não vem ao caso.

– Puxa vida, aqui não é o banheiro! Desculpa aí hein, porta errada! - ele bateu a porta na cara de Amu antes que ela conseguisse dizer alguma coisa.

Ainda no corredor, Nagihiko respirou fundo, tentando se acalmar. Era bem verdade que essa não era a primeira vez que ele via uma garota se trocando, nem a primeira vez que ele via Amu se trocando, mas das outras vezes ele... bem, ele não era "ele mesmo", se é que me entendem. Ele já ia bater em retirada, mas Amu parecia ter teminado de se vestir na velocidade de um raio, pois logo abriu a porta e o puxou para dentro.

– Você... v-você viu? - ela perguntou o óbvio num sussurro envergonhado. Não havia como mentir, mesmo que ele respondesse que "não", ela não acreditaria
– Desulpe - ele respondeu sem jeito, desviando os olhos dela - Eu não... não petendia te espiar nem nada, é só que... eu não pensei que estivesse, sabe... s-se trocando
–Ahh... n-não, tudo bem... a culpa foi minha, eu devia ter trancado a porta...
– Devia mesmo - ele concordou em voz baixa
– O que??
– Ahh... q-quero dizer... bom, eu lamento por isso
– Prometa que não vai contar à ninguém! - exigiu Amu, ainda corada - E... você está me devendo uma, ouviu?!
– Como assim "devendo"?! - perguntou o Valete confuso. Ele por algum motivo se sentiu como aqueles homens que vão à boates noturnas e pagam para assistir mulheres estranhas fazendo strip-tease
– Isso mesmo, está me devendo! E fique sabendo que eu vou te cobrar, ouviu?! - repetiu Amu sem dar nenhuma explicação sobre o tal "pagamento", o que reforçou o pensamento confuso de Nagi sobre as boates e as stripers - Agora fora daqui, preciso terminar de me arrumar! - ela empurrou o garoto para fora do quarto e bateu a porta na cara dele.

Mal sabia Amu que ela e o Valete não eram os únicos a saber sobre este pequeno "acidente".

Yaya saltitava pelo corredor feliz da vida, doida pra contar sobre a cena que espiara par alguém. Pensou nos possíveis alvos de sua fofoca: Tadase ficaria no mínimo horrorizado e gaguejaria alguma coisa incompreensível. Seria divertido deixá-lo embaraçado desse jeito, mas não era a reação que a Às procurava; Rima ficaria mais emburrada do que o normal pelo resto da noite e tentaria matar o Valete por ter "violado" Amu desse jeito. Yaya calculou que isso também seria divertido, mas não seria nada legal a Rainha passar a noite de Natal de cara fechada; E por fim, restara Kukai. Ele provavelmente faria umas caretas engraçadas, riria à beça e depois a ajudaria a tirar sarro dos dois. Era exatamente o tipo de reação que Yaya procurava.

Yaya foi cantarolando até o quarto do Ex-Valete, bateu na porta, e ouviu a voz abafada do garoto gitar "entre!" do lado de dentro do quarto. Assim, Yaya entrou sorridente e feliz da vida no quarto do amigo. Outro grave erro cometido naquele dia.

Neste momento, Kukai estava de frente para o espelho, lutando com a escova de cabelos enquanto tentava se pentear. Ah sim, também estava sem camisa. Algumas gotas de líquido transparente escorriam pelo tórax e abdômen bem definidos do garoto, e também pelos seus braços musculosos. Pareciam gotas de suór, mas ele provavelmente apenas não havia se enxugado direito depois de de sair do banho, já que cheirava à amêndoas. Sua calça jeans ainda estava sem o cinto, deixando parte da cueca azul-marinho à mostra.

– Ah, e aí Yaya? Pronta pra festa? - perguntou ele no tom mais natural do mundo.

A garota perdeu a fala na mesma hora. Sentiu sua face esquentar drasticamente, suas pernas bambearem, podia jurar que tinha até fumaça saindo de suas orelhas.

– Ahh... é que.. e-eu... err...
– Hen? O que disse? Não entendi - falou Kukai se virando para ela - Nossa, você está bem, Yaya?! Está com a cara toda vermelha! Não está com febre né??

O simples fato de Kukai falar que a face dela estava vermelha parecia tê-la deixado mais vermelha ainda, o que fez o garoto andar na direção dela com um olhar estranhamente decidido. Yaya recuou assustada, ainda sem conseguir dizer nada, até que bateu de costas contra a parede. Ela tentou fugir para o lado, mas Kukai a segurou firmemente pelos pulsos e começou a aproximar seu rosto do dela. Yaya engoliu em seco e fechou os olhos esperando pelo pior (que talvez não fosse tão "pior" assim), quando sentiu algo frio tocando o topo de sua cabeça. Quando reabriu os olhos, viu que Kukai encostara sua própria testa na dela. Ok, não era bem isso que ela achou que ia acontecer, mas ainda assim foi o bastante para deixá-la bem constrangida.

– Que estranho, não parece ter febre... - murmurou Kukai, ainda com a testa encostada na dela - Por que está tão vermelha então? Comeu alguma coisa com pimenta, foi??
– Claro... que não... seu bobo! - Yaya conseguiu empurrá-o para longe, desviando seus olhos dos dele - N-Não acha que isso é meio óbvio não??
– Francamente, não - ele respondeu com sinceridade - Senão não estaria perguntando, não é? Se não está doente, por que raios você está toda vermelha afinal??
– Porque... p-porque... é porque você está sem sem camisa, seu idiota!! - ela gritou, seu rosto ainda mais vermelho, só que dessa vez de raiva - Qualquer garota ficaria envergonhada ao entrar no quarto de um rapaz e ver ele assim praticamente seminu, com líquido escorrendo pelo corpo, e... e com a cueca à mostra ainda por cima! Você está me deixando embaraçada, seu tonto!

Kukai encarou-a por vários segundos com a boca entreaberta e olhos esbugalhados, como se tivesse grande dificuldade em compreender o que a garota acabara de falar.

– É sério que... você ficou sem graça por causa disso? - perguntou o garoto por fim
– O que? É claro que sim!! - bufou Yaya, mal acreditando que ele havia feito uma pergunta tão estúpida.

Kukai olhou pro lado, coçando a cabeça de modo pensativo.

– As garotas ficam mesmo envergonhadas por causa de uma coisa dessas?! - ele perguntou mais para si mesmo do que para Yaya
– Claro que ficam! Em que mundo você vive, seu bocó alienado?! - ela exclamou incrédula

Kukai virou de costas e abriu o armário à procura de uma blusa limpa para vestir. Mesmo de costas, era possível notar que agora ele também estava bastante corado, talvez mais até do que Yaya.

– Desculpe, Yaya - ele murmurou sem graça enquanto vestia a primeira camisa que encontrara - Não fazia idéia de que isso deixava as garotas constrangidas... se soubesse antes... b-bem, parece que não entendo muito de garotas afinal... eu sinto muito mesmo.

O modo como ele falou aquilo fez Yaya se perguntar se ele já havia passado por uma situação parecida antes com alguma outra garota, e ela não lhe dissera nada. Isso fez o estômago da garota se revirar e lhe causou um nó na garganta, embora ela não soubesse o porquê.

– N-Não... você não sabia, então deixa pra lá - ela respondeu ainda meio sem graça
– Bem, então... o que você veio fazer aqui afinal? perguntou Kukai tentando mudar de assunto.

Depois de tudo aquilo Yaya se esqucera completamente o que viera fazer ali, não importava o quanto tentasse se lembrar.

– Ahn... bom... é que... precisamos descer pra jantar logo, é isso! - ela disse a primeira coisa que lhe veio à mente - E traga seu presente do amigo oculto, não esqueça, hein?!

Yaya correu até a porta, mas antes de sair, disse:

– Ah... e vê se aprende a medir a febre de um jeito mais normal, ouviu?! Tipo, colocando a mão na testa da pessoa, ou usando um termômetro, ou algo assim! Fui!

Depois disso, a noite correu tranquila e todos conseguiram disfarçar perfeitamente bem seus "pequenos acidentes". Eles ceiaram, conversaram, riram juntos, até que chegou a hora do amigo oculto. Os seis se sentaram em uma roda na sala, e tiraram a sorte no palito para ver quem começaria. Felizmente (ou não) a escolhida foi Yaya. Ela se dirigiu ao centro do círculo, apertando nervosamente um embrulho em suas mãos, e disse:

– Err... b-bem, então... meu amigo oculto é... bem, é um garoto. E ele... é um grande amigo e companheiro pra todas as horas... pode parecer meio... meio desligado e sem noção pra certas coisas, mas... mas está sempre disposto a ajudar as pessoas quando precisam
– É o Kukai! - exclamou Amu na mesma hora, apontando para o Ex-Valete
– Acertou Amu-chi! - falou Yaya sorrindo, enquanto Kukai se dirigia ao centro do círculo - Então... Feliz Natal Kukai.

Yaya já ia entregar o presente, quando o garoto a envolveu em um apertado abraço, fazendo suas bochechas esquentarem. Ela se desvencilhou com certa pressa, e o garoto abriu seu presente. Era um skate que estava na última moda.

– Uau, incrível, Yaya! Valeu mesmo! - exclamou Kukai todo sorridente
– D-De nada... agora vai logo, é sua vez! - disfarçou a menina
– Tá certo então. Meu amigo oculto também é um garoto - começou a discursar Kukai, e por algum motivo deixando Yaya super feliz em saber que ele não presentearia nenhuma garota que não fosse ela - Ele é muito gentil e prestativo, mas é meio lerdo pra certas coisas... algumas pessoas dizem que ele é um verdadeiro Príncipe Encantado...
– Está mais que óbvio que sou eu!! - exclamou Tadase de repente, se levantando. Ele havia entrado no Chara Change graças à mênção da palavra "Príncipe" - Mas que fique avisado, plebeu: Eu não sou um simples Príncipe, sou um REI! MUAHAHAHAHA!!!
– Bom, está correto, Majestade - riu-se Kukai - Feliz Natal.

Ele abraçou Tadase e lhe entregou o presente, que o abriu com a ferocidade de uma ciancinha de 3 anos super-mimada. Era um suéter tricotado com a estampa de uma coroa, escrito "King" em letras douradas perto da gola.

– É meio simplezinho, mas é o presente de um plebeu afinal... e eu gostei da cor, agradeço sua humilde oferenda! - falou Tadase pomposo, enquanto Kukai fingia uma reverência - Muito bem, minha vez! A pessoa que eu tirei é um garoto também... ou eu deveria dizer, pelo menos "agora" ele é... bom, é uma pessoa muito educada e inesperadamente forte... ele gosta muito de basquete, e também de dança e durante a infãncia ele se vestia como...
– Pode parar, já sei que sou eu! - interrompeu Nagihiko meio desesperado. Ele se dirigiu apressado té o centro da roda,e ao chegar lá, viu que o Chara Change do amigo se desfizera.
– Ahh... mas o que eu... e-estava falando...?! - murmuou Tadase surpreso - Caramaba... eu quase...
– É, você entrou no Chara Change, esquece isso - falou o Valete, entre aliviado e aborrecido - Feliz Natal Hotori-kun
– Claro... Feliz Natal.

Eles se abraçaram e Tadase lhe entregou o presente. Eram entradas para o jogo de basquete que Nagihiko queria assistir, mas não conseguira comprar os ingressos a tempo.

– Uau, entradas pro jogo! E os lugares são ótimos... pensei que estivessem esgotadas, valeu! - exclamou ele feliz - Bom, minha vez: Minha amiga oculta é uma garota. Ela tem um gosto muito estilhoso e fashion pra roupas, acessórios coisas do tipo, mas não é muito sincera consigo mesma. É teimosa, meio dependente dos outros, mas no fundo é uma garota muito sensível
– É a Amu! - exclamaram Rima e Yaya juntas, apontando para a amiga
– Que? Eu?! Por que eu?! A Rima também é teimosa e dependente! - acusou a Coringa meio aparvalhada
– Dependente, eu? De jeito nenhum. Sou rica, vou depender dos outros pra quê? - falou a Rainha pomposa

Amu bufou irritada e se dirigiu ao centro da roda. Ela disse um tímido "Feliz Natal", mas Nagi a puxou para perto e lhe deu um beijo na bochecha, fazendo seu rosto ficar da cor de um pimentão, e lhe entregou o presente. Amu abriu com certa dificuldade, pois seus dedos ainda tremiam de nervosismo, e desembrulhou um lindo conjunto de uma camiseta preta com uma caveira rosa, e uma saia da mesma cor com babados.

– Nossa é lindo Nagi, obrigada! - agradeceu ela com os olhos brilhando - Até que você tem bom gosto pra escolher roupas femininas, hein?!
– É, digamos que tenho certa experiência no assunto... - murmurou ele de modo misterioso
– Como assim??
– Muito bem, o próximo! - desconversou Nagi se sentando
– Bem, então... minha amiga oculta é uma menina. Era parece ser bem mais nova do que é na aparência, mas na personalidade parece ser mais madura do que eu às vezes... é meio grossa e sarcástica de vez em quando, mas no fundo só tem dificuldade em fazer amigos
– É a Rima! - Kukai e Nagihiko responderam juntos, apontando para a menina
– Valeu aí hein?! Ainda pego vocês por isso seus palhaços... - resmungou ela indo até o centro da roda. Ela abraçou Amu e desembrulhou seu presente, que era um lindo vestido rosa e branco com fitas e babados
– Parece um vestido de boneca - comentou a Rainha
– Isso porque você aprece uma boneca, Rima-chan - falou Nagihiko - Uma daquelas bonecas em tamanho real, mas que na verdade só chegam à metade da altura da dona, sabe? Com esse tamanho não podia parecer outra coisa hahahahaha!!

Rima chutou a canela do Valete e ele se calou.

– Bem, minha vez então - falou Rima como se nada tivesse acontecido - Minha amiga culta é uma menina também. Ela é mimada, meio chorona eàs vezes parece uma criancinha, mas... em certas ocasiões ela inesperadamente pode ser mais madura do que qualquer um de nós. Tem a mente mais maliciosa do que aparenta, adora zuar da cara dos outros, fazer piadinhas e comentários de mal gosto... mas no fundo é uma ótima amiga com quem sempre podemos contar
– É a Yaya! - exclamou Amu - Ela tem mesmo uma mente muito maldosa
– Ei! Isso sim que foi maldade, Amu-chi! - bufou a Às - Mas obrigada Rima-tan!

Yaya abraçou a amiga, apertando-a tanto que Rima ficou sem ar, e tomou o presente de suas mãos. Era um par de sapatilhas novas de balé, toda cor de rosa.

– Kyaaa valeu Rima-tan! A Yaya estava mesmo precisando! Nyaa e ainda é cor de rosa, adorei!!
– Que bom... que gostou... Yaya - rspondeu a Rainha, ainda sem ar por causa do forte abraço de Yaya
– Ei pessoal - interrompeu Tadase - Faltam dez segundos pra meia-noite!

Eles fizeram a contagem regressiva e comemoraram a chegada do Natal noite àdentro. O tempo passou tão rápido que eles nem perceberam, de tanto que se divertiram.

E felizmente para alguns (e talvez nem tanto para outros), o restante da viagem foi bem mais tranquilo do que a conturbada Véspera de Natal, e eles puderam chegar ao Ano Novo sem mais problemas.