Assim que ambos se olharam nos olhos, a ficha caiu para Kukai e Yaya. Yaya rapidamente se levantou e olhou pra Kukai, ainda indecisa, se ficaria e conversaria com ele, ou simplesmente saía correndo como fizera outras vezes. Dessa vez ela resolveu ficar e encara-lo. Não podia se esconder para sempre.

–Yaya, eu preciso conversar com você-Kukai falou em um tom desesperado.

–Não sei o que teríamos que conversar-Yaya falou em tom sério.

Kukai se admirou por Yaya estar tão séria, ela sempre se referia a si mesma na terceira pessoa e falava meio desajeitada, mas a garota disse num tom tão severo que Kukai ficou atordoado por uns minutos.

–Você sabe muito bem Yaya-chan. Olhe, eu não queria mesmo ter lhe machucado. Deveria ter lhe contado, o-ou então pelo menos... Não sei, o pior é que não sei onde eu errei-Kukai falou meio desajeitado. Realmente ele não sabia o que falar. ‘Desculpa Yaya por eu ter beijado a Utau?’-soaria estranho não?, ‘Desculpa Yaya, sou seu melhor amigo mas não mereço isso porque sou um bobo’ -isso soaria pior ainda.-Eu não sei de que me desculpar-Kukai entregou-se em um muxoxo triste.

–Como assim do que se desculpar? Kukai você é um bobo mesmo! Argh! A Utau... Mandou eu ficar longe de você para não ‘atrapalhar o seu relacionamento’! Entendeu por que eu me magoei tanto?! Você nem teve a consideração–Yaya começava a chorar-de contar para a Yaya! Eu tive que descobrir por mim mesma! Como acha que me senti?! Desde aquele seu beijo, você nunca me perguntou, como eu me sentia, pelo menos o que eu tinha achado, não sei! Pelo menos tivesse confiado na sua melhor amiga–Yaya deu ênfase, quase não aguentando de choro, o rosto molhado de lágrimas e a voz embargada pelo choro.

–Desculpa Yaya! Eu, eu não tinha pensado desse jeito!-Kukai implorava nos joelhos de Yaya.

–É Kukai, você nunca pensa antes de agir e me magoar não é?–as palavras saiam de dentro de Yaya com tal brutalidade que a faziam chorar ainda mais, e Kukai tinha um dor no peito imensa, ele decepcionara sua única melhor amiga. Ele estragara uma amizade de anos.

–Por favor Yaya, me desculpa, eu fui um idiota!

–Agora já é tarde...

E assim, Yaya saiu correndo dali, chorando rios de lágrimas.

Kukai colocou as mãos sobre o rosto, sentou-se ali mesmo na calçada e não aguentou, chorou, ele sentia uma dor imensa. Tinha machucado sua melhor amiga. Tinha perdido Yaya, talvez para sempre.

~*~

A pequena garotinha de cabelos ruivos saiu correndo dali, tropeçando sobre seus próprios pés, e chorando como nunca havia chorado em sua vida. Ela não tinha para onde ir. Não queria ir pra casa, como iria explicar aos seus pais toda essa choradeira? A casa de Amu também não. Yaya precisava ficar a sós consigo mesma.

Então ela correu para um lugar que nunca pensariam que ela iria. A escola. Isso, ela saiu desesperada para a Seyo High School.

A ruivinha não sabia para onde ir, assim, foi até uns armários onde geralmente se trocavam para a educação física, e perto deles, sentou-se no chão. Enterrou a cabeça entre os joelhos e pôs-se a chorar. Ela soluçava e chorava como nunca.

Naquele dia, ela não tinha perdido qualquer um. Ela tinha perdido Kukai. Ela tinha perdido seu melhor amigo. Ela tinha perdido seu porto seguro, seu ombro amigo, seu braço direito, e recentemente... seu amor.

Tudo isso girava em sua cabeça como se fossem marteladas fortes e sem fim, sua cabeça estava prestes a explodir, quase literalmente. Ela não sabia o que fazer. Não sabia a quem recorrer, não sabia a quem contar. Aquilo iria ficar preso em sua garganta, iria ficar martelando em sua cabeça até ela não aguentar mais, literalmente.

De repente, entre soluços e lágrimas, Yaya escuta passos se aproximando, e em seguida, vozes.

–Tem certeza que ela veio pra cá senhorita? Não acho que seria um lugar apropriado-disse uma voz masculina forte.

–Não me questione! Eu vi ela vindo pra cá! Não duvido nada daquela pirralha estúpida!-uma voz familiar para Yaya respondeu abusada para o homem.

Logo a menina percebeu o que estava acontecendo, mas já era tarde demais.

–Fique bem quetinha!-a voz feminina e familiar disse, e Yaya apagou por completo.

~*~

Yaya-chan abriu os olhos devagar, sua visão estava turva, ela não sabia onde estava. Mas quando se concentrou mais, percebeu que aquele era o colégio. Ela balançou a cabeça, pois estava com uma dor de cabeça terrível.

–Acordou princesinha?-a voz feminina e familiar disse chegando em sua frente. Uma menina de cabelos loiros, amarrados em duas maria-chiquinha e com uma roupa um tanto chamativa, e um óculos de lentes roxas.

–Utau?-Yaya estreitou os olhos.

–Sim, pirralha.

–O que você quer com a Yaya-chan?-Yaya perguntou desesperada.

–CALE A BOCA. ‘YAYA-CHAN’ EM BREVE FICARÁ NO LUGAR DELA!

–Do que está falando?-Yaya ficou nervosa e ao mesmo tempo frustrada, pois aquela menina não parava de importuna-la-EU ME AFASTEI DO KUKAI, DO JEITO QUE VOCÊ PEDIU! ISSO NÃO BASTA?! O QUE VAI FAZER AGORA?!

–Ah, querida, você não perde por esperar-Utau deu um sorriso maléfico.

~*~

Kukai resolvera voltar para casa. Ele passou reto pela sala, onde seus irmãos assistiam tv, e logo trancou-se no quarto, para eles não virem enchê-lo e fazer brincadeirinhas. Kukai estava realmente deprimido. Estava muito triste. Perdera sua melhor amiga, perdera tudo aquilo que mais importava para ele.

Então de repente, um choque tomou conta dele.

Se Yaya era tão importante assim... Ele deve ir atrás dela. Ela é sua amiga, ela é como uma irmã, e hoje, ela é tudo pra ele, ela é... Amor. Não importa se eles forem amigos ou não, mas Kukai tinha que insistir. Kukai tinha que tentar. Ela era sua melhor amiga, ela vale a pena, ela é tudo que importa agora.

Então ele saiu de casa desesperado, correndo feito um maluco, tropeçando em seus próprios pés. Ele tinha que salvar Yaya, ela era tudo que importava agora. Ela era seu tudo. E ele não queria saber se Yaya aceitaria seu pedido de desculpas ou não, mas que foda-se o mundo, porque ela é sua melhor amiga.

Kukai procurava a menina desesperadamente, passou pelo parque, pela sua casa, por todos os lugares prováveis que Yaya podia estar.

~*~

–Takaid, traga a faca!-Utau ordenou para o seu suposto compassa, que seria seu segurança quando ela estava em sua ‘versão’ cantora.

Yaya arregalou os olhos.

–O QUE VOCÊ VAI FAZER SUA LOUCA?! SOCORRO, SOCORRO!-Yaya gritava exasperadamente.

–Não adianta gritar, sua pirralha estúpida! Não tem super herói nenhum que virá lhe salvar!-Utau dizia com um sorriso de deboche.

Lágrimas corriam soltas pelo rosto da pequena. Nem Pepe-chan ela tinha como ajuda naquela hora. A Chara fora brincar na casa de Amu com Ran, Miki e Suu.

Então, o ‘segurança’ trouxe uma faca. Era uma dessas comuns, que se usa em cozinha, mas sabe-se lá o que a megera iria fazer.

–SOLTA ESSA FACA SUA MALUCA! O QUE VOCÊ VAI FAZER COM A YAYA?-a menina gritava, com a voz embargada pelo choro. Ela estava sem ajuda, sem chara change, sem ninguém.

–Pode parar com esse teatrinho de ‘não faça isso com a Yaya-tan’, eu sei que você só se finge de pirralha pro Kukai, pra ele ter pena de você! Mas coloque isso na sua cabecinha minúscula: O KUKAI É MEU! OUVIU?! MEU!

–Para com isso! O que a Yaya fez pra você?

– CALE A BOCA!-Yaya se encolheu, afinal, ela estava com uma faca na mão.-Hm, vamos ver como esse seu cabelinho vai ficar depois de um bom... corte.

–PARA! NÃO FAZ ISSO!-Yaya tentava se mover, mas estava presa em uma cadeira, amarrada à cordas fortes.

E então Utau pegou brutamente uma de suas maria-chiquinha, puxando-as com força. Aí, cortou sem a menor pena. Uma xuxinha de amarrar caíra, o cabelo de Yaya estava completamente deformado.

–PARA! PARA! SOCORRO!-Yaya dizia aos berros.

–CALE A BOCA!-então novamente, com força, puxou uma maria-chiquinha e cortou o cabelo de Yaya. Sendo que dessa vez, cortou muito perto da raiz, fazendo um corte pequeno na cabeça da ruivinha.

–MALUCA! SUA PSICOPATA! PARA COM ISSO! AAAAAH! TÁ DOENDO!-ela berrava o mais alto que podia, na esperança de alguém escutar.

–EU JÁ FALEI PRA VOCÊ CALAR A BOCA SUA VADIAZINHA!

Yaya chorava, berrava. E quando ela pensou que o sofrimento havia acabado, Utau pegou a faca e investiu contra o braço da menina. Yaya conseguiu desviar, mas ficou com um ferimento profundo.

Yaya não tinha mais forças, estava prestes a desmaiar. Quando de repente, ouve-se uma voz a berrar:

–SOLTA ELA! SUA IDIOTA! SOLTA ELA SUA ESTÚPIDA! VADIA! SOLTA A MINHA YAYA!

Sim, Kukai apareceu no momento certo, ele correu para Yaya, que estava sangrando e com o cabelo totalmente desfigurado.

–KUKAI VOCÊ NÃO ENTENDE!-berrava Utau, enquanto Kukai desatava as cordas.

–NÃO ENTENDO MESMO! OLHA, VÊ SE DESAPARECE DA MINHA VIDA! E DA DA YAYA TAMBÉM! VOLTA PRO LUGAR DE ONDE VOCÊ VEIO SUA %¨&*¨%¨#$$%#$%$#%$# $%#$%#¨%&!

Utau abriu a boca, perplexa com o que Kukai havia dito. E saiu correndo frustrada e indignada.

–Kukai eu...-Yaya tentava falar.

–Shhh.... Não precisa dizer, ela já foi! Vem, eu vou te levar pra um lugar seguro! Vou chamar a ambulância!

E assim, Yaya desmaiou nos braços de Kukai.