“...I know the sun must set to rise...” – Coldplay

Um barulho estrondoso vindo do andar de baixo a despertou. Abriu os olhos preguiçosamente e se virou, observando o relógio. Deixou escapar um sorriso. Levantou num pulo, passando pela janela e notando que a neve caia do lado de fora. Era véspera de Natal. Um de seus feriados preferidos. Desceu as escadas feito um furacão e logo na porta encontrara sua mãe, que havia finalmente voltado de Paris. Anna olhou para a garota ainda de pijamas e abriu um enorme sorriso, em resposta correu para abraçar a mulher.

– Senti sua falta – falou quando finalmente Anna a soltou. A mulher a conduziu em direção a sala.

– Senti sua falta também. Vamos que vou lhe mostrar o que trouxe para você de Paris...

– Trouxe presentes? – perguntou, interrompendo a mãe. Seus olhos brilharam, enquanto sentava-se. Anna riu ao olhar para a filha assim que lhe entregou um dos pacotes que tinha em mãos – obrigada, mãe – disse antes mesmo de abrir o embrulho. A mulher em resposta beijou sua testa.

– Bom dia, Nic – a voz de Pattie invadiu a sala – trouxe seu café da manhã – e lhe entregou uma caneca com chocolate quente, marshmallows e tudo o mais que Nic estava acostumada. Ficar durante todo aquele tempo na casa de Pattie, a deixou mal acostumada.

– Obrigada Patt – ela tomou um pequeno gole do chocolate e olhou ao redor – onde estão os outros?

– Ei, mãe! Olha o tamanho do peru que o Scooter... – escutou-se a voz divertida e inconfundível de Justin invadir a casa. Ele apareceu na sala segurando um grande peru congelado. Scooter revirou os olhos ao passar por Justin.

– Ele me fez comprar o maior – o homem explicou – Nic! Que bom é poder estar com você outra vez – ele disse se aproximando da garota que sorriu, enquanto o homem bagunçava seu cabelo e depositava um beijo em sua bochecha.

– É bom estar com você também, Scoot.

– Eu vou levar tudo lá para dentro... Quer que eu leve o peru também? – o homem perguntou se voltando para Justin que ainda o tinha em mãos.

– Não. Eu levo. É mais seguro... – falou, lançando um olhar desconfiado ao empresário.

– O que acha que vou fazer? Sequestra-lo? – Scooter tinha uma expressão engraçada no rosto, Justin apenas deu de ombros.

– Só espero que não esteja em seus planos comê-lo sozinho, Jus – Nicole brincou, e o cantor apenas lhe mostrou a língua em resposta. Ele se voltou para Scooter.

– Tome cuidado com ele – o cantor falava como se o peru valesse milhões de dólares. Justin o entregou para Scooter que foi para a cozinha seguido por Pattie. O garoto se sentou ao lado de Nic, depositando um beijo em sua bochecha – bom dia, shawty – falou, e ela sorriu.

– Bom dia!

– E então querida, o que achou? Gostou? – Anna perguntou se voltando para o pacote ainda fechado sobre o colo de Nicole, que por incrível que pareça havia se esquecido. Ela o abriu rapidamente, jogando o embrulho no chão. Seus olhos brilharam um pouco mais, se é que isso era possível.

– É linda. Obrigada mãe - era uma blusa.

– Tudo bem – respondeu sorridente, enquanto voltava seu olhar para o relógio – querida porque não vai se arrumar, Tina deve estar chegando, não é? – Nicole havia se esquecido que combinara de ir buscar Tina no aeroporto. Ela se levantou, deixando de lado a caneca.

– Verdade. É melhor mesmo me apressar. Você vem comigo? – perguntou se voltando a Justin.

– Ahn, eu... Tudo bem – Nic lhe deu um beijo na bochecha em sinal de agradecimento e subiu correndo em direção ao banheiro. Tomou um banho rápido e se vestiu apressadamente, colocando a blusa que sua mãe lhe dera. Havia prometido para Tina que não se atrasaria, mas ao que tudo indicava já estava atrasada. Desceu as escadas e passou quase que voando pela sala, pegando a chave do carro, que estava em cima da mesa de centro. Gritou por Justin uma vez e se dirigiu em direção a saída. Mas quando abriu a porta levou um susto. Havia um Cody e um Stephen parados à sua frente.

– Eu deveria estar usando este terno!

– Não, eu! – Stephen rebateu. Aparentemente nem um nem outro havia notado a presença de Nic ali – eu fico tão bem com este terno, e você fica mais parecendo um... – Nic pigarreou, tentando disfarçar o riso. Ambos voltaram suas atenções para a garota parada ali, os encarando.

– Nic! Quanto tempo – Cody falou com um enorme sorriso no rosto, já a puxando para um abraço.

– Idiota. Você a viu a exatas treze horas e... – ele voltou sua atenção para o relógio – quarenta e dois minutos – completou, puxando Nic para um abraço também. Cody revirou os olhos.

– Cale a boca. Eu falo “Nic! Quanto tempo” quantas vezes eu quiser. Você não é m... – quem revirou os olhos agora fora Nic.

– Ei, meninos... a conversa está muito boa, mas eu preciso mesmo ir. Tina deve estar me esperando no aeroporto, e com toda esse neve, eu nem sei como chegar lá...

– Você disse aeroporto? – Stephen perguntou – eu praticamente moro no aeroporto! Posso te levar em poucos minutos – Nicole tinha uma expressão estranha no rosto, enquanto o garoto falava – me dê as chaves do carro que eu resolvo seus problemas!

– Ahn, não. Tudo bem.

– É. Não, tudo bem. Porque eu estou aqui! – Cody aproveitou a deixa, e já foi pegando as chaves da mão de Nicole, e a puxando em direção ao carro. Stephen estava logo atrás – eu posso dirigir.

– Não é necessário – Nicole se adiantou – já tenho...

– Eu insisto! – Stephen a interrompeu – vou com você... Só para garantir sua segurança. Sabe como é – completou, dando de ombros. Ele abriu um enorme sorriso que sumiu rapidamente quando notou Cody ao seu lado.

– Não, meninos... Não é necessário...

– Claro que é! – ambos responderam em uníssono.

– Nic, já estou pronto. Só estava checando se estavam cuidando bem do peru... – Nicole passou as mãos pelo rosto, em sinal de impaciência. Voltou sua atenção para Justin que se encontrava parado logo atrás – espera aí... o que esses dois estão fazendo aqui? – o cantor bufou.

– Eu quem pergunto! O que faz aqui, Bieber? – Stephen falou.

– Era o que estava tentando dizer, meninos. Já tenho companhia – Nic respondeu sorridente, Justin passou por ambos, roubando as chaves da mão de Cody – vocês podem ficar e ajudar na decoração, ou na cozinha – completou, enquanto entrava no carro. Justin abriu a porta, e antes de entrar encarou ambos.

– Só para constar, Stephen. Eu moro aqui – e o garoto fez uma careta, chutando a neve. Cody deixou escapar uma risada, que sumiu quase que imediatamente de seu rosto, quando o amigo o encarou.

...

Um som que quase rompera seus tímpanos irrompeu pelo quarto. Em seguida um grito fora ouvido.

– É minha culpa – sua voz saíra rouca, ele desviou o olhar para a mãe, que notara as lágrimas em seu olhar – mãe, eu não queria, eu... – ele se interrompeu, jogando a arma no chão.

O garoto ouvia seu nome, mas não tinha voz para responder. Apenas escutava seu nome repetidamente, e ao fundo ainda podia escutar o grito agudo invadindo seus tímpanos, o fazendo tampar os ouvidos, ou ao menos, sentindo a vontade o invadir de simplesmente desaparecer daquele lugar. Aquela cena o perseguia em todos os lugares que ia, era quase impossível não ter pesadelos com aquele dia.

– Justin! – e novamente a voz. Ele abriu os olhos repentinamente, vendo a imagem embaçada da garota logo a sua frente – você está bem? – ela perguntou, enquanto esfregava os olhos com as costas das mãos – já chegamos em casa... você dormiu o caminho inteiro.

– Ahn, desculpe. Não dormi bem a noite passada – disse apenas e passou por Nicole, a deixando sozinha. Essa impediu que as lágrimas fossem derramadas.

Quando adentrou a casa, notou a presença de Tina e Ryan, que estavam sentados na beira da árvore de Natal junto de Jazmyn e seu pai apenas os observava ao longe, rindo. Surgiu um sorriso involuntário em seus lábios ao notar que Nic se juntara a eles. Jazmyn agora brincava com seus longos cabelos encaracolados. Fechou os olhos por poucos segundos e só o que conseguia enxergar era aquele rosto. Aquele sorriso. A varreu de seus pensamentos. As vezes era inevitável não se lembrar. As vezes era tão... real. Era como se ela ainda estivesse ali, mas ele não a pudesse alcançar. As vezes questionava se queria ou não, vê-la outra vez. As vezes apenas desejava que nada tivesse acontecido.

– Justin, querido, por que não se junta a nós? – Pattie o tirou de seus devaneios. Jazmyn, Nicole, Tina, Ryan, Stephen, Cody, Anna, Scooter, seu pai e até mesmo Usher – que não se lembrava de tê-lo visto chegar – o encaravam – vamos, Justin... Quero todos nessa foto para guardar no álbum da família! – ele se arrastou então para o lado de Nicole, que estava sentada no chão ao lado da árvore. Jazmyn correu, sentando-se entre ambos. Só o que ouviu então foi o “click” da câmera e sua mãe dizendo para todos sorrirem – ok. Agora podemos ir comer – a mulher falou, e todos saíram em direção a sala de jantar. Excerto Justin.

– Ei, Justin... se você não vir logo cara, não vai sobrar peru para você – escutou Ryan dizendo. Mas a verdade era que perdera a fome. Ficou ali olhando os presentes em volta da árvore de Natal. E achou a pequena lista que Jazmyn insistiu que todos fizessem colocando o que realmente desejariam ganhar naquele Natal. Ele abriu a da menina, deixando escapar uma risada, depois de sua mãe. E depois... Nicole. Ele a abriu lentamente, como se estivesse com medo de ler o que estaria escrito.

Desejo apenas que Justin volte a ser quem era antes.

Sentiu uma sensação estranha lhe invadir. Uma mescla de raiva e de outra coisa que não conseguia decifrar o que era.

– Onde está o Justin? – ouviu Usher perguntar da sala de jantar.

– Vou procurá-lo – Nicole respondeu. Justin saiu rapidamente, indo em direção a porta da frente. Nic pôde ouvir a porta bater. Ela foi logo atrás – estão todos esperando por você... – ele fechou os olhos, enquanto sentia os finos flocos de neve cair por cima do casaco.

– Perdi a fome – respondeu quase que sem voz. Nicole sentiu suas bochechas queimarem e as lágrimas teimaram em começar a cair – então o seu desejo é que eu volte a ser quem era antes? – perguntou voltando seu olhar para a garota. Ela ficou sem fala – Você acha mesmo que é fácil não é?

– Justin...

– Mas não é! – gritou em resposta – eu tentei Nicole. Eu tentei. Juro que tentei, mas não consigo viver assim. Eu não sei ser igual a vocês que vivem escondendo a verdade. Eu não sou assim. Esse é meu verdadeiro eu. Esse sou eu – falou.

– Justin, por favor... eu sei que não é fácil no inicio, mas com o tempo...

– Quase um ano, Nicole. Um ano. Isso vai me assombrar pra sempre.

– Justin...

– Chega. Eu cansei. Enquanto eu estou morrendo por dentro só o que você consegue pensar é em você mesma. Só o que você quer é que eu volte a ser quem eu era antes. Mas não dá. Eu tentei. Mas é demais para mim.

– Eu não sou egoísta, Justin. Só quero que você volte a ser quem era antes para seu próprio bem. Eu jamais seria capaz de...

– Eu não me importo – retrucou – quer saber mais? As vezes acho que sem você nada teria acontecido – e passou por ela parando logo atrás – as vezes só queria voltar no tempo e fazer tudo diferente – e entrou, a deixando sozinha com suas lágrimas e a neve que caia sobre si. Em seu íntimo pedia que se aquele fosse seu real desejo que alguém o concedesse. Pois tudo que queria era vê-lo feliz, nem que isso custasse a sua felicidade.

Continua...