Me joguei na cama, enquanto fitava o teto e as poucas estrelinhas que estavam pintadas nele. Me lembro bem o porque de ter essas estrelinhas. Foi idéia do meu avô. Já que eu ficava aqui no verão, com meus pais, ele resolveu fazer o quarto pra mim. Ele fez as estrelas, porque dizia que eu era como uma. Havia nascido pra brilhar. Que saudades eu tenho da minha infância... Menos pela parte que me zoavam. Eu odiava isso.

Ouvi a porta do meu quarto abrir rapidamente. A fitei, e vi minha vó, me olhando com as mãos na cintura e uma expressão nada boa. Afastei meu cigarro da boca e ela me olhou assustada. Apenas dei uma risadinha curta, sem humor algum.

- Está fumando? Nicolle Jamie Sullivan! O QUE SIGNIFICA ISSO? – ouvi ela alterar seu tom de voz, o deixando bem mais alto. Deu alguns passos, ficando perto da minha cama.

Eu apenas suspirei e me sentei, a fitando. Ela continuava me fitando, esperando respostas.

- Qual é, você não é a minha mãe. Não deve me dizer o que devo fazer ou não. – respondi, enquanto revirava os olhos.

- Sei que não sou sua mãe, mas, sou sua vó e estou responsável por você agora. Não sabe como isso faz mal, minha querida. – ela disse calma e eu bufei, fazendo cara de tédio. Ótimo, mais lição de moral, é o que eu preciso.

- Thom não contou o real motivo de virmos pra cá, certo? – Já ia levando novamente meu cigarro até a boca, mas, minha vó o pegou rápido e o atacou pela janela. – EEI, não podia fazer isso! – gritei.

- Primeiro, sim. Seu irmão contou o motivo e me pediu para ajudá-lo. –ela arqueou as sobrancelhas. – E... Nick, suas aulas começam amanhã. – ela sorriu de lado.

- O QUE? AULAS? – gritei. – Não quero ir à escola! Não preciso! – me levantei, enquanto dava de ombros. Escola era meu pior pesadelo. Odiava aquele lugar. Odiava ser a esquisitinha.

- Sim. Ainda não é verão e todos estão estudando. Seu irmão também vai. Você tem 17 anos, tem que estudar se quiser ser alguém na vida. – minha vó falava com certo tom que me dava nojo. Aquele seu jeito de elegância e superioridade me deixava com raiva. Ainda assim, sentia saudades de passar o verão com ela.

- Thomas? Ele? Vai estudar? – ri comigo mesma. Aliás, achei que já era pra ele estar fazendo faculdade. – Meu irmão tem quase e 19 anos! Não estuda mais. – fiz careta.

- Ele não fez o terceiro ano do ensino médio, Nick. Precisa fazer. – ela deu um meio sorriso. – Agora, vamos descer, o almoço está pronto. – ela disse, enquanto se direcionava até a porta.

- To indo, vovó! – bufei.

Antes de descer, fui até a minha gaveta de coisas preciosas e a tranquei. É, ela tinha uma tranca. Guardei a chave embaixo do meu travesseiro e fitei o meu quarto. Em um canto dele pude ver alguns brinquedos de quando eu era uma menininha. O que aconteceu comigo hein? Eu não era assim. Sempre fazia as coisas certas, tinha amigos, companhia. Depois que perdi meus pais, parece que tudo que eu aprendi foi por água a baixo. Tudo que eu acreditava, sonhava... Acabou. Eu comecei a me mostrar um pouco forte por fora, e desabava por dentro. Mas, ninguém percebia sabe?

Ouvi minha avó gritar meu nome lá de baixo. Suspirei cansada e saí do meu quarto, descendo as escadas e correndo até a cozinha. Encontrei minha avó carregando alguns pratos e talheres e a ajudei. Apontou para sua sala de jantar, com uma mesa grande de oito cadeiras. Quem mais almoçaria conosco? Dei de ombros e coloquei os pratos sobre a mesa, logo me sentando em frente ao meu querido irmãozinho.

- Então... Vai voltar a estudar, meu nerd favorito? – ri, enquanto fitava Thomas com um sorriso debochado.

- Olha quem fala. – me deu língua. – Só vou mesmo pra ficar de olho em você. – disse, enquanto pegava um dos pratos na pilha.

- Ah, que amor! – apertei uma de suas bochechas e ele fez uma cara de dor. O que me fez rir mais.

- Bom humor agora, é?

- Talvez. – assenti.

Peguei um dos pratos que estavam sobre a pilha e talheres. Fitei a travessa de lasanha a minha frente. Mordi os lábios e sorri. Parecia estar mesmo uma delicia, minha vovó tinha cozinheiras muito boas, além de ela mesma cozinhar extremamente bem. Tratei de pegar um pedaço daquela lasanha a colocando no meu prato sem derrubar. Eu sou uma garota extremamente desastrada, sabe. Não consigo fazer nada certo!

- Desculpa o atraso. – ouvi uma voz, e logo fitei a porta da sala de jantar. Vi uma mulher baixinha e ruiva se aproximar da mesa com uma travessa com alguma comida dentro. Atrás dela estava o idiota do Justin.

Engasguei na mesma hora e comecei a tossir, eu sei lá por que. Só sei que não consegui parar de tossir, enquanto Justin se sentava ao meu lado e ria da cena. Ouvi sua mãe dizer algo como “respeite, garoto.”

- Toma um copo de suco, Nick. – meu irmão disse pegando a jarra de suco de laranja.

- Suco não, caralho. – disse com um pouco de dificuldade, por causa da merda da tosse. E a minha vó e a mãe de Justin me fitaram arregalando os olhos. Talvez por causa do palavrão que eu acabei de falar. – Coca, Thom. Por favor. – apontei pra garrafa.

Ele revirou os olhos e encheu um copo, me entregando. Bebi os mesmo rapidamente e o pousei sobre a mesa. Afundei minhas costas na cadeira e fitei as pessoas que estavam na mesa. Ótimo. Todos me fitavam.

- Que triste, Nick. Uma garota tão linda, falando palavrão. – a moça ruiva, que estava ao lado de Thom e que era mãe de Justin disse, fazendo cara de decepção a mim.

Quem deu a ela o direito de me chamar de Nick? Espera, ela sabia meu nome? Como?

- Tem que ser feia pra falar palavrão? – girei os olhos.

- Nicolle Sullivan, respeite os convidados. – disse minha vó, me olhando novamente com aquele ar de calma e superioridade.

Eu dei de ombros voltei a comer. Comi rápido, por que aquele papo de velhos estava me deixando irritada. Meu irmão nem Justin abriam a boca pra dizer nada. Logo terminei de comer e me levantei rapidamente, sorrindo e assentindo a todos da mesa. Corri até a sala e me joguei no sofá.

Fitei a enorme televisão que tinha naquela sala. Suspirei e sorri comigo mesma, pegando o controle ao lado e ligando a TV, trocando de canais rapidamente a procura de algo que prestasse. Puta que pariu, não tem nada pra assistir nessa joça.

- Nick. – ouvi aquela voz rouca e irritante ao meu lado. Logo após se jogou no sofá.

Eu fiquei em silencio apenas fitando a TV. Percebi que o idiota ao meu lado me fitava, do mesmo jeito dei de ombros e ignorei sua presença. Ignorar, era a coisa que eu mais andava fazendo ultimamente.

- Vai mesmo fingir que eu não estou aqui? – o ouvi dizer. Assenti calada e ele continuou a falar. – Droga. Nick, eu... –

- Não me chama de Nick. – o fitei, enquanto arqueava as sobrancelhas e o fitava séria.

- Tudo bem, Nicolle. – ele riu. Eu fiz cara de tédio. – O que acha de sairmos pra você conhecer melhor a cidade? – o vi sorrir de canto. Eu odiava quando ele fazia isso. Garoto idiota.

- Eu já conheço a cidade muito bem. – franzi a testa. – E então... Você mora aqui na casa da minha avó?

- Não... A minha mãe é... Bem amiga dela. – deu uma risadinha sem humor.

Ficamos um tempo em silencio. Se ouvia apenas o barulho da televisão e as vozes da minha avó e da mãe de Justin. Me perguntava sobre Thomas, será que ele estava fazendo parte da conversa?

- Você ficou bonita. – Justin quebrou o silencio.

- Por quê? Eu era feia? – o fitei, enquanto seu sorriso se desmanchava.

- Não... É que... É que você ta mais magra. – tentou alargar um sorriso.

- Então... Eu era gorda?

- Não é isso... Bom, era... Um pouquinho talvez, mas... – o fitei com uma cara de desgosto e ele mordeu os lábios. – Porra, você ta difícil, hein?

- E por acaso eu era fácil? – eu disse, fazendo o garoto bufar. E eu ri, enquanto ele fazia uma cara emburrada.

- Sinto falta da nossa amizade. Sabia? – sorriu, por fim. Depois de alguns minutos.

- E por acaso, nós tínhamos uma amizade? – franzi os lábios. Ele ficou me fitando por um tempo. Estava com uma cara pensativa, talvez essa minha pergunta o tivesse feito ficar em duvida.

Não. Nunca tivemos uma amizade. Não... Não certamente. Talvez fosse uma amizade, mas, bagunçada. E cheia de brigas e lagrimas. Não nos víamos muito mesmo.