Abri meus olhos vagarosamente e fitei aquele quarto. Respirei fundo. Meu irmão era mesmo um idiota. Me fez vir morar com a vovó, eu realmente a amava, mas, não queria ficar morando com ela pra sempre. Aliás, ela era sozinha, não podia cuidar assim, de nós dois. É. Ele me deu uma bronca, depois que a idiota aqui resolver se envolver com drogas. Realmente, porque eu fiz isso? Eu precisava de alguma coisa, pra me distrair e tirar tudo da mente. Meus pais morreram, em um acidente horrível. E eu, estava com eles e não morri. Então, eu vivo me perguntando: Porque eles e não eu? Sabe como é perder os pais aos 17 anos? É horrível. Eles eram meus heróis e eu... Os perdi. Sempre desejei que fossem eternos e agora, eles não estão mais aqui, comigo. Por isso, odeio minha vida.

Meu irmão vive me dizendo – “você acha que mamãe e papai ficariam felizes com isso?” – qual é, eles não estão mais aqui, e é exatamente por isso, que eu também não quero mais ficar neste mundo.

Limpei minhas poucas lagrimas que caíam, me levantei e me vesti. Colocando um short rasgado, uma blusa regada preta e por cima uma camiseta xadrez verde água. Coloquei meus all stars, arrumei meu cabelo de qualquer jeito e logo saí do meu quarto, descendo as escadas. A casa da vovó era realmente enorme, tinha uma piscina lá fora, tinha empregados e todo esse tipo de coisa.

- E aí, minha garotinha rebelde. – meu irmão passou por mim, bagunçando meu cabelo.

- Vai se fuder, Thomas. – lhe mostrei o dedo do meio.

- Que bom humor, logo cedo... – riu, enquanto ia até a cozinha. O segui.

- Cala boca. – revirei os olhos, enquanto me sentava em uma das cadeiras em frente à mesa da cozinha. – Cadê a dona Elisabeth? – perguntei, referindo-se a minha vó.

-Foi fazer compras, sei lá. – ele disse abrindo a geladeira. – Ainda bem, porque não tem nada nessa merda. – bateu a porta da geladeira com força, o que me fez rir.

- Você é folgado né? Que dó, da vovó. – fiz beicinho. – Porque não vai trabalhar, seu vagabundo? – ri

- Fica quieta. – me deu língua.

Apenas ri. Fiquei o fitando, enquanto ele vasculhava as portas do armário da vovó. Até que fiquei entediada de ver o meu irmão idiota ali e fui caminhar pela casa grande da minha vózinha. Era tudo bem decorado, fazia menos de dois dias que eu e meu irmão estávamos morando aqui e eu nem conhecia a casa direito. Comecei a ver uns quartos... Tinha cinco quartos ou até mais naquela casa, todos enormes, decorados, pintados e lindos. Meus pais, minha família, nunca foi lá muito rica, mas, essa minha avó... Sempre foi bem de vida. Eu a visitava bem de vez enquanto, aliás, Los Angeles era bem longe da minha antiga casa.

Depois de ver os quartos, fui até lá fora. Me sentei em uma das espreguiçadeiras e fiquei ali, fitando aquela piscina por um tempo. Caralho, fazia tanto tempo que eu não vinha neste lugar. Acho que a ultima vez que vim para Los Angeles foi aos meus 12 ou 13 anos. Meus pais... Ah, eles gostavam de vir visitar a vovó e passar o verão inteiro aqui. Eu não consigo aceitar o fato de que eles morreram... Parece que a qualquer momento eu vou os ver chegar e tudo vai voltar ao normal.

- Hey, quem é você? – me levantei rápido, fitando um garoto de cabelos loiros, ou sei lá.

Ele estava longe, e se aproximava.

- Eu lhe faço a mesma pergunta. – cruzei os braços.

- Ajudo à senhorita Sullivan, e sou amigo da família. – ele parecia sorrir. E eu só pude observá-lo quando o mesmo parou a alguns passos a minha frente. – E você? Quem é? A nova empregada? – ele riu. – Parece gatinha demais e arrumadinha demais pra uma empregada, mas, enfim... – completou, ainda rindo.

O encarei séria. Amigo da família? Então, eu já devia conhecê-lo, infelizmente. Senti vontade de lhe dar um soco por me chamar de empregada e gatinha, mas, tentei manter a calma.

- Eu sou a neta da Elisabeth Sullivan. – arqueei a sobrancelha. – Moro aqui. – o fitei por uns minutos.

Seus olhos incrivelmente caramelados me lembravam bem daquele garotinho chato que conheci. Que me magoou.

- Neta? Você... Você é a Nicole Sullivan? – ele gargalhou. – Não pode ser! Eu sou Justin, se lembra? Fizemos a sexta serie juntos. – ele parecia feliz em me ver, eu apenas suspirei irritada.

- Olha, eu me lembro de você. O garoto que me irritava. – revirei os olhos.

- Eu tinha uma quedinha por você na época, mas, já passou. – deu de ombros.

- Uma quedinha? Me lembra do que me fez passar? – coloquei as mãos na cintura. – Você é um filho da puta, mesmo. – estirei a ele meu dedo do meio. Que apenas gargalhou.

- Você era mais delicada aos 12 anos, mas, tudo bem. – mordeu os lábios. – ficou gostosa. – parecia fitar minhas pernas, e eu dei um soco no seu peito.

- Sempre idiota. – dei alguns passos pra trás, enquanto Justin levava a mão até seu peito onde eu tinha batido.

- E seus pais? – fez uma careta, fingindo dor.

- Estão mortos. Você devia saber, já que é tão amigo da família.

- Eu... Eu não sabia, faz... Tempo. – fitou o chão.

- Nick? – ouvi uma voz atrás de mim. Só poderia ser Thomas, o meu irmão. Só ele me chamava assim.

- Ah, o que foi Thom? –me virei para fitá-lo.

- Quem é esse? – apontou pro Justin.

- Só um idiota. – fitei Justin por uns minutos e logo andei até Thomas, o puxando pelo braço. Ele apenas me acompanhou, parecia desentendido.

Só eu sabia das coisas que Justin tinha feito a mim. Só eu sabia o quanto ele me magoou. Eu sei, faz um tempinho já, mas, tem coisas que não há como esquecer. Não há.

- Ta tudo bem, Nick? – meu irmão colocou a mão sobre meu ombro.

- Porra, me deixa em paz. – o empurrei, enquanto caminhava até as escadas novamente.

- Mas... Eu só perguntei! – ouvi ele falar um pouco alto.

- Olá querida! – parecia minha vó gritando. Apenas dei de ombros e acenei a ela, correndo pro meu quarto.

Mexi na minha gaveta, procurando um maço de cigarros ou qualquer coisa. Acendi um rapidamente e logo o levei até a boca. Era um jeito estranho de me acalmar e esquecer os problemas, mas, adiantava. Por um tempo.