Sociedade Carmim escrita por Nynna Days


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo importante. Jordan vai finalmente descobrir o que ela é. Ou parte do que ela é.



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Capítulo 7

“Ethan, o que diabos você está fazendo aqui?”, eu perguntei encarando-o.

Ele não pareceu nem um pouco abalado com a minha pergunta. Mas, eu só podia presumir, já que na mente dele, só havia silêncio e mais silêncio. Ele se aproximou com a expressão em branco de sempre e com os braços cruzados. Limpei minha garganta e forcei meu olhar a ficar frio. Era fácil odiá-lo a distância, mas era difícil não ser abalada por sua beleza de perto.

“Christina não pode vir, então me mandou para ver se estava tudo bem com você?”, ele finalmente respondeu. Eu voltei a me sentar, sem mais forças nas pernas, quase desabando. Será que Christina não conhecia a palavra celular. Será que aquele era um sinal para que eu não revelasse o meu segredo? Ou será...? Eu pensei enquanto Ethan vinha se sentar ao meu lado.

“Está tudo bem comigo”, eu respondi.

“Não parece”, ele disse e tocou meu rosto. Não deveria, mas seu toque me trouxe uns choques e me fez recuar. “Você está pálida.”

“Eu sou pálida”, eu retruqui e levantei meu olhar para ele.

Ele me olhava com tanta intensidade que me fez fechar os olhos por alguns segundos, antes de abrí-los de novo. Ele continuava me encarando. Era horrível não saber o que estava na sua mente. Aquele silêncio estava me deixando apreensiva. E não só o silêncio de sua mente, mas o que estava do lado de fora, já que nenhum de nós dizia nada. Olhei para baixo a tempo de ver sua mão tocando a minha.

“Sei que você não gosta de mim”, ele começou quando eu fiz menção de afastar minha mão da sua, mas ele não deixou. “mas eu me preocupo com você”

Soltei um riso forçado e vi sua expressão ainda séria.

“Você? Se preocupando comigo?”, eu ri de novo.

“Christina me faz ficar preocupado com você”, ele retruquiu. Soltei minha mão da sua com força e me afastei um pouco mais no banco. “Ela viu que você estava tensa no celular e queria verificar se você estava bem, mas ficou um pouco ocupada.”

Eu corei. Sabia que ela estava ocupada. Deveria ter desligado.

“Não era nada.”, eu disse.

“Senão era nada, porque não esperou para falar com ela amanhã?”, ele questionou e estreitou seus olhos verdes florescentes para mim. “Jordan, o que você está escondendo?”

Escutar meu nome vindo de seus lábios, fez meu corpo tremer. Ao mesmo tempo, me deu raiva. Raiva porque ele conseguia me levar apenas com algumas palavras de um jeito que ninguém mais conseguia. Raiva porque eu queria me jogar em seus braços e contar tudo. Isso se, Christina já não tiver contado a minha triste história a ele. Na verdade, eu não ficaria chateada com ela. Eles eram gêmeos.

Abri meus olhos que eu nem percebi que tinha fechado com raiva e o encarei.

“Não te interessa.”, eu disse dura e me levantei.

Ele se levantou junto comigo e me segurou pelo braço quando eu ameacei ir embora. Antes que piscasse, ele me puxou para mais perto, do jeito que seu hálito quente batesse em meu rosto enquanto ele falasse.

“Dá pra parar de ser tão dura comigo”, ele rosnou. “Estou tentando ser seu amigo. Não sou esse monstro que Nara faz eu parecer ser.”

“Me solte”, eu disse baixo e fechei meus olhos novamente.

“Só quando me contar o que há de errado com você. Porque me odeia tanto?”, ele perguntou duro.

Engoli duro para não gritar. Não que ele estivesse me machucando. Era a proximidade que me machucava. Uma coisa que eu sabia era de sinais de um garoto quando ele iria beijar uma garota. Um deles era não deixá-la ir embora, se tentasse. Outra era olhar no fundo de seus olhos, como se visse a sua alma.

Eu abri meus olhos cinzentos e me encontrei olhando na alma de Ethan. Parecia tão pura, tão limpa. Eu nem, ao menos , me lembrava o porque de odiá-lo. Era como se fôssemos água e fogo. Ao mesmo tempo que dependíamos um do outro, não podíamos conviver juntos sem que saísse fumaça.

“Me solte”, eu disse um pouco mais alto. Ele se soltou, mas não fez menção de se afastar.

EU NÃO ME AFASTEI.

Eu deveria estar pirando de vez. Tantos anos lendo pensamentos me levaram a loucura. Eu sabia que tinha essa chance no meu futuro, mas pensei que demoraria mais. Com minha esperteza e com aquele dom, mas com Ethan, com aquele silêncio, me fazia duvidar de tudo de que eu já sabia.

Ele esticou a mão e tocou meu rosto com a ponta dos dedos, como se eu fosse a mais delicada das peças. Dessa vez eu não fechei meus olhos. Mesmo não querendo admitir para mim mesma, eu gostava dos olhos de Ethan. Mas só dos olhos. Seu rosto se aproximou do meu e eu sabia que se eu não me afastasse naquele momento, seria tarde demais

Princesa Jordana, venha a nós.

Isso me fez recuar e olhar para os lados, alarmada. Ethan ficou tenso e também olhou. Me perguntei se ele tinha escutado a mesma coisa que eu, igual ao primeiro dia de aula. Ele se moveu de um jeito que ficasse a minha frente e rosnou para o nada. A nossa frente, uma vasta diversidade de árvores guardavam a escuridão.

Venha Princesa. Volte ao lugar onde verdadeiramente pertence.

E, incrivelmente, eu me sentia atraída com a voz. Como mais puro canto da sereia. Senti minhas pupilas dilatarem e comecei a dar passos hesitantes em direção a voz. Tive uma leve noção de Ethan me segurando pelo braço e me parando. Mas eu queria continuar indo em direção a voz em minha cabeça.

“Droga!”, Ethan disse antes de me envolver pela cintura e me virar para ele. Seus olhos estavam duros. “Acorde, Jordan.”, ele me sacudiu pelo ombros e não teve como eu não ficar mais presa na bela e obscura voz. Senti algo em mim se perder, a abrir um buraco em mim.

Não deixe sua essência se perder. Venha até nós, Jordana.

Dessa vez, invés de eu ficar encantada, tremi de medo. Sem pensar duas vezes, abracei Ethan e senti seu cheiro cítrico. Aquilo era real, não a voz em minha cabeça. Ethan me apertou mais contra si e suspirou.

“Se mantenha assim.”, ele sussurrou. Parte do seu cabelo roçando em meu rosto. Olhei por cima do seu ombro e gritei.

Ethan virou e viu as sombras se movendo na nossa direção. Ela tinha o formato de um ser humano, mas mancavam e tinham as mãos em formas de garras. Além de não estarem no chão, ou terem alguém para guiá-las. Ela estavam andando na nossa direção. Umas três ao mesmo tempo. Com passos certos e seguros. No momento em que tentei tocar suas mentes, tremi e tive que me segurar para não gritar ou desmaiar. Era tudo imundo, escuro e doloroso.

“Vamos”, Ethan disse pegando minha mão e começando a correr.

Forcei minhas pernas a correrem também , mas sempre olhava para trás, vendo as sombras vindo atrás de nós. Elas pareciam tentar correr também e isso me assustou.

“Não olhe para eles”, Ethan disse e continuou correndo.

“Para onde estamos indo?”, eu forcei as palavras a saírem e olhei para ele. Seu cabelo loiro estava em seu rosto, sua franja voando para longe. Coloquei minha mente para longe dele, mas era bom me focar em outra coisa que não fosse as sombras aterrorizantes atrás de nós. O jeito que Ethan olhava para frente me dava certeza que ele estava nos levando para um lugar certo.

Volte, Princesa Jordana.

“Para o meu carro”, ele respondeu enquanto eu tremia e forçava minhas pernas a irem mais rápido. Senti algo roçando em meu calcanhar. Sem pensar duas vezes, eu pulei e gritei. “Mais rápido”, Ethan quase rosnou.

“Eu não consigo, droga!”, eu disse, já arfando.

“Mais um pouco, Jordan”, ele disse e eu pude ver o carro parado a pouco metros. Acelerei meu passo enquanto Ethan colocava a mão livre no bolso e puxava a chave. Parei para respirar apenas quando já estava com a mão na maçaneta do lado do passageiro. Olhei por cima do carro e vi as sombras se aproximando, enquanto Ethan lutava para a chave entrar no carro. Comecei a suar frio.

Quando escutei o barulho de destranque, quase chorei de alívio. Entrei no carro sem pensar duas vezes e Ethan entrou segundos atrás de mim. Assim que ele fechou a porta, as sombras bateram em seu vidro, com força. Eu gritei e me encolhi.

“Liga a droga do carro, Ethan”, eu gritei para ele.

As sombras continuaram a arranhar o carro. Meu Deus, coitado do carro. Ethan lutava para que a chave encaixasse, e suspirou aliviado quando aconteceu. O carro deu um ronco baixo e Ethan se pôs a nos tirar dali o mais rápido possível. Uma das sombras pulou no capô do carro, mas Ethan deu um jeito e se livrou dela. Não abaixei a guarda nem um segundo, sequer. Abracei minhas pernas e as encostei no peito, pousando meu queixo ali.

Eu não queria saber para onde estávamos indo, portanto que fosse bem longe daquelas sombras. Só relaxei de verdade, quando reconheci o caminho para a minha casa. Dei uma olhada em Ethan. Ele parecia tenso ao meu lado. Não, ele estava tenso ao meu lado. Os dedos apertavam tanto o volantes que suas juntas estavam brancas. Ele nem sequer me deu um olhar enquanto dirigia.

Ele só relaxou de verdade quando estacionamos em frente a minha casa. Então me olhou de cima a baixo, tentando ver se estava tudo bem comigo. Fisicamente, sim. Mas psicologicamente, não. Ethan soltou o ar e deu um soco no volante. Eu fechei os olhos e esperei pelo barulho estridente da buzina que nunca veio. Abri os olhos de novo e o vi olhando para frente.

“Então”, eu disse depois de limpar a garganta. Aquele silêncio estava me enlouquecendo. “Você vai me contar o que eram aquelas sombras, ou eu vou ter que ficar achando que endoideci de vez?”

Ethan olhou para mim, seu olhar frio. Ele não deveria estar com muito humor para sarcasmo. Estiquei as pernas e olhei por cima dele para minha casa. A luz da sala ainda estava acesa e os pensamentos de Megan bem despertos. E ela estava pensando em mim, como sempre.

“Eles eram Darks Rastreadores”, Ethan disse cortando meus pensamentos.

“Darks Rastreadores?”, eu perguntei, confusa.

Ethan continuava olhando para frente, como se eu nem estivesse ali. Me estiquei bastante, para que ele tivesse certeza que eu ainda estava ali. E que eu ainda queria saber o que diabos tinha pulado no capô do seu carro. Ele arrastou seus olhos verdes até mim e tirou seu cabelo dourados dos olhos. Foi aí que eu percebi que , além de nervoso, ele estava assustado. Seus olhos tinham um tom azulado e seus músculos estavam tensos.

“Você não está sentindo nada?”, ele perguntou.

“Além de frustração por você não me contar que diabos eram aquelas coisa, não”, eu respondi e estreitei meus olhos para ele.

Ethan suspirou e se jogou de volta no banco do carro. Ele ficou em silêncio por um tempo, apenas me encarando. Talvez estudando a minha reação. Eu ainda estava com medo, mas tinha que me mostrar firme. Seus olhos lentamente voltaram ao tom de verde florescente habitual. Eles faziam contraste a escuridão do carro.

“Você já assistiu Heroes?”, ele perguntou de repente.

“Sim, uma vez”, eu respondi, me lembrando vagamente de ter pego minha madrinha assistindo e rindo de alguns personagens. Por um segundo me perguntei se ela assistiu aquilo para tentar me entender melhor.

Ethan respirou fundo antes de continuar. Sua expressão séria.

“A muito tempo atrás, um novo tipo de ser humano surgiu. O homem, que tinha o olhos escuros como a noite, era o primeiro Dark. E a mulher, com os olhos cinzas, era a primeira Carmim.”, engoli a seco com a citação da cor dos meus olhos. Ethan olhou no fundo deles enquanto continuava. “Assim surgiram dois reinos. Os Carmim e os Darks. Aquilo que você viu no bosque são Darks Rastreadores. Existem tipos de Darks e Carmim.”

“Que são?”, eu perguntei me aconchegando mais no banco do carro.

“Dos Darks são: Rastreadores, Lutadores (com super força) e leitores de mentes”, eu engoli a seco com a citação do meu poder incomum. Na minha mente só pulsava uma coisa: Droga, sou do Mal. Sou uma Dark. “Dos Carmim são: Curadores, como a Nara. Videntes, como a Christina e Controladores de Mentes...”

“Como você”, eu conclui. Ainda estava espantada por ser do mal. Aqueles caras lá fora, aquelas sombras eram meus parentes? Tremi, só de pensar naquilo. Senti o suor frio tomando conta do meu corpo. Ethan se inclinou mais na minha direção e eu esperei que ele matasse ou algo do tipo, mas ele apenas esticou a mão e tirou uma mecha do meu cabelo do rosto.

“No início das aulas, pensei que você fosse uma Dark”, Ethan continuou olhando para os meus cabelos e mexendo neles. “Obscura e sozinha, mas então pensei que pudesse uma outra pessoa ante social. Depois, minha irmã teve uma visão com você, e a desconfiança foi embora.”

“Por que?”, eu perguntei confusa.

Ethan deu um pequeno sorriso. Ele ficava bem mais bonito quando sorria.

“Os poderes dos Carmim não funcionam com os Darks e vice-versa.”, ele esclareceu e viu minha expressão surpresa, mas pensou que era por causa da confusão. Mal sabia ele que era por eu estar confusa sobre o que eu era.

Pelos poderes, eu seria uma Dark. Mas já que os poderes de Christina funcionaram em mim, eu era uma Carmim. A única pessoa que sabia do meu passado, era minha madrinha. Talvez ela já até soubesse dessa história de Dark e Carmim e nunca me contou. Ela , com certeza deve saber quem eu era de verdade. Fiquei com raiva. Ela tinha me escondido minha verdadeira identidade, mas por quando tempo?

“Então, quando tentei apagar sua memória, no primeiro dia de aula e não funcionou, comecei a ficar confuso e acho que descontei essa confusão em você, sem querer.”, Ethan continuou ainda brincando com meu cabelo. Ele não tinha percebido que eu estava com a cabeça longe, assim como eu não tinha percebido que ele estava bastante perto.

“Tenho que ir, Ethan”, eu disse de súbito e me virei para abrir a porta.

Tinha que descobrir quem eu era de verdade.

Ou se eu não tinha endoidado de vez.


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Notas finais do capítulo

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