Capítulo 6

Acordei mais uma vez gritando.

O suor impregnando minhas roupas e meu cabelo. Eu respirava como se tivesse acabado de correr a maratona e esperava não ter acordado Megan. Quando meu coração se acalmou um pouco, me concentrei em seus pensamentos. Eles ainda estavam sonolentos e confusos. Isso me fez suspirar de calma.

Estiquei minha mão e agarrei meus óculos, olhando em seguida para o relógio. Gemi quando vi que eram oito da manhã. Nunca eu tinha acordado tão cedo em toda a minha vida. E eu tinha certeza que não conseguiria voltar a dormir por um bom tempo. Suspirei e olhei para o teto do meu quarto, vendo as estrelas que minha madrinha tinha colado ali, quando eu tinha 6 anos. Ela sempre dizia que meus pais tinham virado estrelas. Suspirei e virei para o lado, não queria lembrar dos meus pais agora. Resolvi que era melhor eu levantar, já que meu sono já tinha ido embora. Me arrastei escada a baixo.

Sem pensar muito, comecei a fazer o café-da-manhã. Não queria lembrar do motivo de ter acordado hoje de manhã. Mas, ele veio sem convite: O Pesadelo.

Eu estava vagando sozinho por aquele maldito bosque, novamente, quando Christina apareceu. Eu queria ir lhe dar um braço quando ela se afastou e me deu um olhar gelado, similar ao que Nara sempre me dava toda vez que eu ia falar com ela. Sem mais nenhuma palavra, ela começou a se afastar de mim. Eu tentei gritar para ela voltar, mas nenhum som saía da minha voz. A tristeza começou a me abater. Eu estava afastando a minha única e melhor amiga e nem sabia o motivo daquilo. Então, um fluxo de pensamento me trouxe o motivo

Você mentiu para mim, Jordan. Você me escondeu quem é de verdade.

Eu sabia que ela estava dizendo a verdade. Depois dela ter me perguntado aquilo lá no shopping, eu fiquei tentada a contar, mas não tive coragem o suficiente, então apenas ri, nervosa e desviei de assunto. Claro que Christina não esqueceu, mas também não tentou me pressionar. Cada um com seus segredos, ela disse. Mas, de noite, me bateu a culpa de não tê-la contado quem eu era de verdade. Na verdade, eu mesma nem sabia. Só tinha certeza que eu lia pensamentos, e isso não era comum dos adolescentes.

Os pensamentos de Megan se tornaram mais coerentes, até que despertaram. Escutei seus pés se arrastando para fora da cama e seus pensamentos de mais um dia de vida. Vi como ela estava feliz e estava pensando em mim. Como eu também estava feliz. Ela se culpava por ter saído da cidade natal, muitas vezes, mas agora tinha certeza que era seguro voltar.

Ela desceu as escadas, ainda bocejando, mas pareceu despertar com a surpresa de me ver já acordada e arrumando a mesa. Ela riu, passando a mal pelos olhos e pensando ver uma viragem. Eu sorri e toquei sua mão.

“Não é uma miragem, Meg.”, eu respondi a seus pensamentos. “Eu realmente estou acordada a uma hora dessas”

“Meu Deus, o Apocalipse se aproxima.”, ela exclamou e riu. Fiz uma careta, mas não pude esconder o sorriso por muito tempo.

Nos sentamos a mesa e começamos a conversar normalmente. Na verdade, Megan que falava. Eu apenas sorria , assentia e respondia quando ela me perguntava alguma coisa. Eu sabia que ela não estava fazendo isso para me induzir a dizer alguma coisa da minha vida. Eu via isso em sua mente. Ela só fazia isso porque era a Megan e isso fazia parte dela.

Ela falava do seu trabalho com tanto amor que me enchia de emoção. Minha madrinha se apaixonava por quase tudo com que convivia. O trabalho, a casa, eu. Mas, eu vi, mesmo por um curto momento, que ela tinha outro motivo de felicidade no trabalho. Além de uma promoção em mente, tinha um quem especial.

“Quem é Dean Clark , Meg?”, eu perguntei a cortando.

Megan abaixou seus olhos azuis para suas mãos na mesa e suas bochechas coraram. Eu não a via assim a um bom tempo. Na verdade, acho que nunca a tinha visto assim. Não o suficiente para me lembrar. Mesmo minha madrinha se apaixonando por tudo o que fazia bem, era difícil ela se apaixonar por alguém que a fizesse bem.

Mas, eu conseguia ver em seus pensamentos, esse tal de Dean Clark.

“É um idiota que trabalha comigo e está concorrendo a mesma vaga que eu na promoção.”, ela respondeu tentando colocar força em suas palavras, mas as bochechas coradas a tiravam firmeza. “Ele fica o dia inteiro me provocando e eu odeio isso”

Eu levantei uma sobrancelha.

“Não é o que seus pensamentos dizem sobre ele”, eu respondi com um sorriso maroto nos lábios. Era engraçado provocar Megan por que ela caía na pilha muito fácil.

“Fique longe dos meus pensamentos , mocinha”, ela disse , brincando e sorriu.

“Oh, o alto e moreno Dean.”, eu comecei a cantarolar. Cruzei minhas mãos e bati as pestanas como uma garotinha apaixonada. “Com aqueles olhos castanhos escuros.”

“Pare, Jordan”, Megan disse, mas estava rindo.

“Queria tanto que ele me beijasse como diz que vai fazer”, eu continuei e peguei algo interessante em sua mente. “Oh, ele já a beijou.”, eu acusei e ela ficou mais corada ainda. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Megan pegou o pão que estava na mesa e me jogou. “Oh, é assim?”, eu lhe joguei outro.

“Pare agora mesmo, mocinha.”, Megan disse e ameaçou levantar. Em seu rosto corado um grande e brincalhão sorriso. Eu me preparei para correr.

“Dean, Dean, Dean.”, eu cantarolei de novo e saí correndo para a sala. Megan logo atrás de mim. Ela me pegou assim que alcançamos o tapete fofo azulado que tinha no centro da sala e caímos nele, rindo.

Esse era um dos motivos de eu amar tanto Megan. Além dela ser minha madrinha e minha amiga, ela confiava em mim o suficiente para me mostrar seus mais profundos pensamentos, mesmo ela achando alguns adultos demais. Eu apenas rolava os olhos para as fantasias que ela tinha com Dean. E foi aquela confiança que me fez pegar o celular a tarde e ligar para Christina.

Demorou um pouco para ela me atender e quando o fez parecia um pouco aérea e estranha, como se estivesse apressada. Corei ao pensar que a tinha interrompido em algum momento íntimo. Mas, forcei minha voz a ser forte e alegre, tanto quanto era dela quando falava comigo na escola, ou estava empolgada com alguma coisa.

“Queria conversar com você, Christina.”, eu disse.

“Agora?”, ela perguntou um pouco temorosa. Eu a imaginei olhando para os lados e fugindo da polícia. Ri mentalmente com aquela hipótese.

“Oh, não. A noite, no bosque, as sete.”, eu disse e esperei por dua resposta. Consegui escutar alguns barulho de fundo, como muitas vozes falando ao mesmo tempo. Por um curto segundo pensei ter escutado a voz de Nara e Ethan.

“Claro, claro. Estarei lá.”, ela realmente parecia apressada. Entendi um pouco o motivo, quando escutei Ethan falando para ela desligar o telefone. “Tenho que desligar. Até a noite.”, então a ligação caiu.

Por um motivo que eu não entendi, fiquei um pouco fula com Ethan por ter tirado a atenção de Christina de mim. Aí, como eu o odiava. Me joguei na cama e olhei pata o teto novamente. Megan tinha saído para resolver um problema de última hora no escritório e tinha prometido voltar antes da janta.

Eu tinha assentido, sabendo que ela estava um pouco ansiosa demais para encontrar Dean de novo. Revirei meus olhos. Eu não tinha o desejo de encontrar alguém que me fizesse sair correndo de casa para vê-lo. Mas, também não queria morrer sozinha. Apenas alguém que me fizesse sentir em uma relação segura, estava bom.

Ethan nunca seria aquela pessoa. Na verdade, eu nem sabia o porque que eu estava cogitando a hipótese de tê-lo em minha vida. Ele era metido, arrogante e esperava que todos gostassem dele, mesmo que ele não ligasse para ninguém.

Mesmo Christina tentando defender o irmão de minhas acusações, ela não pudia negar que Ethan ás vezes tinha um lado arrogante que a irritava. Só porque tinha cabelos loiros brilhantes que lembrava ouro. Só porque tinha olhos verdes brilhantes. Uma pele lisa e macia, além de quente. Ombros largos , pernas firmes e bons bíceps. Um tórax e abdômen firme bem aparentes na blusa aperta da escola e com dois botões abertos. Só porque era um Deus Grego, um Anjo, não queria dizer que todos deveriam gostar dele.

Não que eu tivesse notado alguma coisa de bonito nele. Oh, não. Quem reparava aqueles atributos dele, era Nara. Eu apenas observava e corrigia , ou concordava. Mas, Nara também não era de se jogar fora. Eu via como alguns garotos a olhavam.

Os cabelos curtos e castanhos, desciam como uma cortinha em seus ombros. Os olhos castanhos escuros, como dois buracos sem fim. As pernas grossas e bem malhadas. A pele bronzeada, o sorriso matador que ela lançava aos garotos quando passava por eles. Mas que não tinha o mesmo efeito em Ethan. Me senti uma idiota pensando em Ethan , então levantei e comecei a arrumar a casa inteira.

Megan realmente voltou antes do jantar, e voltou tagarelando como nunca. Dean a tinha provocado novamente dizendo que ela realmente tinha gostado do beijo. Ela retrucou como sempre. Minha mente estava bastante distante, mas eu tentava dar bastante atenção a Megan e a sua nova paixão.

Quando deu seis horas, eu me levantei do sofá e fui tomar banho. Coloquei uma calça jeans escura e uma blusa lilás que Christina tinha comprado para mim no shopping. Pensei em prender meu cabelo, mas sabia que ela piraria, por isso deixei-o solto mais uma vez. Calcei meus tênis e corri escada a baixo.

“Dia de festa, hoje?”, Megan perguntou saindo da cozinha com uma vasilha de pipoca na mão. Seu olhar era questionador, mas ela tinha um sorriso nos lábios. Ela pensava que eu estava indo a alguma festa ou encontrar alguém de especial.

“Estou indo encontrar Christina.”, eu esclareci seus pensamentos. “Liguei para ela hoje de tarde e ela parecia meio estranha. Fiquei preocupada.”

“Claro, claro”, Megan disse um pouco contrariada. Ela encheu a boca de pipoca e foi para a sala. Eu a segui, mas indo para a porta. “Só não chegue tarde”, ela gritou enquanto eu fechava a porta.

Eu sabia que Megan tinha ficado um pouco magoada com a minha saída, porque domingo era o único dia , além da noite de sábado que podíamos ficar juntas. Mas, por outro lado, ela estava feliz por eu ter arrumado amigos e por eu estar gostando de ter amigos.

Caminhei rápido e firme até o bosque. Nem sabia o porque de eu ter marcado lá. Tinha tantos lugares que eu poderia conversar com Christina sem que eu ficasse arrepiada. Uma praça com bastante gente, por exemplo. Um shopping com bastante gente, também.

Porque, no momento em que sentei no banco do bosque, percebi que não foi a ideia mais inteligente que tive na vida, marca para conversar no lugar onde eu tinha pesadelos. Ainda mais quando você está sozinha. Mas eu não sabia onde Christina morava para saber um lugar melhor para nos encontrar. Eu nem sabia como ela sabia onde eu morava.

“Ela está demorando”, eu reclamei e olhei em meu relógio. Sete e meia.

Será que ela tinha esquecido? Pelo seu tom do telefone, ela parecia ocupada. Eu não a culparia por esquecer, mas levaria isso como um sinal de que eu não deveria ter tido a brilhante ideia de contar o meu maior segredo. Na verdade, ali, no ar puro, eu conseguia pensar melhor.

Eu nem conhecia Christina direito para lhe contar meu segredo. Uma semana de amizade e só. Nem sabia onde ela morava. E , ás vezes, ela parece tão misteriosa quanto seu irmão. E lá estava de novo. Ethan em minha cabeça. O ódio fazia ele vir e ir. E toda vez que ele vinha, eu tinha que fazer alguma coisa para espantá-lo. Peguei meu celular e tentei ligar para Christina de novo. Deixei chamar até cair na caixa postal. A xinguei mentalmente e soltei o ar pronta para ir embora quando escutei passos atrás de mim.

“Ah, finalmente você chegou.”, eu disse me levantando e me virando para encarar Christina. “Já estava indo embora e ...”

Minha palavras morreram quando vi que estava encarando o par de olhos verdes errados.