Num restaurante perto do hospital, Sheldon comia uma sopa igual a que Paty lhe preparava em casa. E ela servia a ele com o mesmo carinho.

_ Não coma tão depressa, meu amor! Quer um pedaço de pão?

Ainda chateado com toda aquela situação, Monzard observava sua calma ao lidar com Sheldon. Intrigado perguntou:

_ Como pode ele estar calmo assim? Ele nunca sai...

_ Eu fiquei com ele o tempo todo, segurando em sua mão e falando com ele. Acho que isso ajudou. – mostrou o quebra-cabeça na bolsa – Eu dei isso a ele também.

Então ele se lembrou do que disse ao sair com Valerie, mas não ficou bravo, apenas admirado.

_ Eu disse que ele não podia ir a hospitais, e disse pra você pedir ao motorista leva-lo ao hospital onde eu estava. Por que fez tudo diferente? – ela relutou para responder, ainda sentia raiva pela forma como foi tratada – Eu fiquei louco, sem saber aonde levaram vocês... Foi a pior sensação que senti desde que minha mãe...

Ele parou de falar e parecia não querer ouvir a resposta. Mas Paty precisava lhe dar uma satisfação.

Quando ele finalmente a encarou, ela contou o que houve.

_ No caminho, Philip teve uma convulsão e parou de respirar. Eu bati na janela para que eles encostassem e enquanto estacionavam fiz uma respiração boca-a-boca nele e ele voltou a respirar. Daí colocaram  oxigênio nele e disseram que ia demorar um pouco para chegar no hospital por causa do congestionamento, então eu pedi que a gente viesse pra cá . Philip ainda estava muito quente. – ele olhou para Sheldon que agora brincava com os palitinhos de dente da mesa – Eu.. tentei ficar calma para não assustá-lo.

Monzard reconheceu o que significou tudo aquilo. Ele segurou sua mão com ternura e com seu olhar tristonho e cheio de lágrimas de remorso pediu desculpas, com a voz embargada.

Já eram dez horas da noite, cinco horas depois de Philip dar entrada no hospital, e então o doutor o liberou.

_ Seu problema foi uma intoxicação alimentar. Ele poderia ter ficado pior se não chegasse a tempo. – falava com Monzard no corredor, enquanto Paty ajudava Philip a se vestir para ir embora - Nós fizemos a lavagem estomacal, como eu já lhe disse, mas ele tem que tomar alguns remédios para purificar o sangue. No mais ele está fora de perigo.

_ Obrigado, doutor.

Já no carro eles seguiam para casa, em silêncio. Philip ainda estava sob efeito dos anestésicos que lhe deram, e não falava muito.

Demonstrando que entendia o que houve, Sheldon acariciava do seu jeito o corpo dele em volta do estomago.

Já em casa Monzard acompanhou Philip até seu próprio quarto e disse:

_ Vou dormir com você esta noite.

_ Estou melhor, Mon, tudo bem. – disse com dificuldade, ainda estava um pouco tonto.

_ Nunca se sabe, eu não quero descuidar de você.

Monzard o ajeitou na cama, e só saiu do quarto quando ele já dormia.

Na sala encontrou Paty.

_ Sheldon já dormiu? – ele perguntou.

_ Sim. - não escondia seu desapontamento.

Ele não sabia o que dizer, então olhou para seu celular. Havia varias chamadas perdidas de Valerie.

Achando que ele ia fazer uma ligação, Paty ia sair da sala, mas ele pediu que ela ficasse e desligou o aparelho.

_ Quero lhe pedir um favor. Primeiro que não me julgue pelo que houve, eu fiquei muito preocupado com o bebê. – ela não o encarava – Depois que... Sei que não tenho esse direito, mas não quero que Philip saiba que eu fui... tão estúpido em deixa-lo. Eu não pensei direito... E acho que ele jamais me perdoaria. Não quero dar a ele essa decepção.

_ Tudo bem, Monzard, eu não vou dizer nada, eu entendo.

_ Se você não estivesse lá, ele não teria assistência.

_ Philip é meu amigo. Estou feliz que ele esteja melhor. Mas tem uma coisa que eu quero lhe dizer também. – ela então fixou seu olhar no dele e falou com muita firmeza – Eu era empregada da família de Cintia, mas sempre fui respeitada, e aprendi a respeitar também. Eu amo Sheldon e considero Philip como a um irmão, Mas se Valerie vai fazer parte de suas vidas, espero que ela me respeite também, ou eu não vou pensar duas vezes pra ir embora.

_ Então foi verdade que vocês discutiram lá no consultório?

_ Sim, ela estava me confundindo com empregada dela, e eu sou babá de Sheldon.

_ Você a ofendeu e por isso ela foi parar no hospital. – disse chateado - Eu também acho que deve haver respeito, mas das duas partes!

_ Não fui eu que a ofendi na primeira vez em que nos encontramos.

_ Valerie está grávida, e não pode se alterar! Sei que ela é um pouco arrogante, mas eu peço que não entre em conflito com ela de novo.

O coração de Paty acelerou e ela sentiu seu sangue ferver. Sentiu tanta raiva de Monzard que não pensou em Philip ou Sheldon.

_ Eu te odeio e sempre vou te odiar! Pode ficar com sua mulher arrogante e traidora. – era o que teria dito se pudesse.

Mas disse outra coisa:

– Se acha que sou um a ameaça, por que não me demite? Não espere que eu aceite que ela me humilhe novamente, por que eu não vou aceitar. – ficou em pé – Talvez eu facilite as coisas pra vocês pedindo demissão!

Em passos firmes e largos ela foi para fora. Ia à pé para sua casa, mas para sua surpresa estava chovendo forte, e ela sentiu medo de ir sozinha, já que as ruas eram escuras e desertas naquela hora da noite.

Voltando-se ela foi para a cozinha e sentou-se à mesa. Quanto ódio passava por seu coração naquele momento. Estava a ponto de dizer a Monzard que Valerie não era o que ele pensava. Dias atrás Philip viu novamente Valerie com o tal homem negro e mais jovem.

Desde que soube pelo próprio Monzard onde o rapaz morava, ele tinha seguido Valerie por várias vezes até que a viu. Ele gravou as cenas em vídeo e guardou. Na verdade não sabia muito bem como abordaria o irmão para lhe contar, pois Monzard sempre chegava com uma ou outra novidade sobre seu suposto filho, e estava muito feliz em ser um futuro pai.

Paty imaginava que ali mesmo poderia desmascarar a mulher que colocou Monzard contra ela. Sabia onde estava o filme que Philip fez.