Fundo do Poço escrita por Mei_Schneider


Capítulo 2
Mas sempre há um braço maior para puxá-lo




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Com o passar dos dias Iori foi ficando insuportável...

Berrava o nome de Kyo com fúria, fazia barulhos que tornavam o sono do moreno impossível, o humilhava cuspindo a comida na cara dele, falava frases perversas horríveis...
Quem sabe se Iori yagami... O verdadeiro Iori yagami, falasse essas mesmas palavras em tom sexy, estando saudável, talvez seriam suficientes para excitar Kyo.
Mas não agora...
Kyo tinha nojo.
Mas agüentou... Agüentou tudo pacientemente calado... Sabia que a hora da abstinência estava chegando e era isso que fazia Iori perder a cabeça.

Certo dia, sentado no sofá da sala no escuro, em plena 4hr da manhã, ouvindo os barulhos do outro que não permitia ele de pegar no sono (não até ele o dar drogas), pensava que isso tudo era uma fase... Uma fase bem ruim, que não tardaria a passar... Um pesadelo que termina quando se acorda...
Conseguia ver em sua mente que Yagami ficaria bom de novo, e desafiaria Kyo para uma luta. Queria acreditar muito nisso, e praticamente rezava para isso.

Ás vezes arrependia-se sim de ter pego Iori. Kyo estava passando por uma prova mental muito grande, e um transtorno sem igual que praticamente estourava seus limites. Mas pensar que o ruivo poderia morrer facilmente pelas drogas já motivava o moreno.
A melhor coisa foi pegá-lo, definitivamente.

Já fazia 2 semanas.
Iori comia muito pouco... Estava uma visão de chocar... E Kusanagi quase tinha vontade de chorar ao vê-lo assim... Quase fraquejou e liberou o ruivo, mas jamais daria drogas para ele... 
Parecia até mesmo que se Kyo desse drogas, Iori voltaria a ficar saudável, já que este passava tanta necessidade.

Yagami começou a implorar para Kyo, e não mais brigar... Pedia e se rebaixava, prometia coisas como nunca mais odiá-lo, nunca mais persegui-lo, esquecer todo o passado....

-... Mas por favor.......me dê.....por...favor....

Kyo ouvia aquela voz grave fraca, morta, ofegante, suplicante... Os olhos com pupilas contraídas, sem brilho.
Saiu do quarto, e Iori o chamou desesperado... 

Ele voltou pouco depois, e chegou próximo do outro. Iori mais uma vez, com os olhos pedintes implorou, e Kyo estendeu a mão e abriu... Havia um pó branco espalhado...
Mesmo com pouca iluminação no quarto, foi visível para o moreno o quanto a pupila de Iori dilatou de ansiedade, fixando o olhar no pó, mal acreditando que saciaria sua vontade.

- ...me...me dê...........me dê.... – ofegava ao falar baixo, suplicando, tentando inclinar o rosto para alcançar a mão de Kyo que estava estrategicamente distante... Chegou a colocar a língua para fora, inclinando-se o mais que podia. Lamberia os pés de Kyo pela droga.

E Kyo, sem piedade, virou lentamente a mão deixando a pequena quantidade de pó escorregar aos poucos até o chão, como areia.

Iori ficou estagnado, como se alguém importante para si tivesse acabado de perder a vida.

- Eu nunca vou te dar....

Kyo falou baixo, meio entristecido, e virou as costas assim que recebeu o maior olhar de ira, demoníaco do outro. E mais uma vez foi alvo das baixas palavras, berradas por ele.

O moreno foi até a cozinha onde sentou-se na cadeira pensativo e transtornado pela cena suplicante do outro. É, foi uma tortura para Iori, e Kyo se sentiu mal por isso, mas talvez serviria para o ruivo saber que Kyo não estava mesmo disposto a dar nada para Iori ingerir, além de comida.

Ficou olhando o resquício de pó branco em sua mão... E o lambeu em seguida.

Na verdade Kyo estava fazendo um bolo... E na receita, vai farinha...


Foras os dias mais torturantes e lastimáveis da vida de Kyo... E com certeza da vida de Yagami também.

Por mais longas duas semanas, duas longas e perturbadoras semanas, esse episódio de suplicia de Iori se repetia... 
Comia um pouco de comida que Kyo lhe dava, apenas para agradá-lo (mesmo que voltasse a vomitar horas depois, sempre), não dizia mais coisas sujas, não o xingava mais porque via que o moreno não gostava desse lado de Yagami. Quem sabe vendo o ruivo se comportar, Kyo não desse o que ele tanto queria... 
O moreno sabia disso... Sabia que ele estava mudando de tática.
Não podia reclamar... Ao menos Iori parecia mais humano, mesmo que ainda fosse um morto vivo mais assustador de quando o encontrou no lixão.
O ruivo ficou febril incontáveis vezes, e tinha tremedeiras alucinantes.
Kyo não sabia que uma pessoa poderia alucinar até mesmo por falta de drogas. Morria de medo de a mente dele sofrer danos e nunca mais voltar a ser o que era...

O poço onde Iori estava, na verdade parecia não ter fundo... Ele era tragado cada vez mais...


-... O que você fez com seu contrabaixo...?.... Seu carro.... Sua casa...?... 

Kyo finalmente perguntou um dia entre a 5ª semana, em um momento que o ruivo parecia fora deste mundo, com os olhos semi-abertos, turvos, sem brilho olhando algum ponto do quarto que não fosse diretamente á Kyo.

-..... lixo..........é tudo lixo........ 

Iori respondeu em sussurros falhados... 
Kyo esfregou seu rosto com aquela resposta, sentado em uma cadeira próxima á cama do ruivo... Pouca luz entrava no quarto, do sol de fim de tarde.

- ... Lixo...?.....- Kyo disse tristemente baixo, realmente não reconhecendo Iori. -... Você.......- suspirou, puxando lembranças e olhando decepcionado para chão. - ...Eu lembro de um dia, quando estávamos no ginásio... Tinha uma pequena sala, onde havia alguns instrumentos velhos e caixas de som... Voce lembra?..- Perguntou baixo, e ficou observando o outro, que não respondeu, permanecendo inerte na cama... Suspirou de novo e continuou. – Eu entrei nela, e vi um contrabaixo encostado em uma cadeira... Lembrei que você tocava, então eu pensei que poderia tentar também, já que o som que você fazia era muito bom.... – Deu um sorriso nostálgico, parecendo lembrar-se da cena. – Eu não sabia que aquele contrabaixo era seu... Eu devia ter imaginado, já que era o único instrumento bonito do lugar....Quando você entrou na sala e me viu segurando ele... Você quase trouxe o ginásio á ruínas... Acho que foi um dos únicos dias que você realmente me deu medo...- Kyo disse sorrindo triste, querendo o tempo de volta...

Olhou de relance para o ruivo que continuava inerte...Mas Piscou lentamente os olhos...
Ao menos Kyo teve a sensação de que ele havia, lá no fundo, ouvido o que o moreno havia falado...
Esse estado de inércia de Iori dava a impressão de que estava morrendo... Kyo já não sabia qual era o estado melhor de se ver dele... Se berrando e xingando, ou assim.

Causava uma dor incrível...

- Você... Prezava demais seus pertences... – Kyo entedia que no meio da necessidade, Iori não viu valor neles... Foram-se como o vento. – Não diga que são lixo... Algum dia vai se arrepender, e vai ver que o lixo real foi o que você trouxe para si vendendo eles á preço miserável, quando eram inestimáveis...


Dia após dia, longos dias, Kyo sentava-se um pouco e tentava arrancar palavras do ruivo, que pouco respondia... Era como um monólogo, mas uma coisa boa é que ele havia parado de implorar por drogas, berrar o nome de Kyo, e tudo o mais que o deixava com um semblante insano...
Como já foi dito, Kyo não sabia se preferia vê-lo ‘vivo’ daquele jeito, ou ‘morto’... Como agora... 
Mas realmente fora um grande passo Iori não suplicar mais por drogas... Deve ter se cansado, vendo que Kusanagi jamais daria o braço a torcer.


Certo dia, Kyo quase quis pular de alegria e abraçar o ruivo quando este reclamou de fome.
Expressou sua felicidade contida com um sorriso até mais brilhante que o normal, e o ruivo percebeu o quanto Kyo se preocupava verdadeirame.
Notava-se na aparência do moreno: mais cansado, menos disposto, com a pele mais branca por falta de sair, mais magro, olheiras... Preocupar-se com o ruivo acabou com o sossego, paz e boa vida de Kyo, mas mesmo assim não deu o braço a torcer e não desistiu de Iori. Estava vivendo em função dele.


Não mais enfiando a comida goela a baixo no ruivo, Kyo trouxe uma sopa já que estava frio... Bem suave, com carne não muito temperada, batata e macarrão... Sabia fazer uma sopa mais encorpada, mas ultimamente tem feito de tudo para Iori não vomitar ou rejeitar, acostumando o estômago e o corpo dele com a refeição, e então fazia coisas mais suaves para impedir o enjôo.
Trouxe uma bandeja, e o ruivo se ajeitou na cama calado. Depois que sentiu Kyo acomodar os pés da pequena mesa-bandeja deixando o corpo do ruivo entre eles, este até se assustou quando o viu liberando a algema do braço direito dele.

- Vai acabar se esquecendo de como se pega em uma colher...

Kyo falou sentando-se na cadeira e olhando ele, também olhando para Kyo.
Era a primeira vez que liberava o ruivo, mesmo que fosse apenas um pulso. 
Iori comeu devagar, e os dois não trocaram nenhuma palavra. Um pouco da sopa ficou no prato, mas Kyo estava mais do que feliz. Vê-lo comer por vontade própria era como ganhar na loteria, naquela altura.

E embora Iori tenha gostado da sopa, não informou á ele...


Em outro dia, Kyo estava na cozinha e seu sorriso largo insistia em não sair do rosto enquanto estava passando um bife.

Ele pediu á Kyo um bife...

Pode soar banal, mas para Kyo aquilo era o começo da mudança... O começo do fim do pesadelo... Representava a volta de Iori, por mais que este ainda pudesse ter uma recaída pelo caminho sombrio, e representava a pequena confiança do mesmo à Kyo, como se confiasse nele para trazê-lo de volta.

Só quando a frigideira fez ‘tchss’, Kyo percebeu que suas lágrimas caíam nela... Colocou a mão na boca e se afastou um pouco as sentindo rolar pela sua mão, e sua garganta quase dilacerar de angústia.
Balançou a cabeça com os olhos fechados... 

“... Que idiota...... Tanto momento que eu poderia ter chorado... E vou chorar agora...”

Sentou-se na cadeira, franzindo os olhos e não conseguindo impedir os soluços e os rios que desciam de seus olhos... Era como se o próprio Kyo também retornasse de um pesadelo... Desabafasse e aliviasse seus transtornos e seus momentos ruins, os quais passou junto com Iori...

Não por causa de Iori...
Junto com Iori...
Porque Kyo escolheu passar junto com ele.

Agradeceu pelo ruivo estar preso e não vê-lo assim, quase chorando como uma criança, mas inaudível, tapando a boca com a mão.

O bife queimou, e Kyo teve que fritar outro e ouvir Iori perguntar que cheiro estranho era aquele que vinha da cozinha.



Pacientemente, dava banho nele todos os dias, e ele nunca mais se debateu quando o prendia de volta. Já fazia 2 meses que ele estava sendo ‘mantido’ pelo moreno. 
Era a prova de que Iori estava ‘voltando’... Parecia entender a besteira que havia feito consigo mesmo, e não retrucava mais a prisão sabendo que poderia ainda fraquejar...


- Não...

Disse um dia em que o moreno pretendia deixá-lo solto para dormir.
Kyo ficou bons e longos minutos surpreso e boquiaberto olhando para o ruivo.

- Ce-...Certo.... – Falou meio inseguro, e tornou a prendê-lo como sempre... Seus pulsos nunca haviam ficado machucados pelas algemas, pois Kyo tinha a amabilidade de enfaixá-los toda vez depois do banho.
E ficou feliz.... Muito feliz por Iori aceitar sua condição de viciado e realmente não querer fraquejar.

Os braços de Iori já não continham aquelas manchas de hematomas de seringas. Seus cabelos estavam brilhantes e sua pele ainda que clara não parecia opaca e sem vida, já mais corada. Ganhou mais peso assim que passou a necessitar de refeições mais completas as quais Kyo fazia com orgulho.

E cá para nós, adorava ouvir a barriga do ruivo roncando de fome...
Iori ficava bravo ouvindo a risadinha dele...

Passou a soltar as duas mãos dele para as refeições, mas ele ainda permanecia naquela cama. Kyo também ligava a televisão do quarto, e era estrito como um pai para a programação... Só deixava Iori assistir às notícias se não passasse nada relacionado ás drogas, e se passasse, mudava para o canal de cartoons rapidamente.

Ao contrário de um Iori emburrado por Kyo estar vigiando até a programação, o ruivo riu extremamente divertido daquilo, o que quase fez o moreno se emocionar ao ver a expressão de riso do outro.

Obvio que depois de Iori estar livre, com certeza veria alguma notícia de drogas, afinal não era criança...
Mas não importa!!! Se Kyo estivesse perto, Yagami nem ouviria a palavra ‘Droga’....

Certa noite, na janta, Kyo colocou propositalmente em um canal que passava shows, e viu a expressão um tanto entristecida e vaga do ruivo ao ver o show, e sabia que o moreno o estava ‘provocando’ com aquilo, mas não disse nada.

No banho, também tinha seus pulsos liberados, e Kyo ficava no quarto o esperando se banhar e se trocar. Aquela vigia já praticamente havia se tornado comum para o ruivo, que sempre viveu sozinho. 
Nunca ia achar que alguém se preocuparia dessa forma, e nem tinha familiares e pessoas que pudessem se preocupar se ele vivia ou morria...
Mas parece que havia sim uma pessoa... E calhou de ser a pessoa mais improvável do mundo, o qual Iori não sabia que a arrogância, prepotência e preguiça pudessem dar lugar á um homem com princípios e teimosia o bastante para reviver uma alma extremamente pessimista, enraivecida e perdida.
Em troca da convivência forçada, os dois aprendiam mais um sobre o outro.

- O que vai querer comer hoje...? – Kyo perguntou sorrindo singelo vendo o ruivo saindo do banheiro vestido com o pijama branco, cheiroso, contrastando com o cheiro da vez que o trouxe para casa.

- ...Yakissoba...




Em dois meses e meio, Yagami teve sua primeira saída de casa.
Mas óbvio não foi longe, continuou algemado, e Kyo continuou policiando.
Afinal, foi apenas até o jardim dos fundos...
A casa tinha uma pequena piscina, cadeiras e mesinha no jardim dos fundos... Batia um sol de fim de tarde gostoso, não muito quente e os dois estavam lado a lado no raio de sol... Seria bom para o ruivo tomar um pouquinho de sol... E até para Kyo também que nem saía mais...
Obvio que muitas pessoas estranharam, e o moreno já não atendia mais celular nem telefone, para entenderem que estava viajando, e mantinha as cortinas fechadas.
Não só Yagami, mas Kyo também ficou preso.
E nos dias de sol, levava o ruivo para fora.

Jogava xadrez ou cartas com ele para os dois se distraírem, viam filmes (Iori sempre preso) e as vezes ajudava Kyo a preparar a comida, ou ao menos ficava na cozinha com ele... Os dois distraíam-se consigo mesmo, sentindo todo aquele transtorno se esvair pouco a pouco.

Logo, com o passar do tempo aquele homem podre de antes foi fazendo jus ao imponente nome que possuía. Estava mais encorpado, mais bonito, mais saudável... E mais humano.
Estava de volta.


No dia em que completou 4 meses de estadia de Iori ali na casa de Kusanagi, ele despertou não sentindo as algemas em volta...
Olhou para os lados antes de se sentar na cama, procurando o outro um tanto perdido se perguntando por que estava livre. Pouca luz entrava do sol que já havia saído, e uma leve brisa entrava no quarto.
Levantou-se da cama e abriu a porta do quarto, inseguro com a própria liberdade.

Silencio... Um silencio confortável.

Sua cabeça se inclinava para dentro dos cômodos procurando Kyo, mas ele não o achava. Chamou seu nome baixinho, mas não houve resposta. Caminhou pelo corredor até a sala, e algo na mesa o chamou a atenção.

Drogas.
Heroína, cocaína, crack... Verdadeiras drogas, ali, na mesa de Kyo a poucos centímetros dele.
E um bilhete ao lado...

                             “ É isso mesmo o que você quer? ”

E embaixo do escrito, uma flecha apontando para a direita.

Iori foi movido a olhar nessa direção, e surpreendeu-se com o contrabaixo novinho em folha, depositado no sofá.
Ao contrario do outro instrumento vermelho, este era preto, e Kyo fez questão que fosse uma cor diferente do passado de Iori.

Ele estava na cozinha, escondidinho, espreitando as ações de Iori e seu coração não parava de bater como uma bateria.. Inseguro e medroso do caminho que Iori poderia escolher... Tomara que aquele teste final não tenha sido muito cedo... Tomara que as drogas não tentem ele... Tomara que...

Kyo arregalou os olhos em desespero quando viu Yagami pegando as drogas na mão.

Queria morrer, berrar, chorar, espancar Iori, e sobre tudo espancar a si mesmo por tentá-lo com as drogas... Não deveria ter feito isso!

Saiu da cozinha vendo que o ruivo ia na direção do quarto... Ia se drogar?? Aproveitando da ausência de Kyo!

- Não!... Yagami!!! Não faça is..!

Kyo correu e parou na porta do quarto com os olhos já vermelhos em pânico e ofegante, quando viu Iori lá no banheiro da suíte apertando a descarga.

Era como se 10 toneladas acabassem de deixar o corpo de Kyo, e o alívio foi tanto que caiu de joelhos... Respirou fundo aliviado, colocando as mãos no chão com a cabeça baixa... Pensou que após trazer Iori de volta, o havia entregado ao fundo do poço novamente... Deus, que alívio. E que orgulho de Iori.

Este andou e se abaixou em frente á Kyo, o pegando pelo braço o erguendo... Havia voltado a ser aquele homem forte e grande novamente.

- ... Eu sabia que estaria me vigiando...

Disse o ruivo sereno. Kyo olhou para ele ainda com aquela expressão insegura, como se não estivesse acreditando que Iori, mesmo ao alcance de se drogar, não o havia feito. Antes era pesadelo, mas agora parecia um sonho... Parecia que a qualquer momento iria acordar com o berro e xingamento de Iori.

O ruivo passou por ele, e foi até a sala seguido pelo moreno, que ficou o observando próximo á mesa... 
Iori se ajoelhou no sofá, interessado no instrumento que havia acabado de ganhar de presente, representando a mudança. Passou a mão pelas cordas, pelo corpo em preto esmaltado... Era lindo, tão ou mais caro que o baixo que Iori tinha antes.

- Se você escolheu ele, então é porque você merece... 
 Kyo falou encostado á mesa de braços cruzados, já retirando qualquer possibilidade de agradecimento da parte de Iori, e retirando a atenção do outro que permaneceu ali no sofá. 

– Agora você pode vir... – Abriu os braços, com uma fria expressão. – Você pode me matar como disse que faria, por eu interferir em sua vida... Você pode me odiar mais do que antes... Você é livre para fazer o que quiser agora, e não tem mais a minha vigia... – Deixou os braços caírem lentamente ao lado do corpo. – Se você quiser entrar para esse mundo de novo, você é que escolhe......- deu uma longa pausa balançando a cabeça negativamente, lentamente, mudando um pouco a entonação da voz. - Mas Yagami.... Foge... Vá para outro país... Se enfie em um poço bem fundo....... Mas não me deixe te pegar.... – Franziu os olhos - ... Se eu te pegar se drogando, você morre....

Iori via seriedade e frieza naquelas palavras, já que apesar da rivalidade dos dois, Kyo jamais havia falado que mataria Yagami.

- Eu não vou te trazer de volta pela segunda vez... Se sua vontade de morrer for tão grande, me chame.... Você vai morrer pelas minhas mãos, pois eu não permito que morra por um mero vício... Então... Se algum dia você ver que vai fraquejar... Você pode me procurar... Eu te prendo de novo... Faço de tudo para você não voltar.... Mas se você realmente fraquejar e voltar, eu te mato.... Não é uma ameaça, pois eu não vou ser sua sombra e não vou te vigiar mais... É um aviso.

Iori não pode deixar de sentir um baque naquelas palavras. Kyo realmente falava sério, e apesar de afirmar que iria matá-lo, era notável em suas palavras o tom de preocupação e uma antecipação de decepção caso Yagami realmente volte ás drogas.
Kyo não queria matar Iori, obvio... Mas cumpriria sua palavra e seria obrigado.

Os dois ficaram calados um bom tempo, um olhando para o outro...
Iori queria dizer obrigado.
Mas a falta de ‘expressão maior’ comparado á apenas um ‘obrigado’ o impedia de dizer. Não havia gratidão para o que Kusanagi havia feito.

Kyo andou lentamente até o sofá, e se largou nele sentando-se perto do ruivo, deixando ele entre si e o baixo.

- Não sei o que te levou nesse mundo... Mas pare de se desvalorizar... Se as pessoas olham baixo para você, simplesmente as xingue.... Se não esta gostando da sua vida, ache outra forma de viver... Talvez se drogar foi um ‘escape’ que você encontrou... Eu não sei, e também não quero saber... Azar o seu que pensou que ninguém se importava com você... Vê se pare de se considerar uma anormalidade. E eu também sou.

Kyo falava baixo, olhando para o chão, relembrando de todos esses meses como se fizesse uma retrospectiva. Conseguia ver claramente a ausência de Iori, depois encontrá-lo no lixo, os xingamentos, humilhações e noites sem dormir... Ainda parecia que Kyo iria acordar qualquer momento...

‘Acordou’ dos pensamentos sentindo a boca de Iori na sua.

Um longo e quente selinho, finalmente esvaindo os transtornos. Fora que a mente de Kyo girava, e o olho esbugalhava.

Depois de longos minutos, Iori se afastou um pouco olhando Kyo que ainda estava estupefato.
Só depois de alguns segundos franziu a testa.

- N-...Não pense que isso vai me amolecer na hora de te matar!

Iori deu um pequeno sorriso.

- Você sempre foi mais forte e mais teimoso que eu mesmo...


ooo


Pensando em tudo isso, desde o começo, estava Kyo sentado a um bar, bebendo um wiskey e fumando um cigarro. Beni e os outros haviam convidado ele á ir em uma boate, mas hoje não.
Hoje Kyo estava a fim de ouvir uma boa música.

E logo a banda entrou, e no meio dos integrantes ele sempre chamava mais atenção. Deu um pequeno sorriso ao vê-lo, lindo com aquele contrabaixo.

E Kyo se tocou que ouvir a musica dele, e ficar com ele, estava se tornando um vício, no qual ele sem saber se ‘entregou’ á partir do momento em que resgatou Iori.

Quando você prova, e gosta, é difícil deixar para trás.

À vezes, há males que vem para o bem, mas nunca se deve depender desses males para encontrar a ilusão de uma felicidade.



                                                        FIM

 

 


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Notas finais do capítulo

**** Para uma breve continuação dessa história, vá ao link: http://fanfiction.nyah.com.br/historia/18180/Fundo_Do_Poco_After *********



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