Lucy Pov.

Duas semanas atrás.

A chuva havia me pego de surpresa,quem iria imaginar que um dia sem olhar a previsão do tempo poderia resultar numa falta de sorte como essa? O sol estava tão radiante que nem me preocupei em carregar comigo o guarda-chuva,e pensar que não era somente sem o guarda-chuva que eu estava...

Saía do departamento,olhando por  todo o estacionamento com a mínima esperança de que meu mini cooper se encontraria ali, mas era impossível uma vez que eu o tenha levado para a oficina a fim de fazer a manutenção anual.

-Lucy! ?- Um carro parava perto do meio fio,seu vidro negro deslizava lentamente.-Quer uma carona?

-Aqua! Claro,claro!

-Entra aí.!

-Que tempo maluco,não acha?- Olhava para as minhas roupas molhadas,estava com frio.

-Pois é.- Ela caçava alguma coisa no banco de trás enquanto dirigia.

-Toma,se enxugue.- Ela  jogou uma toalha em mim.-Não vai querer pegar um resfriado,não é?

-Obrigada,mas o que faz aqui Aqua?- Ela freou,esperando que as pessoas com os seus coloridos guarda-chuvas atravessassem a avenida.

-Na verdade eu gostaria de conversar com você,Lucy.

-Aconteceu alguma coisa?

-É a respeito do casamento... – Olhou para o farol verde a sua frente e deu partida.-Creio que o seu pai ainda não lhe contou,certo? - Ela dizia percebendo a confusão em mim.

-Isso quer dizer...- Um nó formava-se em minha garganta,estava ficando difícil de respirar.

-Eu e seu pai nos casaremos em breve,Lucy.

-Você só pode estar brincando...- A encarei,esperando que ela proferisse algo que me satisfizesse emocionalmente.

-Entenda Lucy,aconteceu.

-COMO VOCÊ PÔDE?- Explodi.-Você era a melhor amiga de Layla,e mesmo assim.. Não vá dizendo simplesmente que aconteceu!!!

-Não foi como se quiséssemos...

-Ah,conta outra! Você não queria mas não demorou em dizer aceito,não?- A margura escorriam de meus olhos,eu estava imersa em raiva.

-Querida,eu o amo!

-Desde quando?

-Ahn?

-Desde quando você o ama?

-O que quer que eu responda?- Aquarius apertava o volante com força.

-A verdade,caramba!

-Me perdoe,Lu.

-Você sempre o amou! Mas que droga,Aqua! Espero que o motivo da decaída do casamento de meus pais não tenha sido por causa de uma amante,que por sinal era em quem mais minha mãe confiava!!

-Eu...

-Ok,já entendi. Isso era tudo o que queria me contar?- A mais velha permaneceu em silêncio,a conversa chegava ao fim.-Se você veio até aqui com a esperança de que eu fosse consentir com isso,você perdeu a viagem.- Saí do carro,batendo com violência a porta atrás de mim.

Não me preocupei com a chuva gelada em minha pele,a princípio corri como se a minha vida dependesse daquilo e a medida que me distanciei do automóvel,fui caminhando contando os passos,desnorteada pelo que acabara de ouvir. Era realmente verdade? Meu pai realmente iria se casar com Aqua?

Aquilo era o cúmulo do ridículo,inaceitável. Minha cabeça estava à mil por horas,eu me sentia traída de alguma forma. Como Jude foi capaz? Ela era a melhor amiga de minha mãe!

Já em casa e de baixo do chuveiro,me derramando em lágrimas,esperava que os sentimentos que a chuva não havia levado embora pudessem escoar pelo ralo e com a água quente evaporar e amenizar a dor que jazia em meu peito. Como era possível? Eu não conseguia suportar a ideia do casamento,sabendo de tudo o que meu pai e minha mãe viveram juntos.

Não pelo meu pai,até porque os laços que compartilhávamos se resume a um pequeno e fino fiozinho,o qual sua existência é quase extinta,mas por Layla. Pelo amor que ele jurou sentir por ela por toda a eternidade,por todas as promessas,pelo marido que a sra. Heartfilia tanto amou. Eu realmente não entendia como era possível aquela intensidade de paixão se esvair tão rápido.

-Por que você não me contou que iria se casar com Aquarius?

-Eu só achei que não era o momento certo.

-Ah claro,e quando pretendia me contar? Apenas quando estivessem já na igreja se casando? Isso é ridículo!!!

-Lucy,acalma-se.

-ACALMAR? Você é o pior!!!

-Somos adultos,pare de agir como uma criança! Mais cedo ou mais tarde terá de aceitar os fatos.

-EU TE ODEIO!!!- Gritei.

-Não precis- Desliguei o celular,sem esperar o outro terminar a frase.

O neon intenso e colorido destacava-se do outro lado da rua,chamando a quem quisesse se divertir,como uma luz hipnótica na escuridão que se seguia. A música contagiante e badalada soava convidativa enquanto pessoas falavam alto e bebiam na calçada.

Local perfeito. A quanto tempo mesmo eu não venho aqui? Desde os meus primeiros anos de faculdade? Aquilo me trazia velhas lembranças. Fui abrindo caminho por entre as pessoas,no balcão dois homens preparavam e serviam as bebidas.

-Tequila,por favor.

Droga,uma coisa é você sair de casa querendo esquecer alguns problemas,a outra é você acordar com o dobro deles. O que eu estava fazendo no apartamento de Natsu,e ainda por cima vestindo uma de suas camisetas? Eu não conseguia me lembrar de nada da noite anterior e esperava que suas palavras em relação a nós como um todo fossem realmente verdadeiras.

Dragneel fez questão de me levar até em casa,o que tenho de admitir foi um grande alívio. A claridade me irritava,além de que qualquer movimento que eu fizesse era como se meu cérebro estivesse sendo esmagado e usado como saco de areia por algum boxeador.

Durante todo o caminho não me permiti dizer nada,apenas um sincero e educado ‘muito obrigada’,e o rosado foi compreensível não tentando forçar a barra.

Apesar de toda a minha concentração em não pensar com muito afinco na noite passada e muito menos em Natsu,uma observação não conseguia me escapar... Estava impressionada em como Dragneel me conhecia tão bem,cada detalhe do café da manhã e a forma carinhosa de como ele havia cuidado de mim me fez pensar no quanto ele parecia ter mudado. Emanava uma aura madura,mas talvez fosse apenas a minha impressão.

Contemplava o porta retrato em que vários corações modelavam a moldura colorida,a foto feliz de uma família que não mais existia,eu tinha apenas seis anos de idade. Faltavam apenas dois dias para o meu aniversário e eu mal podia imaginar que aquela felicidade não se faria presente futuramente.

Estava para terminar o terceiro colegial,estava cansada da pressão de sempre ter que seguir as regras de meu pai,de sempre ter que ser a filha perfeita e um exemplo de garota. Queria conhecer o mundo fora do alcance dos muros que Jude erguia em volta de mim. Eu queria fazer as minhas próprias escolhas,queria liberdade.

Em uma de nossas brigas,saí de casa e esperava nunca mais voltar. Me lembro bem o motivo,o Sr. Heartfilia havia me matriculado antecipadamente em uma faculdade que eu não fazia questão de ir,além de ter me inscrito no curso de Medicina,ignorando totalmente as minhas palavras e desejos.

Foi então que mamãe com sua doçura e muito custo conseguiu convencer Jude a um acordo; Eu faria a faculdade que quisesse e o curso que eu bem entendesse,com uma condição: voltar a  morar contra a minha vontade na mansão,sob as grades e domínios mais uma vez de meu pai,mas não por muito tempo.

Já dois meses depois perdi a minha mãe num acidente,e então minha relação com meu pai só piorou. Mas já era de se esperar em se tratar de um homem mais do que controlador como ele. Chegou então a um nível em que eu me sentia sufocada demais e foi quando arrumei as minhas malas,pedi transferência na instituição de ensino e me mudei,e então passamos a nos ver raramente.

Comecei o primeiro termo da faculdade me empenhando nos estudos mais do que deveria,me vi até trabalhando no tempo livre para não ter de depender de Jude,e essa minha obcessão mais tarde custou meu relacionamento.

Meu pai também caminhou praticamente pelos mesmos caminhos,sozinho na imensa casa ele aguentou por seis meses,mas logo mudou-se de residência passando a se manter ocupado demais no trabalho,tornando-se uma pessoa fria,amarga e calculista.

Porém ele se viu obrigado a mudar de rotina com o ataque cardíaca que sofreu alguns meses atrás,motivo que me levou a visitá-lo depois de tanto tempo. E mesmo enfermo e sob advertências dos médicos não conseguia se ver livre do vício do serviço,a única diferença era a mudança na proporção em que se emprenhava.

Sentada no confortável tapete Boston de cor creme,sentindo-me esgotada,fiquei impressionada ao ver que ainda restavam lágrimas para chorar enquanto contemplava os álbuns e a pilha de fotos espalhados pelo chão.  Na noite anterior estava escolhendo e avaliando fotos novas para adicionar ao álbum que havia ganhado de presente de Áries.

Cada momento gravado ali eram lembranças preciosas que me doíam saber que não voltariam jamais. Os loiros cabelos de Layla,seu meigo e amável sorriso distribuídos em algumas das imagens em que dividia no pequeno espaço do papel a felicidade do momento com o marido e a filha. Era possível dizer que aquela era a família perfeita.

Misturadas ali,encontrei fotos do colegial. Como do dia em que nos fantasiamos para o festival escolar,Natsu,Gray e Jellal vestidos de os três mosqueteiros brandindo as espadas de plástico numa cômica encenação. Eu e Erza vestidas à rigor para o baile de primavera,noite das garotas e sessão cinema na casa da Juvia,piquenique num sábado em que rendeu caretas,sorrisos e poses estranhas e engraçadíssimas.

Encontrei um Gray me fazendo chifrinho,puxando as minhas bochechas e competindo comigo,haviam também vários Natsus me prendendo num abraço,mordendo o meu ombro,me carregando nas costas,deitado comigo na grama e me beijando de baixo d’água.

Loki se fazia presente na viagem para a praia,sentado comigo na areia,assistindo a queima de fogos,me envolvendo pela cintura enquanto eu beijava sua bochecha e debruçado sobre meu corpo me beijando.

Tantas memórias,tantas pessoas,tantos sentimentos. É como dizem,você começa a chorar por um motivo e acaba com vários que praticamente quase se esquece do primeiro.

Me sentia mais leve,mas nem um pouco aliviada.  A angústia e a raiva,mesmo que em menores proporções ainda se faziam presentes e se transformavam em uma dormência incômoda. Eu não estava disposta a aceitar e não concordava com a ação de meu pai,mas quem seria eu para fazer Jude Heartfilia mudar de ideia? Eu o conhecia bem para dizer que não seria apenas por causa de uma aversão e aborrecimento de minha parte que o faria mudar seus planos.

Somente no dia seguinte,quando acordei com os intensos raios solares que percebi que havia adormecido no chão,em cima da minha pequena bagunça de fotografias e álbuns. Não demorou muito para que meu celular anunciasse uma ligação,me forçando a levantar e trabalhar os músculos doloridos em busca do objeto perdido.

Uma Erza insistente do outro lado da linha conseguia me convencer a partir sexta-feira para Fairy Hills,mudar um pouco de ambiente seria bom para a minha pessoa e seria divertido rever alguns amigos que não via a algum tempo.

O que eu não esperava mesmo era que a minha carona Gray viesse de cabelos rosas e montado num jipe. Envergonhada pelo que havia acontecido no outro dia,me mantive firme em mostrar um sorriso e deixar o que me incomodava para trás apenas por alguns dias.

E se soubesse que aquela viagem traria graves riscos e fosse de extremo perigo  com relação aos meus sentimentos facilmente bagunçados eu não teria ido. Posso parecer covarde,mas eu me sentia horrível por estar ao lado de Loki,beijando-o enquanto memórias daquela noite não me deixavam em paz.

Seus lábios pressionando os meus,a sensação de formigação e a onda elétrica percorrendo por todo o meu corpo por apenas um gesto inesperado de Dragneel,a sensação de realmente poder esquecer de tudo à minha volta e de todos os meus problemas,pelo simples fato dele estar perto de mim.

Eu não podia me entregar e mesmo assim acabei cedendo,tornando longo e prazeroso o encontro de nossas bocas. Eu não deveria e sabia muito bem disso,mas era difícil manter o autocontrole.

Foi preciso muita força de vontade para escapar das garras daquele dragão e empurrá-lo para longe. Compelindo todas as sensações maravilhosas para dentro de uma caixinha a sete chaves,a qual eu havia cadeado o que sentia a muito tempo atrás. E pensar que os cadeados se dissolveriam em míseros dois dias...

Eu sabia que havia cometido o pior dos erros,agora ele tinha consciência dos meus sentimentos e o que é pior,não desistiria tão cedo. Teria de manter uma distância segura,estar muito perto,depois de como havíamos passado aquele final de semana,poderia ser fatal.

-Querida,preciso passar na empresa.- Loki dizia ao desligar o celular.-Termine de se arrumar que daqui a pouco estarei de volta.

-Tudo bem,só não se esqueça do horário!- Abria o estojo de maquiagem e procurava pela base.-O aniversário será às...

-Quatro horas.- Completou,afastando os cabelos de meu pescoço e depositando um beijo.

Apressadamente procurava por um de meus brincos que haviam se perdido pela extensão do piso de madeira do apartamento de Loki,eu não gostava mas tinha de admitir que quem havia se atrasado era eu,mesmo tendo alertado sobre o horário.

Foi quando agachei perto da cama para visualizar melhor,que algo ali além do brinco,me chamou a atenção. Se eu não tivesse agachada e utilizando o espelho para colocar o brinco teria passado despercebido a pequena ponta parda de um envelope escondido atrás do objeto refletor.

Curiosa o abri,passando os olhos rapidamente por um dos papéis,o que era aquilo? Fotografias de um acidente estavam espalhadas em preto e branco juntamente com o que pareciam relatos,e uma palavra se destacou entre as outras: Assassinato planejado.

-Vamos Lucy,conseguiu achar o brinco? Precisamos ir!- Os passos de Loki me assustaram,impedindo que eu lesse e descobrisse do que se tratavam aqueles documentos,e antes que ele aparecesse na porta do quarto empurrei o envelope para baixo da cama,me levantando as pressas.

Não compreendia o significado daquilo,muito menos o porquê de estar escondido ou a relação de Loki com aquele envelope,mas não consegui perguntar à ele e logo,acabei me esquecendo,devido a chegada do convite para o casamento que se aproximava.