Chovia copiosamente no Distrito 12. Dentro da padaria, tudo estava quente e seco, mas talvez fosse um dos únicos lugares nessas condições.

Os pães assavam no enorme forno a lenha, e minha tarefa era tirá-los de lá quando estivessem prontos. Mas eu não prestava muita atenção nisso. Havia algo lá fora muito mais interessante que a chuva ou que os pães.

Ela estava lá. Katniss Everdeen, a garota que calava os mockingjays. Mas, definitivamente, havia algo de errado.

Sempre me perguntei o porquê. Ela não era particularmente bonita. Sua voz era maravilhosa, mas, oras, isso não é motivo suficiente pra se apaixonar. Mas desde que vira ela pela primeira vez, tive a certeza de que nada mais seria como antigamente. E aquele momento serviu para confirmar isso.

Ela parecia revirar algo que não consegui distinguir através da chuva, até perceber que naquele lugar deveria estar a lixeira da padaria. Provavelmente procurava por comida. Sua história é bem famosa no 12. Perdeu o pai muito nova. A mãe, entrou em depressão, e a irmã era pequena demais para fazer qualquer coisa. Tinha que carregar a casa nas costas, sozinha.

Eu não podia deixar aquilo acontecer. Tinha que fazer alguma coisa, e já sabia o que seria. Desperdiçar comida no 12 me renderia boas bofetadas, provavelmente no rosto, mas eu sabia que aquilo não seria desperdício.

Só mais alguns minutos.

– Peeta! - chamou minha mãe, com sua voz intimidadora - Como vai o pão?

Ela entrou no recinto, e eu já me preparava para o pior.

Me virei, como se me lembrasse de alguma coisa, e tentei fingir.

– O pão? Ah... o - o pão.

Ela me empurrou para o lado e tirou a fôrma do forno. Os pães estavam queimados, não tanto que alguém morto de fome não pudesse comê-los.

Ela me esbofeteou no rosto.

– Alimente o porco, sua criatura estúpida! Por que não? Ninguém decente compraria pão queimado! - falou.

Sai com a fôrma recém-assada, ou melhor, recém-queimada, pela porta da padaria. Minha mãe sempre fora daquele jeito. Já não me importava mais se ela iria gritar ou não.

Olhei, furtivamente, para a garota magrela ajoelhada na lama, chorando, e percebi que ela olhava pra mim. Foi só uma troca de olhares, mas pude sentir muita coisa a partir dela.

Rapidamente, joguei o pão na direção dela, e caminhei em direção à porta da padaria.