Em algum lugar...

Os passos do garoto eram abafados perante a grande quantidade de terra por onde este passava. A cada pedaço considerável de caminho trilhado, Jin olhava atentamente ao seu redor. Novamente, nada que este não tivesse visto durante as últimas horas, pelo menos era o que ele achava, já que não se tem uma noção do tempo quando se está perdido. Terra, poeira e nada, além disso.

Estava começando a fazer um grande calor por ali, pois o Sol já estava triunfante no alto do Céu. O ruivo se sentou e tirou a camisa que usava esta já estava gasta, suja e bastante rasgada. E, aos poucos, o calor que o rapaz sentia fora diminuindo enquanto gotas de suor escorriam por seu rosto.

- Eu vou é acabar morrendo...

Ele analisou com desanimo a caixa de poções. Estava com a metade da quantidade original, e parecia que o efeito da última poção tomada estava chegando ao fim.

Rapidamente, Jin tomou em mãos um frasco do líquido, retirou a rolha que o tampava e, sem hesitar, virou a poção goela a baixo. A sensação de queimação veio logo, mas saiu do mesmo jeito que veio, dando lugar ao prazer. Logo o ruivo se levantou, amarrou a blusa na cintura e continuou seu caminho rumo ao desconhecido.

O tempo foi passando e passando, até que o dia deu lugar a noite.

Como de costume, Jin olhava ao seu redor, já perdendo as esperanças de encontrar algo. Parece que este havia se enganado, pois achou o primeiro sinal de vida, ou melhor, dizendo, sinal de morte.

Havia corpos de Goblins no chão, juntamente com vários pedaços de armaduras e restos de uma estrutura que antigamente formava os muros de um castelo. O ruivo fora andando pelo rastro de destruição, atento para qualquer coisa.

Algo espantou o lutador por um momento: um grande corpo jazia no chão, estirado. Era negro, e suas grandes asas alongavam-se pelo território. Jin fora andando ao lado do corpo, e parou diante de algo que deveria ser o rosto da criatura.

Era o Amon Negro, sem dúvida. Isto sinalizava que o ruivo já se encontrava fora das terras de Xênia, estava em Ellia. O problema é que, mesmo já tendo feito algum progresso, o garoto ainda não fazia idéia de como iria encontrar um curandeiro que o ajuda-se a voltar a saúde normal.

- Maldito Sieghart... – praguejou por mais uma vez. A raiva estava mais que presente no jovem.

Jin não conseguia encontrar um bom motivo para que este fosse descartado da Caçada. Mas não importava agora... ele precisava encontrar um meio de se curar, para que sua vingança acontece-se o mais tardar possível.

Também era necessário um meio de se proteger ali, afinal, Ellia era um continente grande e não fora totalmente explorado pela Caçada quando esta passou por ali. Poderia haver monstros desconhecidos por aquele local, ou proximidades, ao fim qual seria o sentido de se curar se já estivesse morto antes de achar um meio para tal?

Poderia usar sua força, mas não confiava muito em seu corpo no estado atual... necessitava de uma espada, algo do tipo. Jin olhou ao redor, por todos os lados, procurando uma arma.

Nada além de uma adaga enferrujada e pedras...

O ruivo então fora se sentar na grande criatura morta ali, porém, algo o despertou antes de poder o fazer.

O chifre de Amon Negro era pontiagudo, perfeito para ser usado como uma arma provisória. Sem hesitar, Jin pegou a adaga enferrujada e rapidamente a fincou na cabeça da criatura, virando-a para o lado, retirando o pedaço de carne preso ao chifre que caíra ainda ensangüentado.

O excesso de carne fora retirado pela adaga, que logo depois fora descartada. O chifre fora colocado junto de seu cinto, de um jeito que fosse rápido sacá-la se necessário.

- Acho que não é tão difícil chegar a um vilarejo por aqui, em um dia, talvez, eu ache um curandeiro...

O jovem parou por um minuto, e riu consigo mesmo.

- Jin, Jin... você deve estar começando a ficar maluco... - Ele apenas pegou sua caixa de poções, ajeitou o chifre do demônio e continuou a andar, em busca de um curandeiro - Como se eu já não fosse...

Tarde da noite, ainda em um lugar desconhecido...

O sono já estava começando a tomar conta do lutador. Mas, era preciso continuar a andar para aproveitar o tempo o máximo possível, achar um curandeiro... em pensar, que se Sieghart não tivesse enxotado Jin do grupo, estas preocupações não existiriam. Enfim, elas existem, e precisam ser resolvidas.

- Que sono... – murmurou-o abrindo a boca em um longo bocejo e logo esfregando seus olhos para mantê-los abertos por mais tempo. Podia sentir suas pálpebras mais pesadas, e sua respiração abaixando...iria começar a dormir. Iria, se algo não o impedisse para tal.

Um pequeno buraco estava diante do ruivo e este, com todo o seu sono, não percebera tal má formação do relevo que o levaria há uma longa e dolorida queda. Por fim o ruivo acabara por ganhar um dolorido tombo para dentro do buraco.

O jovem lutador fora rolando e rolando... Este podia sentir as pedrinhas irem cravando sua pele aos poucos, e quanto mais rolava, mais eram as pedras. Parecia que não havia fim, aquele buraco era um grande barranco, ou então, a entrada do infinito...

Até que chegou uma hora em que este finalmente parou. Aos poucos o ruivo foi se levantando... as dores musculares de quando acordou na barraca foram voltando conforme este foi se levantando. O braço estava cheio de pedrinhas, assim como suas pernas e o seu peito.

- Caraca, que queda... ai...

O ruivo fora retirando pedrinha por pedrinha. Quando acabou, foi verificar os frascos da poção e o chifre do Amon.

O chifre estava O.K. Mas as poções....

- Minhas costas estão mais leves... ah, não...

Ele sentou rapidamente, e fora logo retirando a mala onde se encontravam as poções. Ali, só havia o líquido dela derramado, e alguns pedaços de vidros... não restara nenhuma poção.

- Ferrou... E agora?

Jin se sentou, encostado na parede da caverna. Refletiu sobre o que poderia fazer agora, já que a única coisa que poderia deixá-lo vivo, tinha ido embora.

O ruivo cogitou em se matar, já que iria morrer de qualquer jeito.

Seria simples, apenas iria provocar um ferimento mais grave em si próprio e em seguida era apenas esperar a morte chegar, e tudo iria embora... preocupações, dor.... nada disso importaria. Morreria ali, em um lugar isolado, ninguém descobriria.

Fora então, que este ouviu uma voz, um pouco grossa, porém suave. Uma luz dourada brilhava intensamente frente ao ruivo, e parecia que era dali que provinha tal voz.

- Não desista, Jin... - Disse a voz vinda da Luz. - Não pode desistir de seu objetivo assim...

- Eu estou ficando maluco... - Disse o ruivo, olhando para cima com desânimo. - Estou até vendo uma luz falar comigo... Devo ter engolido coisa errada enquanto escorregava...

- Haha, não, não está louco. – Disse a voz, bondosamente. - Por que não tenta continuar? Ache uma saída. Afinal, se tiver que morrer, pelo menos tentou.

Jin se espantara ao ver que o brilho foi diminuindo conforme o tempo passava, e dava para se distinguir uma silhueta de um homem. Era alto, e um sorriso se fazia presente em sua face. Seus cabelos eram rebeldes, e um rabo de cavalo era preso com uma fita com as marcas do Yin-Yang. Tinha um bom porte físico, e carregava um bastão nas costas.

- Quem é você?

- Logo saberá. Agora, eu realmente aconselho que você tente continuar, afinal, é sempre nobre lutar pelo seu objetivo, seja ele qual for...

Ele apenas deu um sorriso largo e seu virou. Começou a andar, e então, virou-se rapidamente.

- Ah... não se esqueça. Eu poderei fazer umas visitas a você quando mais precisar. Até mais, jovem guerreiro.

Jin apenas piscou, e a luz com forma de homem havia se dissipado.

Estaria ele louco, ou aquilo realmente havia acontecido? Se estivesse louco, não faria diferença. O lutador pensou um pouco, e se a luz tivesse razão? Afinal, se achasse uma saída, poderia sobreviver e seu plano poderia seguir em frente.

O ruivo olhou em volta já se pondo de pé e começando a andar para procurar uma saída daquela caverna. Ele tateava as paredes lentamente, afinal, as dores ainda se faziam presente e não iriam embora de jeito nenhum.

Até que, para a alegria do mesmo, havia uma escada, cheia de teias de aranha e desgastada,  parecia que ninguém havia mexido nela por um tempo.

Com muito esforço, este deu um impulso para que sua perna encostasse no próximo degrau na escada, dando uma pausa para que recuperasse sua energia e voltasse a dar impulso para subir a escada. O rapaz jamais se imaginou tenso de fazer tremendo esforço apenas para subir uma escada... seu estado era lastimável. Quando ele finalmente chegara ao último degrau, havia uma luz saindo pelas frestas de algo que aparentava ser a do grande buraco.

Em algum lugar, um pouco distante dali...

Os guerreiros da caçada se lamentavam, e ainda se perguntavam por que Jin iria embora. Todos discutiam sobre o assunto, até que a ruiva, agora ao lado do Imortal, indagara mais uma vez a este.

- Sieghart... - Questionava a garota mais uma vez ao dito Sieghart - Você tem certeza que não disse nada de mais ao Jin? Quer dizer, ele estava exausto, todo ferrado... ele não iria simplesmente ir embora...

- Olha, Elesis... - Dizia o Imortal pela milésima vez à ruiva que já estava lhe enchendo a paciência - Eu já disse á vocês o que aconteceu. Eu só disse que estava muito contente em ele ter acordado e estar bem, e que se nós ficássemos mais um tempo aqui para cuidarmos dele acabaríamos nos atrasando...

- Viu! – Interrompeu a garota de cabelos arroxeados, fazendo que Sieghart bufasse alto. - Você o fez se sentir culpado por nos atrasar, e por isso ele foi-se embora!

- Mas ele era mesmo o motivo do nosso atraso! Enquanto estamos aqui, discutindo, o Deus Governante pode estar tramando algo para nós, algo que possivelmente acabe com os outros deuses! Ele se foi por que quis, eu não o mandei embora! Além do mais, ele só seria um peso, não iria fazer nada em nosso favor! Eu fiz o que alguém deveria fazer, e como capitão, eu fiz.

- Quem te elegeu capitão, espertalhão? – Disse o arcano, caçoando do moreno. - Você não pode simplesmente descartar um companheiro de equipe assim, como um objeto.

- Desisto! Vamos partir agora mesmo! Dá pra ver que são mesmo crianças, não entendem nada sobre esse mundo, sobre a seriedade da situação. Amigos vêm e vão, ás vezes é necessário fazer isso para atingirmos nosso objetivo. Hello, gente. Sejam bem-vindos ao mundo real... Mais amigos vão morrer se nós não controlarmos essa situação logo... Entendam. Eu não quero fazer isso, eu PRECISO fazer isso... Agora vamos embora.

Todos andaram com ele sem questionar... afinal o moreno conhecia mesmo o mundo real, mas descartar amigos era necessário? Todos achavam que não.

Estavam nervosos com Sieghart por ele ter feito aquilo sem o consentimento de ninguem, mas Jin também fora embora por que quis. O melhor agora seria torcer para que ele voltasse logo, mesmo sendo difícil, afinal, nas atuais circunstâncias em que ele se encontrava, a morte era o destino mais provável.

- Eu tinha me esquecido como pessoas são complicadas... - Disse o albino, mais afastado dos outros.

- Hunf, quem é ele para nos chamar de crianças? – Dizia Ronan, nervoso por ter sido assim chamado.

- Para ele, todos somos crianças. Afinal, quem não é criança quando se tem trocentos e sabe-se lá mais quantos anos?

Os dois riram sozinhos.

As garotas iam atrás do Imortal, que agora se encontrava sério, guiando os demais. Ia ser difícil continuar sem Jin, mas era necessário se acostumar à ausência do mesmo. Poderia haver novos membros, mas o ruivo jamais seria esquecido... principalmente pela rosada que fora sua primeira companheira antes de estes se separarem e ele entrar para a caçada.

Longe dali...

Jin retirava a tampa do buraco, podendo ver a luz do luar brilhando intensamente. O ruivo retirava o corpo inteiro do buraco, para poder observar o local onde estava.

Parecia ruínas de um castelo, um grande castelo. Devido as imensas estantes de livros que ali se encontravam caídas, o ruivo deduzira que estava no lugar que um dia fora uma biblioteca. Quando fora andar mais, este acabara por tropeçar em uma pilha de livros, fazendo com que ele batesse a testa em uma das poucas estantes de livros que estavam de pé. Um gemido de dor fora emanado por Jin quando sua testa teve contato com a estante, mas este gemido se prolongara quando vários livros caíram sobre o rapaz fazendo que o mesmo fosse de encontro ao chão.

Soterrado por livros, o ruivo decidira se levantar logo. Fora uma dificuldade para movimentar-se, mas este  conseguira depois de um tempo. Ele olhava ao redor enquanto esfregava nervosamente a nuca que ardia muito.

Uma luz penetrara por seus olhos, parecia aquele que ele vira na caverna embaixo de onde estava agora. Quando colocou a mão sobre os olhos para impedir que a luz os atingisse, deu para ver que era o reflexo da Lua batendo sobre as letras douradas na capa de um livro grosso de couro que se encontrava na pilha.

Tal livro chamou atenção de Jin, não só pelas letras chamativas, mas por elas estarem em uma língua diferente, inédita para o mesmo. Decidira guardar tal livro em sua mochila, podia ser útil se achasse alguém que soubesse qual era a língua.

Logo este resolveu dormir um pouco, afinal, só estava ali por causa de seu longo sono.

O ruivo arrumou alguns livros, fazendo um travesseiro improvisado por sobre uma estante de livros caída, que este resolveu usar como uma cama. Estava até confortável comparado ao chão que dormia nos últimos dias.

O ruivo parou um pouco para ver a Lua. Fazia uma linda noite, estrelada, sem nuvens... a Lua cheia... lembrava sua amada.

Onde estaria ela? A dançarina de seu coração? O que estaria fazendo?  Estaria bem? Todas essas perguntas não o deixavam sossegado, e vinham instantaneamente quando se lembrava de Amy. O ruivo apenas fechou os olhos, e tentou parar de pensar nela por um instante...

- Espero que eu a encontre ainda – murmurou para si mesmo.

Devia ser madrugada quando Jin acordara, ao ouvir barulhos suspeitos pelo local. Quando este abrira os olhos, viu um barulho de coisas sendo remexidas, e era isto mesmo que estava acontecendo.

Uma figura encapuzada mexia na mochila do lutador inquietamente, procurando algo.

Jin se levantou sorrateiramente e parou bem atrás do vulto. Rapidamente passou um dos braços pelo pescoço da criatura, mas para sua surpresa, não sentia o pescoço daquilo, apenas as vértebras da coluna da criatura. O inimigo que se surpreendera tentava seu máximo para se livrar daquela situação.

- Quem é você?

- L-Lich... o rei dos mortos...

- O que está fazendo na minha mochila?

- Você tem um livro que é muito valioso...

- Eu já imaginava... se me explicar direito quem é você, e o que é esse livro... eu te liberto.

- O-Ok....

Jin então soltou o ‘pescoço’ da criatura denominada Lich, e o sentou na estante em que ele dormia há um tempo. Pegou o livro de couro, e colocou sobre seu colo.

Cogitou a idéia de Lich tentar escapar usando algo, mas parecia assustado para tanto. Era um medroso para ser o ‘Rei dos Mortos’.

- Comece... quem é você?

Ele então começou a falar. Era um feiticeiro que sabia magia negra perfeitamente, melhor que muitos feiticeiros, melhor até mesmo que Elena...mas como não sabia usar ela ofensivamente, não tinha como ferir muito. Contou que fora contratado por Cazeaje, a rainha da escuridão, para ser seu Sacerdote, mas fora frustrado pela Grand Chase há um tempo atrás.

- Grand Chase é? Eu sou um guerreiro da Grand Chase... quer dizer, na época em que não era comandada pelo idiota do Sieghart... - Bufou Jin. Odiava se lembrar do imortal.

- Sieghart, o Imortal? – Disse Lich, surpreso.

- É... mas enfim, o que é este livro?

- Bem, ao julgar pela linguagem... é um diário Asmodiano.

- Asmodiano...?

- É... são os habitantes da outra dimensão. Enfim, existem alguns, que vêm até a nossa dimensão para nos observar, e traz diários como este para anotar tudo o que vêem. Existem uns que contêm muita coisa, coisas que nós nem cogitamos em pensar que existe. Este é um deles... contêm tanta informação que eu nem consigo ler direito... é uma enciclopédia, tanto desta como daquela dimensão...

- Bem... então, pode ser útil. Você consegue ler Asmodiano?

- Consigo... uma boa parte da língua...

Jin refletiu sobre a hipótese de levar Lich consigo, ele poderia ser um bom suporte e poderia ler o tal diário, dando a informação que quisesse. Com este diário, poderia estudar os melhores aliados para que seu plano fosse executado...

- Lich, quer se juntara mim? – indagou o ruivo, abrindo um largo sorriso em seu rosto.