Tia Adelayde prefere não falar sobre mamãe, talvez ela ache que é uma irresponsável que abandonou seus dois filhos sozinhos e desapareceu pelo mundo, talvez ela culpe-a também da morte de Andy, ou na verdade pode ser que ela sinta muita falta dela e por isso prefere não se lembrar. Tio Roger é outra historia, este tem uma opinião formada que não é lá das melhores, diz que mamãe estava cansada de cuidar de mim e minha irmã, que éramos muito pestinhas, e pos isso saiu pelo mundo para começar uma nova vida.

Eu e meus primos Richard e Leon escutávamos calados tudo aquilo, aquele negocio de resolver o que seria feito com a casa, as dividas que seriam quitadas com o dinheiro que ela deixou, no final das contas era sempre o mesmo, e se por a caso ela voltasse de onde quer que esteja? Então paravam, olhavam para mim e provavelmente pensavam: “Uma mulher que deixou os filhos sozinhos durante quatro meses e dentro dessa irresponsabilidade deixou a filha morrer voltaria para assumir a culpa?” Imediatamente voltavam a discutir sobre o que seria feito e descartavam a possibilidade, não que fosse por muito tempo.

–Para onde sua mãe foi? – Perguntava Leon.

–E a sua irmã? – Perguntava Richard.

–Já não disse para vocês dois não tocarem nesse assunto com o Charlie?

Tia Addy fazia o possível para que eu me sentisse bem, esquecer tudo aquilo não era fácil, e realmente queria saber onde estava mamãe, não sossegaria até saber.

–Tia Addy, posso ir ao o meu quarto? –Perguntei timidamente.

–Rich, mostre ao seu primo onde fica o quarto de visitas, de hoje em diante será o quarto dele.

Meu primo Richard era bem esquisito, sempre de cara fechada, vestia roupa xadrez e tinha um cabelo muito baixo. Subimos à escada e deixamos os outros na sala de estar, haviam quatro portas no alto da escada, Leon parou em frente a terceira e disse:

–É aqui o seu quarto, entre o meu e o do Leon.

–Que legal, seremos como vizinhos.

–É... Legal. –Falou enquanto descia as escadas.

Meu quarto era grande, mas estava um pouco empoeirado. Meus tios não recebiam visitas há um bom tempo, pelo menos era o que parecia. A cama era grande, não chegava a ser uma cama de casal, mas era quase isso, bem diferente de meu antigo quarto que eu dividia com a Andy. Havia também um grande closet com portas de madeira, um espelho, uma penteadeira, era tão estranho um quarto sem televisão.

Sentei-me na cama e fiquei observando o grande jardim pela janela, ao longe podia avistar a arvore onde fizemos o piquenique no ultimo verão, a saudade batia e a nostalgia não me deixava pensar em mais nada.

Alguém bateu na porta interrompendo minha viagem ao passado.

–Querido, venha tomar o chá da tarde. Estamos te esperando...

“Hora essa” – Pensei eu – “Porque não me avisou antes de eu subir?”

Desci as escadas correndo.

Sentados na poltrona estavam meus tios e um homem estranho, e perto da mesa estava Richard se acabando nos cookies de chocolate.

–Este é o Sr. Gradaneli, ele esta cuidando dos papeis de sua adoção. – Falou tio Roger.

–Vocês vão me dar para adoção?

–Não querido, nós iremos te adotar. –Disse tia Addy correndo para me abraçar.

–È Isso mesmo, você vai ser meu irmãozinho.-Disse Leon, enquanto me sentava ao seu lado

Richard vinha trazendo a bandeja com o bule de chá e as xícaras.

–Estão servidos? - Disse com um sorriso amarelo.

Ao se aproximar do Sr. Gradaneli, tropeçou na mesa de centro e derrubou tudo sobre ele. Tive a estranha impressão de que foi de propósito.

–Meu deus! Desculpe-me Sr. Gradaneli!

–Saia de cima dele Rich! – Gritou tia Addy.- Vão para o quaro agora!

Observei enquanto subia as escadas que tio Roger dera uma nota de dez para Leon com um sorriso irônico no rosto, então tive certeza que foi proposital.

Entrei no meu quarto e comecei a tirar a roupa, já que o chá tinha espirado em mim e em todos também.

–Que corpo magro você tem garoto. – Falou Andy saindo do closet.

–Andy? –corri para abraça-la mesmo sem roupa.

–Eu não me chamo Andy! –Falou a garota me empurrando.

Percebi então que estava sem roupa, corri para a cama e puxei o lençol para cobrir-me.

–Então quem é você?

–Eu me chamo Melissa...você quer que eu volte para o armário para você se trocar?

–Eu agradeceria.

A garota se fechou no armário.

Empurrei então a penteadeira para frente da porta, com a intenção de que ela não saísse de lá, e corri escada a baixo gritando por Tia Addy.

–Menino! Porque você esta pelado?

Sr. Gradaneli ficou me encarando.

–Tem uma garota no meu guarda roupa!

–Uma garota?!

Subi as escadas correndo e tropeçando no lençol, Todos eles me seguiram até o quarto.

–Ali! –apontei.

Tio Roger tirou a penteadeira da frente do armário e abriu o closet.

–Onde está a tal menina?

Olhei para todos os lados, mas não consegui ver em lugar nenhum.

–Isso não é bom. – Falou com tom de negação Sr. Gradaneli.