Becky’s POV

Jimmy me ajudou a arrumar as coisas antes de ir embora, até porque, minha mãe chegaria daqui a pouco e se ela visse roupas jogadas no chão e dois corpos nus deitados no sofá, ela surtaria.

Eu o acompanhei até a porta quando ele estava indo embora.

-Até amanhã então? –ele perguntou

-Até amanhã – respondi.         

Ele me beijou e foi embora.

Aquilo foi algo. O que significou para mim, havia significado o mesmo para ele, disso eu tinha certeza.

O tempo passa.  Os dias se transformaram em meses muito rápido. Eu quase não falava mais com Alice, pois ela me evitava. Os rapazes já haviam escrito algumas músicas e se apresentavam em bares locais com um som bem metalcore. Val estava promovendo a banda e não deixava nenhuma oportunidade de apresentação passar. Todos estavam felizes bebendo cerveja e escrevendo músicas. Jimmy e Matt foram expulsos do colégio (eu até achei que demorou) e desistiram de estudar para se dedicarem inteiramente à banda, mas Jimmy me buscava na porta da escola todos os dias. Um dia, enquanto voltávamos para casa de uma tarde no bar, ele me contou como andavam os ensaios e como ele estava gostando de tocar com seus melhores amigos.

-É incrível. Eu já havia criado minhas batidas, e agora posso tocá-las livremente e... – ele parou de repente – por que você tá me olhando desse jeito?

Eu não havia percebido, mas o fitava maravilhada.

-Nada, é só que é tão bom ouvir você falando assim, poder ver que você está realizando seu sonho. Ver que tudo está dando certo.

-Não é só isso – ele disse – você parece preocupada.

E eu estava mesmo, mas não queria admitir.

-Não é nada. Só que... Eu vou para a faculdade Jimmy e você, muito provavelmente, vai continuar fazendo turnês, logo elas se tornarão mundiais e aí...

-Você se preocupa à toa, sabia? – disse ele me beijando – Teremos tempo. Eu posso ser um baterista muito foda e ainda – ele me beijou de novo – continuar passando tempo com você.

-Você é pouco convencido, não é? – disse.

-Só um pouquinho – ele respondeu e me beijou outra vez. – Mas e você – ele perguntou – Já sabe onde vai fazer sua faculdade de fotografia?

-Eu andei pesquisando. Com certeza não vou estudar aqui em Huntington Beach – dei uma risada – não há muitas faculdades de fotografia nesse lugar.

-Quer ajuda na pesquisa? – ele perguntou sorrindo.

-Ah, eu acho que não – eu dei um soco em seu ombro e ele me beijou – eu sei me virar. Não acredito que já vou para a faculdade. É tão... Estranho.

-Ainda bem que eu não vou – disse ele dando uma risada contagiante. – Hey, eu disse que os rapazes e eu temos “nomes artísticos” agora?

-Mas já? – perguntei fingindo surpresa.

-É, sua boba. Já. - ele respondeu.

-E quais são?

-Bom, pode chamar Matt de M. Shadows, Brian de Synyster Gates, Zacky de Zacky Vengeance e Johnny de Johnny Christ.

-Uau. São legais, mas e o seu?

-Srta. Rebecca Johnson pode me chamar de The Reverend Tholomew Plague. Ou só The Reverend. Ou só The Rev.

-Eu gostei, mas fico com o Jimmy – disse sorrindo.

-Ah – ele fez uma cara triste – eu gosto tanto de como “The Rev” soa bem... – e deu uma gargalhada.

-O que mais? – perguntei.

-O que mais o que? – ele perguntou confuso.

-Sobre a banda, né!

-Ah – ele deu uma risada – a Val está nos ajudando tanto. Pegamos uma grana emprestada pra gravar um demo, mas parece que estamos perto de um contrato com uma gravadora. Estamos escrevendo o álbum.

-Uau, Sr. James Sullivan, quem diria ein?!

-Pois é, Srta. Rebecca! – ele riu e me abraçou. Seu abraço era a melhor coisa do mundo.

Ele me deixou na porta de casa e disse:

-Amanhã você vai assistir o nosso ensaio, tudo bem?

-Ah, que privilégio – disse sorrindo – tudo bem.

Ele me beijou e foi embora. Entrei em casa, comi qualquer coisa e me larguei no sofá. Adormeci rapidamente, mas o sonho que se seguiu estava mais para um pesadelo. Havia uma moça alta, de cabelos muito desfiados e roupas um pouco surradas no que parecia um mercado. Era incrível como aquela moça se parecia... Comigo, exceto é claro, pelo fato de ela ter na faixa de uns 27 anos. Não podia ser.

A moça saiu do mercado com sacolas carregadas, coloco-as no carro e saiu dirigindo parando em um conjunto de prédios. Ela pegou as sacolas e foi em direção à portaria.

-Boa noite, Sra. Rebecca – disse o porteiro.

-Já disse para me chamar somente de Rebecca, Paul – ela respondeu sorrindo

-Me desculpe então – disse o tal Paul sorrindo e abrindo os portões para a moça entrar.

Ela entrou no elevador que subiu rapidamente ao seu apartamento.

Quando chegou, se deparou com uma cena que a fez pular. Havia um corpo estatelado no chão, imóvel.

-Jimmy – a moça gritou nervosa, parecia que não queria acreditar no que estava vendo. Não podia ser... – Jimmy! Tem um corpo jogado no nosso apartamento – disse dando um riso muito nervoso. Ela tremia. Quase não conseguia ficar em pé. Eu senti um aperto muito fundo no coração. Eu sabia quem era jogado no chão. Não podia ser.

A moça se aproximou do corpo, o virou e caiu em lágrimas. O corpo era de um rapaz alto cheio de tatuagens, cabelos pretos e piercing abaixo do lábio inferior. Mesmo com essa aparência, era impossível não saber pelo seu rosto quem era.

 Senti como se uma faca tivesse atravessado meu coração várias vezes. A moça se deitou sobre o corpo procurando ouvir os batimentos cardíacos do rapaz, mas não havia batimento algum.

Eu senti uma onda de pânico me invadir. Não podia ser. Não! Não! Não era verdade! A moça continuava a chorar em cima do corpo, mas não havia mais nada a ser feito. James Sullivan estava morto.

Eu acordei suando frio e chorando como uma criança indefesa. Foi só um pesadelo. Só isso.