Jimmy’s POV

-Vocês o quê?!

Eu, Brian, Matt e Val estávamos na aula de filosofia. Não acredito no que eles tinham acabado de fazer.

-Relaxa Jimmy – disse Matt – a gente sabe que você está interessado nela, então só fizemos um convite...

-Que ela aceitou – completou Brian.

-Vocês são... são...         

-Seus melhores amigos e você está nos agradecendo por ter chamado a Becky pra sair com a gente hoje, nós sabemos – disse Matt sorrindo.

Eu o ignorei. Não sabia se sentia raiva ou gratidão. Agora a coisa já estava feita. Droga! Eu devia estar com uma cara muito feia, porque Val se levantou do lado de Matt e veio falar comigo. Ela fazia isso sempre que percebia que algum de nós estava triste ou com raiva.

-Não fica assim, Jimmy – disse ela.

-Tá, tudo bem – respondi e ela saiu.

Claro que eu não queria e nem prestei atenção na aula. Minha cabeça latejava.

O sinal para o intervalo tocou e eu fui o primeiro a deixar a sala de aula. Tinha que encontrar Becky e dizer a ela que tudo não passava de um mal entendido, mas eu não queria fazer isso. Não Jimmy, não seja filho da puta, fale com ela. Ok. Eu estava a meio caminho do pátio (seria intervalo agora) quando senti mãos me segurarem pelo braço.

-Não, não. – era Matt – Onde você pensa que vai?

-Falar com a Becky. Dizer que vocês são dois viados e que ela não precisa matar a última aula pra sair com a gente – eu disse.

-Negativo Sr. Sullivan, – disse Matt fingindo tom sério – o senhor vai permanecer conosco o intervalo todo. A Srta. Becky sairá com a gente hoje.

Que MA.RA.VI.LHA! Matt me arrastou para o intervalo onde encontramos o resto do grupo. Todos falavam animados, e é claro, já estavam sabendo o que havia acontecido. Apenas uma pessoa não estava muito animada com a idéia.

-Eu não achei legal vocês terem convidado essa tal de Becky pra sair com a gente hoje, – disse Leana – nem Jimmy queria que vocês tivessem a convidado, não é Jimmy?

-Quê? É, é sim.

Ela revirou os olhos. Continuaram a conversa, felizes da vida. Enquanto eu fitava o nada, Becky passou e olhou em minha direção. Estava com o mesmo jeans surrado da última vez, um tênis meio sujo e... Espera. Aquilo era uma camiseta do Slayer?! Ah, cara. Ela gosta de Slayer? Seus cabelos muito desfiados estavam meio bagunçados. Ela me fitava com um olhar assassino, como se dissesse “você e seus amigos vão pagar muito caro pelo que fizeram”. Eu estava me levantando para ir conversar com ela quando senti a mão de Matt me puxar.

-Não, não e não! Que foi que eu disse? Você fica aqui. – disse ele.

-Mas eu só quero conversar com ela, Matt...

-Não. Você vai estragar tudo. Se contente em olhá-la daqui.

-Ótimo – disse sem tentar disfarçar minha raiva.

Quando o sinal tocou, Matt, Brian e Zacky fizeram questão de me escoltarem para que eu não fosse em direção à Becky. Minha próxima aula era com eles, porém, fiz questão de ignorá-los. Sentei ao fundo da classe, fechei os olhos e tentei me concentrar em qualquer coisa. Infelizmente, o “encontro” que ocorreria em algumas horas não saía de minha mente.

Quando o sinal da penúltima aula tocou, eu saí da sala andando um pouco rápido demais. Quando cheguei ao muro que pularíamos para ir ao bar, todos já estavam lá, exceto Becky. Será que ela não vinha?

-Ah, fala sério. – disse Leana – Nós vamos mesmo esperar ela?

-Cala a boca, Silver – disse Brian.

Tenho que dizer, eu estava muito ansioso. Ou Becky estava demorando muito, ou o tempo estava passando muito devagar.

-Caralho, cadê essa menina? – perguntou Zacky que estava ao lado de Gena. Tem alguma coisa rolando entre esses dois...

-Calma galera, - disse Matt – logo ela aparece...

Mal Matt terminou a frase e Becky vinha vindo em nossa direção, seus cabelos esvoaçando contra o vento fraco que batia neles. Ela se aproximou de nós, lançou um olhar reprovador à Matt e Brian e uma cara feia à mim.

-Bom - começou Matt ignorando o olhar de Becky – hora das apresentações. Becky, esses são Johnny e Lacey, Zacky, Gena, Brian que você já conhece, e Michelle, essa aqui é a Val e aquela é Leana.

-Oi – disse Becky, e eu percebi que ela estava se esforçando muito para ser educada.

-Bom – eu disse rapidamente antes que Becky perdesse a postura e começasse a bater em todo mundo – vamos indo?

-Certo Becky. Nós vamos pular esse pequeno muro rumo à liberdade, bebidas e rock. – explicou Matt – Vamos primeiro para você ver como é, e depois o Jimmy aqui – e piscou para mim – te ajuda a pular. Vamos logo porque daqui a pouco aparece algum filho da puta pra estragar tudo.

Matt ajudou Val a pular, seguido de Brian e Michelle, Johnny e Lacey e Zacky ajudando Gena. Sobrou para mim ajudar Becky e Leana a pularem. Primeiro dei suporte à Becky, que conseguiu pular o muro com facilidade. Ajudei Leana e logo em seguida pulei também. Em poucos minutos, já havíamos chegado ao Bar do Johnny.

Becky’s POV

O tal Bar do Johnny era um lugar pouco iluminado, com uma mesa de sinuca ao centro. À volta, havia mesas redondas com algumas cadeiras e, à frente, havia uma bancada, onde atrás, havia um homem preparando bebidas. Devia ser o tal do Johnny. O grupo juntou algumas mesas e se acomodaram. Eu me relutei a sentar, porque o único lugar vago era ao lado do Sullivan. Sanders pediu algumas cervejas para o garçom que as trouxe no instante seguinte. Logo, todos estavam conversando sobre eles mesmos, seus planos, tatuagens e coisas desse tipo. Claro que eu estava totalmente por dentro dos assuntos. Claro que estava.

-E você, Becky? – perguntou uma das garotas, Gena. Ela deve ter percebido minha expressão de “estou boiando no assunto galera, mas continuem”. – O que você gosta de fazer?

Todos estavam me fitando com interesse em suas expressões. Eu devo ter ficado muito vermelha, porque algumas das garotas riram.

-Eu, bem... Eu gosto de ler. Gosto de bandas como Metallica, Slayer, Queen, Iron Maiden, esse tipo de banda. Gosto de tatuagens, mas sou muito medrosa pra fazer uma – dei um sorriso nervoso – e acho que é só isso.

-Que interessante – disse Haner.

Logo todos voltaram a conversar. Eu estava muito distraída tomando alguns goles da minha cerveja, quando uma frase da conversa dos rapazes me chamou a atenção.

-... Então, vocês vão entrar na banda ou não? – era Sanders.

-Banda? – eu interrompi a conversa de repente – Ah, desculpe.

-É Becky, – disse Sanders – banda. Eu e o Zacky estamos montando uma e queremos que Brian, Jimmy e Johnny participem, mas eles não se decidem.

-É mesmo? Vocês tocam? – perguntei.

-Eu toco um pouco de guitarra, – disse Brian – Johnny toca baixo e Jimmy bateria.

-É – disse Jimmy – mas eu não vou entrar em uma banda com um nome desses, Matt. Não mesmo.

-O nome é tão ruim assim? – perguntei.

-Eu não acho. – disse Matt e deu de ombros – Mas parece que eles não gostaram muito.

-E qual é?

- Successful Failure.

-Ah, - respondi – é legal.

Depois disso, eu me entrosei um pouco mais na conversa. Eles não eram tão idiotas quanto eu pensava. Quando terminamos, Brian e Matt estavam um pouquinho bêbados. Tomamos caminho rumo ao portão da escola e dali, cada um iria para sua casa. Todos se despediram até que só havia sobrado eu e James na calçada.

-Olha... – começou ele – Me desculpe. Não fui eu quem disse para eles te chamarem pra ir ao bar com a gente.

-Ah, tudo bem. – eu disse. Por algum motivo, não conseguia fazer com que minha voz soasse agressiva. – Eu vou para casa.

-Ah, espera – disse James – eu posso te acompanhar. Se você quiser, claro.

-Ah, você acha que eu vou deixar James? Se você descobre onde é minha casa, você irá até lá todos os dias só para me perturbar. – e dei um sorriso.

-Não vou – respondeu ele – e pode me chamar de Jimmy.

-Tudo bem. – respondi dando de ombros.

Me permitam dizer que, entre voltar para casa sozinha e voltar acompanhada nem que seja pelo Sullivan, eu prefiro voltar acompanhada. Nós fomos o caminho todo conversando sobre bandas que tínhamos em comum e algumas que ele conhecia e eu não. Ele me contou sobre como aprendeu a tocar bateria, sobre suas músicas favoritas e eu escutei pacientemente. Contou que havia sido expulso de algumas escolas antes de vir parar na Huntington Beach. Ele era do tipo louco e engraçado e eu estava gostando de passar aquele tempo com ele. Porra.

Quando chegamos, eu me senti vazia. Fiquei triste porque só o veria de novo amanhã. Mas o quê?!

-Você não quer entrar? – perguntei.

-Ah, embora esse convite seja tentador, eu passo. Fica para a próxima. Eu vou voltar mais vezes mesmo, ele sorriu quando disse isso.

-Tudo bem, até amanhã então.

-Até amanha – disse ele e me deu um beijo na bochecha. Senti meu rosto ficar quente. Abri a porta, entrei em casa e me larguei no sofá. Fiquei pensando sobre a minha conversa com Jimmy enquanto voltávamos e me peguei sorrindo meio boba. Eu me sentia estranha. Não me sentia daquele jeito há um bom tempo. Acho que já sabia o que estava acontecendo. Eu tinha quase certeza de que estava gostando do Jimmy.