O sol já estava alto no céu. Brilhava animado com aquele novo dia, mas era eventualmente oculto por fofas nuvens brancas que pareciam velejar naquele céu azul. A brisa era fraca e levava consigo um perfume misto das flores no jardim e uma pétala ou outra que acabava por se desprender de sua flor. O café da manhã estava posto na varanda, como de costume. Sucos, café, bolos e doces diferentes para prepará-los pro dia. Era uma maré de tranquilidade que deixava todos contentes, pequenas férias. Mesmo assim todos tinham seus hábitos.

Sharon, a Lady da casa Rainsworth, estava sentada com uma xícara de porcelana fina em mãos. Apreciava o aroma doce do chá fresco e quente, suspirando sem pressa alguma antes de outro gole. Break estava próximo à ela com um prato em mãos. Neste prato havia dois bolinhos de cada um dos cinco tipos disponíveis e mais chocolates especiais que estavam ali para ele. Degustava sem pressa enquanto a boneca Emily balançava em seu ombro em silêncio, tranquila como o dia.

– Sharon-chan, Break, bom dia.

Seu sorriso disputou com o sol por um momento. Sempre tão radiante, puro e gentil Oz se aproximou de uma das cadeiras, puxou e sentou. Seu belo sorriso foi retribuído por Sharon, como sempre, e por Break... Mas Xerxes devolveu com um sorriso sinistro de canto de boca.

Tudo estava bem e tranquilo. Oz se serviu, apanhou uma xícara e contemplou o momento. Silêncio, tranquilidade, a mesa organizada... Parecia utópico, pensou ele. Seu sorriso verteu em uma expressão confusa. Pressionou os lábios e passeou pelo lugar com seus olhos verdes claros, até que Emily fez a pergunta à que ele logo chegaria.

– Onde estão os dois idiotas barulhentos? - Questionou a boneca com "sua" voz esganiçada e estranha.

– Verdade... Alice não costuma perder refeições. - Disse Oz lentamente. - E o Gil costuma garantir que ela venha...

Sua voz morreu aos poucos enquanto falava. Os dois andavam estranhos perto um do outro e agora sumiram. Juntos. Uma sensação quente e corrosiva se manifestou no estômago de Oz. Ele se levantou e sorriu, mas desta vez a luz não veio junto. Era um sorriso hesitante, temeroso.

– Bom, eu vou procurar os dois, fico com medo de acabarem se machucando, ha ha ha.

– Claro Oz-sama, esperaremos aqui, certo Break?

– Certamente... Mas Oz. - Break andou calmamente até ele e colocou a mão livre sobre seu ombro, sussurrando sem perder o olhar tranquilo e despreocupado - Cuidado para não se deparar com algo que não quer ver.

Oz o encarou em silencio por poucos momentos antes de rir um pouco e agitar a mão como quem ouve uma piada. Mas Break tinha razão, ele podia se deparar com algo que não estivesse pronto para lidar. Mas decidiu deixar o pensamento de lado e seguir pelos corredores em direção ao quarto de Alice. Deteve-se diante da porta e bateu três vezes.

– Alice, você não devia estar dormindo até essa hora. Ei, Alice...

Quando foi bater de novo a porta se abriu com o toque, revelando o quarto vazio. Oz suspirou. Ela não estar ali era ruim, muito ruim. O próximo destino seria o quarto de Gil, que ficava do outro lado da mansão. Caminhou com as mãos nos bolsos na direção oposta à que veio. Muito se passava por sua cabeça naquela hora, mas ele optava por não dar atenção à seus pensamentos. Eram desconfortáveis e indefinidamente dolorosos, e ele sabia que era só coisa da cabeça dele. Tudo tem explicação.

Chegou ao quarto de Gilbert e encarou a porta em silêncio. A franja dourada caía um pouco em seus olhos momento ou outro, mas não era nada demais, um movimento de sua cabeça fazia os fios voltarem para o lugar. Ergueu a mão para bater na porta, mas não o fez. Ficou ali parado com a mão erguida por algum tempo. Tinha medo de prosseguir.

Ele não queria.

Deu as costas para a porta e saiu andando pelo corredor... Podiam não ir tomar café da manhã só um dia. Provavelmente a Alice saiu pra ir até a cidade e se divertir por lá e Gil está dormindo, os dois tendo atividades realmente independentes um do outro. Ele estava se preocupando à toa.

– Oz-sama? - Murmurou a voz doce vinda da outra ponta do corredor. - Você está bem?

– Sharon-chan? - Voltou de seus devaneios com uma expressão cansada e um sorriso forçado. - Já estava voltando...

– Achou os dois?

– N-não eu... Eu achei melhor eu... Bom...

Não sabia o que dizer, não queria contar quais eram suas preocupações infantis para alguém como a Sharon, tão bonita e importante pra se preocupar com suas bobagens. Ela se aproximou calmamente e ergueu as mãos que antes estavam descansando sobre o tecido rosado de seu belo vestido e segurou as mãos dele. Sorriu com sua tranquilidade infinita e doçura sobrenatural para ele.

– Você parece preocupado, por isso vim atrás de você. Sente-se um pouco Oz-sama... Você está tremendo.

– E-estou?

Ela o conduziu até o hall de convivência do andar, similar à sala antes da varanda, mas sem a varanda. Era um espaço grande com sofás em volta de uma mesinha de madeira e com uma lareira grande no canto. Sentaram lado a lado. Sharon parou com postura, as mãos delicadas sobre o colo, enquanto Oz sentou e apoiou a cabeça no encosto de forma que olhasse pro teto. Sharon ainda voltou a segurar uma de suas mãos envolvendo-a com as próprias.

– O que te preocupa? - Ela se aproximou um pouco com um sorriso contido.

– Bom... - Endireitou a postura e olhou para Sharon. Estavam tão próximos, ela segurava sua mão, não pode deixar de corar um pouco. Desviou o olhar com um sorriso bobo - É que os dois sumiram e eles... Estão estranhos ultimamente. Um com o outro... Parece até que não existo.

– Já falou com eles sobre isso?

– Bom, não... Sim, um pouco. Falei com a Alice, mas o Gil passou e ela se afastou... Foi realmente estranho.

– Oz-sama... - Sharon encarava o semblante triste dele enquanto falava. Podia ver a avalanche de preocupações prestes a acontecer em seus olhos, não gostava de vê-lo infeliz. Seu sorriso era lindo, merecia brilhar sempre. Afastou uma das mãos de mão dele e a levou ao rosto do garoto alisando delicadamente sua bochecha. - Não se preocupe demais.

– Sharon-chan...

Os dois se calaram. Os olhos rosados e serenos contra os verdes e puros. Por um momento Gilbert e Alice escaparam da cabeça de Oz e partiram para longe, e ele viu o que havia diante dele. Sentiu a mão dela acariciar seu rosto, assim como sentiu suas bochechas corarem ainda mais... E o mesmo aconteceu com ela. Tomado pelo impulso ele se aproximou dela, e levada pela situação ela se aproximou também dum jeito que os dois se encontraram no meio do caminho unindo silenciosamente seus lábios.

Um toque delicado. Os dois tinham os olhos entreabertos e se viam sem se sentirem estranhos por isso. Oz levou a mão livre ao rosto dela também, sem soltar a outra da mão dela. A respiração dela fazia cócegas, mas seus lábios era confortáveis e convidativos. O contato era tão meigo que não havia possibilidade de ninguém se sentir errado.