Alice Dreams escrita por Mikaeru Senpai


Capítulo 6
Let's just forget


Notas iniciais do capítulo

And join reality.
(Vamos esquecer e nos juntar a realidade)
Adorei escrever esse capítulo, divirtam-se!



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Aquele momento parecia não passar. Ambos estavam parados com os olhos voltados para os do outro. A franja de Alice tocava o rosto de Gil fazendo com que ele sentisse cócegas. Para Alice, por mais que Oz estivesse estranho com tudo aquilo e ela estivesse preocupada, naquele momento isso estava bem longe dali. No momento só existia o par de olhos tristonhos de Gilbert, de todas as coisas no mundo.

Nenhum dos dois tinha coragem suficiente pra se manifestarem. Não tinham nem força suficiente pra se afastarem um do outro. O tempo em que se observaram estáticos foi indefinido, mas longo. Arrastou-se de forma tão lenta que em determinado momento um deles se cansou de ficar em silêncio, calar-se em contemplação.

Não era como se algo assim nunca tivesse acontecido. Bom, não de verdade, mas enquanto dormiam já haviam estado um com o outro algumas vezes.

“Vai ficar ai parado olhando?”

O piscar do sonho naquele momento o tomou de forma repentina e ligeiramente brusca, preenchendo-o com o sentimento de que ela o provocara, e isso o deixava realmente aborrecido. Num movimento só ele trocou de lugar com ela de forma que seu chapeu ficasse ao lado da cabeça de Alice sobre a grama. O olhar dele era sério, mas hesitante. Não sabia bem o que fazer, mas sabia que não queria sair de lá sem que tomasse alguma atitude.

Os lábios de Alice estavam pressionados e ela tinha os olhos mais abertos que o normal, fixos nos dele. Seu rosto vermelho e seu olhar que mostrava que se sentia encurralada deixavam a cena realmente engraçada, já que nenhum deles retrocedia, mas nenhum deles também avançava.

– B-bom... – Murmurou ela com dificuldade olhando pro lado.

– B-bom o q-que?

– Você…

– Você... O que? – Questionou nervosamente se aproximando mais dela pra ouvir o que dizia.

– Er... Você...

– Eu o que?! Fala duma vez!

– Para de me pressionar!

– Então só fala e para de enrolar, enrolar e não dizer nada!

– Eu diria se você não fosse um idiota!

– Idiota é quem começa a falar, mas não termina!

– O que?! Como ousa! Idiota mesmo é você que tem essa sua mania idiota de-

E foi calada. Nenhum dos dois soube muito bem o que desencadeou aquilo, provavelmente foi que Gilbert cansara de ouví-la chiar e por tal decidiu fazer com que ficasse quieta. Selou seus lábios aos dela sem se mover depois, apenas o fez. Ela era uma idiota, sem sombra de dúvidas. Por que não calava a maldita boca às vezes? Agora estava quieta. Isso era ótimo, ela não falaria mais... “Tenho que mantê-la quieta...” foi a desculpa que ele decidiu usar quando moveu lentamente os lábios junto aos dela, acariciando-os de forma delicada e gentil.

Alice passou esse tempo com os olhos abertos, imóvel. Suas mãos estavam para cima, uma de cada lado de sua cabeça na grama macia. O sobretudo de Gilbert cobria ambos de forma que ali estivesse confortável e quente, o vento não tocava as pernas pálidas da menina. Ela respondeu ao movimento que o garoto iniciara. Aquilo era tão estranho, tão diferente dos sonhos. Era mais úmido, mas quente... Era melhor.

Nenhum dos dois sabia muito bem o que fazer, mas momento outro eles se lembravam de Oz... E era um pensamento estranho, afinal, ambos gostavam de Oz mais do que deveriam... Não gostavam um do outro, certo? Não podiam gostar um do outro.

– Gil...

Ela interrompeu com sutileza. Tinha o olha frágil de uma menina delicada – coisa que ela estava longe de ser, ao ver de Gilbert. A mão direita dela foi trêmula até a camisa dele, próxima ao colarinho, agarrando um pouco do tecido, mas não fez menção de movê-lo. Os olhos dele se abriram um pouco mais, indagativos, voltados aos dela. Alice virou o rosto vermelha e voltou a murmurar.

– Eu não gosto de você.

– Tudo bem. – Respondeu. – Eu também não gosto de você.

Voltou a unir seus lábios, mas por pouco tempo. Arrastou-os pelo rosto da menina até alcançar seu pescoço. Era quente, tinha um cheiro bom. Isso era estranho, ao ver de Gilbert. Como podia uma corrente ser tão perfeitamente humana como era aquela menina? Colocou a mão na nuca dela e ergueu um pouco, o suficiente para ter mais liberdade ao passear pelo pescoço de Alice. Seus dentes foram contra a pele delicada e sensível, arranhando com leveza, sem machucar, claro, mas proporcionando a Alice um arrepio tão intenso que um baixo gemido escapou de seus lábios.

A menina colocou as mãos sobre os braços de Gilbert, segurando com mais força que deveria. A proximidade, o calor. Chegava a irritar de tanto que ela estava gostando daquilo. Seus corpos estavam unidos. O peso do garoto não era incômodo, só era quente, confortável. Parecia que haviam sido feitos do mesmo molde de tal forma que era harmonioso. Assustador. A boca dele era macia e cômoda, queria permanecer daquele jeito o máximo que fosse possível. Começava a ceder aos impulsos. Suas mãos trêmulas cobertas pelas luvas brancas foram até o pescoço dele, mas ficaram lá por pouco tempo.

Gilbert se afastou e segurou a mão dela de forma que a dele a cobrisse. Puxou lentamente tirando a luva e a deixando escorregar para a grama depois. Repetiu o ato com a luva da outra mão, deixando o par junto. Alice estava tão vermelha que momento ou outro Gilbert ria apenas por se divertir com aquela expressão frágil. A menina seguiu o que ele fez, retirando suas luvas e deixando com as próprias. Segurou a mão dele por alguns momentos, exatamente quando uma corrente mais forte de vendo varreu o local em que estavam, levando consigo o chapéu de Gil.

Antes mesmo que ele visse, Alice o rolou pro lado e se levantou rapidamente, pondo-se a correr atrás do chapeu que era carregado para longe deles, indo para trás da mansão com certa velocidade. O garoto foi logo atrás dela, tentando alcançá-la e ao chapeu o mais rápido possível. Logo estava correndo ao lado da menina, e o objeto causador da situação dançava alegremente ao vento.

– Meu... Chapeu!

– Corre mais rápido! Estamos quase... A-ah!

Gilbert deixou de vê-la ao lado, e olhou para trás após a exclamação dela. A menina tinha tropeçado em uma pedra irregular e caído sobre o piso que consistia nessas pedras encaixadas. Estava debruçada no chão começando a levantar para retomar a correria quando Gilbert simplesmente estava ao seu lado. Ele segurou o braço dela e apoiou sobre seus ombros, passando o outro por baixo das pernas dela e a erguendo. Seus joelhos estavam ralados e machucados, mas nada realmente grave.

– E-ei! Como vamos atrás do chapeu assim? Você não vai correr rápido o suficiente comigo no colo, e nem eu! Olha lá, vamos perder de vista!

– Deixa pra lá.

– ... O que? – Ela parou e o encarou. Estavam muito próximos, ela podia observar a expressão serena de conformidade dele, e isso não fazia o mínimo sentido. – Gilbert, é o seu chapeu favorito...

– Não tem problema.

– Claro que tem! Depois você não vai achar e...

– Cuidar de você no momento é mais importante. Isso pode ficar feio depois.

– Você...

– O Oz me mataria se soubesse que eu deixei você se machucar a toa por causa do meu chapeu, então vamos entrar e eu vou cuidar dos seus joelhos.

– Gil...

Alice abaixou o rosto e ficou olhando para o caminho por onde passavam. Embora estivesse encostada no corpo dele, evitava contato visual. Estava realmente vermelha. Aquele idiota, sendo legal com ela. Passaram então pelo quarto dela, mas não entraram. Achou estranho. Ela tinha remédios no quarto dela também, por que não foram pra lá? Poucos passos depois ele se deteve diante do próprio quarto e abriu a porta.

O quarto era mais escuro que os outros, as cortinas estavam fechadas e as janelas também. Era confortável, arrumado. Alguns poucos livros num canto e numa escrivaninha, nada demais. Ele a deixou na cama sentada e foi até um armário, abrindo e tirando uma maleta de madeira escura de lá. Voltou para ela e abaixou a sua frente e abriu a caixa em questão, tirando alguns vidrinhos e tecidos de lá.

– O que você vai fazer?

– Limpar e cobrir seu machucado...

– Ah...

– Que foi?

– Nada. – Mentiu virando o rosto.

– Está com medo? Que foi? – Ele pegou um dos vidros e despejou um pouco de seu conteúdo num pano limpo.

– Eu? Medo? Nunca, eu não tenh... AH! – Gritou quando ele tocou seu ferimento com o tecido. Era gelado e doía, o que diabos era aquilo? – Para! Para! Para com isso! Ah!

– Para de dar show! – Ele usou a mão livre pra cobrir a boca dela. Ela se debateu, rosnou, rosnou até que viu que era inútil, ainda mais com o olhar dele sobre o próprio. – Assim fica difícil!

– Tá! – Replicou logo na sequência, e eles passaram a se encarar um pouco antes que ele desviasse pra voltar à limpeza do ferimento.

Ela soltava alguns sons agudos de dor, mas não era nada demais. Pra ela era absurdo que algo tão insignificante doesse dessa forma. Ele não demorou muito e terminou, enfaixando os joelhos dela apenas para proteger. Logo que atou o último nó, suas mãos subiram lentamente de lá para as coxas de Alice, arrastando-se com calma, sentindo a pele macia dela deslizar sob as palmas das mãos de Gil. Parou no começo da saia, afastando as pernas dela de forma que a derrubou na cama apenas por avançar um pouco, e ficou com o joelho apoiado naquele espaço. Tirou o sobretudo dela e jogou pro lado, segurando-a pela cintura.

Alice ergueu as mãos de volta para o pescoço dele e foi para frente o suficiente apenas para que seus lábios se tocassem. Mal se passou meia-hora da primeira vez, mas ela achava que fazia uma eternidade desde a última vez que sentiu os lábios dele. Estava adquirindo um vício? Um vício... Por ele? Sentia que ele lhe pertencia naquele momento, sentia que ele era só dela, que ela poderia fazer dele o que quisesse... Tomá-lo pra si como queria.

Mas... Ela o queria pra ela?


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Notas finais do capítulo

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