Prenderam-me, colada na parede. Eu não conseguia explodir as correntes, já que minhas mãos estavam imobilizadas. Fiquei com raiva de não ter praticado arrebentar coisas com a mente, sendo que eu sempre fazia um movimento com as mãos para fazê-lo.

Os Hyssaks ficaram ao fundo da sala. Jake e Hawkes se aproximaram. Eles trouxeram Sam, e o jogaram no chão, perto de mim. Ele era fraco, então nem o amarraram, pois colocaram alguns Hyssaks para vigiá-lo.

–Há muito esperei por esse momento. - falou Jake, sorrindo.

–Vá em frente. Lembre-se do quanto ela te magoou. - ele fez uma pausa, e completou: - Lembre-se que ela te traiu, depois de dizer que te amava.

O rosto de Jake foi tomado pela fúria. Eu já sabia o que iria acontecer. Mas eu não estava com medo.

–Jake, o que você queria que eu fizesse? - eu falei, sem conseguir suprimir as lágrimas. - Queria que eu continuasse a te amar depois de saber do que você era capaz?

–Sim! - gritou Jake, e fechou sua mão. Eu gritei, e senti que meu peito estava sangrando.

–Oh, Jake, você não entende? O que eu deveria fazer? Eu não consegui! Achei que você tinha superado...

–Superado?! Você é o maior amor da minha vida, e eu devo largá-la somente por causa de uma coisa idiota que eu nem tenho certeza se eu fiz? Eu não sou como você, que me trocou pelo primeiro garoto que viu pela frente!

Ele fechou sua mão com fúria. Eu olhei para o chão, e vi que uma poça de sangue formava-se sobre mim.

–Por favor, Jake. Você não é assim.

–Você não sabe como eu sou.

–Quer saber? - eu olhei-o nos olhos, com desprezo. - Faça o que quiser comigo. Não me importo. Só quero que saiba que você estará fazendo isso por que eu não quis participar da sua loucura, não quis continuar amando o homem que assassinou todos que eu amava! Eu não sou como você, Jake, não sou má, e muito menos pervertida.

Jake gritou de raiva. Eu provocara a sua ira. Mas eu não me importava. Ao longe, ouvia os gritos de Sam, implorando por minha vida.

Eu senti que meu peito se abria. Era uma luta intensa, pois eu não queria morrer. Eu tentava fazer com que meu corpo se curasse, porém Jake era mais rápido e forte. Foi então que eu senti a maior dor de todos os tempos; gritei terrivelmente, e olhei para baixo. Jake havia arrancado o meu coração.

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Eu lutei para permanecer viva. Os humanos normais não vivem sem o coração, mas eu conseguiria resistir um minuto no máximo.

Hawkes olhou para Jake, assustado.

–Você vai matá-la. - alertou ele, calmamente.

Eu gritava. Não era fácil lutar contra todo aquele ódio. Jake então percebeu que eu estava morrendo, e fez meu coração voltar para o meu peito. Eu respirei fundo, e aproveitei que Jake parara de me torturar por uns instantes e curei a maior parte do ferimento. Pelo menos a parte grave.

–Você me odeia tanto assim, Jake? - eu perguntei, chorando.

Ele me olhou. Porém, ele já havia descontado sua raiva em mim; agora ele estava mais calmo. Seu olhar era triste, quase de arrependimento. Uma única lágrima escorreu pelo seu belo rosto. Mas ele enxugou-a antes que ela caísse no chão. Seu rosto enrijeceu, e ficou frio como o mármore.

–Me desculpe, Hannah. - ele fez uma pausa breve – Levem ela daqui. - ordenou.

Um Hyssak me arrastou até o calabouço, junto com Sam. Ele me prendeu. Eu notei que Sam estava chorando.

–Qual o problema, hein? - falei, com doçura. Eu notei seus olhos fixos em minha blusa, encharcada de sangue.

–Você quase morreu por minha causa. Se eu não tivesse te beijado...

–O importante é que eu estou viva, não? E vou ficar bem. - eu baguncei seus cabelos. - E a culpa não foi sua. - meu rosto ficou sério. - Foi de Jake. Sabe, ele era tão bom comigo, não sei como ficou assim... - eu comecei a chorar – Se Hawkes não o tivesse alertado, Jake teria me matado.

–Me desculpe perguntar. - começou Sam. - mas ele...

–Sim. - eu interrompi, parando de chorar – Matou minha família, e muita gente. Mas a história é longa, e irei contá-la a você, para que você possa contar para Suzie, pois eu não acho que Jake vá conseguir me manter viva por muito tempo.

–Você acha que eu vou voltar a vê-la?

Eu assenti, e contei tudo à Sam. De repente, eu senti muito sono, e decidi dormir. Nunca havia dormido em um calabouço. Não é muito confortável. Demorei muito tempo para dormir, o que foi bom, pois agora eu tinha um plano. Um plano infalível.

–-

Acordei com o barulho de passos. Era Jake.

–Hannah, você está dormindo?

Eu me virei, e não respondi nada. Somente encarei-o com os olhos marejados de lágrimas.

–Hannah, eu... - ele olhou para baixo; sua voz estava fraca – Eu fui longe demais.

–Você acha? - falei com ironia.

–Não é justo que você fique aqui, trancada, como uma mera prisioneira.

Colei meu rosto às grades, e olhei com ternura.

–Eu vou te soltar. Mas, por favor, seja um pouco mais dócil, por um dia. Amanhã te levo de volta ao esconderijo. Você não fez nada para ficar presa... Farei isso, desde que você não conte sobre mim.

–Eu tenho uma ideia melhor. - eu disse, sorrindo. - Algo que acho que você quer há muito tempo...

Ele sorriu maliciosamente. Ergueu as sobrancelhas, e disse:

–O que é?

–Eu concordo com você. Não devo puní-lo só porque você matou minha família. Você é minha família agora, e isso que importa. - tentei colocar um pouco de malícia em meu rosto. - E eu também percebi que ando combatendo no lado errado. Os Hyssaks tem tanta liberdade! Quero me tornar mais forte, e quero descobrir o prazer de várias coisas da vida. - eu fiz uma pausa, e eu percebi pela expressão de Jake que ele estava gostando de minhas palavras: - Tire-me daqui, e eu serei de novo o seu amor eterno, e lutarei ao seu lado.

Ele sorriu.

–Fico feliz que você tenha concluído tudo isso, Hannah. Mesmo que tenha sido pelo jeito mais... - ele fez uma pausa, e completou: - doloroso.

Nós nos olhamos, e ele se levantou:

–Peça para o seu amigo se afastar da porta.

–Sam está dormindo. Ande logo, anseio por você.

Ele girou a chave na fechadura e abriu a pesada porta de ferro. Eu pus-me de pé num pulo, e agarrei Jake. Eu o abracei.

–Venha. Troque de roupa; nem a pior pessoa deveria usar farrapos iguais aos que você traja agora. Vou te entregar sua bolsa, você a esqueceu no carro. - falou ele.

Jake me levou até um quartinho, que possuía um banheiro. Eu tomei um banho, pois eu ainda estava cheia de sangue. Curei o resto dos ferimentos que Jake me causara, e saí. Em cima da cama, havia um vestido vermelho. Ele era longo, da moda antiga, mas confesso, muito belo. Peguei em minha bolsa a maquiagem, e me maquiei, usando cores fortes. Prendi meu cabelo em um alto rabo-de-cavalo. Olhei-me no espelho, eu estava bonita. Abusei de meu perfume favorito, “Seduction”; eu sempre guardava um frasquinho na minha bolsa. Mortalmente linda.

Eu saí do quarto. Eu notei que Jake aguardava do lado de fora. Ele sorriu ao me ver. Ele também trocara de roupa, agora usava trajes negros, e uma capa (o que pode parecer meio estranho, mas nele ficou bonito).

–Você está linda. - exclamou ao me ver. Ele envolveu-me em seus braços. Ficamos um tempo assim, abraçados. Eu não queria beijá-lo, então tentei começar a conversar.

–Meu amor, você e eu somos muito mais poderosos que o Victor, por isso eu sugiro que tramemos um plano contra ele, e o derrubemos de seu trono.

–Não. - respondeu, mau-encarado. - Não o subestime. Ele é mais poderoso do que imagina.

Jake me apertou com mais amor, e eu queria soltar-me, e então eu percebi que ele queria me beijar.

–Espere. - eu falei, me afastando um pouco. - O que você acha de fingirmos que essa é a nossa noite de um futuro casamento? Eu senti sua falta, agora quero aproveitá-lo ao máximo. Por isso, guardemos o melhor para daqui uns minutos.

–Acho uma boa ideia irmos para a cama mais cedo. - falou Jake, sorrindo com a sugestão.

–Arranje um lugar reservado para nós dois. - eu disse. - Daqui a meia hora, nós nos encontramos aqui. Quero me arrumar um pouco mais para essa noite tão especial.

Jake me olhou desconfiado.

–Queria confiar em você.

–Então confie. - eu sussurrei. - Eu te amo. Não esqueça disso.

Ele foi me beijar, mas eu fiz o beijo ser na bochecha, e entrei no quarto. Era hora de colocar o resto do meu plano em ação.

–-

Esperei Jake sair de perto da porta. Eu comecei a me esgueirar sorrateiramente pelos corredores da fortaleza. Era um lugar grande, e sombrio. Sentia a pontada do medo em meu coração, mas eu precisava ser corajosa : essa provavelmente seria minha última cartada.

Encontrei um Hyssak. Era um jovem, de uns 15 anos, mas mesmo assim não tive piedade, pois ele não teria dó de mim. Eu o arrastei para um canto escuro e vazio.

–O que você quer, sua nojenta? - perguntou ele. - Você fugiu, não é? Vou contar para o seu querido Jake.

–Conte o que quiser, verme. - falei irritada. - Mas responda à pergunta que irei te fazer: Onde fica o quarto de Victor Hawkes? Eu sei que você sabe aonde fica.

–Você acha que vou contar isso para uma...

Não deixei-o completar a frase. Eu fiz um de seus dedos explodir. Ele gritou, e eu levantei-o pelos cabelos.

–Parece que eu aprendi uns truques com o meu querido Jake. Agora, responda a minha pergunta, ou acabarei com cada parte do seu corpo, sem dó nem piedade.

Ele ficou com medo, mas não falou nada. Demoraram cinco dedos e o resto de sua mão esquerda para que resolvesse abrir a boca.

–Está bem! Eu conto! Fica na parte de cima do castelo, no quarto do fundo.

–Obrigada! Perdoe-me pelo que vou fazer, mas não posso correr o risco de você sair por aí contando o que eu fiz.

Eu fui muito cruel, mas não me arrependi: eu cortei a língua daquele Hyssak, para que ele não dissesse a ninguém sobre mim.

Saí correndo, e destruí todos os poucos Hyssaks que eu encontrei. Subi as largas escadas, e fui até o último quarto. A porta estava trancada, mas isso não era problema, pois eu explodi a fechadura. Victor estava olhando para a janela, distraído, e ficou surpreso ao me ver.

–Hannah, isso são modos? Era só bater na porta, que eu a abriria.

–Chega de brincadeiras, Hawkes. Diga-me o que você fez com Jake.

–Não fiz nada. O seu amor é cruel daquele jeito. - ele sorriu.

–Não estou falando disso. Você falou que precisava nos separar, só não sabia como. O que você fez?

–Parece, minha querida, que você já sabe a resposta para essa pergunta.

–Como?

–Você acabou de dizer que eu falei – e ele imitou a minha voz - “que precisava nos separar, mas não sabia como”.

Eu olhei-o nos olhos. E percebi que ele mentia.

–Eu odeio mentiras. E eu sei que você fez algo; está estampado em seu rosto.

Não estava mais aguentando aquele Hyssak nojento. Eu matara todos que eu encontrara, porque Victor seria diferente?

–Não tem nada a declarar? - eu perguntei, impaciente.

Notei que ele não iria responder, e então me lembrei de um velho ditado, que caberia perfeitamente na minha ideia.

–Hannah, eu já falei que...

Não deixei ele completar a frase. Eu peguei minha arma e atirei nele. Simples assim.

–-

–O que você fez?! - gritou ele, enquanto caía no chão.

Eu ri com maldade.

–Pode tentar se curar, meu bem, mas você não vai conseguir. Eu já tentei, mas essas balas são mortais para pessoas como nós.

Eu o desarmei, enquanto ele agonizava.

–Agora, você sabe que um homem, quando está morrendo, não mente. Responda a minha pergunta.

Ele riu, revelando a boca cheia de sangue.

–A resposta da sua pergunta só vai te trazer mais sofrimento. - ele fez uma pausa, tossiu e continuou: - Mas, irei falar. Você sabe quando alguém está mentindo, não?

Eu assenti.

–Então você saberá que eu falarei a verdade. Aproxime-se.

Ele sussurrou a resposta em meu ouvido. E eu não acreditei no que ouvi.

Percebi que Victor falava a verdade. Lágrimas começaram a cair dos meus olhos.

–Por que? - perguntei, chorando.

–Era a única maneira.

Eu me levantei, e comecei a sair, quando Victor ajoelhou-se, com esforço. Ele fez um movimento com suas mãos, e eu senti uma faca perfurando minhas costas.

Ele fizera realmente uma faca levitar e me atingir . Victor fez com que ela se contorcesse, e eu caí no chão, gritando. Para minha sorte, não era uma arma que matava gente como eu. Eu me virei, e vi que Hawkes começou a cair, e, finalmente, morreu.

Eu retirei a faca das minhas costas e curei meu corpo, porém o vestido ficara com um grande furo. Coloquei uma capa de Hawkes, saí e fechei a porta, deixando o grande líder dos Hyssaks ali, morto.

Corri até o quarto, e fiquei na porta, esperando Jake. Ele apareceu, sorrindo.

–Encontrei um lugar perfeito para nós dois.

Antes que eu pudesse responder, um Hyssak apareceu, e falou com Jake:

–Senhor, venha comigo.

Jake o ameaçou, e o Hyssak implorou que ele o seguisse. Assustei-me quando percebi que o Hyssak nos guiava até o quarto do falecido Victor Hawkes. Jake empurrou a porta. E encontrou o corpo do ex-líder dos Hyssaks.