Mais uma manha inteira gasta na floresta do Distrito 12. Minha mãe quase me proibia de ir lá, mas eu a desobedecia. Não fazia isso porque  precisávamos ou algo assim, era porque a floresta passou a ser o meu lugar favorito já que não tinha ninguém para me perturbar, excerto Liam.

- Kimberlyn Mellark Everdeen - ele me chamava pelo nome inteiro só para me perturbar

- Liam Hawthorn, porque eu não sei seu nome completo - Respondi rindo. 

Ele pulou da arvore ao lado da minha, eu costumava escalar e ficar lá por horas ou caçava, ou apenas ficava atirando com o velho arco da minha mãe, mas hoje eu estava apenas sentada em baixo da árvore.

- Ninguém sabe - ele diz e vem se sentar ao meu lado.

- Porque?

- Porque eu me recuso a contar - ele diz e se levantou - É melhor a gente ir, hoje é o dia da colheita e como todos os outros se você não chegar em casa antes do por do sol seu pai te mata e depois me mata.

- Porque ele implica tanto com você? - pergunto e me levanto também.

- Culpa do meu pai eu acho…

- Af ele deveria esquecer isso, já está ficando chato.

- Pais são chatos.

- Gale é legal.

- Ele não é seu pai.

Conversamos todo o caminho de volta ao distrito, antes de entrar olhei para a floresta, eu sentia que não a veria tão cedo…

Liam insistiu em me levar em casa, mas não chegou nem perto da porta, tanto ele quanto eu odiávamos quando meu pai começava com os ataques paternais dele, começava a me chamar de filhinha, me abraçava e dizia pro Liam ter cuidado… 

Eu estava um pouco nervosa com a colheita, e preocupada com Liam… ele já tinha 17 anos enquanto eu ainda ia fazer 16, consegui encontrá-lo, ele estava olhando pra mim, sorri pra ele antes de perde-lo de novo no meio de tantos adolescentes. E então eu parei de prestar atenção em tudo, só voltei a realidade quando ouvi meu nome sendo chamado. 

Não era de se surpreender, os filhos dos tributos sobreviventes sempre eram um alvo, mas mesmo assim, eu me surpreendi. E quando eu achei que não poderia piorar ouço o nome que me fez entrar em desespero por dentro. Aquilo tinha sido proposital ou algo assim? Era bem provável. Mas eu acho que não. Liam era o tributo homem do distrito 12.

Eu não ia precisar me despedir dos meus pais tão cedo, eles seriam meus mentores nos jogos. Depois que Liam se despediu da sua família e entramos no trem eu me atirei nos braços dele, eu ia perder meu único e melhor amigo numa droga de jogo.

Eu passei a não prestar atenção em nada, fazia o que meus pais, agora mentores, me diziam para fazer. Eu fui uma perfeita continuação da Garota que estava pegando fogo, tirei 11 no treino e agora… já estava indo para as entrevistas, a pior parte de todas. Mas não sei porque raios eu voltei a mim. Eu estava em frente ao espelho do meu quarto usando um vestido vinho, não era tão comprido, mas não me permitia respirar direito. Meu estilista Fred estava ao meu lado sorrindo pra mim, no momento estava sendo meu único amigo já que eu quase não conseguia falar com Liam.

- Você está bem querida?

- Sim, obrigada…

- Nervosa?

- Com medo de não conseguir responder mas… - deixei a frase no ar.

- Imagine que está conversando com um amigo.

- Caesar não é exatamente o que eu chamaria de amigo… mas eu posso tentar - Fred deu uma risadinha até que Effie bateu na porta do quarto.

Liam estava simplesmente perfeito, ele sempre foi um garoto bonito, mas agora deixava qualquer garota sem fôlego, até mesmo eu.

- Wow - ele disse quando me viu.

- Wow nada, você continua sendo meu melhor amigo - tentei brincar, ele riu.

- Vamos, vamos, vamos - Effie murmurou enquanto enfiava nos todos dentro do elevador. 

Os tributos eram tão patéticos, alguns podiam ser duas vezes mais altos que eu, mas um era mais burro que o outro. Finalmente Caesar me chamou, do nada minha ansiedade passou, abri um enorme sorriso falso e fui recebida com um enorme WOW de Caesar e quase toda plateia. 

- Nossa como é parecida com a Katniss - Caesar disse.

- Será que é porque ela é minha mãe? - provoquei, eu era muito boa nisso.

- Com certeza… - ele forçou uma risadinha, tinha acabado de levar um fora de uma garota de 15 anos, estava tentando disfarçar é claro - Então Kimberlyn… Está nervosa?

- Ah… imagina, estou prestes a entrar em uma arena onde todos vão tentar me matar, mas estou super calma - tudo bem eu fui totalmente sarcástica, ótimo, era melhor assim.

- Como você se sente com seus pais sendo seus mentores?

- Na verdade não mudou muita coisa, eles continuam mandões e carinhosos… - arranquei algumas risadas da platéia e pude ver minha mãe corando um pouco.

- Então… vamos falar de romance. E ai, alguém especial?

- Hã… eu acho que não. Não ligo muito pra essas coisas, eu sou um pouco fechada… 

- Quem sabe as coisas não mudem - ele disse, estava se referindo a Liam.

- O que? Eu acho que não, é meio difícil existir alguém que goste de mim alem dos meus pais - mais risos até que a campainha soou dizendo que meus 3 minutos acabaram.

Decidi me concentrar na conversa de Liam e Caesar. Liam não costumava ser simpático com todo mundo, alias ele era tão fechado quanto eu. Mas ele parecia diferente ali, acho que ele estava tentando ser simpático para compensar meu mal humor.

- Garotas?

- Acho que não - Liam respondeu.

- Ah por favor, aposto que tem alguma…

- Talves.

Eu fiquei brava, muito brava, talvez? Não, não tinha nenhuma, não podia. 

- E Kimberlyn? - Caesar perguntou.

Bem quando Liam ia responder o sinal tocou e ele teve que voltar para seu lugar ao meu lado. Eu estava morrendo de raiva. Não sabia direito do que, mas estava. A vida era dele, se ele gostava de alguma garota eu não tinha nada a ver com isso. Depois que nós jantamos e assistimos as entrevistas a sala ficou em silencio. Nem Effie que costumava ser um pouco tagarela falou nada.

- Norte - murmurei.

- O que? - Liam perguntou.

- Quando sair da cornucópia siga para o norte, eu vou fazer o mesmo, quem sabe a gente se encontra - respondi.

- Porque acha que vou conseguir sair da cornucópia?

- Porque é tão bom quanto eu em, é bom tudo que você faz. E se a gente não se encontrar na arena… - hesitei, eu não conseguia pensar em ficar numa floresta sem Liam, muito menos sabendo que ele estaria correndo perigo - Obrigada. 

Abracei Liam e fui para meu quarto, eu não queria me despedir de ninguém. Tranquei a porta, mesmo se eles me ouvissem não poderiam entrar, então eu deitei na cama e chorei até dormir.