Ikeuchi estava tranquilo, mas Izumi estava com medo de voltar para o apartamento e encontrá-lo destruído. Deixar dois adolescentes sozinhos em casa fora muita irresponsabilidade. Deviam tê-los levados juntos!

Esperou o maior abrir a porta, rezando mentalmente para que tudo estivesse inteiro e no lugar. Já fora uma boa notícia saber que não tinha bombeiros no prédio, mas só isso não o acalmava.

Só quando adentrou a sala é que Hayato realmente se sentiu aliviado. Ryuutarou dormia tranquilamente no sofá enquanto Takeo estava sentado no chão, com fones nos ouvidos e balançando a cabeça ao ritmo da música.

Puxou o primo para conferirem a cozinha, sorrindo abertamente ao ver que tudo estava limpo e que eles nem haviam tocado nos doces.

O apartamento estava a salvo!

_ Vamos fazer o almoço rápido, antes que a gente tenha que voltar ao serviço. – o staff abriu os armários, pegando algumas panelas.

_ Não vamos comer os obentos que eles fizeram? – Shibuya questionou animado, lembrando-se dos garotos comentando do quanto tiveram trabalho em preparar o almoço.

_ Ah... claro... Mas precisamos fazer algo pra eles também. Não sei se fizeram o suficiente pra nós quatro. – na verdade não confiava muito no que os garotos haviam preparado, levando em conta que, com certeza, gastaram a maior parte do tempo com a brincadeira.

Se fosse algo preparado pela versão adulta do namorado, até confiaria de olhos fechados, pois sabia que ele sempre preparava algo bom. Mas a sua miniatura era muito suspeita.

Jack era um caso a parte. Sabia de suas tentativas falhas de cozinhar e quase explodir o apartamento quando adulto, então o garoto também não saberia lidar muito bem com aquilo.

Em contrapartida, queria ganhar a confiança dos garotos, em especial de Takeo. E para conseguir isso, iria arriscar e aceitar o que eles fizeram.

Porém, não estava sendo fácil enganar os garotos, com Shibuya contorcendo a face cada vez que mastigava, logo virando um copo de água para ajudar a comida a descer.

_ Ficou ruim, Ikeuchi-san? – questionou Ryuutarou, encarando fixamente o mais velho.

_ N-não! Claro que não! – sorriu sem graça, olhando para o primo, em busca de ajuda – Ficou muito bom, não é primo?

_ Ah... cla... – ia ajudar na mentira quando sentiu o olhar do ruivo sobre si, desafiando-o a concluir aquela frase. E o pior é que entendia bem o que ele queria dizer. Se eles não podiam aprontar, ele também não podia fazer coisas erradas, isso incluía mentir – Ah... bom, com a prática vocês podem melhorar, Ryuu.

_ Então podemos cozinhar pra vocês de novo?

_ NÃO! – os primos gritaram em uníssono, assustando o moreninho.

Takeo apoiou a cabeça na mesa, gargalhando alto. A mãe sempre o impediu de entrar na cozinha pra tentar fazer qualquer coisa que fosse. Nem ajudá-la a lavar a louça ele podia, imagine cozinhar. E ali estava o motivo.

* * *

Piscou lentamente, retirando os fones dos ouvidos e olhando ao redor. Havia caído no sono enquanto terminava de ouvir seu novo cd. Não devia ter passado muito tempo, pois o dia ainda estava claro e também não havia movimento nenhum pela casa, sinal que os primos não haviam voltado.

Ryuutarou também não estava por ali. Pelo tanto que o moreninho dormira pela manhã, não teria sono suficiente para cochilar à tarde. Ou talvez tivesse. Ele já provara que era capaz de dormir em qualquer canto e a qualquer hora.

Levantou-se do sofá a fim de procurar o amigo. Podiam se divertir juntos, talvez jogar algum game ou comer os doces que os mais velhos trouxeram.

Andou pela casa, olhando de relance para as portas no corredor, sorrindo de canto ao ouvir uma música vinda do quarto de Ikeuchi. Empurrou a porta de leve, dando de cara com um Ryuutarou vestindo uma camisa de jogador de futebol americano, tirada sabe-se lá de onde, dançando e cantando em cima da cama, usando uma escova de cabelos como microfone, com direito a coreografia e tudo mais.

“Don't play the stupid game
Cause I'm a different kind of girl
Every record sounds the same
You've gotta step into my world
Give me all your love and give me your love”¹

Ao notar que tinha um público, ao invés de se envergonhar, Ryuu sorriu largo e continuou com sua performance, rebolando mais e jogando os longos cabelos negros para todo lado.

_ Uhuuu arrasou, gostosa! – Takeo aproximou-se da cama, batendo palmas e rindo do menor que sentava ao seu lado, estendendo a capa do CD – Madonna?

_ Ela é incrível! – o moreninho contou entusiasmado, enquanto o ruivo revirava as páginas, não entendo nada da letra contida ali, contentando-se em observar fotos da cantora.

_ Só faltava você ser loiro pra imitar ela. – Takeo comentou devolvendo o encarte, vendo o sorriso de Ryuutarou aumentar.

_ Acha que eu ficaria bem de loiro? – seus olhinhos brilharam de emoção, arrancando um sorriso travesso do amigo.

* * *

_ Tadaima! – Ikeuchi cumprimentou ao entrar no apartamento, não avistando nenhum dos garotos na sala.

_ Tudo inteiro, primo? – Hayato questionou com um suspiro, retirando os sapatos e jogando-os a um canto. O dia fora cansativo demais e esperava não ter nenhuma bagunça das crianças pra arrumar.

_ Parece que sim. – o mais velho jogou a mochila no sofá, olhando ao redor e sorrindo – Nada quebrado ou fora do lugar.

_ Até isso é suspeito, Jin. – negou com um aceno, caminhando até a cozinha – Vou pegar algo pra comer. Você procura os dois.

_ Ok!

Shibuya dirigiu-se para os quartos, pensando no quanto o primo era pessimista. Os garotos haviam aprontando um pouco, verdade, mas era normal na idade deles. Além do mais, já fizeram bastante estrago nos dias anteriores, o que poderiam fazer de diferente agora?

_ Ah, merda... – o dublador estacou no batente da porta ao encontrar os garotos no quarto.

Takeo estava com um secador ligado nas mãos, tendo alguém com longos cabelos loiros sentado em um banco à sua frente, que supostamente era Jack. Mas Ikeuchi rezava internamente para que fosse alguma garota que eles levaram para o apartamento, ou Arata iria surtar. Muito.

_ Ja-Jackie? – chamou baixinho, entrando no quarto. Devido ao barulho do secador, os garotos ainda não haviam notado a presença do mais velho – Ry-Ryuu? É você? – chamou novamente, dessa vez conseguindo atrair a atenção dos dois.

_ Ikeuchi-san! – o garoto sentado mostrou que era mesmo Ryuutarou ao se virar na cadeira e presenteá-lo com seu sorriso infantil.

_ Chegou rápido! – o ruivo desligou o secador, dessa vez não se dando ao trabalho de esconder o sorriso divertido em sua face – Izumi-san também já voltou?

_ Já... ele está na... cozinha... – voltou o olhar para Asamura, gemendo baixinho. Aquilo não ia prestar.

_ Legal! Agora podemos comer mais bolo! – jogou na cama os apetrechos que usava para arrumar o cabelo do amigo, puxando-o pelo braço – Vem, Ryuu! Vamos ver se ele trouxe mais doces!

_ Eu quero mais sorvete! – Ryuutarou levantou-se animadamente, seguindo o ruivo até a porta, mas sendo impedido de continuar por Ikeuchi, que segurou seu braço e não demorou a se postar na frente dos garotos – O que foi?

_ Melhor vocês ficarem aqui! Eu trago lanche pra vocês!

Ikeuchi precisava tirar aquela tinta do cabelo de Jack. Precisava tirar o primo de casa. Precisava ser rápido e nada suspeito. Tudo que ele sabia que não ia conseguir fazer.

_ Izumi-san não vai gostar nada da gente comendo por aqui. – Takeo rolou os olhos e negou com um aceno. Como se alguma vez na vida ele realmente tivesse se importado com regras e proibições.

_ Eu falo com o primo! Um dia não faz mal! – aqueles garotos não podiam, em hipótese nenhuma, sair daquele quarto.

_ Você parece nervoso, Ikeuchi-san... – constatou Ryuu, encarando-o desconfiado.

_ Nervoso? Eu? Claro que não! – sorriu sem graça, coçando a nuca nervosamente – É só que o primo está cansado, então vocês podiam ficar por aqui, pra ele preparar o jantar com calma. Parece que ele trouxe trabalho pra fazer aqui também, então... bom, vocês podem jogar vídeo game!

Os garotos se olharam rapidamente, abrindo sorrisos enormes e idênticos, dando meia-volta e se jogando na cama, enquanto Shibuya respirava aliviado e começava a conectar os fios do game à televisão. A seguir, entregou uma caixa para Takeo, listando alguns dos melhores jogos que continha ali, deixando que eles escolhessem qual jogariam.

Sabia que os garotos levariam um bom tempo para entrar em consenso e escolher o jogo devido às personalidades e gostos diferentes. Tempo suficiente para inventar uma desculpa e evitar o caos. Ou pelo menos retardar.

_ O que está fazendo pro jantar, Arachi? – Jin entrou de fininho na cozinha, disfarçando seu nervosismo ao máximo, abrindo a geladeira e olhando o que havia lá dentro.

_ Lamen. E alguns legumes cozidos. – deu de ombros, ainda de costas para o mais velho – E os garotos?

_ Pensei que o Tachii não gostasse de lamen... – fechou a geladeira, balançando-se nas pontas dos pés – O Jackie também não gosta muito...

_ O meu Takeo realmente não gosta, mas aquela pest... aquele garoto... come até pedra, tenho certeza. – virou-se para o primo, encarando-o desconfiado – Jin, o que aconteceu?

_ O que? Como sab-... Não aconteceu nada! – sorriu sem graça, desviando o olhar e andando até os armários, abrindo porta por porta – Os garotos estão jogando e vão comer lá no quarto, só isso.

_ Seu quarto vai virar uma zona de guerra. – comentou em tom de alerta – Melhor eles comerem na mesa com a gente.

_ Não tem problema, eu arrumo depois. – sorriu amarelo, desviando o olhar e coçando a nuca.

_ Jin... – negou com um aceno, suspirando longamente e voltando a atenção para o fogão – Você quem sabe...

_ Ok! Vou tomar um banho antes do jantar! – sorriu tranquilo, saindo quase correndo da cozinha. Conseguiu despistar o primo! Agora só precisava manter Ryuu longe dele.