KEY POV

.

Lucy pulou em cima de mim, me abraçando enquanto as pessoas na rua passavam e encaravam. Procurei algum lugar para nos abrigarmos e acabei olhando uma cafeteria aparentemente confortável. Peguei a mão dela e puxei-a para dentro do local.

Sentamos, o garçom pegou nosso pedido - quer dizer, o pedido da Lucy. Eu não entendia nem um pouco do que havia no cardápio.

Olhei para a garota na minha frente e percebi que ela não havia mudado em nada além da aparência. Sua personalidade ainda era vagamente infantil e timida. Já o cabelo antes curto agora batia nos ombros e enrolava levemente nas pontas, ela usava um short jeans, um tênis e uma camisa branca com uma caveira de bigode.

E apesar de não usar um pingo de maquiagem ou mesmo parecer ter se esforçado para se arrumar, percebi o interesse do garçom na Lucy apenas pelo jeito como ele a olhava.Tossi alto. Lucy apenas olhou para mim confusa e eu lancei um olhar ameaçador para o garçom. Ele entendeu a mensagem e se retirou.

– Oppa?

– Incrível, Lucy. - falei, com um tom levemente sarcástico. - Você é mesmo bonita. - ela apenas riu.

– Do que diabos você tá falando?

– Minha criança. - apertei a bochecha dela. - Tem muito o que aprender ainda.

.

Lucy puxava os assuntos mais banais possíveis - como eu estava, como estavam as promoções, porque eu deixei meu cabelo crescer e etc mas ela nem sequer tentava saber o que porque de eu estar ali - se bem que acredito que nós dois sabíamos bem o porque.

– Lucy.. - comecei mas logo fui interrompido por uma batida familiar.

O celular da menina tocou e o toque era "Obsession". Aquela idiota ainda tinha um pouco do dinossauro no coração dela - disso eu tinha certeza.

Ela pareceu nervosa falando no telefone e de vez em quando me dava olhares nervosos, como se estivesse pedindo desculpas. Não demorou para desligar e suspirar profundamente.

– Era minha mãe. Ela brigou comigo porque ainda não cheguei em casa com as compras. - ela fazia um bico com os lábios, aparentemente zangada.

– Então vamos. - disse.

– Onde?

– Para sua casa, ué. Onde você acha que eu vou ficar enquanto estou aqui?

A idiota ficou confusa no começo mas logo sua expressão se tornou de surpresa e tudo que eu pude fazer foi rir. Peguei as compras e me direcionei a porta.

– Paga a conta e vamos. Eu tô com fome. - disse, fazendo careta.

Lucy, ainda sentada, deu aquele sorriso que tanto me encantava e concordou alegremente. Levantou-se, pagou a conta e veio para o meu lado.

– Vamos? - ela perguntou, sorrindo.

– Vamos.

Eu não iria me apaixonar por ela novamente mas não podia me obrigar a ficar distante dela - pelo o menos ficaria ao seu lado como seu braço direito, como seu ombro acolhedor, como seu melhor amigo.

.

Fácil de imaginar a cara de desagrado da mãe da Lucy ao me ver passando pela porta. As duas baixinhas discutiam por algo - provavelmente por minha causa - mas não era algo sério, Lucy até sorria e ria das reações da mãe dela. No final, Lucy deu pulinhos e me arrastou para a cozinha.

– Você pode ficar, mas não vai poder dormir no mesmo quarto que eu.

– Awwww. – brinquei, parecendo desanimado. A garota riu mas a mãe dela parecia nos observar pela porta.

– E vai ter que ajudar nas coisas aqui em casa. Como por exemplo, lavar roupas, cozinhar e limpar a sua própria bagunça. - ela tirava as coisas das sacolas e colocava a maioria na geladeira.

– Isso, comparado ao meu trabalho de mãe no dormitório é moleza. - ri.

– Mas.. Oppa. - lá vem.

– Hm?

– Por quanto tempo você vai ficar?

– O quanto for necessário.

– Necessário? Para o que?

– Para te convencer a voltar comigo para a Coréia.

Simples, curto e grosso.