Aqui estou eu, pensando o quão rápido os anos se passaram. As lembranças dos três anos anteriores vinham à minha cabeça em todos os momentos, e eu só pude sorrir olhando para a janela do Expresso.

Quarto ano.

- Os seus são as jujubas, Lil? – perguntou Marlene.

- Aham, obrigada – respondi. – Do que estão falando?

- Das férias de verão! – Alice falou animada. Desde o final do ano letivo passado, sua expressão nunca deixara de ser sorridente; e o motivo disso tinha um nome: Frank Longbottom.

Uma conversa agitada começou, todas contando os detalhes sobre seus dias em casa. Marlene dedicou-se em falar sobre seus primos da França, e como ela aprendeu alguns truques no Quabribol com eles.

- E eu pensei que você não poderia ficar mais insuportável quanto a essa pancadaria.

- Lily, um dia você vai se conformar. – murmurou ela antes de continuar, seguida de uma Alice rindo quando fiquei indignada. Ah, não venham me dizer que um jogo onde há no mínimo, uns trezentos riscos de parar na enfermaria não é pura pancadaria?

Eu só sei de uma coisa: minha incapacidade com a vassoura já é um sinal de Merlim.

-... E então, Frank e eu passeamos somente uma vez. – ops, eu acho que fiquei pensando demais e não vi do que Alice está falando. Você é tão lerda Lily!

Fiz o que qualquer um faria: olhei-a e fingi estar prestando no assunto há horas, com a maior cara de pau.

- Alice – disse Marlene com uma expressão no rosto ansiosa. Com a minha experiência, isso não era nada bom.

- Pergunte. – completou ela.  Eu olhei para uma, e depois para outra. A morena de cabelos curtos abriu um sorriso maior e depois lançou um olhar de pidona na minha direção.

- Eu estou com medo de vocês – falei apreensiva.

- Não é nada demais... – começou Alice. – Mas você vai se sentar com a gente no jantar, certo?

Acenei que sim. Estranho, muito estranho.

- Ok – ela deu de ombros.

- Lily, você já vai se vestir? – Marlene perguntou. As duas já estavam com as vestes negras, mas como eu ainda não, só balancei a cabeça e fui trocar-me. Antes de sair, vi as duas falando algo baixo.

De novo: isso não soa nada bom.

- Três pacotes de jujubas, por favor – pedi à mulher que vendia ali no corredor. Eu sei, eu acabei de comer e aqui estou eu de novo, gulosa! Semana que vem que começo a dieta... A quem eu quero enganar?

De longe, o vi. Foi um breve deslumbre; Peter ao entrar com uma sacola de doces nas mãos, fechara rapidamente a cabine. Eu não havia falado com ele, desde aquela noite. Não sei se ele havia desistido da aposta, ou algo assim, porque depois daqueles dois meses, passou-se pouco tempo e já estávamos em casa para as férias. Mas pelo menos uma vez na semana, eu me lembrava de seus olhos tristes e uma curiosidade se alastrava por mim.

Julguem-me, mas eu senti falta das cantadas. Acho que fazia tão parte das minhas semanas que não receber uma piadinha de duplo sentido dele trazia um sentimento vazio. Sei que devo estar parecendo uma louca, mas se coloquem no meu lugar!

- Você demorou quase uma hora para se trocar Lily! E isso porque a Lene tem o troféu de senhora lesma. – Alice dizia enquanto estávamos indo em direção ao Salão Principal, para o jantar.

- Hey! – Lene se pronunciou.

- Como se você fosse super rápida não é, Lice? – falei irônica e ela riu.

Ao chegarmos, visualizei nosso cantinho. Fomos até lá, e sentamo-nos, com uma Alice que não se cansava de falar em momento algum.

- Dumbledore está quieto – Lene murmurou.

- E quando ele está uma Alice na vida? – perguntei curiosa.

- Olha quem fala... – a outra morena respondeu.

- Isso me lembra de quando ele viu Lily aos berros com James no segundo ano, e assistiu tudo como se fosse uma boa novela – Alice comentou. Eu lhe mostrara algumas novelas quando ela fora em casa, depois do natal.

- Potter tem o dom de entrar nas nossas conversas, de alguma maneira – disse bufando.

- Eu fico feliz, ruiva – falou uma voz atrás de mim. – É bom saber que você pensa em mim com tanta frequência.

- Que raios você acha que está fazendo? – perguntei. Sou tão amável, eu sei.

Em seguida, veio Frank, sentando-se ao lado de Alice, Sirius ao lado de Marlene, Peter e Remus conversando sobre algo animadamente e Potter perto de mim.

- Vou perguntar de novo, mas um pouco diferente agora: o que você pensa que está fazendo?

Ele sentou-se ao meu lado e deu um dos seus típicos sorrisos.

- Eu supus que você deveria estar sentindo a minha falta... – começou ele e eu sorri ironicamente. – Mas não pensei que sentisse tanto assim.

- Lene.

- Oi?

- Trate de explicar.

Potter fez questão de se intrometer. Ele definitivamente não sabe quando ficar quietinho.

- Frank senta-se com Alice. Consequentemente, nós, amigos dele, somos parte do pacote – respondeu ele, erguendo uma sobrancelha.

- É isso que ele falou. – Lene disse e virou-se para falar com Black. Simples assim!

- Você só pode estar de brincadeira comigo!

- Uma dica ruiva, mesmo que Dumbledore goste de vê-la demonstrando o seu amor por mim, não acho que ele iria gostar de alguns gritos agora – o ser ao meu lado falou.

Ele estava certo. O diretor havia levantando-se para o habitual discurso de boas vindas e avisos, e eu não podia falar nada, afinal, eu sabia o que aquele pacote significava... Um ano. Inteiro. Ao lado dos marotos.

Agora eu entendia do que tanto elas cochichavam. E também sobre a sua pergunta. Ah, mas Alice ia se ver comigo!

Eu sei que pode parecer contraditório, mas só porque eu sentia falta das cantadas do idiota com um sorriso lindo ao meu lado, não quer dizer que eu iria aguentar um ano. Merlim! Eu disse lindo? Alguma coisa muito errada está acontecendo!

James Potter me olhou deixando bem claro em entrelinhas, “Vai ser um ano e tanto”, no que eu só olhei-o inconformada e imaginando aonde o moreno com qual eu me preocupara havia se metido.

É claro, muito longe dali.