Ainda estava na sala, então levantei do chão. Epa. Tinha algo errado. Mesmo quando levantei, meu corpo permaneceu estirado no mesmo lugar e Matt tentava me levantar. Como eu estava ali se tinha me levantado? Aquele dia estava sendo demais para minha sanidade mental.

Rolei os olhos pelo lugar, quando um movimento mínimo atraiu minha atenção. Jimmy estava parado de pé ao lado de Johnny. Ele estava mais lindo que nunca, era como se a morte tivesse lhe deixado radiante. Nada mais me importava, eu estava perfeitamente bem. Estava vendo Jimmy no meu cantinho feliz, dentro de minha mente, onde ninguém mais o encontraria e jamais o tirariam de mim. Perfeito. Corri em sua direção e ele me abraçou, me girando no ar do jeito que só ele sabia fazer.

– Amor, você está bem? - Perguntei segurando seu rosto lindo de anjo com as duas mãos. Ele sorriu fraco.

– Eu vim te dizer umas coisas. Despedir-me de você.

Engoli em seco. Ele ia mesmo embora. Passei as mãos no rosto e sentei em frente à Johnny, que se encolheu como se tivesse sentido minha presença. Jimmy suspirou e sentou do meu lado.

– Ninguém consegue me ver?

– Experimente tocá-las. - Ele respondeu confiante e eu hesitei. - Vai, tente.

Debrucei-me sob Johnny e toquei seu rosto. Ele não esboçou qualquer reação, a não ser esfregar os olhos avermelhados e dar um soco no chão.

– Eu morri? - Perguntei sentindo um sorriso enorme surgir em meu rosto. Jimmy negou com a cabeça e eu murchei.

– Não, só está inconsciente. Precisei fazer isso para vê-la. - Ele deu ombros e eu sacudi a cabeça.

– Quanto tempo ainda tem? - Perguntei, a voz chorosa. - Antes de ir de uma vez.

– Pouco mais de dez minutos. - Ele respondeu tentando parecer calmo. - Só quero que você saiba que é a pessoa mais importante que eu já conheci e eu te amo muito.

Jimmy beijou minha testa e eu solucei alto. Não queria deixá-lo ir, não iria deixá-lo ir.

– Você precisa deixar. - Sua voz saiu como um sussurro dolorido. - Já não há nada que possa fazer para evitar.

– Você agora lê mentes? - Perguntei e revirei os olhos.

– Não, você é previsível demais. - Ele rebateu divertido.

– Porque você fez isso consigo? - Gritei brava e ele arfou - Se matou Jimmy, já parou pra pensar em quantas pessoas estão sofrendo por isso?

– Não podia deixar vocês me vendo definhar, jamais permitiria isso. - Ah, ele era orgulhoso. Como eu pude esquecer disso? - Lembra dos problemas cardíacos que eu tinha desde criança?

– Lembro... - Suspirei e as lágrimas voltaram a rolar em meu rosto. Então, foi por isso que ele acabou com a vida. Tudo fazia tanto sentido naquela hora...

– Shh, não chore. - Ele se aproximou e secou meu rosto. - Eu estou bem, não percebe isso?

Fechei os olhos e tentei me concentrar, embora as lágrimas me tiravam do rumo a todo momento. Senti suas mãos frias afagarem meu rosto e ele enxugou uma lágrima com o dedão.

– Eu te amo loira, muito mesmo. Se tivesse um jeito de reverter minha doença, eu jamais teria tomado medidas tão drásticas. - Um silêncio profundo tomou o lugar e ele continuou: - Há muito tempo eu lidava com essa dor, mas ultimamente doía demais.

Ele acabou com a vida porque já não aguentava mais sentir dor. Só a ideia de que meu Jimmy sofreu tanto tempo em silêncio me doía no coração.

– Sabe que se eu pudesse, roubaria toda sua dor para mim. - Disse baixinho e ele fechou o sorriso.

– Eu jamais permitiria isso, sabe que não suportaria te ver sofrendo. Ainda mais por mim.

Fechei a cara e o fitei.

– E como acha que estou agora?

– Eu não queria te deixar, não mesmo. Por mim, isso jamais aconteceria. Mas como tudo nunca é do jeito que nós queremos...

Assenti e o empurrei fracamente até que ele estivesse deitado sobre o tapete. Deitei sobre ele e pus a cabeça em seu peito.

– Vou sentir falta disso. - Ele sussurrou com as mãos em meus cabelos.

– Eu também, vou sentir sua falta. Nada vai ser igual sem você aqui, nunca mais serei a mesma. - Fiz um muxoxo e ele sorriu fraco. - Mas esse é o melhor momento da minha vida, vou guardá-lo pra sempre aqui.

Coloquei a mão sobre o coração e ele pôs a mão sobre a minha. Eu não me incomodaria de ficar daquele jeito para sempre, foi meu momento de paz.

– E não há nada que eu possa fazer para terminar com chave de ouro, algo bem especial para você guardar aí dentro? - Jimmy sussurrou fazendo minha pele arder em chamas.

– Hmm, tem sim. - Respondi sem pensar duas vezes. Só me beije.... - Eu disse, e me arrastei para beijá-lo.

Ele retribuiu o beijo com intensidade e carinho, como era de costume. Suas mãos quentes passeavam pelo meu corpo enquanto as minhas permaneciam em seu pescoço, traçando padrões leves em sua pele macia. Jimmy me abraçou com ternura e seus lábios levemente cheios encontraram a pele do meu pescoço, beijando e sugando a região levemente.

– É o nosso último beijo. - O lembrei enquanto gemia baixinho -. Vamos fazer isso com calma.

Era meio impossível ir com calma quando um homem como Jimmy estava beijando meu pescoço. Senti suas mãos me acariciarem por baixo do blusão listrado e fechei os olhos, mais lágrimas teimavam em transbordar. E então nossos lábios se encontraram novamente, dessa vez com lentidão.

Em um piscar de olhos, o paletó e a camiseta de Jimmy já estavam jogados em algum lugar. Passei a mão por seu peito, acompanhando a barriga lisa que eu tanto amava e ele ofegou - Um ofegar de dor.

– O que houve, você está bem? - Levantei assustada e ele assentiu com os olhos fechados, puxando para perto outra vez.

– Ash, pode me ouvir? - Uma voz rouca e muito alta ecoou pelo lugar.

Posso, mas não quero ouvir. Vá embora agora Haner, seu viado!, era tudo o que eu queria dizer naquele momento.

– Ela está respirando? - Mel sibilou. - Precisamos chamar a ambulância?

– Não, ela está bem.

Eu estava perfeitamente bem antes das suas vozes aparecerem na minha cabeça para me assustar. Obrigado, obrigado!

As vozes mal pararam e eu senti como se algo me puxasse de volta para meu corpo, forçando a me mover como cordinhas de marionete. O abracei mais forte por um segundo e tentei resistir ao puxar das cordinhas.

I found you here, now please just stay for a while

I can move on with you around

I hand you my mortal life, but will it be forever?

I'd do anything for a smile, holding you 'til our time is done

We both know the day will come, but I don't want to leave you

– Eu preciso ir... - Ele sussurrou e fez uma careta. - Diga para aqueles viados que eu os amo muito, para as meninas também. . E que eles estão chorando mais que as meninas, que vergonha... - Jimmy riu e me mandou um beijo. - I love you, não esqueça disso.

E então, o vi sumir aos poucos. Como uma névoa, a figura de Jimmy se dispersou ao vento e um grito de dor escapou pelos meus dentes trincados.

Levantei, ignorando o fato de estar sendo arrastada e olhei em volta.

– Jimmy, diga que você ainda está aqui, diga... - Sussurrei e senti uma pressão em meus lábios.

– Ashley, você está me ouvindo?

Caiam fora, me deixem morrer sem ar. A sensação de vazio é reconfortante.

Senti um pouco de ar sendo forçado para dentro dos meus pulmões e me forcei a abrir os olhos.

Tudo de repente estava tão nítido e claro. Levantei assustada e cambaleei para um lado.

– Jimmy, ele estava ali... - Minha voz saiu fina como um fio e eu desabei novamente.

– Vamos lá menina, respire! - Matt ordenou.

Porra, eu não quero respirar.

Eu queria empurrá-lo e continuar ali, sentindo os pulmões ardendo pela falta de oxigênio. Eu podia respirar se quisesse, mas eu realmente não queria.

Quero morrer, quero morrer, quero morrer. Era tão difícil assim permitirem que eu realizasse esse desejo?

– Abra os olhos Ash, está me ouvindo? - Uma mão grande afagou minha testa. Era Brian.

Quantas pessoas sofreriam ainda mais se eu continuasse sem respirar por um capricho? E Jimmy não ficaria feliz comigo, com certeza. Forcei meus pulmões a funcionarem e tentei abrir os olhos, piscando várias vezes por conta da claridade.

– Ela acordou! - Brian disse, e todos olharam para mim. - Você está bem loira?

Ainda me sentia flutuando, mas respirei fundo e tentei levantar. Zacky me colocou no colo, embora eu resmungasse que estava bem para andar. Meu corpo tombou sobre o sofá e eu arqueei o corpo. Não tinha sido um sonho ruim, era real. Jimmy estava morto. Toda a esperança se fora, junto com o homem que eu amava. A única coisa que restava ali era um rastro de tristeza e desolação, e ninguém poderia mudar isso.

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