Like walking into a dream

So unlike what you've seen

So unsure but it seems

'Cause we've been waiting for you

O som do toque agitado do meu celular me despertou pela manhã. Era o fim da manhã, talvez já tivesse passado das onze, eu não tinha certeza. Tateei debaixo do travesseiro e encontrei o telefone.

Reconheci rapidamente o número e pude adivinhar com facilidade porque ele estava ligando.

– Fala viado! – Gritei e para a minha surpresa, Brian não reclamou.

– Ashley, sou eu. Matt – Ele disse numa voz sem vida. Qual é? Ele não me chamaria de loura ou algo do tipo?

– Ah. Oi grandão. Jimmy está na sua casa?

– É sobre isso que eu queria falar com você. – Ele respondeu, a voz vazia e inexpressiva. Estava embargada, como se ele tivesse chorado antes de fazer a ligação.

Oh-oh. Algo estava errado. Muito errado, mesmo.

Pude sentir meu sorriso se desfazendo enquanto tentava encontrar algum motivo para o tom de voz choroso de Matt.

– Aconteceu alguma coisa? O Jimmy, onde ele está? – Repeti a pergunta, a voz saiu com um misto de preocupação e impaciência. - Fazemos um ano de namoro hoje e...

– Ashley, você e suas irmãs teriam dois minutinhos sobrando para vir aqui em casa? - Ele me cortou. - Preciso falar com você, um assunto sério.

Ah, qual assunto seria tão importante logo naquele dia? Será que Jimmy estava organizando uma festinha surpresa para comemorar nosso aniversário de um ano de namoro? Podia até ser, mas o tom de voz de Matt me dava calafrios. Era um tom de voz vago e triste. Será que ele e os meninos sabiam fingir tão bem e estavam fazendo aquilo para me apressar?

Sorri de novo com a possibilidade.

– Tá, tá. – Respondi hesitante e arfei. – Até daqui a vinte minutos.

– Até.

O telefone ficou mudo. Deixei-o sobre a cama e entrei no banheiro, água quente era uma boa maneira de me acalmar. Enrolei-me na toalha e saí do cômodo, voltando ao meu quarto – Meu refúgio feliz.

Só então um dilema que nunca havia me preocupado antes surgiu na minha cabeça; O que eu devia vestir? Sentei na cama e pensei nisso por alguns minutos.

Após um tempo, abri o guarda-roupa e peguei um blusão azul-marinho e branco (que era do Jimmy, mas ficava perfeito em mim), um short jeans e minha meia-arrastão. O coturno que estava debaixo da cama foi posto por último, completando o look.

– Perfeita! – Disse para mim mesma ao me olhar no espelho. Maquiagem pesada, cabelos soltos e meus lindos coturnos nos pés. Não dava pra ser melhor que isso.

Corri até a cozinha e encontrei Talissa e Melody debruçadas contra a bancada, devorando um pedaço de bolo.

– Meninas, vocês podem passar na casa do Matt comigo? – Perguntei pegando uma maçã. As duas assentiram. – Vamos assim que vocês terminarem, tudo bem?

– Por mim, tá beleza. – Talissa disse ainda de boca cheia. – Já ia te acordar para irmos para lá mesmo.

– Eu também – Mel concordou colocando o prato na pia. – Vamos?

Dei ombros e peguei as chaves do carro, correndo para a garagem e apostando com as meninas que quem chegasse por último pagaria a gasolina da volta. Obviamente eu ganhei, era a mais rápida das três.

O dia estava incrivelmente nublado e feio, totalmente melancólico. Como nos filmes, era o jeito que o clima ficava quando algo muito ruim acontecia. E a sensação que tive ao sair da garagem se encaixava com perfeição ao clima; Senti-me mal, pesada, triste sem motivo. Respirei fundo e me obriguei a ficar alegre outra vez. Eu estava fazendo um ano de namoro com o amor da minha vida, tinha coisa melhor que isso?

Joguei-me no banco do motorista e minhas irmãs sentaram logo atrás. Para a minha decepção, nenhum policial decidiu fazer uma perseguição contra meu carro, que merda. O percurso pareceu durar uma eternidade, provavelmente eu ainda não tinha despertado o suficiente. Tudo parecia tão irreal que dava calafrios.

Já me aproximava do bairro de Matt quando duas garotas com uma camiseta que tinha o rosto de Jimmy na estampa, parecia ter sido feita há minutos – Nova em folha – Passaram ao lado do meu carro. Os olhos das duas estavam muito vermelhos, e uma delas gritava e se debatia enquanto a outra estava em uma tentativa vã de acalmar a amiga.

– Porque ele porra? POR QUÊ? – A mais alta gritou e sua voz foi cortada por um soluço tão alto que foi audível de dentro do carro.

Ela sentou no chão e abraçou os joelhos, enquanto a outra se ajoelhou diante dela e lhe segurou pelos ombros, a abraçando e permanecendo ali até eu as perder de vista. Pisei no feio subitamente, tive vontade de voltar e perguntar o que estava acontecendo.

– Meu Deus, vocês viram aquelas meninas? – Perguntei para minhas irmãs.

– Que meninas, você enlouqueceu? – Li riu e um arrepio tétrico percorreu minha espinha. Sacudi o corpo levemente e me concentrei no volante, pisando fundo no acelerador . – Sério Ash, que meninas?

– As que estavam com uma foto do Jimmy estampada nas camisetas... – Murmurei assustada e ao me virar novamente para frente, Fiction começou a tocar.

–Não vi nenhuma menina... Fiction! – Mel gritou e começou a cantar empolgadamente. – Ainda bem que você colocou essa música, a voz do Jimmy é tão linda.

Pensei em lhe dar um soco pelo comentário maldoso (Eu sabia bem o que ela pensava do Jimmy, mas nunca comentei nada), mas só então suas palavras voltaram à minha mente. Eu coloquei aquela música? Mas eu nem havia tirado as mãos do volante e sequer tinha levado aquela gravação para o carro. E tinha outra coisa errada. Será que só eu percebi que a música começou da metade?

Left this life to set me free

Took a piece of you inside of me.

All this hurt can finally fade

Promise me you'll never feel afraid.

E depois dessa parte, a música parou. Simplesmente parou, sem que eu sequer fizesse menção de pará-la. Senti uma dor no peito assim que meu cérebro processou o sentido da frase que acabara de ouvir. O.K, aquela música era para mim e disso eu sabia. Uma despedida, hm...

– Left this life to set me free… - Murmurei para mim mesma e arfei. Parecia que Jimmy escreveu essa música para de despedir… De mim!

Respirei fundo. É só uma coincidência. São coisas da sua cabeça Ashley, só coisas da sua cabeça. Não se preocupe, está tudo bem, repeti para mim mesma.

Pisei mais fundo no acelerador e logo estávamos em frente à casa de Matt. Quase caí no chão ao sair do veículo, tamanha era minha apreensão. Lis e Mel vieram logo atrás, assustadas com a minha mudança de humor tão repentina.