O sol estava forte, eu ainda vestia o lindo uniforme escolar, eu tive que aguentar umas das pessoas que eu mais gostava de visitar tratando-me diferente. Apesar de que ela me pareceu bem esforçada...ainda assim eu ouvia, por traz de cada palavra escolhida e falada cuidadosamente, a frase "Por que você a trouxe aqui, quando tínhamos a opção de mante-la o mais longe possível?"

Eu sentia um pouco de raiva, mais por ter aceitado o convite de Gabrielle e não pelo jeito que sua mãe agiu. O que eu estava pensando? Que eu almoçaria lá, e tudo seria exatamente igual? A quem eu estava enganando, é muito mais fácil ficar isolada e sofrer sozinha, do que fingir que está tudo bem e enfrentar as pessoas.

Todos esse pensamentos xingando o mundo se foram ao avistar a lapide de minha mãe, não que ela se destacasse em meio as outras, na verdade eu até achava que era uma das menores do lugar, mas nada impedia de eu reconhece-la a bons metros de distancia. Dessa vez eu algo, uma pequena margarida (que arrancara da frente do cemitério).

Olhei para a lápide por alguns instantes e dei um sorriso triste.

– Oi. - Sussurrei, como se ao em vez da lápide era Monique lá. Me ajoelhei, colocando a margarida sobre a grama na frente da lápide. Eu tentava não imaginar que era ali que o caixão com o corpo de mamãe estava enterrado, em processo de decomposição. - Não tive tempo de comprar alguma coisa melhor, talvez um Miosótis ou até mesmo um Cravo Vermelho, com certeza expressaria melhor o que sinto... - Suspirei, lembrando-me dela ensinando a mim e a Jason (que não estava nada interessado) sobre as flores e seus significados.

Miosótis é minha flor preferida e lembro de mamãe contando sobre a lenda da flor de Miosótis.

"- Tem tantas lendas para essa flor - Minha mãe dizia enquanto a colocava em minha mão, é delicadeza da flor fazia-me deixar minha mão mais imóvel possível, com medo de estragar as pétalas azuis delicadas. Mamãe sorria, olhando-a. - Alguns dizem que a flor é magica e abrem portas para o tesouro do mundo, seja ele qual for. - Ela deu uma leve risada e capturou a flor de minha pequena mão, acariciando as pétalas de repente melancólica. - Seu pai que apresentou-a para mim, nos conhecemos no Rio Grande do Sul, eu já te contei, não? - Ela deu um sorriso triste. - A flor significa amor sincero, fidelidade. - Ele fitou o nada e depois voltou a me olhar, parecendo voltar no tempo. - A flor também é conhecida como 'não me esqueças' e tem uma antiga lenda romântica alemã, conta-se esse nome está relacionado à última frase de um cavaleiro que, tentando alcançar uma flor para oferecer para a sua companheira, por conta do peso da armadura caiu em um rio e se afogou gritando para a companheira 'Não me esqueças'...

Ela suspirou pesadamente e, depois de recuperada, continuou a aula sobre flores."

– Seria bem mais apropriado. - Falei para mim mesma, me acomodando ao lado da lápide.

Fechei os olhos e, por fim, relaxando. Era bom conseguir relaxar depois de horas tentando parecer normal.

***

Os dias foram normais, Jason parecia estar adorando minha atuação e eu já pensava seriamente em ser atriz.

E também tinha Renan, que parecia ser uma estrelinha em meio a escuridão da noite. Ele realmente me deixava confortável, e, muitas vezes, eu nem mesmo precisava de Renan junto comigo na cama, o fato de ele estar no quarto já me fazia sentir relaxada. O final de semana se aproximava, Jason e eu não trocávamos muitas palavras, Renan e eu também não, mas eu sentia que era diferente. Enquanto Renan e eu não conversávamos porque de fato as palavras pareciam inúteis, Jason e eu não conversávamos porque não estávamos dando muito bem...

Estar com Gabrielle era ser falsa de mais, fingir que está tudo bem era desgastante e, quando a semana terminou, eu me sentia muito cansada.

– Talvez hoje você acorde e eu ainda esteja aqui. - Renan falou sorrindo, ele queria que eu implorasse para ele estar.

Era sexta de noite, era uma das raras vezes em que conversamos (normalmente ele estava cansado de mais, e dormia antes mesmo de mim), era bom conversar com alguém sem precisar dizer que está tudo bem quando não está. Como sábado Ranan não iria trabalhar ele estava fazendo de tudo para mim pedir a ele para que ficasse até o almoço (nos dias de semana quando eu acordo ele já foi para o trabalho), mas ele estava se enganando se achava que eu iria me render.

– Faça o que você quiser - Falei, fingindo frieza e indiferença - Se quiser tomar café junto comigo, se preferir ir antes, vá, eu não me importo.

Ele riu, estávamos de frente um para o outro, eu de braços cruzados e ele tirando a blusa de moletom para irmos dormir, eu já estava de pijama a um bom tempo. Sua risada me aqueceu por dentro, mas tentei não demonstrar. Infelizmente ele parecia saber.

Renan me abraçou beijando meu cabelo. - Então não me espere para o café. - Ele disse normalmente e uma tristeza me invadiu. Renan era a única pessoa que me fazia sentir bem. Ele pareceu perceber minha tristeza. - Ei, minha pequena, é brincadeira. - Ele me olhou e beijou minha bochecha.

Seus lábios macios em meu rosto me fizeram fantasiar beija-lo de verdade e fechei os olhos por uns instantes.

Ele é amigo do meu irmão, senti meu rosto quente e o escondi na curva do pescoço de Renan.

–Quando você acordar, eu vou estar do seu lado. - Ele disse suavemente.

Deitamos juntos apesar de ser uma cama de solteiro, nossos corpos mau se tocavam. A garantia de ele estar comigo, além de sua respiração em minha nuca, era a mão direita dele que eu abraçava junto a minha barriga. Era maravilhoso te-lo por perto.