A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 3
Capítulo 3 - Trabalho.


Notas iniciais do capítulo

Bem.... obrigada à todos aqueles que mandaram reviews - eu fiquei muito feliz ^ ^
Agradeço à:
> BonBonBon (senti sua falta ^ ^)
> Lilith
> LuLerman
> Ragnard
...
Bem, obrigada ^ ^ E eu espero que vocês gostem deste capítulo.
Beijos,
EUQOPÉ-ELLE3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/174119/chapter/3

Capítulo Três – Trabalho.

Só parei em frente à tenebrosa construção.

Os portões estavam abertos em um convite para os corajosos. Eu certamente não era um deles. O lugar deveria ser uma maravilha quando o sol estivesse brilhando no céu. No centro havia um pequeno lago, cercado por várias lápides e estátuas de anjos por todo o terreno. Sem contar as flores bem tratadas.

Porém, a escassez de luz era apavorante.

Engoli em seco e suspirei. Não sou tão corajosa quanto o meu pai, mas eu também nunca fui nenhum Scooby Doo ou Salsicha.

Sem mais pensar, entrei no cemitério.

Procurei por entre as brancas lápides, mas tudo o que eu via eram estatuetas de anjos e túmulos. Roman tinha razão, o cheiro era de coisa morta, porém misturada com a terra molhada. Esse segundo odor vinha de um buraco cavado, talvez houvesse algum velório próximo. Não havia nada, nenhum caixão ou nenhum corpo.

O que me fez pensar: Quantas pessoas será que morrem anualmente naquela cidade? Aposto que não deveriam ser muitas.

Ouvi um barulho atrás de mim e, assustada, me virei. Perdi o equilíbrio e quase caí dentro do buraco. Porém, ele me segurou pela cintura. Colando abusadamente o seu corpo ao meu e fitei seus olhos cinzentos, com medo de cair. Mas essa não foi a maior de minhas preocupações.

- Quem é você? – perguntei temerosa, e fitei o estranho nenhum pouco confiável.

Ele não se deu ao trabalho de responder. Suas mãos, firmes em minha cintura, deslizaram para os meus braços, ele recuou um passo e não pareceu sentir nada quando me puxou para a terra firme a que pisara. Então ele se afastou um pouco mais e eu pude vê-lo melhor.

Possuía cabelos cor de cobre, razoavelmente longos, num tom castanho pendendo para o ruivo, olhos estreitos e selvagens, regendo dois orbes perfeitos cinzentos e nebulosos, a pele era alguns tons mais brancos que a minha – e eu não sabia que isso era possível -, as sobrancelhas eram arqueadas, o nariz aquilino, as maçãs do rosto altas, o queixo saliente e os lábios cheios.

Não deveria ter mais de vinte e cinco anos. Vestia-se de modo estranho, usava uma calça jeans preta, botas até abaixo dos joelhos, uma blusa social branca com as mangas enroladas até os cotovelos e um colete preto de botões prateados por cima.

- Sou Alexander Van Cruce, trabalho aqui – justificou-se. – No entanto, você não trabalha aqui. Então espero que você tenha um bom motivo para não me fazer colocar o seu nome no túmulo que vão colocar aqui. O horário de visitas já acabou.

Engoli em seco com sua ameaça.

- Sou Anabelle Malback – estendi a mão, que ele não apertou. – Preciso falar com Alice Franklin.

Ao me identificar, ele só faltou rir da minha cara.

- A garota? – perguntou em tom debochado, analisando-me de cima abaixo. – Bem, quem certamente irá perder a cabeça vai ser ele, não eu. Venha, vou te levar até lá.

Ele andou e eu o segui.

- E então? O que você faz aqui? – perguntei tentando puxar assunto.

- Cavo covas e cuido das plantas – ele respondeu sem o mínimo interesse em sua voz. – Como eu sou mais forte e Roman é muito preguiçoso, decidiram que eu seria o mais indicado. Claro que eu cuido das flores apenas por gostar.

- E mais alguém trabalha aqui? – perguntei.

- Não. Mais ninguém tem o que Alice procura.

- E o que ela procura? – perguntei curiosa.

Ele parou e se virou para mim.

- Isso é ela quem tem que lhe dizer – respondeu. – Chegamos.

Olhei para o lado. Era uma pequena construção gótica, com enormes, majestosas e abóbodas portas e janelas de vitrais coloridos. Parecia uma pequena e sombria igreja no meio do cinzento e escuro cemitério. Minha mente divagou com as possibilidades do que eu poderia encontrar lá dentro.

Nem vi quando ele pulou a escada da frente e empurrou as pesadas portas para que eu e ele entrássemos.

Hesitei, mas ele tomou a frente e me guiou para dentro.

Lá dentro era macabro. Havia uma escada em espiral que subia e outra, do lado oposto, que descia. Havia duas portas, uma à nossa frente – passando pelas duas escadas – e outra ao lado da escada que descia.

 Alexander me levou para a porta à nossa frente.

Eu repensei se eu realmente iria querer esse emprego, pois o lugar era sombrio. Tão sombrio que quando alguém pousou a mão em meu ombro, eu dei um grito e me agarrei ao homem à minha frente, que não havia entendido o motivo do meu grito. Somente quando ele viu Roman se dobrando de rir ele percebeu que o seu colega de trabalho havia me dado um susto horrível.

- Aháhá... Você... há... tinha que... háhá... ver a sua... há... cara! – ele disse rindo.

- Isso não teve graça – eu disse dando um soco no ombro dele. – Quase tive um ataque cardíaco.

Alexander revirou os olhos.

- Crianças – resmungou.

- Pelo visto você não gostou do lugar – Roman disse depois que controlou a risada. – Não se preocupe, depois com o tempo, você se diverte.

- Eu estou passando a duvidar disso – admiti.

- Não duvide – ele disse. – Veja o como esse lugar é interessante. Essas duas escadas são interessantes. Se você subir essa aqui, você vai para um terraço que dá para ver a cidade inteira.

- E se eu descesse essa? – perguntei com curiosidade.

- Você vai dar no Inferno – ele brincou, mas sua brincadeira me apavorou.

- Não tome o tempo dela, Alice a está esperando – Alexander disse me puxando pelo braço.

- Roman disse que eu vinha? – perguntei olhando para o meu amigo de soslaio.

- Não, mas... Alice sabe de tudo – ele respondeu.

Ele abriu a porta e me deixou passar, porém, barrou a entrada de Roman, que ficou indignado. O lado bom era que não era tão apavorante quanta aquela antessala assustadora. Era apenas uma catedral. Um altar bem conservado e revestido em ouro reluzente, mármore nas paredes e nos chão, teto cheio de pinturas bíblicas, bancos da mais nobre madeira com assento aveludado... Para uma catedralzinha do interior, até que era bem nobre.

Meu olhar recaiu sobre a mulher de longos cabelos prateados até a cintura, parada em frente ao altar. Parecia observá-lo, eu só via a sua forma esbelta e podia garantir que ela era BEM magra.

- Alice a garota que o Roman encheu o saco falando está aqui – Alexander disse se aproximando dela, eu fiquei empacada no lugar, já ele começou a murmurar alguma coisa no ouvido da mulher.

Esta se virou para me olhar. Ela não era uma velha senhora como eu supus que fosse. Na verdade, deveria estar no auge de seus trinta anos, com cabelos platinados até a cintura descendo como seda, a pele macia e corada, olhos do mais intenso azul que perdiam para os meus apenas porque meus cabelos negros faziam contraste. Vestia-se lindamente com um vestido azul celeste adornado com pérolas e rendas.

Aproximou-se com passos seguros e leves, como se flutuasse sobre o chão. Seu olhar sobre mim era o mesmo olhar de alguém que vê algo que não acredita. Parou à minha frente, me analisou mais um pouco e estendeu a mão com um sorriso acolhedor.

- Sou Alice Franklin, prazer em conhecê-la Anabelle – cumprimentou-me.

- Prazer – eu disse apertando sua mão.

Ela soltou a minha mão e me rodeou com o olhar. Eu não sabia o que ela procurava em mim, mas daquele jeito me deixava até ansiosa.

- Você estava querendo um emprego de meio período? – ela perguntou curiosa.

- Ér... sim, eu acho – respondi. – Na verdade, é mais porque meu pai acha que algo para ocupar a minha cabeça seria uma boa ideia. Aconteceram muitas coisas ultimamente.

- Oh, é mesmo? – ela disse animada, se pondo na minha frente. – O que andou acontecendo?

- Meu namorado morreu – respondi. – Causas não divulgadas.

Ela me olhou de cima a baixo de novo. Agora com a curiosidade queimando em seus olhos cristalinos. Ela pegou meu rosto em suas mãos ossudas.

- Oh, que querida. Sinto muito – ela disse como se falasse o quanto uma criança é fofa. – São poucas as pessoas que aceitam esse emprego, mas vamos fazer o seguinte: vou-te por em fases de testes. Se o seu trabalho lhe agradar, e me agradar, você vai poder ficar.

Hum, isso era um... talvez?

- Tá vendo Alex, você que andava reclamando que era trabalho de mais para você cuidar, ganhou uma parceira – ela disse para o rapaz sentado em um dos bancos. Ele fingiu animação. – Você pode ajudá-lo a cuidar das plantas, são tantas Twinkky cheias de ervas daninhas... Você pode começar amanhã. Venha às seis horas, ficará até as nove, tudo bem?

- Twinkky? – perguntei confusa.

Ela sorriu para mim.

- É uma espécie rara de planta, parecida com roseiras – ela respondeu.

Mas, quanto ao emprego, ela estava falando sério?

Caramba, isso fora tão... fácil.

Fácil até demais, Anabelle” minha consciência reclamou.

- Tá – respondi dando de ombros.

Ela sorriu calorosamente mais uma vez. Parecia ser uma mulher bastante generosa. Ela passou sua mão por meu pescoço e parou em meu ombro, se virou para Alexander que, distraído, fitava a enorme cruz dourada pendurada no altar.

- Alex, você não tinha aqueles assuntos para resolver lá fora? – ela perguntou com uma voz dura e amável ao mesmo tempo. – Ou você já resolveu?

- Ainda não. Encontrei essa garota zanzando como uma barata tonta quando ia fazer isso – ele resmungou se levantando. – Vou terminar o meu trabalho. Com licença.

Ele se retirou.

- Bem, vou pedir para Roman te acompanhar até a sua casa. Aqui pode ser uma cidade pacata, mas ainda é perigosa – ela comentava pensativamente enquanto me levava em direção à porta. – Principalmente essa parte perto do cemitério. Vejo-te amanhã então.

Ela se despediu dando um abraço em mim e, depois que eu saí, fechou a porta da igreja. Eu não sabia o porquê de tanto mistério. Então era só pedir, ganhar um sim e ser posta para fora? Se eu soubesse que era tão fácil teria vindo mais cedo.

- Conseguiu o emprego? – Roman, que estava sentado em um dos primeiros degraus da escada que subia, perguntou. Mas pelo seu olhar, ele já sabia.

- Sim.

- Sabia. Meu olfato nunca me engana – ele disse sorrindo e me dando um abraço caloroso demais.

Ele disse Olfato?” minha consciência desconfiou.

Dei de ombros mentalmente. Talvez fosse alguma expressão local.

- O meu também... não? – eu disse me liberando de seu abraço, mais soando como uma pergunta. – O que me faz lembrar, você já namorou as gêmeas? A voz delas me soou muito estranha.

Ele deu um meio-sorriso.

- Não foi bem namoro... – ele disse. – Foi só uma transa.

Eu devo ter atingido vívidos tons de vermelho.

- Com as duas?! – a surpresa quase me fez gritar.

- Ahã... – ele respondeu. – Você já ouviu falar em à trois?

O encarei durante um longo tempo.

- Poupe-me de sua vida sexual – eu pedi me afastando dele. Eu sabia que ele parecia ser mulherengo... – Acho que eu já vou para casa. Ela disse que eu começaria amanhã.

- Eu te acompanho – ele se ofereceu.

- Não precisa se incomodar. Está tudo bem. Eu posso ir sozinha – eu disse.

- Você está com medo de ser a minha próxima vítima? – ele perguntou rindo. – Não se preocupe você conseguiu a minha admiração. Além do mais, o que um não quer dois não fazem. Vamos lá. Está tarde, é perigoso andar pela rua.

Ele segurou meu braço e me puxou para fora da construção.

Acabei permitindo isso, ainda mais porque o lugar me dava arrepios. Roman era um garoto legal, principalmente como amigo. Divertido, engraçado e descolado, diferente de todos os amigos que eu já tive. Havia algo que o tornava especial. Talvez fosse porque houvesse muitas coisas que o tornava um imã especial para atrair as pessoas ao seu redor.

Seria mentira se eu dissesse que não fiquei afim dele. Ele era bonito e engraçado... Mas algo me disse dentro de mim que ele não era a outra metade de minha laranja. Ele me lembrava muito ao David, o falecido, e eu aprendi a não namorar esse tipo de garoto novamente. “Errar uma vez é humano, mas, permanecer no erro, é burrice”.

Antes de sairmos do cemitério avistei a cabeleira castanha de Alexander agachado por entre alguns túmulos.

- O que ele está fazendo? – perguntei referindo-me ao meu futuro colega.

- Descarga de consciência – ele respondeu e o fitei interrogativamente. – Nem queira saber, ainda é muito cedo para falar sobre os problemas de meu amiguinho revoltado ali.

Dei de ombros, talvez Alexander estivesse rezando para alguma alma que morrera. Mas... ele parecia mais estar arrastando alguma coisa para dentro do buraco. Talvez uma daquelas cápsulas do tempo. Eu ia me lembrar de bisbilhotar mais tarde... Ou não. Minha memória é terrível. Deixei Roman me levar para a rua.

- Não veio de carro? – perguntei.

- Não, minha casa fica praticamente aqui do lado – ele respondeu. – A sua casa fica muito longe? Podemos passar na minha para pegar o carro...

- Tudo bem, minha casa fica bem perto também – respondi. – Dá para ir andando.

- O.K. – Ele concordou e suspirou. – E então? Como sua mãe e seu namorado morreram?

- Mamãe sempre teve uma saúde fraca – respondi. – Ela fez esforço demais para me ter, optou por parto normal. De acordo com o que o meu pai disse, ela parecia estar bem, pegou-me no colo até! Mas, algumas horas depois, acabou morrendo. Já David, morreu misteriosamente. Seus pais me disseram que ele ficou gritando o meu nome no quarto e depois, quando ambos foram ver o que era, ele estava caído durinho no chão, mas eu não acredito nessa versão. Os médicos também disseram algo assim, mas eu acho que teve algo mais... E eu não acredito que fiquei com raiva de ele ter me dado um bolo naquele dia. Fiquei tão chateada! Quer dizer, tínhamos terminado, mas ele disse que tinha algo muito importante para me dizer.

- Pense positivo, pelo menos você não ficou depressiva – ele brincou.

Eu não achei graça.

- E como a sua mãe morreu? – perguntei.

Ele fez uma careta.

- Acho que é a minha vez – disse passando a mão nos ralos cabelos de sua nuca. – Bem, minha mãe foi atacada por lobos em uma pequena cidade no interior da Inglaterra, onde eu e minha família tínhamos o costume de ir. Eu estava com ela, mas, de acordo com o que meu pai disse, eu estava intacto. Só ficou uma cicatriz chata em meu abdômen, quer ver? – perguntou levantando a barra de sua camiseta.

- Não precisa se importar – eu disse abaixando-a.

Ele riu do tom de vermelho que eu devo ter tomado.

- Agora, tem uma coisa que eu não entendi. Alexander disse que eu conseguiria o emprego se tivesse algo que a senhora-...

- Senhorita – ele me corrigiu.

- Que a senhorita Franklin procurasse. Ele disse que ela me diria o que é, mas ela não me disse nada – eu comentei. – Não faço nenhuma ideia do que eu tinha que ela procurasse...

Ele analisou a minha reação por um tempo.

- Bem, ela vai te contar quando achar que é a hora – ele respondeu.

- E o que ela procurava que você tinha? Ela te disse? – perguntei.

- Você faz perguntas demais. Aprenda que, para se conviver com Alice Franklin, você precisa esperar que as respostas venham até você. Nunca a pressione, ela detesta – ele comentava.

Eu parei na frente da minha casa.

- É aqui. Obrigada por me trazer – eu disse sorrindo.

Ele olhou para a minha casa.

- Uh, ela é bonita – ele disse com um sorriso.

- Obrigada, meu pai disse que ele cresceu nela – respondi. – Só não gostei dessa porta de vidro, parece que não dá nenhuma privacidade para quem está na sala.

- E você faz coisas que não devia na sala? – ele perguntou maliciosamente.

- Não – respondi na defensiva. – O.K. Desculpe o incômodo.

- Não foi incômodo nenhum – ele disse sorrindo. – Até amanhã, na escola.

- Hm, claro. Até amanhã – despedi-me.

Ele me deu um beijo na bochecha, eu estava seriamente pensando em pedir para ele parar de fazê-lo – pois me deixava desconcertada -, e ele voltou pelo caminho que havíamos vindo. Eu disse que havia sido um incômodo.

- Quem era ele? – meu pai interrogou no mesmo instante em que eu adentrei na sala de estar.

- Um amigo do colégio – respondi dando-lhe um beijo na testa.

- Já fez amigos? Que bom! – ele disse sorrindo.

- Sim, as pessoas são muito acolhedoras – respondi. – Acho que vou comer alguma coisa e dormir, estou muito cansada.

- Tudo bem, boa noite bonequinha – ele disse.

- Pensei que havíamos superado a fase dos apelidos – eu comentei.

- Minha garotinha está crescendo. Acho que o único modo de fazer com que eu me sinta menos velho é lhe dando apelidos carinhosos – ele respondeu. – Boa noite.

Comi uma torrada, tomei um banho sem molhar os cabelos e capotei na cama. Exausta.

...

Acordei mais animada.

Tomei um banho, vesti uma saia de cintura alta e de cumprimento generoso preta, uma regata preta e uma sapatilha da mesma cor sombria. Isso contrastou bastante o tom de minha pele. Deixei meus cabelos caírem como cascatas por minhas costas, já estava atrasada demais para ficar me preocupando com o penteado.

Tomei o café da manhã mais rápido de toda a minha vida, começando por uma torrada e um suco que eu terminei no caminho da escola. Papai havia saído cedo e ainda não regressara. Ele disse que havia ido fazer compras no supermercado, quer dizer, no MINImercado da cidade. Ele bem que poderia ter colocado o meu despertador ligado, ontem nem tive tempo ou cabeça de fazê-lo.

- Anabelle! – Anabeth e Elizabeth me cumprimentaram em conjunto quando eu passei pela porta da sala de Geografia, uma das matérias que eu tinha junto com todos os meus amigos feitos ontem.

- Essa foi por pouco – Roman disse olhando para os ponteiros do relógio pendurado em cima da porta, depois a campa tocou e ele sorriu para mim. – O professor de Geografia é um cara legal, mas não tolera atrasos.

Sentei-me no lugar que ele tinha guardado para mim com sua mochila e eu agradeci.

- Eu não sei que aconteceu comigo, eu estava esgotada ontem – eu comentei.

- E você nem começou a trabalhar – ele comentou rindo.

- Todos calados e sentados – o professor de geografia mandou com sua voz grave e assustadora. Parecia voz de narrador de futebol. – Agora vou começar a dar minha aula, aquele que não estiver interessado, por favor, se retire.

Ninguém se pronunciou e a aula foi dada.

Nunca antes eu entrei em uma sala de aula sem que as pessoas dessem um único pio. Sem conversas paralelas, eu tinha certeza que se um alfinete caísse no chão daria para ser ouvido. Em compensação, todos se comunicavam por bolinhas de papel e bilhetinhos.

Com Roman não foi diferente, ele jogou uma bolinha de papel na minha mesa e lhe olhei assustada. Ele sorriu e mexeu os lábios pedindo para que eu abrisse.

O que você vai fazer esse fim de semana?

Olhei para ele. Ele estava me chamando para sair?

Respondi:

Nada, afinal, sou só a novata.

E lhe devolvi o papel, que foi logo respondido e me entregado:

Oh, que pena. Ainda está na fase de Zé ninguém? Pule essa fase, vou dar uma festa na minha casa esse fim de semana. Dê uma passada lá. Vou convidar quase todo mundo.

Eu ri enquanto lia. Fase de Zé Ninguém, eu simplesmente me acostumara com ela.

Vou pensar no seu caso...

Entreguei-lhe e copiei a matéria dada. Pude ver que ele passou recadinhos para todos os outros também. Na verdade, para quase todo mundo da classe. Roman era alguém fácil de socializar por ser bem carismático, e eu admirava isso nele. Se eu fosse tão carismática como ele, eu certamente teria tido mais amigos do que já tive a minha vida toda.

Quando fomos liberados da classe ele me abordou junto com o resto.

- Anabelle, se você não for nessa festa, vai ser suicídio social. Roman dá as melhores festas – Elizabeth dizia.

- É. Bebidas liberadas, música boa... pessoas legais... – Anabeth dizia cutucando o meu ombro com seu cotovelo.

- Obrigado meninas – Roman disse com um sorriso simpático. – Faço o que posso...

- E seu pai não se importa, Roman? – perguntei.

- Não. Ele vai viajar para Dakota do Sul para trabalhar, vai passar uma semana fora. Sem contar que ele bebe tanto que ele nem vai perceber que vai faltar bebida do seu estoque – ele completava com orgulho. Bem, ele disse que não era um aluno exemplar, quanto menos um garoto exemplar.

- Hm, eu nunca fui muito fã de festas – respondi para as pessoas.

- Você vai gostar. Vai ter BEBIDA – Erika disse como se isso justificasse, enquanto arrumava os seus cabelos castanhos com mexas cor de chocolate. – Vamos ficar loucas juntas!

- Eu acho que concordo com Anabelle, também não sou de festas – Joshua se pronunciou.

- Valeu Josh – agradeci.

- Bem, se vocês mudarem de ideia, saibam que vai ter uma festa rolando na minha casa – Roman disse tomando a frente. – Hm, claro que vai ter que ser sábado à noite, por conta do nosso trabalho... O que me faz lembrar que precisamos comemorar o seu novo emprego!

- O que? Você está trabalhando, Isabelle? – Erika perguntou curiosa.

- Sim. No Cemitério Montecristo, junto com ele – eu disse e Roman deu um sorrisinho.

- Se eu fosse você tomava cuidado – Joshua disse.

- Por quê? – eu perguntei.

Roman deu um meio sorriso, mas o resto abaixou a cabeça. Exceto Erika, que riu.

­

- São lendas. Besteira – ela disse. - Sempre algumas adolescentes, desejando viver em cidade grande, fogem de casa e nunca mais são vistas pela família. Mas há boatos que dizem que lá no cemitério habitam zumbis, fantasmas, lobisomens e bruxas... e que supostamente elas são pegas e devoradas... claro que é só para ter uma lenda urbana.

Engoli em seco porque eu sempre tive medo desse tipo de coisa.

- Não precisa ter medo, eu vou estar lá – Roman disse passando o seu braço por meus ombros. – Eu te protejo

Anabeth, Elizabeth e Erika afastaram Roman de mim.

- Uou, ela é boa de mais para você rapaz – Elizabeth alertou. – Sempre dá merda quando você fica atirando para todos os lados sem olhar em quem acerta.

- O que vocês querem dizer com isso? – Roman perguntou.

Todos me olharam e eu não entendi o que estava se passando na cabeça deles. Mas sabia que, como o Roman era um livro aberto em falar seu passado, ele não hesitaria em me contar se eu perguntasse.

- Sempre dá merda quando você se envolve com uma garota que mal conhece. Fato – todos concluíram. – Vamos que já estamos atrasados para a nossa próxima aula.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!