A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 2
Capítulo 2 - Escola.


Notas iniciais do capítulo

Bem, acho que é normal que sempre haja um segundo capítulo para mostrar como é a escola que ela frequenta... será que isso é uma espécie de clichê? O.o
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Agradeço aos reviews de:
> Carooline *não sei porquê, mas quando eu vou responder ao review aparece como MissTangerine O.o*
> Lilith *que aparece eulilith O.o*
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Hope you like it~*



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Capítulo Dois – Escola.

Acordei mais cedo do que pretendia.

Tomei banho e me vesti. Coloquei a minha calça Skinny preta, minhas botas até a canela com um salto discreto, e uma regata azul marinho. Azul, vermelho e branco eram as cores que ficavam fantásticas em minha pele. David, meu falecido namorado cachorro, adorava me ver de vermelho, já eu, adorava vestir azul, mas meu pai adorava me ver de branco. Ele disse que o branco em minha pele branca ficava muito elegante.

Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, mas a franja razoavelmente grande insistia em deslizar do meu penteado.

Eu não era o ser mais fascinante do mundo. Meus cabelos eram negros, minha pele era branca e meus olhos azuis cristalinos. E eu não tenho o hábito de me maquiar. Meu pai não gosta de me ver maquiada, ele diz que isso o faz se lembrar de que eu não sou mais uma garotinha. Sem contar que eu perdi um pouco da minha vaidade. Parecia que não importa o quanto me pintasse, nenhum garoto olhava para mim.

Será que eu tinha que usar um decote enorme e uma saia de dois centímetros para alguém me olhar, ou me desejar?! Faz um ano que David morreu, mas eu não gosto de pensar que vou ficar presa a ele para sempre.

Saí do quarto e meu pai cuspiu seu café.

Ele já estava acordado e isso era a novidade do século.

– Que calça é essa? É colada de mais! – ele reclamou.

– Pai – eu disse abrindo a geladeira e pegando um suco. Fechei-a e disse: - Desencana.

Ele pareceu preocupado com o meu palavreado, fez uma cara de surpresa e eu me sentei na cadeira da sala de jantar. O período de aulas havia começado... E eu não sabia o que deveria esperar. Quem sabe salas de aula com no máximo vinte alunos cada ou apenas poucos professores disponível para ensinar.

– Ansiosa? – ele perguntou.

– Sim – respondi. – E com medo também.

– Como foi a sua primeira noite no seu novo quarto? – ele sorriu.

– Hm, eu gostei. Só não me agradou ver o meu ursinho de pelúcia me encarando de volta – eu disse rindo. – Como meu quarto estava um pouco escuro, eu só via os olhinhos brilhando. Da próxima vez, não coloque a estante de ursinhos de pelúcias em cima da minha escrivaninha, de frente para a minha cama.

Ele riu.

– Quer que eu te leve para a escola? – ele perguntou.

– Acho que não é preciso, obrigada – eu disse.

Ser levada pelo pai no primeiro dia de aula é gozação, não é? Quer dizer, vai dar a impressão de que eu não sou mulher o suficiente para encarar os desafios do primeiro dia de aula sozinha. Tenho dezesseis anos e não dependo tanto do meu pai quanto antes. Posso não ter um carro, e muito menos saber dirigir, mas posso enfrentar os meus problemas de frente. Até parecia que era a primeira vez que eu encararia um “primeiro dia de aula”.

Papai disse que as coisas são muito próximas uma das outras. Vou acreditar nele e ir andando.

– Vou andando para a escola – eu disse. – Deseje-me sorte.

– Boa sorte – ele disse.

– Obrigada – levantei-me da cadeira e joguei a caixa do suco fora. – Te vejo mais tarde.

Ele sorriu e eu peguei a minha mochila. Respirei fundo quando saí de casa. Mas já sentia o medo e a ansiedade que passava a me dominar. O suor frio vindo das palmas das minhas mãos, o descompasso do meu coração só de pensar que vou ter que ir sozinha para um lugar que eu não conheço ninguém e aquele nó na garganta que parece fazer com que toda a sua voz suma.

Suspirei.

Odiando o fato de que a escola ficava realmente muito perto da minha casa, mandei minha insegurança para o inferno. Sim, eu já via a cerca de arame que rodeava o estacionamento da escola junto com o conjunto cinzento e murcho de prédios escolares. Respirei fundo, limpei minha mão suada na calça jeans preta e entrei no prédio principal, ignorando quaisquer olhares curiosos que recaíram sobre mim.

Os corredores eram largos, cujas paredes eram pintadas de amarelo e cobertas por armários e cartazes. Avistei a pequena plaquinha com a palavra “secretaria” e respirei fundo. Cinco minutos e ainda nada de ruim havia acontecido, era um progresso. Geralmente, eu encontrava com a patricinha gostosona depois de passar pela porta, aí eu respondia às suas provocações (geralmente pelas minhas roupas) com o meu, especialmente guardado para a ralé, “Vá à merda!”.

Entrei na secretaria, que era uma saleta quadrada com dois sofás ao lado da porta, duas portas, uma na direita e outra na esquerda, uma das portas levava a sala dos professores e a outra levava à diretoria, com uma escrivaninha na minha frente que era usada por uma mulher roliça e de rosto amável.

– Oi, bom dia – cumprimentei a mulher cujo crachá anunciava o seu nome Silvia Maldonado. – Eu sou Anabelle Malback, a aluna nova.

Ela sorriu gentilmente.

– Bom dia querida – cumprimentou-me. – Seja bem vinda à Liveway High School*, por favor, sente-se enquanto eu vou pegar o material com o seu horário.

Sentei-me em um dos sofás e a vi entrar na sala dos professores. Só gostaria de saber por que as mulheres gostavam tanto de ficar chamando de “querida”, é algum problema de cidade pequena?

O sinal tocou e nada da senhora Maldonado voltar.

Passaram-se cinco minutos e nada dela aparecer.

Será que era tão difícil encontrar a minha ficha? Era só ela procurar no M de Malback.

Um garoto entrou na secretaria com a cara de poucos amigos e se sentou ao meu lado no sofá. Ele murmurava alguma coisa, que depois eu fui perceber que eram palavrões escabrosos. Seu cabelo era loiro com luzes brancas, cortado tão curto atrás que o fora feito com máquina e longo na frente, olhos azuis escuros e pele branca. E o rosto era magro, com o nariz aquilino e os olhos estreitos. Ele calçava coturnos pretos, vestia calça jeans preta com rasgos e uma camiseta branca com a bandeira da Inglaterra, com a gola estilo canoa.

Eu o olhava desde que ele passou pela porta, mas só agora que ele havia se dado conta da minha presença. É. Eu não sou nada marcante.

– Oh, desculpe – pediu, acho que se referindo aos palavrões pronunciados. Então ele estendeu a mão para mim. – Sou Roman Langerark.

Olhei para a sua mão estendida para mim com certa desconfiança.

Ele parecia descolado de mais para estar falando comigo... Não é?

Vamos, garota. Não faça feio no seu primeiro dia de aula” ouvi a irritante voz de minha consciência falando em minha mente.

– Anabelle Malback – cumprimentei-o retribuindo o seu aperto de mão.

– Prazer – ele disse dando um meio sorriso. – É o seu primeiro dia?

– Hm? É – eu respondi.

Como se fosse o melhor de meus amigos de infância, ele ousou envolver meus ombros com um de seus braços e sussurrou em meu ouvido:

– Por não ser um aluno exemplar, vou te dar umas dicas: Você nunca deve jogar cola no cabelo do professor de artes, nunca deve se atrasar para a aula de geografia, nunca deve ficar sem fazer o dever de matemática e nunca, jamais, durma na aula de história. Não importa o quão chato seja.

Ele parecia saber das coisas mesmo.

– E você está aqui por quais dos motivos? – perguntei.

Ele deu um sorrisinho envergonhado.

– Dormi na aula de história – admitiu. – Mas aceite que a Revolução Industrial é uma merda e uma matéria muito manjada. Já vi tantas vezes que estou começando a achar que sou Charles Chaplin em “Tempos Modernos”. Antes eu até gostava, mas esse professor estragou com a matéria. Ele faria até mesmo o Oliver Twist dormir no próprio tempo. Sem contar o meu emprego de meio período, trabalho de seis às nove da noite.

– Oh – eu disse. – E no quê você trabalha?

– Trabalho no cemitério Montecristo, gerenciando sepultamentos – ele disse rindo, provavelmente da cara que eu estava fazendo.

– Precisa ter muita coragem – admirei-o –, mas, por acaso, vocês precisam de mais alguém? Meu pai está doido para me ver trabalhando e ontem uma senhora chamada Evelyn disse que tinha uma vaga disponível no cemitério.

Ele me analisou de cima a baixa.

– Sei quem é essa. Evelyn Balão – ele resmungou com rancor. – Tem a boca tão grande quanto o tamanho... Agora, não sei se há cargos vagos. Primeiro você tem que falar com Alice Franklin, ela é quem manda em tudo lá... Mas ouvi dizer que ela estava procurando alguém confiável para cuidar das suas plantas raras – ele contou e deu uma fungada. – Seria melhor se você aparecesse por lá pelo cemitério por volta das seis horas. Ela não costuma atender telefonemas, ao menos que seja questão de vida ou morte.

– Hm, obrigada – eu disse.

– Srta. Malback desculpe-me pela demora, estava uma bagunça lá dentro, aqui estão os seus horários – Silvia disse entregando o meu horário e o papel para os professores assinarem. E então se virou de mau gosto para Roman. – Tá bom, Roman, o que você fez desta vez?

– Dormi na aula de história – respondeu com um sorriso amarelo.

– O.K. Vou te dar uma advertência – ela disse pegando um papelzinho em sua mesa e entregando a ele. – Já que você está aqui, faça o favor de acompanhar a senhorita Malback para a sua primeira aula, se incomoda? É que ela faz história com você.

– Nem um pouco – ele disse abrindo a porta: - Vamos, Belinha.

Suspirei. Despedi-me da senhora Maldonado e fui com ele. Nem comentei o fato dele me chamar de Belinha, que mais parece nome de cachorro ou de prostituta. Eu não gostava de apelidos. Meu pai me enchia de apelidos quando eu era um pouco menor, e o engraçado era que ele nunca repetia um apelido. Até ele amadurecer e perceber o quanto isso era ridículo.

Eu era Anabelle e ponto.

– E então, quem morreu? – ele quebrou o silêncio.

– Desculpe?

– Você não parece ser uma gótica, se não, ficaria animada com o meu emprego, muito menos parece àquela garota revoltada da família que acha que o mundo todo está contra ela, então suponho que você esteja vestida assim ou porque você acha que o preto de deixa mais magra ou porque você está de luto – verbalizou seus pensamentos.

"Meu deus, ele fala de mais! Será que ele sabe que precisa de um espaço para se respirar entre as palavras?"

– Foi o meu namorado quem morreu – respondi surpresa por sua pergunta direta. – E minha regata não é preta é azul marinho... Vim com ela justamente para quebrar um pouco.

– Sinto muito pelo seu namorado – ele disse, mas, como todos, ele não parecia realmente sentir. – E para mim, qualquer cor no tom próximo ao preto, é preta.

Ele parou na frente de uma porta feita de ferro com uma pequena parte de vidro para que fosse uma janela. Ele suspirou e abriu a porta, interrompendo alguma explicação.

– Com licença, professor – pediu entrando comigo.

– Entre – o velho senhor disse com má vontade. – Que bom ver o senhor desperto, Sr. Langerark. Parece que só acorda quando vê uma garota.

Todo mundo riu, menos Roman, este bufou.

– Sou Anabelle Malback, senhor – disse entregando o papel para que ele assinasse.

– Bem vinda – ele disse assinando e me entregando o papel. - Acho que há um lugar vago ao lado de seu amiguinho.

Roman deu um risinho irônico e se sentou em uma cadeira. Sentei-me na única cadeira vaga ao seu lado. Não tinham muitos alunos na sala de aula, talvez nem chegassem a vinte alunos. Talvez por isso as pessoas ficassem me encarando, aquele lance de ser a aluna nova.

Percebi que meu colega, Roman, tinha razão. Aquele professor matou a Revolução Industrial, e que era um dos meus assuntos favoritos. Oliver Twist, se é que ele existiu, deveria estar se revirando no túmulo numa hora dessas. A Revolução Industrial se tornava uma tortura saída dos lábios finos daquele professor de cabeça calva. Para não me encrencar no primeiro dia de aula, cada vez que eu estava para dormir, Roman jogava uma bolinha de papel para me acordar. Mas acho que ele fazia isso só para ficar rindo do susto que eu tomava.

– E então, qual é o próximo horário? – ele perguntou quando fomos liberados daquela aula.

– Literatura – respondi com uma careta. – Vou me lembrar da próxima vez não deixar meu pai escolher as minhas matérias.

Ele riu.

– Você mora com o seu pai e sua mãe? – Roman perguntou.

– Não, só com o meu pai. Minha mãe morreu algumas horas depois do parto – respondi.

– Sinto muito – ele pediu mais uma vez, mas dessa vez ele parecia sentir mesmo. – Mas de que lugar você veio? Cidade grande ou outra cidadezinha do interior?

– Cidade grande. Na verdade, eu e meu pai nos mudávamos com frequência. Era que uma hora ou outra ele precisava passar uma temporada em algum lugar e me levava com ele. Mas eu vim de Nova York desta vez.

– Então você já morou em vários lugares? – perguntou curioso.

– Sim. Só esse ano eu já me mudei umas três vezes – eu comentei. – E você? Sempre morou aqui nessa cidade pequena?

– Hm, não... É que eu era muito pequeno quando minha família se mudou para cá. Mas eu vim da Inglaterra, eu tinha uns dois anos, mais ou menos – ele respondeu. – Meu pai precisava de um tempo sozinho... Ele achou que uma cidade que quase ninguém sabe que existe seria uma boa ideia. Minha mãe morreu.

– Oh, sinto muito – eu disse.

– Tudo bem, eu mal a conheci. Assim como você – ele disse.

– É – eu concordei.

Ele parou enfrente a outra porta, bem parecida com a da aula de História.

– Uma coisa que você precisa saber, a professora de Literatura Inglesa é Lucinda Greenfield, mas todo mundo apelida ela de Garfield. Em hipótese alguma a chame assim quando ela estiver em sala. Isso a magoa profundamente e ela fica te perseguindo o ano todo – alertou-me com gentileza.

– Vou me lembrar disso – eu disse dando um sorriso.

Ele se despediu dando um beijo na minha bochecha e foi para a sua aula.

Bem, querem saber o porquê à professora Lucinda Greenfield é chamada de Garfield? Primeiramente, é porque ela é ruiva, de olhos verdes, e porque ela está levemente acima do peso. Ela é uma mulher fofa e engraçada como o Garfield. Mas era óbvio que ela parecia se magoar com o apelido carinhosamente dado, pois ela chegou à sala de aula dizendo que ia fazer uma dieta.

Ela era um amor de pessoa, nunca gostei tanto de literatura em toda a minha vida. Eu saí de lá feliz da vida. Eu estava arrumando o meu material quando duas garotas, gêmeas idênticas, vieram falar comigo.

Uma se chamava Elizabeth, tinha cabelos castanhos avermelhados, olhos verdes, pele corada e, a outra, se chamava Anabeth, com as mesmas características da irmã, exceto que havia uma mecha rósea em seu cabelo, talvez fosse para não confundirem as duas.

– Olá – cumprimentaram-me. – Somos Anabeth e Elizabeth, como você se chama?

– Anabelle Malback – respondi sorrindo amigavelmente para as garotas.

– Está gostando de Liveway High School? – perguntou Elizabeth.

– Estou. Aqui as pessoas são bem... Amigáveis.

– De onde você veio? – perguntou Anabeth.

– Nova York.

Elas pareceram maravilhadas.

– Uh, cidade grande – disseram. – Qual é a sua próxima aula?

– Artes – respondi.

– Ah, o nosso próximo período é calculo, mas podemos te acompanhar até a sala. Fica no caminho – Elizabeth disse amavelmente acolhedora.

As pessoas eram realmente muito amáveis naquela cidade. Nas outras cidades grandes em que eu ficara, demorava mais ou menos cinco dias para fazer amizade. Aqui, as pessoas me acolheram de braços abertos.

Saímos da sala de aula juntas, e me encontrei com Roman, que me esperava para acompanhar para a próxima aula. Ele sorriu para mim e para as garotas.

– Que bom que fez amizade – disse. – Elizabeth, Anabeth, como vão?

– Bem – ambas responderam com um sorriso estranho, quase derretido, nos lábios.

Eu fiquei confusa, pois havia algo no modo em que eles se cumprimentaram e se olhavam que me deixou com uma pulga atrás da orelha. Algo me dizia que ele as conhecia muito mais do que ele aparentava.

– Qual a sua próxima aula? – ele perguntou para mim.

– Artes – respondi.

– Hm, professor Michael – ele murmurou. – Com esse você tem que tomar cuidado. Tem que anotar tudo o que ele diz em sala de aula, muitas vezes não tem nos livros.

– É – Elizabeth concordou. – Sempre caí nas perguntas dele, o que me faz lembrar, que as perguntas dele não têm nem pé e nem cabeça. Se você não for boa em interpretação, você nem tirará D no boletim.

– Sem contar, que ele é um saco. Se você questionar a interpretação de alguma coisa, ele fala um bando de argumento sem fundamento para provar o quanto está certo – Anabeth disse. – Ele gosta de ser “o dono da verdade”.

Eles me deixaram na frente da sala de aula.

– Te vemos mais tarde – as gêmeas se despediram.

– Te vejo na próxima matéria – ele se despediu me dando um beijo na testa desta vez.

Concordei com a cabeça.

A escola, graças a Roman e as gêmeas foi algo reconfortante e não mais assustador. Eu também fiz outros amigos, como Erika Johnson e Joshua Hamming. E, se eu pensei que não tinha alguma patricinha pela escola, percebi que estava enganada. Elas só não mexeram comigo porque Roman era meu amigo, o que significa que eu fiz amizade com as pessoas certas pela primeira vez.

Encontrei com meus amigos no almoço. Como ninguém gostava do ambiente da lanchonete, eles resolveram que iríamos comer no anfiteatro que ficava no centro de um jardim do colégio. Era agradável, eu gostei.

– Você vai querer mesmo o emprego lá onde trabalho? – Roman perguntou enquanto comia algo parecido com um McNugetts do Mcdonalds.

– Hm, eu não sei. Talvez. Por quê? – perguntei.

– Oras, tenho que fazer a cabeça da Alice – ele riu. – Vai ser legal, acho que você vai gostar. Quer dizer, tirando o cheiro de coisa podre, a neblina sobrenatural que parece cobrir o cemitério e o cheiro de coisa morta em todo o lugar.

Senti meu estômago se revirar.

– Que acolhedor – eu resmunguei.

Ele e todos os outros riram.

– Não. Sério. Apareça por lá hoje – ele sorriu.

Quando as aulas acabaram, Roman se ofereceu para me levar para casa no seu carro, mas recusei gentilmente. Ele estava muito atirado para cima de mim, ainda mais porque eu não era muito fã de ficar recebendo beijinho na bochecha. Eu não era a garota mais carinhosa do mundo, mas eu me limitava apenas a um abraço.

Papai iria ficar muito orgulhoso quando eu lhe contasse que estava indo tudo bem no meu primeiro dia de aula. Mas ele não estava em casa quando eu cheguei lá. Na porta da geladeira, o bilhete dizia que o jantar estava no congelador e que ele fora procurar emprego na rádio local.

Bem que ele tem uma voz de locutor... Uma voz aveludada e profunda.

Fui para o meu quarto resolver as questões de cálculo. Roman me alertou sobre o professor. Eu mal chegara à escola e ele passou pilhas de exercícios, sem contar as montanhas de exercícios atrasados que eu tinha para lhe entregar. Para ele, os exercícios era um bom jeito de se aumentar a nota. Por exemplo, se você tira um B, mas tiver feito todos os exercícios, ele te dá um A.

Isso me pareceu justo.

Roman era como um guia de como agir na escola, fora bastante gentil e acolhedor, mas algo me dizia que ele agia assim com qualquer um. Ele também parecia gostar de distribuir carinho por aí. As gêmeas também faziam isso, eram carinhosas e animadas. Já Joshua, era mais quieto como eu, porém, sua inteligência era inquestionável. Erika era mais calma que as gêmeas também, e isso era um fato. Roman disse que ela não estava nem aí para a escola, mas que era uma boa amiga.

Acho que papai tinha razão ao querer vir para cá.

Talvez esse lugar me fizesse bem.

Eram seis horas quando eu olhei para o espelho. Refleti se eu iria mesmo querer um emprego de qualquer coisa no cemitério... No entanto, qualquer coisa pode ser qualquer coisa! E eu não sei se estava disposta a arriscar... Eu não estava tão desesperada assim, mas se não fosse pela pressão do meu pai, eu nem iria. Ele quer tanto que eu arrume um emprego... Espero que ele goste então.

Coloquei o meu casaco de couro preto e saí do meu quarto.

– Aonde você vai? – meu pai perguntou curioso, ele estava sentado em uma das cadeiras da sala de jantar com alguns papéis espalhados e o violão sobre uma perna. Estava compondo.

– Em busca de meu emprego – respondi. – Fiz amizade com um garoto que trabalha naquele Cemitério que sua amiga Evelyn mencionou. Ele disse que era para eu passar lá agora para falar com a mulher que manda no lugar.

– Oh, você não precisava levar isso ao extremo eu estava brincando... – ele desconversou, mas realmente tinha tom de quem não estava prestando atenção.

– Bem, sua brincadeira me deixou curiosa – disse beijando a sua testa. – Já vou. E se o mapa que o senhor me deu estiver certo, eu não vou demorar muito.

Saí de casa e vi que o céu escurecia gradualmente, e essa constatação só serviu para atiçar os meus medos. Visitar um cemitério é uma coisa, mas visitar um cemitério à noite era outra. Tentei me lembrar do que a minha avó me dizia: É mais sensato temer os vivos do que os mortos.

Engoli o meu medo que já formava um bolo em minha garganta.

Você é uma mulher ou uma rata, Anabelle?”

Tirei o pequeno e simples mapa, desenhado pelo meu pai, de meu bolso e dei uma checada, voltando a colocá-lo no bolso quando comecei a andar.




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Notas finais do capítulo

*Que original hein?