Acordei com o corpo e a alma leve. Eu me senti a bem, apesar do que o dia anterior significava para mim. Rolei pela cama e abri os olhos lentamente, o quarto estava escuro devido às cortinas fechadas e luzes apagadas. Me espreguicei e me levantei indo tomar banho. Saí do chuveiro, vesti um vestido florido e calcei uma sandália baixa, fiz uma trança no cabelo e desci para tomar café.

Me lembrei que tinha que conversar com Alice e pedir desculpas por deixá-la sozinha no dia anterior, ela não tinha culpa. Cheguei à cozinha, Alice estava lá preparando o nosso café da manhã, fui até ela e dei um beijo em seu rosto. Voltei para a mesa e me sentei, logo Alice se sentou também e comemos em silêncio.

- Alice, eu quero lhe pedir desculpas por ontem. – eu disse olhando em seus olhos.

- Não se preocupe querida. Eu entendo a sua dor, mas reforço que você tem que se acostumar. – ela dizia séria, me analisando.

Apenas assenti e voltei a comer. O clima estava um pouco estranho, Alice tinha uma felicidade escondida em seu olhar, sentia que ela me escondia algo, isto aguçava a minha curiosidade. Terminei de comer e fui lavar o que eu havia sujado.

- Maria, eu preciso conversar com você. – ela disse com tom sério.

Voltei para a mesa e arqueei a sobrancelhas, acenando para que ela falasse. Alice deu um meio sorriso e apontou para sala. Fomos para a sala e nos sentamos de frente para outra. De alguma forma eu já sabia o que ela queria conversar comigo. Alice estava diferente desde um tempo atrás, sua face cansada dava espaço para uma face alegre e, além disto, ela demorava mais para chegar do trabalho, estava mais feliz e o seu tom de voz era sempre contagiante.

-E então? O quer conversar? – eu perguntei normalmente.

- Eu não sei por onde começar. – ela disse e eu ri com sua atitude. Alice parecia uma adolescente.

- Que tal pelo começo? – sugeri rindo pelo nariz.

Ela fez uma careta e ficou séria demais. Me preocupei com sua expressão, mas de repente ela me olhou nos olhos e falou rapidamente.

- Eu estou namorando!

Arregalei os olhos. Bom, eu já sabia que seria algo assim, mas é sempre uma surpresa, ainda mais pelo jeito que ela dissera que estava namorando. Após o susto, dei um sorriso largo, a fazendo amenizar a expressão. Ri e ela fez o mesmo. Logo nos encaramos.

- Bom, eu já sabia...

- Já sabia? – ela perguntou assustada. – Eu disse para ele...

- Eu suspeitava para ser mais exata. – respondi rapidamente, mas fiquei curiosa pelo que ela ia falar.

-Ah. – deu um suspiro. – Acho que estava escrito na minha cara né. – ela deu um sorriso tímido.

Sorri junto a ela.

-Mas e aí? Quando vou conhecer o meu titio? – perguntei e Alice revirou os olhos.

- Que tal hoje? – arqueei a sobrancelha. – Eu o chamei para almoçar conosco. – ela explicou.

Dei um suspiro e assenti.

- Se você não quiser eu posso desmarcar. – Alice disse preocupada.

- É claro que você não vai desmarcar! – eu disse rapidamente. – A casa é sua e eu estou ansiosa para conhecê-lo. – ela sorriu e eu me lembrei que nem sabia o nome do namorado de minha tia. – Qual é o nome dele?

- Marcos! – ela respondeu animada. Hum. Este nome não me é estranho.

[...]

- Mattew? – perguntei abrindo a porta e o encontrando com um sorriso no rosto.

Eu não tinha falado com Matt deve ontem depois que eu cheguei. Nós não havíamos combinado de sair ou algo do tipo, então achei estranho ele aparecer por aqui. Mesmo assim o abracei e dei-lhe um beijo, que retribuiu com fervor. Separei-me dele e olhei por cima de seus ombros, havia um homem um pouco mais alto que ele atrás dele. Encarei o homem, que tinha ao mesmo tempo um sorriso malicioso e tímido. O homem que estava atrás de Mattew parecia um pouco com o meu namorado, os olhos dele eram pretos, mas o rosto e o tipo físico eram bastantes parecidos. Sorri discretamente para o homem que retribuiu.

- Eles já chegaram? – perguntou Alice da cozinha.

A pergunta dela ficou serpenteando por minha cabeça. Eles? Como assim eles? Alice sabia que Mattew viria almoçar conosco? Por que o homem que está com ele se parece tanto com o meu namorado? Várias perguntas sem uma resposta imediata rodeavam por minha mente. Até que eu entendi, e tomei um susto. Engoli em seco e senti minhas pernas pesarem. Não era possível, Alice não faria isto. Ela não sabia do eles eram? Do sentimento que nutriam? Não, eu ainda devo estar sonhando, não é possível.

- Maria? – ouvi Mattew perguntar enquanto envolvia minha cintura.

Olhei em seus olhos ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Meu coração acelerou, eu não sabia que reação tomar, além de olhar nos olhos de Matt com os meus olhos arregalados.

- Maria? – agora era Alice que falou atrás de mim.

Ouvi uma risada sem graça dela e depois a vi indo abraçar o homem que estava atrás Mattew.

- Maria, este é Marcos!

[...]

Enquanto almoçávamos eu não conseguia tirar os olhos do pai de Matt. Eu ainda não tinha tido uma reação correta. Apenas o cumprimentei e não troquei muitas palavras com Marcos. A idéia de ele ser pai de Mattew não saía da minha cabeça, ele me fazia lembrar da mãe dele e de tudo o que eu sabia. Ele me fazia lembrar de minha família. Eu me sentia uma traidora.

Após o almoço, eu fiquei na cozinha arrumando-a, Matt me ajudava, enquanto Alice e Marcos estavam na sala. Eu também não falei muita coisa com Mattew, eu realmente não estava me sentindo bem e sabia que meu namorado já havia notado isto.

- Você está distante hoje – ele disse com um tom misto. Divertido e preocupado.

- Por que não me contou que Alice estava namorando o seu pai? –perguntei ignorando o seu comentário anterior.

- Ela pediu que eu não contasse. Acho que ela queria conversar com você primeiro. – ele disse dando de ombros.

-Ah.

Ficamos em silencio de novo.

- É por isto que está assim? – ele perguntou fazendo com que eu olhasse em seus olhos.

- Não. – menti.

- Eu não iria esconder nada de você, mas Alice pediu e era muito melhor você saber por ela do que por mim, não acha?

- Você está certo. – sorri sem mostrar os dentes.

Mattew me deu selinho e não pude evitar de sorrir. Eu não consigo manter o meu mau humor quando tem este ser perfeito perto de mim e ainda me beijando.

Ficamos a tarde toda conversando. Eu, Mattew, Alice e Marcos. O clima pesado passou, pelo menos eu consegui atuar um pouco, não queria que Alice tirasse conclusões precipitadas. No final da tarde eles forma embora e eu subi para o meu quarto. Fiquei pensando naquela tarde, eu realmente estava surpresa e o sentimento de culpa voltava a me consumir e acabar com a minha auto-estima. Aquele quarto estava me entediando, eu precisava conversar com alguém que soubesse de tudo. Josh.

Levantei-me da cama e fui até onde nós ficávamos conversando. Josh estava lá como de costume. Ele amava aquele lugar, parecia ao menos, pois a maioria das vezes que eu ia ali, ele já estava. Me aproximei como das outras vezes e tampei seus olhos.

- Maria! – ele disse sério, provocando uma careta minha.

Sentei-me do seu lado e o observei. Josh estava sério e não olhava em meus olhos, ele olhava para a rua, sem um ponto fixo. Suspirei.

- O que você tem?

Depois de alguns minutos ele respondeu:

- Nada.  –disse frio.

- Se não tivesse nada, não estaria assim.  –respondi dando de ombros.

- Assim como? – arqueou as sobrancelhas e me olhou nos olhos. Senti meu coração acelerar.

- Sério... – eu não sabia muito bem o que dizer. As palavras não saíam da minha boca.

- Isso não significa que eu tenha alguma coisa. – seu tom ainda era frio e meu coração ainda batia acelerado.

- Eu sei, mas...

- Então por que perguntou?

Seu tom frio e grosseiro estava me irritando. Talvez fosse uma má idéia eu ter ido conversar com ele. Ele não parecia bem. Um pensamento veio em minha mente e foi aí que meu coração disparou ainda mais.

- Você não está assim por causa daquilo que eu te contei ontem, não é? – eu disse em um fio de voz, rezando para não ser o que estava pensando.

Josh me olhou com os olhos verdes arregalados.

-Mas é claro que não! Eu já disse que eu não tenho nada! – seu tom ainda era grosseiro.

Suspirei pela verdade que eu vi em seus olhos. Não queria que Josh ficasse com raiva de mim por causa do que eu lhe contei. Eu senti que não deveria ter dito nada, mas foi involuntário.

- O que você queria falar comigo? – ele perguntou, me encarando.

- Nada. – desisti de conversar com ele sobre o namoro de Alice.

- Hm.

Voltamos ao silencio. Eu apenas o observava. Ele estava sem camisa, exibindo os músculos bem definidos e a pele clara e lisa. Seus cabelos estava bagunçados, porém curtos e davam charme a ele. O rosto de Josh era angelical, mas tinha alguns traços fortes, eu entendia o porquê de as meninas ficarem o admirando, flertando com ele. Assim como Matt ele é lindo, maduro e um ótimo amigo. Eu o amava e não havia como fazer o contrário, Josh é uma pessoa maravilhosa, se eu não fosse apaixonada por Mattew e o tivesse conhecido primeiro, seria bem possível de eu flertar com ele também.

- Cuidado para não babar. – Josh disse em tom divertido, mas mantendo o seu tom anterior.

Apenas suspirei.

- Vi que meu tio e o Matt foram em sua casa. – ele ainda fitava a rua. – Era isso que queria me falar, não era?

Impossível entender a maneira como ele me entende!

- Era.

- Então pode falar.

- Não quero mais.

Ele bufou.

- Maria, meu tio não apresenta perigo a vocês. Ele gosta realmente da sua tia, se não gostasse não estaria com ela. E esta culpa que você se permite sentir é idiota, você não tem culpa de nada, muito menos a sua família – suspirei. – Quem não deve não teme, lembra? – comecei a protestar. – eu na estou dizendo que você tenha alguma culpa só estou te lembrando para não temer

Respirei fundo. Não tinha nada para falar. Na verdade, a única coisa que eu realmente queria era conversar com o meu amigo. Estar perto dele me fazia sentir bem e isso bastava.

- Obrigada. – disse.

- Não precisa agradecer. Amigo pra isso mesmo. – ele disse. Percebi que Josh fez uma careta quando disse amigos.

- Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não é? – perguntei.

Josh arqueou as sobrancelhas e me fitou. Ele se aproximou até eu poder sentir sua respiração em meu rosto. Meu coração parecia querer sair pela boca. Fitei sua boca rosada e com o contraste perfeito em seu rosto. Voltei meu olhar para o seu rosto, que parecia ainda mais perto.

- Sei. – ele disse. Fechei os olhos sentindo sua respiração perto da minha. Quando abri os olhos, ele já tinha voltado a sua posição e me encarava.

Senti minhas bochechas corarem, desviei nosso olhar. Não pensei direito no que aconteceu, só sei que meu coração não queria desacelerar. Fitei a rua, olhando para algumas crianças que brincavam ali.

- Eu terminei com a Ariane. – Senti a raiva me consumir ao deduzir que ele estava sério por causa daquela garota.

- E por isto você estava daquele jeito. – disse e bufei.

Josh me olhou com um sorriso zombeteiro. Revirei os olhos e ele me deu um beijo estalado na bochecha.

- É impressão minha ou a senhorita estava com ciúmes da Ariane?

- Você me abandonou quando começou a namorar com ela. – fiz bico.

- Não abandonei não. – ele disse e eu revirei os olhos. – Eu não estava sério por causa de ter terminado com ela. Bom, mais ou menos. Ela ficou abalada com o término do namoro, eu fiquei triste por ela.

- Você gosta dela? – perguntei não querendo saber a resposta.

- Não. Nem sei por que comecei a namorar com ela. – ele disse com uma expressão engraçada.

- Acho que foi pra me abandonar. – disse o encarando.

Josh bufou e me puxou para ficar perto dele.

- Eu já te disse que nunca vou te abandonar. – ele apertou minhas bochechas. – E a senhorita está muito mimada hoje. – suspirei. Acho que só fico deste jeito perto dele.

- É impressão sua.

- Hm. Vamos tomar sorvete?  -ele perguntou e eu assenti.

Fomos tomar sorvete e voltamos para casa. Conversamos por mais um tempo e quando as estrelas tomaram conta da noite, nós começamos a observá-las, como na primeira vez que nos vimos.