Sabado de manhã e eu já deveria estar de pé. Não por ter algo a fazer, mas por ter a cama apenas como um apoio para o sono. A luz entrou por minha janela, indicando que o sol hoje nasceu com força superior e está prestes a proporcionar a nós um digno sábado com cara de sábado. Revirei mais algumas vezes na cama, preguiçosa, tentando encontrar o sono novamente e desisti ao ouvir batidas em minha porta.

- Maria? Já está acordada? – A voz de Alice estava um tom abaixo do normal, indicando incerteza. Alice abriu uma brecha na porta e colocou sua cabeça entre ela.

- Estou. – respondi me virando –ainda deitada – para ela.

- Hm... bom dia, Bianca te ligou e pediu que você retornasse a ligação. – ela disse ainda em tom baixo.

 - Tudo bem. Vou trocar de roupa e já ligo para ela. – disse me levantando e indo até o banheiro.

- Maria? – voltei para o quarto para ouvir o que ela iria dizer. – Eu tenho que sair e acho que não vou voltar para o almoço.

- Tudo bem. Eu acho que vou sair também. – voltei para o banheiro e lavei o meu rosto.

 - Aonde você vai? – ela perguntou se sentando em minha cama.

- Mattew me convidou para uma festa na piscina em sua casa. – voltei para o quarto.

- Hum...  – sua expressão ficou séria e ela parecia procurar por palavras. – O que está acontecendo entre você e Mattew? – ela perguntou olhando para o chão.

Senti meu rosto corar. Sua pergunta indicava o inicio de uma conversa que eu acho que não estava pronta. Respirei fundo algumas vezes e fui para frente do guarda roupa.

- Nada. N-nós somos apenas....err... a-amigos. – tentativa falha de convencer.

- Hm. – ela se virou para mim e eu me virei automaticamente para ela. – Você já deve saber da fama dele aqui na cidade... – ela arqueou a sobrancelha e eu corei ainda mais.

- Nós não temos nada tia. – eu falei alto demais.

- Tudo bem. – Alice se levantou e foi em direção a porta do quarto. – De qualquer forma, acho sensato te avisar – ela me encarou. – eu conheço Mattew desde quando ele ainda estava na barriga de sua mãe e acredite, por mais que eu goste muito dele, ele não é um garoto ideal – ela deu um sorriso sarcástico – se o que você procura é um romance. – Alice me olhou séria e eu sorri, tímida. – Bom, estou indo. Até mais. – ela disse e antes que eu pudesse me despedir, saiu do quarto.

Fechei a porta do guarda-roupa e me joguei com força na cama. O que Alice disse parecia verdade. Não só parecia como era a verdade. Era o que todos falavam. Mattew não era apenas um pedaço de mau caminho, ele era o caminho inteiro. Levantei-me novamente e desci para tomar café. Comi um sanduiche natural e subi novamente para escovar os meus dentes. Troquei de roupa e lembrei-me de ligar para Bianca.

 - Alô?

- Bia, sou eu, Maria!

- Ah! Bom dia dorminhoca! Parece que a noite foi boa ontem, né – Bianca estava animada demais.

 - É, foi bom. – eu disse tentando conter a animação.

- É, foi bom – ela me imitou – Me conta como foi! – parecia mais uma ordem do que um pedido.

Contei a ela sobre a noite de ontem, todos os detalhes. Bianca me obrigava a contar, eu corava, mas era impossível esconder alguma coisa dela.

- Você vai a casa dele hoje? – ela perguntou com um tom menos animado.

 - Acho que sim. Não tenho certeza. – eu disse desanimada

- Como assim não tem certeza? – é, ela já estava gritando. – é claro que você vai. Você não vai me deixar ir sozinha, não é?

-Bia, o Rafa, a Ana e o Scott também vão. Você não vai ficar sozinha. – revirei os olhos, divertida.

- Você entendeu. – a ouvi bufar – E você vai fazer o que então, hein?

- Assistir televisão – dei de ombros, mesmo que ela não pudesse me ver

 - Ah, então me desculpe vovó, vai querer tricotar não? – Bia ironizou.

 - É que eu estou sem lã, netinha – disse rindo

- Aff. – ela bufou impaciente – Eu vou te esperar na porta da escola daqui a meia hora. Até lá – Bia desligou antes que eu pudesse contestar.

Subi para o meu quarto e peguei um biquíni. Não era um biquíni maravilhoso, estava um pouco pequeno em mim. Eu não comprara roupas de banho desde que os meus pais morreram. E este que eu estava usando, fora Carla quem me dera em um dia que iríamos a uma excursão para o clube, ainda no asilo. Coloquei um vestido branco por cima do biquíni, calcei uma rasteirinha e peguei minha bolsa.

Saí de casa e fui em direção a escola. O dia estava lindo, o sol estava forte e não havia sinal de nuvens no céu. As ruas estavam cheias, muitas crianças e alguns adolescentes, adultos e idosos. As ruas eram praticamente desertas de carros, passavam um ou dois em intervalos de minutos. Cheguei em frente a escola e Bianca me esperava sozinha, estranhei por ela não estar com nossos amigos. Fui em direção a ela e nós nos abraçamos.

  - Onde estão os outros? – perguntei assim que começamos a andar.

- Eles já estão lá.  – ela deu de ombros.

- Que tal comprarmos sorvete. Estou quase derretendo com este calor – disse e ela assentiu.

Compramos o sorvete e fomos para a casa de Mattew. A casa dele não ficava muito longe da escola e era perto do centro. Já era possível ver alguns carros estacionados e uma música vindo de longe, da casa dele. Paramos em frente ao portão e eu não pude evitar que minha surpresa ao ver sua casa. Era diferente de todas as outras casa que eu já tinha visto. Não era exatamente uma casa, era uma mansão. As cores de entrada eram azuis e creme, tinha longas janelas de vidro no segundo andar. Fiquei encantada ao ver o jardim, era enorme e com flores que eu nunca tinha visto antes. A porta de entrada era de madeira e ao seu redor tinha janelas de vidro opaco que iam a toda a extensão onde deveria ficar a parede. Bianca me puxou para o fundo, onde estava a piscina, que também era enorme e imitava uma cachoeira. Avistei nossos amigos que já estavam aproveitando a água. Fomos em direção a eles e assim que nos viu, eles saíram da piscina e vieram nos cumprimentar.

 Sentei-me em uma espreguiçadeira e apoiei minha cabeça apreciando o sol que batia em minha pele. Até agora eu não tinha visto Mattew, tinha visto Erick e Igor quando estava vindo me sentar com meus amigos. Erick sorriu de longe me cumprimentando e eu sorri de volta para ele.

- Maria!!! – ouvi alguém gritar meu nome e pular em cima de mim. As pessoas que estavam próximas a gente olharam para mim e Erick gargalhou.

- Brunna – disse sem a mesma animação que ela. Eu estava morrendo de vergonha.

 - Nossa, que animação a sua, hein? – ela disse me empurrando e se sentando ao meu lado na espreguiçadeira. – e aí, como foi sua noite ontem? Nem te vi mais depois que fomos dançar. – ela disse ao mesmo tempo em que cumprimentou um moreno que passava em nossa frente.

- Talvez porque você estava ocupada demais beijando um menino – eu disse divertida

- Você viu como ele era bonito? – ela disse ainda mais animada – Maria você tem que ver como ele é na c... – a interrompi

- Tudo bem, eu já entendi – disse rapidamente evitando que ela continuasse com aquele papo.

- Boba. – ela deu de ombros e nós continuamos a conversar.

Conversar com Brunna era realmente muito bom. Ela era engraçada e falava besteiras de segundo em segundo. Depois que Brunna me contou sobre um menino que ela havia conhecido eu não pude evitar o riso. Joguei minha cabeça para trás e quando voltei ao normal meu olhar parou em uma cena que eu não gostaria de usar em um filme.

- Ui... – Brunna disse depois que viu o que eu tinha visto. Mattew estava saindo da casa com uma menina loira. Os dois estavam abraçados e em seus lábios continha um sorriso safado, que mesmo de longe e não tendo visto nada, eu sabia o que tinha acontecido.

A menina que estava com Mattew deu um selinho nele e foi para perto de um grupo de garotas. Senti nojo dele, raiva de mim e ódio de mim também, por eu ter ido naquela maldita festa. Eu já sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, afinal, tratava-se de Mattew Bükcler, o menino que todas desejavam. Quando criaram o termo “galinha” com certeza queriam se referir a ele. Se existisse um raking de quem é o mais safado, galinha, arrasador de corações, com toda a certeza do mundo ele ficaria invicto no primeiro lugar.

Meus olhos encontraram com os de Mattew e o seu sorriso se alargou ainda mais. Agora não estava mais malicioso, era um sorriso de felicidade e eu podia entender perfeitamente o porquê. Mattew veio em minha direção e eu senti uma necessidade enorme de sair correndo, as pessoas iriam pensar que eu sou uma louca, mas naquele momento eu estava pouco me importando para o que iriam pensar. Eu só queria ficar longe dele, que ele não tocasse em mim que seu sorriso não tivesse tanto efeito sobre a boba aqui.

xXx

- Vai para de fugir de mim? – Mattew perguntou em tom divertido.

Eu tinha “fugido” de Mattew a manhã inteira. Eu queria ir embora, mas Brunna me impediu e o resto de meus amigos se juntou a ela para me fazer ficar na festa. Mattew tentava se aproximar de mim e antes que ele estivesse a menos de um metro de mim eu já inventava uma desculpa para sair de perto.

Eu entrei na casa de Mattew para tomar água. Eu não estava com sede, mas era mais uma tentativa de fugir dele. Mattew me seguiu sem que eu percebesse, quando eu estava saindo da cozinha, Mattew me surpreendeu, deixando-me sem escapatória.

- Eu não estou fugindo de você. –disse ríspida olhando para os meus pés.

- Então por que toda vez que eu tento me aproximar você dá um jeito de sair?  - Mattew perguntou, seu tom era sério. – Olha para mim! – ele ordenou.

Olhei para ele e sua expressão também era séria. Havia uma ruga de curiosidade entre as suas sobrancelhas. Minhas pernas amoleceram ao fitar seus olhos, era sempre assim. E eu me impressionava cada vez mais.

- Por que eu fugiria de você? – eu disse com raiva – Para de fantasiar

- Fantasiar?  - ele riu irônico – Eu não sei porque você fugiria de mim, mas que você está fugindo, ah, isto não tem como negar.

- Você está ficando louco. – disse tentando passar por ele.

- Louco... – ele mordeu os lábios – talvez por você – disse e colou seus lábios nos meus.

Meu corpo cedeu assim que nossos lábios se tocaram. Eu era viciada no beijo do Mattew. Eu era viciada em suas expressões, em seu sorriso, em seu corpo, eu era viciada em Mattew. Em minha cabeça veio a imagem dele com a menina loira e eu o empurrei.

- Como você ousa? – disse ofegante – Você....aquela menina... – Mattew me olhou confuso – arg! Não encosta mais em mim. – eu disse o empurrando e indo em direção a porta, mas Mattew me puxou novamente e eu voltei para a cozinha. – Qual a parte de “não encosta mais em mim” você não entendeu? – o olhei irritada

- Maria, você tem que entender... – ele começou a dizer, mas eu o interrompi

- Entender o que? Que você é galinha? Que o que você disse não era verdade? – eu sorri nervosa. – Afinal, por que nós estamos tendo esta conversa? Nós não somos nada!

Mattew ficou sério por alguns instantes, mas depois deu uma risada e seus olhos brilharam. Mattew se aproximou de mim e acariciou meu rosto.

- Você está com ciúmes. – ele deduziu e deixou escapar mais uma risada. Eu arregalei meus olhos. – E se está com ciúmes é porque gosta de mim – seu sorriso se alargou e meus olhos se arregalaram ainda mais. – Eu também gosto de você. – terminou de dizer e me beijou calmamente.